Arquivo do mês: setembro 2013

A Indignada Passividade do Brasileiro

Daqui da França, acompanhei os comentários indignados de muitos brasileiros sobre a aceitação pelo Supremo Tribunal Federal dos tais embargos infringentes que podem beneficiar doze dos condenados na famosa Ação Penal 470 (popular Mensalão) na semana passada. Tenho uma série de impressões e comentários sobre esta decisão.

Em primeiro lugar, escrevi um artigo há três semanas em que falava da esperança de uma grande mobilização popular do dia 7 de setembro passado. Infelizmente, comparadas com as manifestações de junho, as do Dia da Independência foram pequenas. Não sei o real motivo deste fracasso, se a novidade foi perdida, se foi o medo da violência dos confrontos entre “black blocs” e polícia ou se a velha passividade do brasileiro voltou a imperar. Eu e a Claudia participamos das manifestações em São Paulo. Por sinal, o pessoal saiu da frente do MASP e, quando chegou na esquina da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, a manifestação se dividiu em duas: a parte “black bloc” e a outra que desceu até a Assembleia Legislativa do estado para protestar contra o escândalo dos trens e metros de São Paulo. Havia diferentes “bandeiras” entre os manifestantes, inclusive gente desejosa de uma intervenção militar no país, mas existia uma meta comum a todos, o combate à corrupção. Infelizmente as autoridades do país, desta vez, concluíram que não havia o que temer, porque o povo decidiu ficar em casa.

Manifestação Black Bloc no 7 de setembro em São Paulo

Manifestação Black Bloc no 7 de setembro em São Paulo

Neste contexto, os votos dos ministros do STF foram livres da pressão mais contundente da sociedade brasileira que, ao invés de ir para as ruas e deixar claro que queria o cumprimento imediato das penas dos condenados, achou mais cômodo ficar em casa e atualizar seus status nas redes sociais. Todos nós sabemos como a justiça brasileira é lenta, com inúmeras possibilidades de recursos e agravos. Quem não tem ou teve algum processo de baixa complexidade que levou muitos anos até chegar a sentença final? A aceitação dos agravos infringentes (ou seriam adstringentes) foi muito apertada, 6 votos a 5, devido às interpretações ou interesses divergentes na corte. O voto decisivo, proferido pelo ministro Celso de Mello, obviamente no que se refere à parte legal, deve ser aceito. Meu comentário, neste caso, é que o amplo direito de defesa que o ministro usou como argumento deveria valer, antes de qualquer coisa, para todos aqueles que, muitas vezes, não sabem nem quais são seus direitos. Os condenados neste processo tinham ótimos advogados que conheciam toda a sorte de mecanismos para a obtenção de recursos e embargos.

Ministro Celso de Mello do STF

Ministro Celso de Mello do STF

Vejo muita gente falando que tudo acabará ou já acabou em pizza. Estes embargos valem apenas para duas acusações, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, onde doze réus foram condenados e receberam, pelo menos, 4 votos pela absolvição. Deste modo, o próximo julgamento será muito mais rápido do que o anterior, mas devido aos prazos processuais e recesso do judiciário, deverá ocorrer no primeiro semestre de 2014. Metade dos condenados como Marcos Valério, seus sócios e os dirigentes do Banco Rural, mesmo se forem absolvidos do crime de formação de quadrilha, cumprirão a pena em regime fechado. Para a opinião pública, os casos que realmente importam são de José Genuíno, João Paulo Cunha, Delúbio Soares e, principalmente, José Dirceu. A vantagem deles, se forem inocentados do crime de formação de quadrilha, será a migração do regime fechado para o semiaberto (quando o preso vai dormir na cadeia). Em minha opinião, isto não é uma pizza. Mesmo se José Dirceu cumprir a pena em regime semiaberto, será um verdadeiro marco na história brasileira, porque nenhum político desta envergadura passou por isto durante período democrático no Brasil.

Pizzas no STF

Pizzas no STF

A opinião pública continua satanizando a corrupção na esfera pública, mas é muito amena em relação à esfera privada. Esta semana, no meu treinamento sobre finanças no INSEAD da França, estudamos sobre balanços patrimoniais, demonstrações de resultados e como calcular o desempenho das empresas. Bônus generosos são pagos aos principais executivos de grandes empresas privadas, quando os resultados são atingidos. Veja esta tira de um dos meus personagens preferidos, o Dilbert, abaixo.

