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Meu Cinquentenário

Não é todo dia que se completa 50 anos. OK, vale o mesmo para 20, 32, 45 ou qualquer outra idade. A questão é o simbolismo dos 50 ou meio século se preferirem…

Passei um ano muito mais complicado do que o normal. Pensei muito no que já fiz e, principalmente, no que tenho que fazer para frente. Isto gerou uma tensão, porque não é fácil vislumbrar o próprio futuro. Só recentemente comecei a digerir a ideia que continuar minha jornada neste caminho incrível da vida é a melhor, talvez a única, alternativa.

Fiz amizades que gostaria que fossem para toda a vida. Não converso com a maioria destas pessoas há anos. É provável que, se eu encontrar alguns destes amigos do passado, o tempo tenha nos afastado de tal forma que nossa conversa será apenas social. Em compensação, conheci novas pessoas por causa dos meus novos interesses. Muitos dos novos amigos não têm a menor semelhança com os antigos. Será que eu continuo pelo menos, parecido com o Vicente de 20, 30 ou 40 anos atrás? Sinto-me como um agricultor que progressivamente foi trocando as plantas da sua fazenda.

De volta para a jornada, hoje tenho certeza que mais importante do que chegar a algum lugar é prestar atenção no caminho. Muitas vezes, estamos tão certos de que precisamos de alguma coisa que colocamos viseiras, como fazem com os cavalos de carroças, e o mundo ao nosso redor desaparece. Quantas oportunidades são perdidas assim? Nos convencemos que estamos apaixonados por alguém, sofremos loucamente com perdas, cobiçamos uma certa posição, desejamos bens materiais cada vez mais caros. E como ficam os amores maduros, o amor pelos filhos, a alegria de aprender coisas novas, os trabalhos que nos levam à autorrealização ou aquele lugar com atmosfera mágica?

Por exemplo, eu tive diversos tipos de chefes, alguns foram maravilhosos; outros, terríveis. Hoje eu compreendo a importância do sofrimento pelo qual passei nos períodos em que tive estes chefes terríveis. Tornei-me menos orgulhoso, entendi que não podia fazer apenas o que eu queria. Com o tempo também passei a ouvir melhor os outros e refletir se não havia outros caminhos para fazer a mesma atividade. Fiquei mais flexível, menos dono da verdade. Afinal o que é a verdade?

Voltando a falar sobre a jornada, às vezes, esbarramos em alguma coisa que passa a ser uma fonte inesgotável de prazer. Pode ser um hobby, uma música, um filme ou um livro. Para matar o tempo em uma conexão de voo, entrei numa livraria e vi, em uma estante, uma coleção de livros no formato pocket da L&PM. Entre estes livros, estava Hamlet de William Shakespeare. Apanhei o livro e li a primeira página da peça e entendi o que estava escrito. A tradução do Millôr Fernandes era simples; e a leitura, fluida. Comprei e devorei o livro. Depois li outros – Otelo, MacBeth, Júlio César, Rei Lear, Henrique V… O bardo inglês virou meu companheiro fiel de viagens!

No Rei Lear, o bobo da corte, que não tinha nada de bobo, disse para o rei que ele não deveria ter ficado velho antes de ter ficado sábio. Nos últimos anos tenho estudado assuntos muito diferentes dos meus velhos estudos de engenharia – genética, agricultura, filosofia, história… Quanto mais estudo, mais eu percebo que sei quase nada. Sócrates tinha razão! Não tenho a arrogância de me comparar a ele. Assim corro o risco de cair em um dilema. Poderia pensar que é melhor não estudar mais, porque à medida que tenho contato com diferentes disciplinas, me dou conta que meu conhecimento é uma fração cada vez menor do todo. Prefiro me esforçar, sem ansiedade, para, até o dia do meu último suspiro, chegar o mais próximo possível do zero. Aprender todos os dias é uma das belezas desta jornada.

No dia em que Steve Jobs morreu, assisti ao vídeo de uma palestra para formandos da Universidade de Stanford. Jobs deu quatro conselhos valiosos. O primeiro estabelece que só é possível unir os pontos da vida quando se olha para o passado. O segundo manda seguir o seu coração. O terceiro conselho é para não desperdiçarmos nossa vida, vivendo a vida de outra pessoa. E finalmente “stay hungry, stay foolish”. Seja humilde e não sacie nunca sua fome de novos conhecimentos e experiências.

