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O Quadragésimo Quarto e as Meias para Aquecer os Pés

Mais um Gre-Nal decidiu o campeonato gaúcho de futebol no domingo passado. Uma velha rotina… Uma hora antes do início do jogo liguei a televisão e coloquei num destes programas esportivos que debatiam as possibilidades de cada clube nas finais dos principais campeonatos estaduais brasileiros. Quando faltavam uns quinze minutos, localizei o canal do pay-per-view onde o jogo passaria.

Os times entraram no gramado do Beira-Rio e as escalações foram apresentadas. Meus pés estavam desagradavelmente gelados. A temperatura ambiente mais baixa não justificava aquela condição. A expectativa do jogo e a influência do pessimismo do meu filho estavam congelando meus pés. A história era parecida em 2006, primeira final de campeonato que nós dois assistimos juntos no estádio. O primeiro jogo das finais acabou empatado em 0x0 no estádio do Grêmio, da mesma forma que em 2015. Naquela ocasião, no jogo de volta no Beira-Rio, ganhávamos a partida até quase o final quando sofremos o empate e perdemos o campeonato, porque o Grêmio fez um gol fora de casa (chamado saldo qualificado). Isto deve ter gerado um trauma esportivo no meu filho, com dez anos na época.

Decidi ir ao quarto antes do jogo começar e escolher um par de meias. Cuidei para que não houvesse nenhum sinal de azul e, pelo menos, algum detalhe vermelho. Superstição boba, mas por que arriscar? Voltei para a sala e vesti as meias. Olhei para meus pés e lembrei-me do meu pai. Podia ser um dia quente de verão, mas toda vez que nos juntávamos para ouvir os jogos do Inter no rádio, ele botava meias para esquentar os pés gelados. Naquele momento, além dos pés, senti meu coração aquecer, motivado por uma saudade gostosa, alegria, paz…

Meias

Isto não evitou que eu xingasse o juiz durante a partida, gritasse loucamente nos gols do Colorado e ficasse apreensivo com a escassez da vantagem. Afinal o Grêmio novamente estava a um gol do título, como em 2006. Mas o resultado final não poderia ser outro – Inter mais uma vez campeão gaúcho, quadragésima quarta conquista estadual, com mais uma vitória sobre seu maior rival.

Inter Pentacampeão Gaúcho 2015  [Fonte: GloboEsporte.com]

Inter Pentacampeão Gaúcho 2015     [Fonte: GloboEsporte.com]

Mas se me perguntarem qual foi a sensação mais prazerosa da tarde, eu responderei, sem nenhuma dúvida, foi o momento no qual olhei meus pés com as meias e as memórias do meu pai voaram dentro da minha cabeça.

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Post 200 – Retrospectiva

Este é o ducentésimo (por que não é “duzentésimo”?) post publicado neste blog.

200-posts

Normalmente o centésimo é mais festejado, talvez pela introdução do terceiro dígito na contagem do número de posts, mas não posso perder a chance de fazer uma retrospectiva dos últimos cem posts publicados.

Vários posts foram inspirados por filmes. “Diários de Motocicleta” ajudou a contar a história da formação da consciência social de Che Guevara. “As Aventuras de Pi” tratou de temas como religiosidade e espiritualidade. “Amour” tratou dos sacrifícios extremos assumidos em nome do amor. “Meia-Noite em Paris” inspirou uma discussão sobre “O Passado e o Futuro”. “Ela” (título original Her) trouxe à tona as maravilhas e os perigos da inteligência artificial meio ano antes do físico Stephen Hawking externar seus temores sobre o assunto (fiquei bem acompanhado desta vez…).

Outros posts resgataram fatos históricos, como as descobertas e invenções de Heron de Alexandria ou o ato heroico de Sérgio Macaco que evitou centenas de mortes durante os anos de chumbo no Brasil. O próprio golpe militar foi protagonista de um post, onde reafirmei minha certeza que a democracia é o único caminho. As semelhanças dos casos de Napoleão Bonaparte e Eike Batista também renderam um post. E a guerra, o ato mais estúpido do ser humano, foi meu alvo após uma visita a Les Invalides em Paris,”Pra Não Dizer que Não Falei das Flores“.