Dilbert_accounting

Ou seja, para atingir os resultados e ganhar o bônus, o chefe do Dilbert decide vender para empresas, que provavelmente não pagarão a conta, com prazo para pagar após o recebimento de seu “merecido” bônus. Se você acha que este tipo de “trampa” não existe no âmbito privado, em 2009, o governo americano socorreu vários bancos e seguradoras, entre elas a AIG, maior seguradora dos Estados Unidos. A AIG, à beira da falência na época, foi salva por uma linha de crédito bilionária, mas pagou para dez executivos da empresa, como bônus, US$ 165 milhões. Parece que esta atitude não foi uma exclusividade dos executivos da AIG, aconteceu algo parecido em outros bancos americanos.

Este exemplo apenas nos mostra como a ética é maltratada por todos os lugares e não apenas no governo federal do PT, ou no mensalão mineiro do PSDB, ou nos escândalos do DEM no Distrito Federal, ou em inúmeros casos em prefeituras brasileiras, ou hospitais públicos, ou empresas privadas…

Destaco esta parte da música Money do Pink Floyd:

Money, it’s a crime
Share it fairly but don’t take a slice of my pie.
Money, so they say
Is the root of all evil today
But if you ask for a raise it’s no surprise that they’re
Giving none away

Acho que o dinheiro em si não é a “raiz de todo o mal hoje”, mas sim a ambição cega por dinheiro e poder e suas consequências! Mas isto já é outro artigo…

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Pra Não Dizer que Não Falei das Flores

Há pouco mais de dois anos, eu e a Claudia passamos nossas férias em Paris. Logo após a visita ao Museu Rodin, nos dirigimos ao Hotel dos Inválidos que fica ao lado. Exploramos apenas o lado externo, porque a Claudia não quis entrar para ver o Museu do Exército ou a tumba de Napoleão Bonaparte. Eu aceitei a decisão e falei para ela que na primeira vez que eu estivesse sozinho em Paris faria esta visita.

Hotel dos Inválidos - Paris

Hotel dos Inválidos – Paris

O dia chegou! Estou fazendo um treinamento esta semana em Fontainebleau e aproveitei para passar o final de semana passado em Paris. Cheguei ao “Les Invalides” no final da manhã de domingo e comecei pelo museu que conta a história das guerras em que o exército francês participou no final do século XIX, Primeira e Segunda Guerras Mundiais. Na sequência visitei a tumba de Napoleão Bonaparte, ou Napoleão I. Depois passei pelas alas dedicadas ao exército francês e suas guerras desde a monarquia, passando pela Revolução Francesa, por Napoleão, pela restauração da monarquia, por uma nova tentativa de república, por uma nova tentativa de império com Napoleão III e enfim a chamada Terceira República.

Tumba de Napoleão Bonaparte

Tumba de Napoleão Bonaparte

Foi muito deprimente ver todo o esforço e dispêndio de recursos dedicados para a guerra, onde o resultado final é sempre mortes, destruição e sofrimento. E todas as histórias, neste museu, eram basicamente variações sobre o mesmo tema:

– o líder de um país queria mais poder e resolvia invadir o vizinho. Não ficava satisfeito e invadia seu novo vizinho, mas ainda queria mais, e invadia mais um e continuava até perder feio alguma batalha. Depois desta derrota, várias outras viriam até a destruição do país e a destituição do seu antigo líder.

– os vencedores finais, que foram originalmente agredidos, vingavam-se através de tratados de paz que levavam humilhação e miséria aos perdedores.

– os países perdedores, depois de algum tempo tentando sair do buraco, ficavam instáveis social, econômica e politicamente. Nesta hora, aparecia um líder carismático que prometia a solução de todos os problemas. Foi assim após a Revolução Francesa com Napoleão ou, na Alemanha, após a Primeira Guerra Mundial com Hitler.

– estes líderes faziam muita coisa boa, como resultado, eles aumentavam seu poder até ficar absoluto, mas, sob o pretexto de se defender dos vizinhos ou vingar-se dos vencedores da guerra anterior, iniciavam novas guerras e o ciclo se repetia.

