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As Gaiolas e o Voo do Corvo

Nossas vidas são repletas de gaiolas. Cobiçamos que elas sejam seguras, confortáveis e que haja boa comida, bebidas e prazeres à vontade. Ficamos mais confortáveis ainda se as grades estão escondidas ou camufladas. Assim, mesmo presos, cultivamos a ilusão da liberdade e não desejamos sair. Ninguém entende os “loucos” que ousam sair de uma gaiola confortável em busca de seus sonhos, em busca de algo que traga sentido às suas vidas.

Nos últimos anos, sinto a premência de atuar nas áreas onde realmente eu possa contribuir para fazer mudanças significativas. Fazer mais do mesmo não é aceitável para um homem com 57 anos. Quero ajudar a construir um mundo melhor para as próximas gerações do que este em que vivemos hoje.

A decisão de deixar uma posição profissional com carteira assinada, bom salário e benefícios, onde tenho um bom relacionamento com chefes, pares e demais colegas não foi fácil. Foi uma trajetória que durou alguns meses.

O gatilho final aconteceu durante um filme que assisti no Netflix, o musical “Tick, Tick… Boom!”, baseado no show off-Broadway de mesmo nome de Jonathan Larson, autor de “Rent”. Havia uma música cantada por Andrew Garfield, “Louder Than Words” que me fez pensar na minha vida e nas últimas escolhas feitas. O refrão gritava na minha alma.

Cage or wings?

Which do you prefer?

Ask the Birds

E na sequência vinha a punhalada final…

Actions speak louder than words

Minha negociação foi longa e teve idas e vindas. Num certo momento, resolvi tatuar na minha pele uma representação da minha decisão para relembrá-la todas as manhãs ao me olhar no espelho. Não podia capitular!

No início da semana passada, enviei minha carta de demissão para a empresa onde trabalhei nos últimos três anos. Sou muito grato por tudo que recebi em troca neste período, incluindo meu longo período de home office durante a pandemia. Só voltei ao trabalho presencial após receber a segunda dose da vacina. Nunca fui pressionado para voltar antes.

Nos últimos seis meses, iniciei um MBA em ESG (ambiental, social e governança) e fiz um curso de Lean Governance (governança enxuta para startups). Quero trabalhar com inovação e sustentabilidade até o fim…

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Meu Cinquentenário

Não é todo dia que se completa 50 anos. OK, vale o mesmo para 20, 32, 45 ou qualquer outra idade. A questão é o simbolismo dos 50 ou meio século se preferirem…

Passei um ano muito mais complicado do que o normal. Pensei muito no que já fiz e, principalmente, no que tenho que fazer para frente. Isto gerou uma tensão, porque não é fácil vislumbrar o próprio futuro. Só recentemente comecei a digerir a ideia que continuar minha jornada neste caminho incrível da vida é a melhor, talvez a única, alternativa.

Fiz amizades que gostaria que fossem para toda a vida. Não converso com a maioria destas pessoas há anos. É provável que, se eu encontrar alguns destes amigos do passado, o tempo tenha nos afastado de tal forma que nossa conversa será apenas social. Em compensação, conheci novas pessoas por causa dos meus novos interesses. Muitos dos novos amigos não têm a menor semelhança com os antigos. Será que eu continuo pelo menos, parecido com o Vicente de 20, 30 ou 40 anos atrás? Sinto-me como um agricultor que progressivamente foi trocando as plantas da sua fazenda.

De volta para a jornada, hoje tenho certeza que mais importante do que chegar a algum lugar é prestar atenção no caminho. Muitas vezes, estamos tão certos de que precisamos de alguma coisa que colocamos viseiras, como fazem com os cavalos de carroças, e o mundo ao nosso redor desaparece. Quantas oportunidades são perdidas assim? Nos convencemos que estamos apaixonados por alguém, sofremos loucamente com perdas, cobiçamos uma certa posição, desejamos bens materiais cada vez mais caros. E como ficam os amores maduros, o amor pelos filhos, a alegria de aprender coisas novas, os trabalhos que nos levam à autorrealização ou aquele lugar com atmosfera mágica?

Por exemplo, eu tive diversos tipos de chefes, alguns foram maravilhosos; outros, terríveis. Hoje eu compreendo a importância do sofrimento pelo qual passei nos períodos em que tive estes chefes terríveis. Tornei-me menos orgulhoso, entendi que não podia fazer apenas o que eu queria. Com o tempo também passei a ouvir melhor os outros e refletir se não havia outros caminhos para fazer a mesma atividade. Fiquei mais flexível, menos dono da verdade. Afinal o que é a verdade?

Voltando a falar sobre a jornada, às vezes, esbarramos em alguma coisa que passa a ser uma fonte inesgotável de prazer. Pode ser um hobby, uma música, um filme ou um livro. Para matar o tempo em uma conexão de voo, entrei numa livraria e vi, em uma estante, uma coleção de livros no formato pocket da L&PM. Entre estes livros, estava Hamlet de William Shakespeare. Apanhei o livro e li a primeira página da peça e entendi o que estava escrito. A tradução do Millôr Fernandes era simples; e a leitura, fluida. Comprei e devorei o livro. Depois li outros – Otelo, MacBeth, Júlio César, Rei Lear, Henrique V… O bardo inglês virou meu companheiro fiel de viagens!

No Rei Lear, o bobo da corte, que não tinha nada de bobo, disse para o rei que ele não deveria ter ficado velho antes de ter ficado sábio. Nos últimos anos tenho estudado assuntos muito diferentes dos meus velhos estudos de engenharia – genética, agricultura, filosofia, história… Quanto mais estudo, mais eu percebo que sei quase nada. Sócrates tinha razão! Não tenho a arrogância de me comparar a ele. Assim corro o risco de cair em um dilema. Poderia pensar que é melhor não estudar mais, porque à medida que tenho contato com diferentes disciplinas, me dou conta que meu conhecimento é uma fração cada vez menor do todo. Prefiro me esforçar, sem ansiedade, para, até o dia do meu último suspiro, chegar o mais próximo possível do zero. Aprender todos os dias é uma das belezas desta jornada.