O nascimento de nossa caçula, Luiza, recebeu um post superespecial – “A Maior Emoção da Minha Vida”. A Claudia deve futuramente fazer um post mais aprofundado sobre o parto humanizado.

Alguns posts trataram das minhas visões pessoais sobre família, amor pelos filhos (“Quando nos sentimos pais”) e educação dos filhos (“O que Dar e o que Esperar do Futuro de Nossos Filhos”). Afinal minha riqueza não deve ser medida pelos meus bens materiais, mas pela qualidade dos meus relacionamentos e “Eu Sou um Homem Rico”.

As questões do exibicionismo e da privacidade foram discutidas em dois posts, o primeiro sobre o BBB e o segundo que também trata do monitoramento da vida privada das pessoas pelos Estados – “Privacidade, Intromissão e Exibicionismo”. A propósito este post foi publicado quatro meses antes das denúncias de Edward Snowden.

As religiões e a manipulação dos fiéis por líderes inescrupulosos são fontes inesgotáveis de inspiração. Não escaparam deste blog o Islamismo, a igreja católica, representada pelos papas Bento XVI e Francisco, e nem mesmo “Deus, Sempre Ele”.

Dediquei dois posts para uma das piores figuras públicas da atualidade, o russo Vladimir Putin, sobre seu ecomarketing e sobre a Crimeia. Muito, mas muito menos importante, o ex-prefeito de Novo Hamburgo, Tarcísio Zimmermann, também foi “agraciado” com dois posts, enquanto tentava se reeleger antes de ser cassado devido à Lei da Ficha Limpa.

Em outros três posts, procurei comentar como nossos pensamentos podem ser nossos maiores aliados ou inimigos – “Como a Matrix de Neo e a Caverna de Platão nos Mostram a Realidade”, “Memórias e os Fantasmas do Passado” e “Como Assassinamos Nossos Insights”. Na mesma linha, escrevi mais dois posts – “O Medo” e “A Autossabotagem”.

A culinária vegana manteve seu lugar de destaque – moqueca de tofu, ratatouille, torta de sorvete, estrogonofe ou como preparar proteína texturizada de soja.

Aventurei-me em novos territórios – primeiro escrevi uma história infantil sobre bullying (“A Bruxinha Totute”); depois um poema no meio da “Turbulência” de um voo entre a França e o Brasil; mais um conto de ficção científica dividido em cinco partes sobre a expansão da humanidade em outros sistemas planetários e sua incontrolável ambição (“A Fonte da Juventude de Perennial”). Para finalizar escrevi, na semana passada, uma história que mescla ciência e religião (“Projeto Gaia – Experiência Final”).

Vários posts tiveram como inspiração as manifestações de junho do ano passado. Iniciei com “Os Protestos e a Verdadeira Democracia”, na sequência sugeri como próximo alvo a finada PEC 37/2011. Imaginem como ficaria a investigação da “Operação Lava Jato”, se o poder de investigação do Ministério Público Federal fosse tolhido? A melhoria nos serviços públicos de saúde foi um dos principais alvos dos manifestantes e o governo federal reagiu com a criação do “Programa Mais Médicos” que inspirou um artigo. Em breve, voltarei a escrever sobre a política brasileira.

Tentei desvendar os mistérios da satisfação pessoal em ”Não Esqueçam seus Objetivos Pessoais no Avião” e “Salário Motiva os Funcionários?”.

Questões éticas com animais foram tratadas em “Golfinhos de Guerra” e “Sofrer e Amar não são Exclusividades dos Humanos”.

A sustentabilidade ambiental também teve destaque com artigos sobre reciclagem de metais raros de telefones celulares, reciclagem de fósforo e da influência do consumo de carne na degradação do meio ambiente.