Incrível como a espécie humana que cria maravilhosas obras de arte, desenvolve técnicas para curar todas as doenças, decifra segredos das ciências, faz grandes obras de engenharia, também faz a guerra, o horror, a antítese de toda a beleza. Na Primeira Guerra Mundial, milhares morreram dentro de trincheiras, por ação de bombas ou gases tóxicos. No final da Segunda Guerra, os americanos testaram um novo armamento, a bomba atômica, com destruição total de Hiroshima e Nagasaki.

Bomba Atômica lançada em Nagasaki (06-08-1945)

Bomba Atômica lançada em Nagasaki  (06-08-1945)

Shakespeare apresenta, em suas peças, várias histórias de guerra que mostram a futilidade dos motivos da guerra. Na peça histórica sobre o rei da Inglaterra Henrique V, ele inicia uma guerra contra a França por acreditar que tem direito ao trono daquele país. Em Hamlet, um capitão do exército norueguês, em nome de um príncipe, pede permissão para uma tropa de seu exército cruzar o território dinamarquês. Hamlet surpreende-se quando recebe a explicação que o motivo da guerra é um pequeno território sem valor na Polônia. Quando o capitão do exército norueguês sai, ele tem um de seus monólogos e, em certo momento, define bem aquela guerra:

Vejo a morte iminente de vinte mil homens que, por um capricho, uma ilusão de glória, caminham para a cova como quem vai pro leito, combatendo por um terreno no qual não há espaço para lutarem todos; nem dá tumba suficiente pra esconder os mortos…

A estupidez dos motivos da guerra persiste até hoje, pode ser petróleo, ideologia, religião, etnia, um pedaço de terra qualquer…

Mas afinal qual é a relação entre o título deste artigo e seu conteúdo? O que flores têm a ver com a guerra? Pela manhã, antes de pegar o metrô para “Les Invalides”, passeei no “Jardin des Plantes”, um daqueles lugares com energia boa que revigoram qualquer um. Talvez por isso eu não saí de “Les Invalides” deprimido, porque o ser humano que cria um lugar como “Jardin des Plantes”, não pode soltar bombas ou gases tóxicos em cima dos outros seres humanos. E aí estão algumas das belas flores que fotografei na manhã deste domingo, pra não dizer que não falei das flores…

Flores_Jardin-des-Plantes

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Deus nos Livre do Politicamente Correto!

Ontem revi a comédia dramática francesa “Intocáveis” (Intouchables). O filme mostra o relacionamento entre o milionário tetraplégico Phillippe, vivido por François Cluzet, e seu ajudante, o negro senegalês Driss, atuação sensacional de Omar Sy.

Intocaveis

O melhor do filme é o humor politicamente incorreto de Driss ao fazer piadas, todo tempo, sobre as limitações de Phillippe. Você pode ver abaixo algumas situações no trailer do filme.

Muitas vezes o politicamente correto confunde-se com educação. Sinceramente eu não gosto desta tendência. Todos nós temos diferenças e semelhanças. Deste modo, devemos tratar todos com educação, entendendo que os direitos são os mesmos, apesar das diferenças e limitações de cada um. O que seria melhor, em termos de educação, chamar de negro ou afrodescendente? Em minha opinião, não é preciso criar outra designação para o negro, porque dizer que um negro é negro, não representa um desrespeito.

O humorista brasileiro Geraldo Magela, por exemplo, sempre diz que não é deficiente visual, na verdade ele é cego! Do mesmo modo, não vejo problema de chamar um surdo de surdo, ao invés de deficiente auditivo.

O ceguinho Geraldo Magela

O ceguinho Geraldo Magela

Eu sempre brinco que o Saci Pererê seria descrito, de acordo com esta onda, como um jovem afrodescendente com necessidades especiais.

Acho que fui vacinado contra esta forma de agir no segundo grau, quando tive um colega paraplégico, o Éden. Nós fazíamos tudo junto com ele. Muitas vezes ele era o goleiro do nosso time de futsal. Lembro-me de um jogo no qual uma bola chutada de fora da área acertou a roda da sua cadeira e foi encaminhando-se lentamente para o gol. O Éden não hesitou, saltou no chão para fazer a defesa, alcançou a bola logo após ela ter cruzado a linha do gol, mas o juiz não confirmou o gol, nem os adversários reclamaram. Nosso time vibrava, enquanto o outro time manteve um silencioso respeitoso. Afinal seria injusto não premiar aquele esforço…

A nossa festa de formatura foi realizada em um clube de Porto Alegre. No final da noite, a galera começou a pular na piscina. Alguém encostou no Éden e perguntou se ele sabia nadar. Como a resposta foi afirmativa, imediatamente ele foi arremessado na água.