No dia em que Steve Jobs morreu, assisti ao vídeo de uma palestra para formandos da Universidade de Stanford. Jobs deu quatro conselhos valiosos. O primeiro estabelece que só é possível unir os pontos da vida quando se olha para o passado. O segundo manda seguir o seu coração. O terceiro conselho é para não desperdiçarmos nossa vida, vivendo a vida de outra pessoa. E finalmente “stay hungry, stay foolish”. Seja humilde e não sacie nunca sua fome de novos conhecimentos e experiências.

De volta para Shakespeare, qual foi a melhor frase do príncipe Hamlet da Dinamarca? Todos pensarão que é o “ser ou não ser” que ele fala sem segurar uma caveira como muitos pensam. A melhor frase da peça não é de Hamlet e sim de Polônio, um bajulador do rei Cláudio. Quando seu filho Laertes está de saída para passar uma temporada no exterior, depois de vários bons conselhos, Polônio arremata de forma inesquecível:

– E, sobretudo, isto: sê fiel a ti mesmo. Jamais serás falso pra ninguém.

Muito antes de ler esta frase, já tentava seguia este conselho…

O grande David Bowie, que voltou para as estrelas neste ano, fez sucesso com a música “Changes” há 45 anos:

Look out you rock ‘n rollers
Pretty soon you’re gonna get a little older
Time may change me
But I can’t trace time

Se substituirmos a palavra tempo por jornada, posso afirmar que minha jornada me transformou. Felizmente não tenho total controle sobre minha jornada. Esta é a beleza da vida… Esta é a maravilha de olhar para trás e ver 50 anos e desejar viver ainda mais. Que jornada!

Talvez esta seja minha cara daqui umas décadas...

Talvez esta seja minha cara daqui umas décadas…

 

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David Bowie Vive entre as Estrelas

Acordei na segunda-feira com a notícia da morte do artista inglês David Bowie. No final de semana, ouvi seu novo disco, “Blackstar” lançado no dia de seu aniversário na última sexta-feira. Vi e revi os clipes de três músicas – Blackstar, Lazarus e Sue. Li as letras das músicas. Prestei atenção no som dos instrumentos. Mostrei o clipe de Sue e um antigo de Space Oddity, onde Bowie canta a música como seu personagem Ziggy Stardust, para minha filha Júlia. Na tarde do domingo, estava impressionado com o trabalho de Bowie e escrevi na minha página do Facebook:

David Bowie Ziggy Stardust

David Bowie comemorou seu aniversário de 69 anos com o lançamento do seu novo álbum “Blackstar”. O que mais me impressionou foi Bowie ter realizado um trabalho totalmente diferente dos anteriores da sua longa e exitosa carreira. Ouvi todas as sete músicas impregnadas de jazz com lindos solos de saxofone.

O clipe da música título do álbum, além de impactante, nos traz aquela sensação que a pior escolha de nossas vidas é seguir cegamente algum profeta. Não esqueça que os falsos profetas estão por toda parte, não apenas na religião…

Este gênio me traz a inspiração de que nunca é tarde para recomeçar ou tentar algo novo.

Vida longa para este “ET” incrível, Major Tom, David Bowie!

Redescobri Bowie há quase três anos com o lançamento de seu álbum “The Next Day”. Fazia dez anos que ele não gravava um álbum com músicas inéditas. Confesso que comecei a ouvir as músicas com baixa expectativa, porque muitos artistas, nestes retornos, criam obras muito abaixo de seus melhores trabalhos. Cada música que eu ouvia, eu gostava mais e mais. “The Next Day” é um grande disco de rock! Ouvi algumas vezes o disco e depois comecei a ouvir novamente as músicas conhecidas das décadas de 70 e 80. Quando fiquei sabendo do lançamento de “Blackstar”, passei a contar os dias. Enfim o grande dia chegou, e seu último trabalho, como eu registrei na minha página do Facebook, é impressionante.

Meu abatimento com a morte de Bowie talvez seja alimentado pela certeza de que ele não vai se reinventar novamente. Não verei algo tão original como este último trabalho ou outros anteriores da sua carreira.

Minha tristeza também pode ser alimentada por relembrar que o tempo é implacável e, mais cedo ou mais tarde, as pessoas que gostamos ou admiramos ficarão distantes de nós ou desaparecerão.

O jovem David Bowie, em 1971, aos 24 anos de idade, compôs “Changes”. No final da música ele faz o seguinte alerta aos roqueiros:

Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strain)
Ch-ch-Changes
Oh, look out you rock ‘n rollers
Ch-ch-ch-ch-Changes
(Turn and face the strain)
Ch-ch-Changes
Pretty soon you’re gonna get a little older
Time may change me
But I can’t trace time
I said that time may change me
But I can’t trace time

Minha dor é saber que este alerta não vale apenas para os roqueiros…

Prefiro pensar David Bowie voltou a encarnar o Major Tom de “Space Oddity” e está cruzando o espaço em busca de inspiração para criar novos personagens e novas músicas geniais.

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Post 200 – Retrospectiva

Este é o ducentésimo (por que não é “duzentésimo”?) post publicado neste blog.

200-posts

Normalmente o centésimo é mais festejado, talvez pela introdução do terceiro dígito na contagem do número de posts, mas não posso perder a chance de fazer uma retrospectiva dos últimos cem posts publicados.

Vários posts foram inspirados por filmes. “Diários de Motocicleta” ajudou a contar a história da formação da consciência social de Che Guevara. “As Aventuras de Pi” tratou de temas como religiosidade e espiritualidade. “Amour” tratou dos sacrifícios extremos assumidos em nome do amor. “Meia-Noite em Paris” inspirou uma discussão sobre “O Passado e o Futuro”. “Ela” (título original Her) trouxe à tona as maravilhas e os perigos da inteligência artificial meio ano antes do físico Stephen Hawking externar seus temores sobre o assunto (fiquei bem acompanhado desta vez…).