De volta para Shakespeare, qual foi a melhor frase do príncipe Hamlet da Dinamarca? Todos pensarão que é o “ser ou não ser” que ele fala sem segurar uma caveira como muitos pensam. A melhor frase da peça não é de Hamlet e sim de Polônio, um bajulador do rei Cláudio. Quando seu filho Laertes está de saída para passar uma temporada no exterior, depois de vários bons conselhos, Polônio arremata de forma inesquecível:

– E, sobretudo, isto: sê fiel a ti mesmo. Jamais serás falso pra ninguém.

Muito antes de ler esta frase, já tentava seguia este conselho…

O grande David Bowie, que voltou para as estrelas neste ano, fez sucesso com a música “Changes” há 45 anos:

Look out you rock ‘n rollers
Pretty soon you’re gonna get a little older
Time may change me
But I can’t trace time

Se substituirmos a palavra tempo por jornada, posso afirmar que minha jornada me transformou. Felizmente não tenho total controle sobre minha jornada. Esta é a beleza da vida… Esta é a maravilha de olhar para trás e ver 50 anos e desejar viver ainda mais. Que jornada!

Talvez esta seja minha cara daqui umas décadas...

Talvez esta seja minha cara daqui umas décadas…

 

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Stay Hungry, Stay Foolish

Steve Jobs morreu nesta semana que passou. Muito já se falou sobre este gênio que mudou o mundo com as criações da Apple, empresa que fundou. Não pretendo contar a vida deste gênio ou falar sobre suas virtudes e defeitos. Gostaria de resumir e comentar uma famosa palestra feita por ele para formandos na Universidade de Stanford em 2005. Para quem quiser assistir os 14 minutos na íntegra, basta clicar abaixo.

 
A palestra de Jobs tem três partes.

1. Una os pontos da vida

Você não pode conectar os pontos olhando adiante, você só pode conectá-los olhando para trás. Então você tem que confiar que os pontos de algum jeito vão se conectar em seu futuro. Acreditar nisto é fundamental, porque vai lhe dar confiança para seguir seu coração, mesmo que lhe leve para um caminho diferente do previsto e isso fará toda a diferença.

2. Faça o que o coração manda

Jobs estava convencido que a única coisa que lhe permitiu seguir adiante, após sua demissão da Apple, foi o amor pelo que fazia. Você tem que descobrir o que ama. Isto é verdadeiro tanto para seu trabalho, quanto para com as pessoas que ama. Seu trabalho vai preencher uma grande parte da sua vida e a única maneira de ficar realmente satisfeito é fazer o que você acredita ser um excelente trabalho. E a única maneira de fazer um excelente trabalho é amar o que se faz. Se você ainda não encontrou o que é, continue procurando. Não sossegue! Assim como todos os assuntos do coração, você saberá quando encontrar. E, como em qualquer grande relacionamento, só fica melhor à medida que os anos passam. Então continue procurando até encontrar. Não sossegue!

3. Não desperdice seu tempo

Seu tempo é limitado, então não gaste vivendo a vida de outra pessoa. Não caia na armadilha do dogma que é viver com os resultados do pensamento de outra pessoa. Não deixe o ruído da opinião alheia sufocar sua voz interior. E mais importante, tenha coragem de seguir seu coração e sua intuição. Eles, de alguma forma, já sabem o que você realmente quer se tornar. Tudo o mais é secundário!

Steve Jobs em dois momentos da vida

O conselho final para os formandos foi “stay hungry, stay foolish” que, se traduzido literalmente para o português significa “continue faminto, continue tolo”. Afinal o que Steve Jobs quis dizer? Ele aconselhou a sempre termos fome por novos conhecimentos. Não importa a posição, os títulos ou se somos autoridade ou referência em determinada área. Devemos prosseguir esta busca incessante por toda nossas vidas.

A humildade é um aspecto essencial desta busca. Muitas pessoas têm medo de exporem-se e admitirem que não dominam determinado assunto. Não existe forma melhor para adquirir novos conhecimentos do que a troca de informações e experiências em uma conversa desarmada.

Este conselho vai ao encontro daquela passagem em que Sócrates reagiu ao pronunciamento do oráculo de Delfos que o apontara como o mais sábio de todos os homens dizendo “só sei que nada sei”.

Filósofo Sócrates

Quando achamos que sabemos tudo e não temos mais nada para aprender, ficamos estagnados e fracassamos.

Estes conselhos de Steve Jobs, apesar de simples, encerram as bases para uma vida de sucesso, mas não é fácil colocá-los em prática. Persista! Não sossegue!

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