Foto da Formatura de  2º grau do Colégio Sévigné (Éden está de terno e gravata no centro)

Foto da Formatura de 2º grau do Colégio Sévigné (Éden está de terno e gravata no centro)

Edén era levado para todos os lados, numa época que ninguém falava em acessibilidade, sempre havia escadas a serem vencidas, e ele normalmente participava de todas nossas festas e atividades extraclasse. Da mesma forma, Driss fazia Phillippe sentir-se integrado e vivo apesar das suas limitações. Esta é uma das graças da vida, ser natural com todas as pessoas, ter educação sem criar o distanciamento do politicamente correto e ter um sorriso para todos. Em troca, receberemos aquela energia positiva que as pessoas nos transmitem quando gostam da nossa presença. Todos ganham!

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Luther King, Donadon, Reforma Política e o Sete de Setembro

No dia 28 de agosto, comemorou-se o cinquentenário do famoso discurso “I Have a Dream” (“Eu Tenho um Sonho”) do advogado, pastor, ativista dos direitos humanos e pacifista Martin Luther King Jr. no Memorial de Lincoln em Washington, a capital americana. Este discurso foi o ápice da Marcha sobre Washington, movimento que reuniu entre 200 e 300 mil manifestantes que pediam justiça social e o fim da segregação racial nos Estados Unidos. Parece incrível que há apenas cinquenta anos os negros norte-americanos em alguns estados não tinham o direito de votar. Também é incrível a aceitação da existência de estabelecimentos, como hotéis e restaurantes, com atendimento exclusivo para brancos. Assista a este inspirador discurso, com legendas em português, nos dois vídeos abaixo:

– primeira parte

– segunda parte

Ironicamente, no mesmo dia, a Câmara dos Deputados do Brasil livrou da cassação o deputado Natan Donadon. Para quem não acompanhou este caso, eu faço um rápido resumo. Este deputado está preso em Brasília há uns dois meses após ser condenado a uma pena de mais de 13 anos em regime fechado por desvio de recursos públicos no estado de Rondônia. Como todo preso já condenado perde automaticamente seus direitos políticos, deveria acontecer o mesmo a Donadon, mas a Câmara resolveu analisar o caso na Comissão de Ética. O relator pediu a cassação em votação no plenário, onde seriam necessários 257 votos. A votação, como infelizmente acontece nestes casos, foi secreta e apenas 233 deputados votaram pela cassação. Houve 131 votos contra, 41 abstenções, 54 deputados presentes na sessão não votaram e outros 54 simplesmente não compareceram. Qual é o julgamento moral sobre estes 280 deputados que não votaram a favor da cassação do mandato de Natan Donadon?

Deputado Natan Donadon, no centro algemado.

Deputado Natan Donadon, no centro algemado.

Fica claro por tudo que assistimos em nosso parlamento que urge uma reforma política no Brasil. Eu tenho uma lista de itens que deveriam ser alterados:

– fim do voto secreto em todas as votações do congresso ou sessões fechadas ao público ou imprensa – o eleitor tem direito de saber como seu representante age;
– financiamento público de campanha – fim das contribuições de pessoas físicas ou jurídicas que geram compromissos futuros;
– voto distrital – cada deputado seria eleito pela maioria dos votos de seu distrito eleitoral, seria o fim dos puxadores de votos (caso Enéas Carneiro e Tiririca);
– mecanismos de democracia direta – facilitação da apresentação de propostas populares e o “recall” do mandato dos parlamentares (se não fizer o que prometeu na campanha, perde o mandato);
– coincidência das eleições – teríamos eleições gerais a cada quatro anos, seriam escolhidos simultaneamente vereadores, prefeitos, deputados estaduais, governadores, deputados federais, senadores e presidente. Assim termina aquela história de abandonar a prefeitura para concorrer a outro cargo ou largar o mandato de deputado para concorrer a prefeito;
– fim da reeleição para cargos executivos – reduziria o uso da máquina pública por parte dos prefeitos, governadores e presidente;
– limite de dois mandatos legislativos consecutivos – estimularia a renovação na política.