Outros posts resgataram fatos históricos, como as descobertas e invenções de Heron de Alexandria ou o ato heroico de Sérgio Macaco que evitou centenas de mortes durante os anos de chumbo no Brasil. O próprio golpe militar foi protagonista de um post, onde reafirmei minha certeza que a democracia é o único caminho. As semelhanças dos casos de Napoleão Bonaparte e Eike Batista também renderam um post. E a guerra, o ato mais estúpido do ser humano, foi meu alvo após uma visita a Les Invalides em Paris,”Pra Não Dizer que Não Falei das Flores“.

O nascimento de nossa caçula, Luiza, recebeu um post superespecial – “A Maior Emoção da Minha Vida”. A Claudia deve futuramente fazer um post mais aprofundado sobre o parto humanizado.

Alguns posts trataram das minhas visões pessoais sobre família, amor pelos filhos (“Quando nos sentimos pais”) e educação dos filhos (“O que Dar e o que Esperar do Futuro de Nossos Filhos”). Afinal minha riqueza não deve ser medida pelos meus bens materiais, mas pela qualidade dos meus relacionamentos e “Eu Sou um Homem Rico”.

As questões do exibicionismo e da privacidade foram discutidas em dois posts, o primeiro sobre o BBB e o segundo que também trata do monitoramento da vida privada das pessoas pelos Estados – “Privacidade, Intromissão e Exibicionismo”. A propósito este post foi publicado quatro meses antes das denúncias de Edward Snowden.

As religiões e a manipulação dos fiéis por líderes inescrupulosos são fontes inesgotáveis de inspiração. Não escaparam deste blog o Islamismo, a igreja católica, representada pelos papas Bento XVI e Francisco, e nem mesmo “Deus, Sempre Ele”.

Dediquei dois posts para uma das piores figuras públicas da atualidade, o russo Vladimir Putin, sobre seu ecomarketing e sobre a Crimeia. Muito, mas muito menos importante, o ex-prefeito de Novo Hamburgo, Tarcísio Zimmermann, também foi “agraciado” com dois posts, enquanto tentava se reeleger antes de ser cassado devido à Lei da Ficha Limpa.

Em outros três posts, procurei comentar como nossos pensamentos podem ser nossos maiores aliados ou inimigos – “Como a Matrix de Neo e a Caverna de Platão nos Mostram a Realidade”, “Memórias e os Fantasmas do Passado” e “Como Assassinamos Nossos Insights”. Na mesma linha, escrevi mais dois posts – “O Medo” e “A Autossabotagem”.

A culinária vegana manteve seu lugar de destaque – moqueca de tofu, ratatouille, torta de sorvete, estrogonofe ou como preparar proteína texturizada de soja.

Aventurei-me em novos territórios – primeiro escrevi uma história infantil sobre bullying (“A Bruxinha Totute”); depois um poema no meio da “Turbulência” de um voo entre a França e o Brasil; mais um conto de ficção científica dividido em cinco partes sobre a expansão da humanidade em outros sistemas planetários e sua incontrolável ambição (“A Fonte da Juventude de Perennial”). Para finalizar escrevi, na semana passada, uma história que mescla ciência e religião (“Projeto Gaia – Experiência Final”).

Vários posts tiveram como inspiração as manifestações de junho do ano passado. Iniciei com “Os Protestos e a Verdadeira Democracia”, na sequência sugeri como próximo alvo a finada PEC 37/2011. Imaginem como ficaria a investigação da “Operação Lava Jato”, se o poder de investigação do Ministério Público Federal fosse tolhido? A melhoria nos serviços públicos de saúde foi um dos principais alvos dos manifestantes e o governo federal reagiu com a criação do “Programa Mais Médicos” que inspirou um artigo. Em breve, voltarei a escrever sobre a política brasileira.

Tentei desvendar os mistérios da satisfação pessoal em ”Não Esqueçam seus Objetivos Pessoais no Avião” e “Salário Motiva os Funcionários?”.

Questões éticas com animais foram tratadas em “Golfinhos de Guerra” e “Sofrer e Amar não são Exclusividades dos Humanos”.

A sustentabilidade ambiental também teve destaque com artigos sobre reciclagem de metais raros de telefones celulares, reciclagem de fósforo e da influência do consumo de carne na degradação do meio ambiente.

Este blog não é mais somente meu. A Claudia estreou em grande estilo com o post que conta como virou vegetariana, “Eu, a carne e a berinjela…”. Sinto que o respeito aos vegetarianos cresce a cada dia como retratei no post “Vitória Vegetariana”. E aqui entre nós, “Por Que Comer Carne?”.

A Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil em 2014 rendeu dois posts, “A Copa do Mundo Envergonhada” e “Como o Futebol Brasileiro foi Massacrado pelo Alemão”. Dentro da esfera futebolística, publiquei mais dois post “De Volta para o Meu Lugar”, sobre a reabertura do Beira-Rio, e “Fernandão, Vida, Morte e Piscadas”, sobre o morte do ídolo colorado Fernandão.

A seca em São Paulo que ameaça o fornecimento de água à população do estado também inspirou dois posts – “o que fazer quando a água acabar?” e “as medidas que evitariam a crise de abastecimento de água”. Apesar das excelentes chuvas dos últimos dias, o risco continua…

Falei sobre os mais variados assuntos, das “Gambiarras” ao “Portuglish ou Portunglês”, do show de Yusuf Islam em São Paulo aos “Múltiplos Papéis da Mulher no Mundo Atual”, dos conflitos entre judeus e palestinos em “O Escudo Humano” aos problemas da economia americana em “Obama e o Dilema Capitalista”, do racismo contra o goleiro Aranha a “Os Psicopatas, os Hiperativos, os Estranhos e os Normais”. Afinal “As Pessoas são Diferentes – Que Bom!!!”.

Agradeço a todos que acompanham nosso blog, espero críticas e sugestões para os assuntos dos próximos cem posts e lembro, mais uma vez que tento não falhar e fazer “Jornalismo Profundo como um Pires“ e “Eu Não me Chamo “Martho Medeiros”.

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De Volta para o Meu Lugar

Neste final de semana, voltei a Porto Alegre para acompanhar as festividades de reinauguração do Gigante da Beira-Rio. Após mais de um ano fechado, o estádio do Internacional foi reaberto com uma linda e emocionante festa.