Este blog não é mais somente meu. A Claudia estreou em grande estilo com o post que conta como virou vegetariana, “Eu, a carne e a berinjela…”. Sinto que o respeito aos vegetarianos cresce a cada dia como retratei no post “Vitória Vegetariana”. E aqui entre nós, “Por Que Comer Carne?”.

A Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil em 2014 rendeu dois posts, “A Copa do Mundo Envergonhada” e “Como o Futebol Brasileiro foi Massacrado pelo Alemão”. Dentro da esfera futebolística, publiquei mais dois post “De Volta para o Meu Lugar”, sobre a reabertura do Beira-Rio, e “Fernandão, Vida, Morte e Piscadas”, sobre o morte do ídolo colorado Fernandão.

A seca em São Paulo que ameaça o fornecimento de água à população do estado também inspirou dois posts – “o que fazer quando a água acabar?” e “as medidas que evitariam a crise de abastecimento de água”. Apesar das excelentes chuvas dos últimos dias, o risco continua…

Falei sobre os mais variados assuntos, das “Gambiarras” ao “Portuglish ou Portunglês”, do show de Yusuf Islam em São Paulo aos “Múltiplos Papéis da Mulher no Mundo Atual”, dos conflitos entre judeus e palestinos em “O Escudo Humano” aos problemas da economia americana em “Obama e o Dilema Capitalista”, do racismo contra o goleiro Aranha a “Os Psicopatas, os Hiperativos, os Estranhos e os Normais”. Afinal “As Pessoas são Diferentes – Que Bom!!!”.

Agradeço a todos que acompanham nosso blog, espero críticas e sugestões para os assuntos dos próximos cem posts e lembro, mais uma vez que tento não falhar e fazer “Jornalismo Profundo como um Pires“ e “Eu Não me Chamo “Martho Medeiros”.

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Como o Futebol Brasileiro foi Massacrado pelo Alemão

Durante a última Copa do Mundo, escrevi um artigo, “Lições do Futebol para Gerentes”. Eu comentei que o treinador do time deveria escalar o time e escolher a sua tática após analisar os pontos fortes e fracos do seu elenco e da equipe adversária. Conclui o artigo, dizendo que “muitas vezes o sucesso pode depender mais de como o treinador se relaciona e motiva seus subordinados do que táticas ou estratégias sofisticadas”.

Naquele artigo, citei o Felipão como exemplo de técnico motivador. O que assistimos ontem, sem dúvida, foi o maior prova de que apenas motivação e torcida a favor não são suficientes para vencer alguma coisa. Alguém pode dizer que os jogadores alemães não estavam tão motivados quanto os brasileiros? Nesta hora, a organização e a qualidade técnica muito superiores do adversário ajudaram a escancarar as deficiências que apareceram em todos os jogos anteriores do Brasil nesta Copa. Felipão acreditou na superação, advinda da perda de Neymar, e armou um time ultraofensivo, onde apenas dois volantes marcavam no meio-campo. Por outro lado, o alemão Joachim Löw montou uma equipe compacta para aproveitar todas as fraquezas brasileiras. Quem assistiu ao jogo tinha a impressão que a Alemanha jogava com dois jogadores a mais. Após o segundo gol, os alemães foram para cima do Brasil, como um lutador em busca do nocaute ao ver seu adversário atordoado, e marcou mais três gols em apenas cinco minutos.

Klose comemora o segundo gol da Alemanha contra o Brasil [Fonte: site globoesporte.com]

Klose comemora o segundo gol da Alemanha contra o Brasil [Fonte: site globoesporte.com]

Claro que Felipão teve uma parcela significativa de culpa na tragédia desta terça-feira! Alguém pode dizer que o principal culpado é quem o colocou como técnico, o que também é certo, mas quais são os técnicos brasileiros de destaque hoje, além do Felipão? Mano Menezes (testado e reprovado na Seleção), Tite, Muricy… Nenhum empolga muito…

Felipão e Joachim Löw se cumprimentam ao fim do jogo – [Fonte: David Gray / Agência Reuters]

Felipão e Joachim Löw se cumprimentam ao fim do jogo [Fonte: David Gray / Agência Reuters]

O futebol brasileiro também está numa fase de transição. Além de Neymar, alguém se lembra de mais algum grande jogador em atividade? Apenas alguns bons jogadores, sendo que a maioria já faz parte do elenco da seleção brasileira na Copa.