Nem falei das mordomias, assessores, salários com reajustes generosos, pensão para aposentadoria…

Claro que com este congresso nada vai mudar! Esta votação da cassação do mandato do Natan Donadon é apenas mais um episódio de uma longa lista da má conduta da maioria dos nossos parlamentares. Por que eles mexeriam no status quo que está tão favorável para a classe política?

Chegou a hora do povo voltar para rua, como fez junho, para forçar os políticos a fazerem estas reformas. Se não houver tempo hábil para estas eleições que passem a valer para as seguintes. A Lei da Ficha Limpa, por exemplo, não valeu para a eleição passada do Congresso Nacional, mas valerá para a próxima e várias figurinhas carimbadas da nossa política estarão inelegíveis. Agora farei um plágio do discurso de Martin Luther King com o qual iniciei este artigo:

– Viemos à rua para lembrar ao Brasil da veemente urgência do agora. Este não é o tempo para se dedicar à luxuria da postergação, nem para se tomar a pílula tranquilizante do gradualismo. Agora é o tempo para que se tornem reais as promessas da Democracia. Agora é o tempo para que nos levantemos do vale escuro e desolado da marginalização para o iluminado caminho da justiça social. Agora é o tempo de abrir as portas da oportunidade para todos os brasileiros. Agora é o tempo para levantar nossa nação da areia movediça da injustiça social para a rocha sólida da fraternidade.

– Seria fatal para a nação não levar a sério a urgência do momento e subestimar a determinação do povo. Este descontentamento legítimo do povo não passará até que ocorram as mudanças necessárias. O ano de 2013 não é um fim, mas um começo. Aqueles que creem que o povo precisava apenas desabafar, e que agora ficará contente como está, terão um despertar abrupto se a Nação não retornar à sua vida normal como sempre. Não haverá tranquilidade nem descanso no Brasil até que o povo tenha garantido todos os seus direitos de cidadania. Os turbilhões da revolta continuarão a sacudir as fundações de nossa Nação até que desponte o luminoso dia da justiça.

– Existe algo, porém, que devo dizer ao povo que se encontra no caloroso limiar que conduz ao palácio da justiça. No processo de conquistarmos nossos direitos, não devemos ser responsáveis por atos irregulares. Não busquemos satisfazer a sede pela justiça, tomando da taça da amargura e do ódio. Devemos conduzir sempre nossa luta no plano elevado da dignidade e disciplina. Não devemos deixar que nosso protesto criativo se degenere em violência física. Sempre e cada vez mais devemos nos erguer às alturas majestosas de enfrentar a força física com a força da alma.

– À medida que caminhamos, devemos assumir o compromisso de marcharmos avante. Não podemos retroceder. Existem aqueles que estão perguntando: “Quando vocês ficarão satisfeitos?” Não podemos ficar satisfeitos enquanto o povo for vítima dos horrores incontáveis da brutalidade policial. Não podemos ficar satisfeitos enquanto o povo não tiver educação, saúde, habitação e bons serviços de transporte. Não, não, não estamos satisfeitos, e não ficaremos satisfeitos até que a justiça seja conquistada.

– Digo-lhes, hoje, meus amigos, que apesar das dificuldades e frustrações do momento, ainda tenho um sonho. Tenho um sonho que algum dia os filhos dos ricos e os filhos dos pobres poderão sentar à mesma mesa, andarem de mãos dadas e terem oportunidades iguais para uma vida digna.

– Tenho um sonho que meus três filhos viverão um dia em uma nação onde não serão julgados pela cor de sua pele, pela aparência, pela posição que ocupam ou por seus bens materiais, mas pelo conteúdo de seu caráter.

Martin Luther King no Memorial de Lincoln

Martin Luther King no Memorial de Lincoln

Encerro este artigo conclamando todos os brasileiros a fazerem as maiores manifestações populares da história do Brasil no próximo dia 7 de setembro. Seremos os agentes das mudanças que o povo do nosso país tanto precisa. Procure saber onde serão as manifestações em sua cidade e participe. Como diria Castro Alves, “a praça é do povo como o céu é do condor”.

Por gentileza, responda a enquete abaixo:

 

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