Nunca me apeguei a lugares, já comprei e vendi alguns apartamentos e terrenos. As boas recordações sempre eram carregadas por mim e o resto ficava para trás. Na minha infância, minha família mudou várias vezes de cidade devido ao trabalho do meu pai. No máximo a cada dois anos, tudo se repetia. Eu não criava raízes e me acostumei a ser “meio-cigano”. Eu me apegava à minha família, principalmente meus pais, depois à minha irmã. Os lugares eram descartáveis…

Revendo toda emoção que senti neste final de semana, em especial na noite de sábado, concluí que o meu lugar é o Beira-Rio. Como se ao entrar nele, depois de alguns anos de “exílio voluntário” em São Paulo, tudo voltasse a minha mente, um verdadeiro turbilhão de emoções.

Meu filho Leonardo e eu na frente do Beira no dia da festa de reinauguração.

Meu filho Leonardo e eu na frente do Beira no dia da festa de reinauguração.

Pude rever ídolos colorados de diferentes gerações e reviver os momentos dos anos 70 que passei ao lado do meu pai e meu tio nas conquistas dos campeonatos brasileiros. Os jogos dos anos 80 nos quais quase conquistamos títulos importantes. O sofrimento quase instransponível dos anos 90. E a redenção dos anos 2000, quando conquistamos os títulos mais importantes da história do clube, sempre ao lado do meu irmão e do meu filho. No momento da festa em que é mostrada a conquista do Mundial em 2006, na apresentação do gol do Gabiru, eu e meu filho nos abraçamos e choramos. Nossas lágrimas eram da mais pura alegria por estarmos vivendo aquele momento maravilhoso juntos naquele lugar especial.

Festa colorada em 05-04-2014.

Festa colorada em 05-04-2014.

Como brinde ainda pude cantar a plenos pulmões “Camila” com o Nenhum de Nós e “Deu Pra Ti” com Kleiton & Kledir. O encerramento da festa ficou por conta do músico e DJ britânico Fatboy Slim. Não gosto muito deste tipo de música, mas assisti a apresentação com atenção. Os telões, durante a segunda música, mostravam frases do comediante e músico americano Bill Hicks falecido em 1994 aos 32 anos de idade. Em minha opinião, Hicks é muito mais um crítico social do que comediante. A frase repetida várias vezes no telão era:

– “Is this real or is this just a ride?”

Esta questão sobre a vida é filosoficamente complexa. Isto é real ou isto é apenas um passeio? Vale a pena assistir ao vídeo feito no final de um dos shows de Bill Hicks.

Se tudo é real ou se não passa de um passeio em um parque de diversões, eu não sei, mas em qualquer das duas hipóteses eu diria:

– O Gigante da Beira-Rio é meu lugar e ele está lindo!

Interior do Beira-Rio antes do jogo contra o Peñarol em 06-04-2014.

Interior do Beira-Rio antes do jogo contra o Peñarol em 06-04-2014.

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Nova Intervenção Militar no Brasil – 1º de Abril

Hoje se completa 50 anos do golpe que levou os militares brasileiros ao poder em 1º de abril de 1964. Nossos militares tentaram puxar a data para o dia 31 de março para evitar piadas a respeito…

Vejo cada vez mais pessoas nas redes sociais, pedindo uma nova intervenção militar devido aos níveis alarmantes de corrupção do atual governo. Muitas destas pessoas têm menos de 40 anos. Ou seja, quando o regime militar encerrou seu ciclo em 15 de março de 1985, tinham no máximo uns 10 anos. Não foram às ruas na campanha das “Diretas Já”. Não viveram a expectativa pela possibilidade de um novo golpe militar na madrugada da véspera da posse de Tancredo Neves, quando ele foi internado para uma cirurgia de emergência. Não viveram sob o regime da censura da produção cultural e dos meios de comunicação. Não tiveram aulas com um agente do DOPS (Departamento de Ordem Política e Social) infiltrado como “colega”, em alguma cadeira como, por exemplo, EPB (Estudo dos Problemas Brasileiros). Não acompanharam cassações de políticos por apenas fazerem discursos fortes contra o regime militar. Também não ouviram histórias sobre prisões arbitrárias, exílio, tortura e desaparecimento de pessoas.

Para aqueles que já esqueceram ou não sabem, selecionei algumas histórias. Vou começar pela censura. Hoje falamos que nunca houve tanta corrupção e desmando no Brasil, mas nos esquecemos de que atualmente temos abundância de fontes de informação. Através dos “portais da transparência”, é possível fiscalizar as despesas dos três poderes nos âmbitos municipal, estadual e federal. As principais estatais têm ações na Bolsa de Valores de São Paulo, o que obriga a comunicar os atos relevantes e publicar seus resultados trimestralmente. Existem revistas com as mais diversas tendências da direita à esquerda. Temos Internet com suas redes sociais e blogs com a divulgação das mais variadas opiniões e informações sobre tudo. Na época do regime militar, estávamos restritos a jornais impressos, rádios e poucas redes de televisão, onde apenas os amigos do regime conseguiam as concessões estatais para explorar as emissoras de rádio e TV.

Muitos jornais que se atreviam a divulgar alguma notícia que desagradava o regime eram censurados. No início para mostrar que a notícia foi censurada, deixavam enormes espaços em branco. Os militares não gostaram daquela afronta e exigiram que o espaço fosse ocupado. Alguns jornais resolveram ocupar estes espaços com receitas culinárias ou poesias. Segundo o jornal “O Estado de São Paulo”, entre agosto de 1973 e janeiro de 1975, versos de “Os Lusíadas”, de Luís Vaz de Camões, apareceram 655 vezes nas páginas do Estadão.

