Quando viajo para fora do Brasil, através de uma empresa aérea estrangeira, costumo prestar a atenção na comunicação em português feita pelos comissários de bordo. Às vezes o funcionário é brasileiro e o aviso, evidentemente, fica perfeito. Noutras ocasiões, o comissário estrangeiro domina bem a língua de Camões e Machado de Assis. Finalmente existem os casos onde o comissário tem muitas dificuldades com nosso idioma e hesitações, erros e confusões acontecem. Ontem, logo após a aterrissagem em São Paulo do voo originário de Toronto, aconteceu a terceira alternativa. Após os avisos em inglês e francês, veio uma enrolada comunicação em português:
– Não esqueçam seus objetivos pessoais no avião!
Claro que ele se referia aos objetos pessoais… Tive aquela vontade de dar boas risadas, olhei para o lado e outro passageiro estava com a mesma expressão irônica. Balancei a cabeça afirmativamente para ele que sorriu para mim. Voltei a me acomodar normalmente no meu assento, enquanto o avião taxiava na pista do Aeroporto de Guarulhos, mas a frase do comissário da Air Canada voltava logo na minha cabeça. Inicialmente dei algumas risadas, depois um pensamento perturbador me atingiu. Havia sentido na frase do canadense. Não esquecemos nossos objetivos pessoais apenas nos aviões, também os deixamos para trás no trânsito, nos nossos lares, nos nossos locais de trabalho, enfim, em todos os lugares.
Na maior parte do tempo, seguimos como no refrão daquele samba do Zeca Pagodinho:
– Deixa a vida me levar…
Claro que nossos valores são a base de tudo. Eles nos dão as balizas do que pode e do que não deve ser feito na busca dos nossos objetivos pessoais. Isto não quer dizer que eles sejam imutáveis, porque podemos modificar nossa visão em relação a tudo – ética, família, religião, natureza, animais… De qualquer forma, os valores deverão ser sempre respeitados na busca de nossos objetivos, porque os fins não podem justificar os meios!
Do mesmo modo, os objetivos pessoais vão mudando ao longo da vida, porque dependem dos valores, da maturidade e dos conhecimentos de cada um. O que não é admissível é viver sem propósitos ou passar anos fazendo alguma coisa que não ajude a aproximar-se dos objetivos. Nesta hora, precisamos de atenção para não esquecer nossos objetivos pessoais “em qualquer lugar” e virar passageiro da própria vida. Se os objetivos ainda são válidos e não estamos agindo proativamente para atingi-los, devemos nos munir de coragem para reverter a situação. Afinal a vida é um dom precioso demais para ser displicentemente desperdiçada.