Versos de “Os Lusíadas” no Estadão

Versos de “Os Lusíadas” no Estadão

A censura também atingiu a cultura. Chico Buarque foi um dos mais censurados na época. Uma de suas músicas censuradas mais emblemáticas foi “Apesar de Você” que parece ser uma inocente música sobre um conflito entre dois namorados, mas, na verdade, era uma crítica ao governo Médici. Clara Nunes inocentemente gravou esta música e, para limpar a barra com os militares, teve que cantar até na abertura das Olimpíadas do Exército em 1971. Você pode ouvir a interpretação de Clara Nunes de “Apesar de Você” e “Fado Tropical”.

Outro cantor e compositor muito censurado foi o brega Odair José. Os censores não se limitavam apenas às questões políticas, mas também aos costumes. O governo iniciava uma campanha de controle da natalidade, não gostou do refrão da música “Uma Vida Só” que dizia “pare de tomar a pílula” e censurou a música.

Era preciso manter o país livre da ameaça causada por qualquer coisa que ameaçasse os valores das famílias. Esta atitude paternalista levava à censura de músicas, filmes, jornais e revistas.

O pior mesmo foram as torturas e mortes durante o período da ditadura militar. Vou comentar apenas dois dos vários casos conhecidos – Rubens Paiva e Vladimir Herzog.

Rubens Paiva foi um deputado federal cassado em 1964 logo após o golpe militar. Em 1971, foi preso em sua casa, torturado e assassinado nos porões do DOI-CODI no Rio de Janeiro. Há alguns dias, o coronel reformado Paulo Malhães admitiu que liderou uma operação na qual os restos do corpo de Rubens Paiva foram desenterrados na praia do Recreio dos Bandeirantes e lançados em alto-mar. Dias depois no depoimento na Comissão Nacional da Verdade (CNV), ele negou que havia participado desta missão, mas admitiu que participou de torturas na chamada “Casa da Morte”, localizada em Petrópolis na serra carioca.

Rubens Paiva com seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva

Rubens Paiva com seu filho, o escritor Marcelo Rubens Paiva

O que falar então do caso do jornalista Vladimir Herzog que foi preso, torturado e morto no DOI-CODI em São Paulo? A foto de Herzog morto em uma simulação grotesca de suicídio se transformou no símbolo da luta pelo fim da ditadura militar no Brasil.

Vladimir Herzog morto no DOI-CODI

Vladimir Herzog morto no DOI-CODI

Os regimes totalitários, de qualquer matiz ideológica, podem até começar com boas intenções, mas, depois de um tempo, o mais importante é se manter no poder, não importam os meios. Já escrevi um artigo sobre um caso ocorrido em 1968, no qual o brigadeiro João Paulo Burnier criou um plano onde haveria uma onda de atentados e a culpa recairia sobre os comunistas. A ação heroica do militar Sérgio Macaco, que denunciou o esquema, evitou uma tragédia, onde centenas de pessoas morreriam.

Winston Churchill, em um pronunciamento em 1947 disse uma frase célebre:

– “A democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.

Quase 70 anos depois que Churchill disse esta frase, a situação não mudou. A democracia é um sistema imperfeito, a jovem democracia brasileira pode possuir mais imperfeições ainda, mas não existe como melhorar a democracia fora do estado direito, sem liberdade de expressão. O povo tem muito mais força do que imagina e todas as vezes que a usa faz valer sua vontade. O resultado da votação do “Marco Civil da Internet” na Câmara Federal, na semana passada, foi a mais recente prova disto. Infelizmente o povo brasileiro não exerce seus direitos frequentemente.

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Yusuf Islam, Cat Stevens e um Belo Show

A noite de sábado não foi simplesmente “Another Saturday Night”, antigo sucesso de Cat Stevens. Eu e a Claudia fomos assistir ao show de Yusuf Islam, nome adotado por Cat após sua conversão ao Islamismo, aqui em São Paulo. O início já foi incrível, Yusuf entrou no palco sozinho com seu violão e cantou “Moonshadow” do mesmo jeito dos tempos de Cat. Esta é uma das suas músicas preferidas daquela fase, porque fala da superação das limitações pessoais. A propósito qual foi a última vez que você viu sua sombra sob o luar?

Show de Yusuf no Credicard Hall em 16-11-2013

Show de Yusuf no Credicard Hall em 16-11-2013

Na sequência, ele cantou “Where do the children play?”, com a presença da sua banda a partir da metade da música. Gosto muito desta música, eu aceito e aprecio o desenvolvimento tecnológico, mas sempre tenho receio com o distanciamento das coisas mais simples e puras da vida, como fala o refrão:

I know we’ve come a long way.
We’re changin’ day to day,
But tell me, where do the children play?

Depois se sucederam vários clássicos como “I love my dog” do primeiro disco de 1966 e a verdadeira “The first cut is the deepest” da mesma época. E vieram ainda dos tempos do Cat Stevens “The Wind”, “Morning Has Broken”, “Foreigner Suite”, “Don’t Be Shy”, “Oh Very Young” e a libertária, otimista e pacifista “Peace Train”, além da “All You Need Is Love” dos Beatles. As músicas da fase Yusuf tinham a qualidade e harmonizavam com os clássicos.

Antes de falar do bis gostaria de relembrar um pouco da história do inglês Steven Demetre Georgiou que já foi Cat Stevens e agora é Yusuf Islam. Após um início fulminante de carreira, em 1969, com cerca de vinte anos de idade, contrai tuberculose, quase morre, e fica praticamente um ano internado recuperando-se da doença. Torna-se uma pessoa mais espiritualizada, suas músicas passam a falar mais de paz e harmonia. Alguns anos depois, em 1976, ele tem a experiência definitiva, após quase morrer afogado na praia de Malibu, na Califórnia, sentindo que não se salvaria, faz a promessa:

– Deus, se Você me salvar, eu trabalharei para Você!

Coincidência ou não, uma onda o levou para a praia no instante seguinte à promessa… Seu irmão lhe presenteou com uma edição traduzida do Al Corão. Ele estuda e decide se converter ao Islamismo, abandona a carreira artística e passa a se dedicar às causas humanitárias. Apenas recentemente volta a lançar discos e fazer shows.

A voz de Yusuf, aos 65 anos de idade, continua incrivelmente igual à do tempo do Cat. Talvez a abstinência de álcool e drogas tenha ajudado muito. E agora chegamos ao bis do show, quando ele interpreta dois megassucessos “Father and Son” e “Wild World”.

A história de um filho que quer sair de casa para buscar seus próprios rumos e de um pai que deseja que seu filho fique é tocante. Sempre me emociono ao ouvir a música, talvez porque consigo me identificar com os dois papéis. Música linda com uma linda interpretação!

Para finalizar de forma apoteótica, interpreta “Wild World” com palmas e coros da plateia. Foi um lindo show, de um artista que semeia paz e harmonia. Deu-me uma carga extra de equilíbrio na semana na qual estaremos de mudança para nossa nova casa em Cotia. Vou precisar…

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Turbulência

Neil Young canta o refrão
Driftin’ Back
No meio da turbulência do voo
O Malbec argentino dança um tango na taça.

Se um dia meu corpo não voltar para ti,
Há de existir algo mais sublime…
A vida não pode ser só física!
O fim não pode ser apenas as profundezas do Atlântico…

Se houver algo após meu último suspiro,
Não ficarei decepcionado.
Sonho te reencontrar no Paraíso.

Seria tão bonito quanto o jardim de Monet em Giverny,
Só sem os turistas…
Mas esta ainda não é a hora!

taça de vinho

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A Indignada Passividade do Brasileiro

Daqui da França, acompanhei os comentários indignados de muitos brasileiros sobre a aceitação pelo Supremo Tribunal Federal dos tais embargos infringentes que podem beneficiar doze dos condenados na famosa Ação Penal 470 (popular Mensalão) na semana passada. Tenho uma série de impressões e comentários sobre esta decisão.

Em primeiro lugar, escrevi um artigo há três semanas em que falava da esperança de uma grande mobilização popular do dia 7 de setembro passado. Infelizmente, comparadas com as manifestações de junho, as do Dia da Independência foram pequenas. Não sei o real motivo deste fracasso, se a novidade foi perdida, se foi o medo da violência dos confrontos entre “black blocs” e polícia ou se a velha passividade do brasileiro voltou a imperar. Eu e a Claudia participamos das manifestações em São Paulo. Por sinal, o pessoal saiu da frente do MASP e, quando chegou na esquina da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, a manifestação se dividiu em duas: a parte “black bloc” e a outra que desceu até a Assembleia Legislativa do estado para protestar contra o escândalo dos trens e metros de São Paulo. Havia diferentes “bandeiras” entre os manifestantes, inclusive gente desejosa de uma intervenção militar no país, mas existia uma meta comum a todos, o combate à corrupção. Infelizmente as autoridades do país, desta vez, concluíram que não havia o que temer, porque o povo decidiu ficar em casa.

Manifestação Black Bloc no 7 de setembro em São Paulo

Manifestação Black Bloc no 7 de setembro em São Paulo

Neste contexto, os votos dos ministros do STF foram livres da pressão mais contundente da sociedade brasileira que, ao invés de ir para as ruas e deixar claro que queria o cumprimento imediato das penas dos condenados, achou mais cômodo ficar em casa e atualizar seus status nas redes sociais. Todos nós sabemos como a justiça brasileira é lenta, com inúmeras possibilidades de recursos e agravos. Quem não tem ou teve algum processo de baixa complexidade que levou muitos anos até chegar a sentença final? A aceitação dos agravos infringentes (ou seriam adstringentes) foi muito apertada, 6 votos a 5, devido às interpretações ou interesses divergentes na corte. O voto decisivo, proferido pelo ministro Celso de Mello, obviamente no que se refere à parte legal, deve ser aceito. Meu comentário, neste caso, é que o amplo direito de defesa que o ministro usou como argumento deveria valer, antes de qualquer coisa, para todos aqueles que, muitas vezes, não sabem nem quais são seus direitos. Os condenados neste processo tinham ótimos advogados que conheciam toda a sorte de mecanismos para a obtenção de recursos e embargos.

Ministro Celso de Mello do STF

Ministro Celso de Mello do STF

Vejo muita gente falando que tudo acabará ou já acabou em pizza. Estes embargos valem apenas para duas acusações, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, onde doze réus foram condenados e receberam, pelo menos, 4 votos pela absolvição. Deste modo, o próximo julgamento será muito mais rápido do que o anterior, mas devido aos prazos processuais e recesso do judiciário, deverá ocorrer no primeiro semestre de 2014. Metade dos condenados como Marcos Valério, seus sócios e os dirigentes do Banco Rural, mesmo se forem absolvidos do crime de formação de quadrilha, cumprirão a pena em regime fechado. Para a opinião pública, os casos que realmente importam são de José Genuíno, João Paulo Cunha, Delúbio Soares e, principalmente, José Dirceu. A vantagem deles, se forem inocentados do crime de formação de quadrilha, será a migração do regime fechado para o semiaberto (quando o preso vai dormir na cadeia). Em minha opinião, isto não é uma pizza. Mesmo se José Dirceu cumprir a pena em regime semiaberto, será um verdadeiro marco na história brasileira, porque nenhum político desta envergadura passou por isto durante período democrático no Brasil.

Pizzas no STF

Pizzas no STF

A opinião pública continua satanizando a corrupção na esfera pública, mas é muito amena em relação à esfera privada. Esta semana, no meu treinamento sobre finanças no INSEAD da França, estudamos sobre balanços patrimoniais, demonstrações de resultados e como calcular o desempenho das empresas. Bônus generosos são pagos aos principais executivos de grandes empresas privadas, quando os resultados são atingidos. Veja esta tira de um dos meus personagens preferidos, o Dilbert, abaixo.

Dilbert_accounting

Ou seja, para atingir os resultados e ganhar o bônus, o chefe do Dilbert decide vender para empresas, que provavelmente não pagarão a conta, com prazo para pagar após o recebimento de seu “merecido” bônus. Se você acha que este tipo de “trampa” não existe no âmbito privado, em 2009, o governo americano socorreu vários bancos e seguradoras, entre elas a AIG, maior seguradora dos Estados Unidos. A AIG, à beira da falência na época, foi salva por uma linha de crédito bilionária, mas pagou para dez executivos da empresa, como bônus, US$ 165 milhões. Parece que esta atitude não foi uma exclusividade dos executivos da AIG, aconteceu algo parecido em outros bancos americanos.

Este exemplo apenas nos mostra como a ética é maltratada por todos os lugares e não apenas no governo federal do PT, ou no mensalão mineiro do PSDB, ou nos escândalos do DEM no Distrito Federal, ou em inúmeros casos em prefeituras brasileiras, ou hospitais públicos, ou empresas privadas…

Destaco esta parte da música Money do Pink Floyd:

Money, it’s a crime
Share it fairly but don’t take a slice of my pie.
Money, so they say
Is the root of all evil today
But if you ask for a raise it’s no surprise that they’re
Giving none away

Acho que o dinheiro em si não é a “raiz de todo o mal hoje”, mas sim a ambição cega por dinheiro e poder e suas consequências! Mas isto já é outro artigo…

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Che Guevara: Anjo ou Demônio?

Esta é minha terceira viagem ao Canadá em 2012. Desta vez escolhi o filme “Diários de Motocicleta” para meu entretenimento durante o jantar. O filme trata de uma viagem que Ernesto Che Guevara e seu amigo Alberto Granado fizeram pela América Latina em 1952.

Che Guevara é daquelas figuras que a maioria das pessoas ama ou odeia. Todos os grandes líderes revolucionários de esquerda fazem parte deste clube como Lenin, Mao Tse Tung e Fidel Castro. Na política brasileira, o grande nome, sem dúvida, é Getúlio Vargas: endeusado pela maioria dos gaúchos e odiado pela maioria dos paulistas.

Ernesto Che Guevara

Ernesto Che Guevara

Voltando ao filme, Guevara tinha uma vida tranquila em Buenos Aires. Ele estava praticamente se formando em medicina aos 23 anos de idade e seu hobby preferido era jogar rúgbi. Na sua viagem de moto, ele se confronta com uma realidade totalmente diferente da sua vida “pasteurizada”. Ele vê, convive e sofre com a miséria extrema que colonos, índios e mestiços sem posses são submetidos no interior da América Latina. Na parte final do filme, ele e Alberto trabalham como voluntários em uma colônia de leprosos na Amazônia peruana. Fica chocado com a separação dos doentes das outras pessoas – médicos, religiosas, enfermeiras – feita através de um grande rio.

A questão básica é se as motivações de Ernesto Guevara eram justas. Minha resposta é sim! Não devemos ser insensíveis à miséria e às injustiças. Neste momento, chegamos à pergunta cuja resposta torna Che Guevara e outras figuras históricas tão polêmicas:

– Se a causa é justa, vale qualquer método para torná-la realidade?

Ernesto Che Guevara acreditava que apenas a luta armada mudaria aquela situação que ele vivenciou em sua viagem pela América Latina. Por outro lado, em todas as guerras, inocentes são mortos, crimes são cometidos e injustiças imperdoáveis são justificadas. Para ele estas perdas seriam aceitáveis, o que eu não concordo. Certa vez li, não me recordo onde, a seguinte frase:

– Até os mais nobres fins são conspurcados pelos meios empregados para obtê-los.

Isto explica a polêmica em torno da maioria dos grandes líderes da história da humanidade. Todos tinham defeitos e virtudes como cada um de nós, mas suas qualidades foram decisivas dentro de determinado contexto histórico. Muitos lutaram contra o Apartheid na África do Sul, mas Gandhi e Mandela optaram por não usar violência. Isto os coloca acima dos demais! Muitos lutaram contra a discriminação racial nos Estados Unidos, Martin Luther King escolheu a não violência como forma de ação e ajudou a melhorar situação dos negros sem derramamento de sangue, com exceção do seu próprio.

Martin Luther King - Nelson Mandela - Mahatma Gandhi

Martin Luther King (esquerda), Nelson Mandela (direita acima) e Mahatma Gandhi (direita abaixo)

Che Guevara decidiu agir com 24 anos para melhorar a vidas dos oprimidos da América Latina. Sua opção pela luta armada, em minha opinião, deve ser criticada, mas, por outro lado, devemos entender que foi tomada por um jovem idealista num contexto muito diferente do atual. Não devemos ser maniqueístas em relação a pessoas, países, religiões, culturas… Devemos analisar sempre nossos atos e nunca seguir líderes cegamente (como apresentei na série de posts sobre o Efeito Lúcifer), porque, como todos os seres humanos, eles acertam e erram.

Assista ao filme! Vale pela história, pelas atuações de Gael Garcia Bernal como Che Guevara e de Rodrigo de La Serna como Alberto Granado, pela música em especial “Al outro lado do rio” do uruguaio Jorge Drexler. Escute esta bela música com imagens de diversas cenas do filme. Como assisti ao filme em espanhol com legendas em inglês, o lado cômico foi a tradução dos palavrões que Alberto Granado volta e meia lançava sobre Ernesto Guevara, até aprendi uns novos de baixíssimo nível.

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O Diabo Sempre Cobra a Conta

Outro dia recebi uma mensagem com a propaganda de um curso. No final tinha a seguinte frase:

– “O que sua empresa quer é sua inteligência, criatividade, capacidade inovadora, motivação, comprometimento e não o seu sangue”.

Comecei a pensar sobre a frase e cheguei a conclusão que isto necessariamente não era uma coisa boa. Afinal as empresas estavam querendo as nossas ALMAS!!!

Lembrei de um filme dos anos 80, Crossroads. Filme muito bom, especialmente para quem gosta de blues e rock. Ralph Macchio, o Karate Kid original, é o ator principal. Durante o filme ele é dublado pelo grande guitarrista Ry Cooder. O filme trata da lenda dos pactos com o diabo de grandes músicos do blues para atingir o sucesso. Para salvar a alma do seu companheiro de jornada, Ralph Macchio aceita enfrentar o guitarrista do diabo interpretado pelo “monstro” Steve Vai. O duelo é vencido quando Ralph, dublado desta vez pelo próprio Steve Vai, toca Bach na guitarra. Afinal se Johann Sebastian Bach toca a música que vem do Céu, como o guitarrista do diabo poderia vencer o duelo? Assista à cena do duelo.

Se as empresas querem nossa “alma”, não devemos “vendê-la” a uma empresa antiética , apenas em troca do sucesso. Como aconteceu no filme, um dia o “diabo” virá cobrar a conta…

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O Angustiante Retrato Pintado pelo Pink Floyd não Pode Representar Nossas Vidas

Em 1973, a banda inglesa Pink Floyd lançou seu disco de maior sucesso, “The Dark Side of the Moon”. Ao longo de suas faixas, as angústias do ser humano devido às pressões do dia-a-dia foram escancaradas.

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Capa do disco “the Dark Side of the Moon” do Pink Floyd

O ápice, em minha opinião, é a música “Time”. A letra é melancólica e nos faz refletir sobre o sentido de nossas vidas. Assista ao vídeo gravado em 1994.

Ticking away the moments that make up a dull day
You fritter and waste the hours in an offhand way.
Kicking around on a piece of ground in your home town
Waiting for soemone or something to show you the way.

Tired of lying in the sunshine staying home to watch the rain.
You are young and life is long and there is time to kill today.
And then one day you find ten years have got behind you.
No one told you when to run, you missed the starting gun.

So you run and you run to catch up with the sun but it’s sinking
Racing around to come up behind you again.
The sun is the same in a relative way but you’re older,
Shorter of breath and one day closer to death.

Every year is getting shorter never seem to find the time.
Plans that either come to nought or half a page of scribbledlines
Hanging on in quiet desparation is the English way
The time is gone, the song is over,
Thought I’d something more to say.

Quem não deseja, de vez em quando, que o tempo passe mais rápido? Quem não tem vontade de passar um dia ou uma semana sem fazer nada? Quem nunca teve a sensação de que perdeu um dia, um mês ou um ano da sua vida? Quem não passa por momentos em que se sente um mero passageiro na sua própria vida? Quem nunca se achou velho demais para fazer alguma coisa que sempre gostou ou sempre sonhou em fazer?

Se você, neste momento, sentir vontade de acabar com a sua vida. Por favor, não faça isto! Não consegui te convencer? Então, em primeiro lugar, saia deste blog. Apague o histórico da Internet e desligue o computador. Não quero ver o William Bonner no Jornal Nacional, dizendo que eu causei um suicídio.

Deixando de lado as brincadeiras, o que eu gostaria de dizer, mais uma vez, é que nós devemos pilotar nossas vidas. Sei que existem milhões de fatores externos que não controlamos, mas, por outro lado, existem centenas que estão em nossas mãos. Vamos manter nossa angústia sob controle em relação ao que não temos como influenciar. Planejaremos o que está dentro de nosso círculo de influência e vamos viver nossas vidas da melhor forma possível.

A definição dos seus valores e das coisas importantes na sua vida é um bom ponto de partida.

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Criatividade em Tempos Difíceis: Música “Construção” de Chico Buarque

Os momentos de dificuldade podem ser verdadeiros motores para que um profissional talentoso use todo seu potencial. Grandes desafios tecnológicos ou restrições de cronograma e orçamento podem ser o ponto de partida para a busca de novas formas para realizar projetos.

Nestes momentos, deve-se evitar a aceitação de ideias dominantes, obstáculos, experiências passadas obtidas em outras circunstâncias, decisões prematuras e pensamentos convencionais.

A livre associação de ideias deve ser estimulada. As barreiras devem ser questionadas e superadas. Novas conexões entre conceitos e tecnologias devem ser criadas.

MacGyver - O Rei da Criatividade sob Pressão

MacGyver - O Rei da Criatividade sob Pressão

Durante o período da ditadura militar no Brasil, as manifestações culturais e artísticas foram censuradas com rigor. Apesar destas limitações, Chico Buarque criou verdadeiras obras primas da música popular brasileira. Posso citar “Apesar de Você”, “Cálice”, “Meu Caro Amigo”, “Roda Viva” e “Construção”. As letras tinham duplo sentido e passavam mensagens contra o regime militar. Todo o talento do Chico foi desafiado pela barreira da censura, mas ele conseguiu superá-la.

Abaixo você pode assistir à apresentação da música “Construção” de Chico Buarque. Esta música acabou de ser considerada pela revista Rolling Stones Brasil como a melhor música brasileira de todos os tempos.

 

Atenção para a maravilhosa poesia. Bela, densa, crua, triste, sufocante, libertadora…

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

Chico é simplesmente genial…

Ele desafiou o status quo da época. Cabe a nós desafiarmos o status quo de nossas empresas. Vamos usar nossa criatividade!

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Interpretação Definitiva de Johnny Cash para ONE do U2

Jogo futebol todas as segundas-feiras e não gosto de perder um minuto sequer do jogo. Um dia eu estava chegando no ginásio em cima da hora, quando o rádio começou a tocar a música One do U2, mas não era Bono Vox que estava cantando. Eu estacionei o carro em frente ao ginásio e fiquei extasiado com a interpretação de Johnny Cash. Ouvi a música até o final. Naquele dia fiquei na reserva do time e esperei minha vez para entrar na partida, mas estava feliz. Valeu à pena! Ouça a música e veja a letra.

Parece que a letra, na voz de Johnny Cash, ganhou outra dimensão. Quem não teve vontade de cantar alguma vez na vida coisas como:

You say one love, one life
It’s one need in the night
One love, we get to share it
Leaves you baby, if you don’t care for it.

Ou

Well, it’s too late, tonight,
To drag the past out into the light
We’re one, but we’re not the same
We get to carry each other, carry each other
One

Ou

Did I ask too much, more than a lot?
You gave me nothing, now it’s all I got
We’re one, but we’re not the same.
Well, we hurt each other, then we do it again.

Mas hoje eu prefiro cantar dois versos:

Love is a temple, love is a higher law.

We get to carry each other, carry each other.
One love! One!

Sempre tem uma boa música para cada momento de nossas vidas. Parece que Johnny Cash combina com aqueles momentos em que nos sentimos sós no mundo…

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