O último campeonato brasileiro foi o mais fraco tecnicamente desde 2003. O campeão Cruzeiro era um bom time, nada excepcional, mas não teve adversário e conquistou o título com onze pontos de diferença para o segundo colocado. Na Libertadores deste ano, a pobreza técnica do nosso futebol ficou clara, nenhum time brasileiro se classificou para a semifinal da competição.

Veteranos, em final de carreira, voltam para o Brasil e parecem deuses desfilando em nossos gramados, devido ao desnível técnico em relação aos outros jogadores. Onde estão os jovens talentos? As promessas surgem no início da temporada e muitas vezes, na metade do mesmo ano, seus passes já são negociados com equipes do exterior, normalmente do leste europeu, onde são esquecidos.

No meu Internacional, por exemplo, os dois melhores jogadores são estrangeiros, o argentino D’Alessandro e o chileno Aránguiz. Na metade do ano passado, o meia Fred, destaque do time desde o segundo semestre de 2012, foi vendido para o Shakhtar Donetsk da Ucrânia, destino de outros jovens jogadores brasileiros.

Os jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Pela ordem, atrás: Luiz Adriano (E), Ilsinho, Taison, Alex Teixeira, Maicon (morto em fevereiro), Ismaily – na frente: Eduardo (E), Fred, técnico Lucescu, Fernando, Wellington Nem, Bernard e Douglas Costa

Os jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Pela ordem, atrás: Luiz Adriano (E), Ilsinho, Taison, Alex Teixeira, Maicon (morto em fevereiro), Ismaily – na frente: Eduardo (E), Fred, técnico Lucescu, Fernando, Wellington Nem, Bernard e Douglas Costa

Como fortalecer nossos clubes para melhorar a promoção e retenção dos jovens talentos? Urge uma alteração do calendário brasileiro com o fim, ou pelo menos redução, dos campeonatos regionais. Seria ótimo sanear clubes, federações e CBF, assim poderia sobrar mais dinheiro no cofre dos clubes para segurar suas promessas. Quando eu falo sanear, significa botar na cadeia os ladrões que se locupletam com o dinheiro das transações com jogadores e patrocinadores.

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Fernandão, Vida, Morte e Piscadas

O sábado iniciou com uma notícia impactante para os colorados – Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão morreu devido a um acidente de helicóptero. Fiquei com uma sensação estranha, senti algo parecido quando Ayrton Senna morreu. Os ídolos têm uma espécie de onipresença em nossas vidas que muitas vezes não nos damos conta que o conhecemos profundamente apenas no âmbito profissional. Não os conhecemos realmente…

Fernandão chegou ao Inter em 2004 e, logo na estreia, marcou o milésimo gol da história dos Gre-Nais. Quando deixou o clube em 2008, havia conquistado vários títulos com destaque para a Copa Libertadores e o Mundial, ambos em 2006. Foi capitão do time, um líder dentro e fora de campo. Ele era um jogador de futebol muito acima da média – educado e bem articulado. Sempre atendia todos os fãs de forma atenciosa e simpática. Nunca vi frases deselegantes contra adversários ou jornalistas. Tudo isto explica a verdadeira comoção dos gaúchos com a sua morte.

Fernandão com meu filho Leonardo

Fernandão com meu filho Leonardo

Uma questão importante é a idade do ex-jogador colorado, 36 anos. Ou seja, ele era um jovem saudável, bem sucedido e, após a aposentadoria como jogador de futebol, tinha mais liberdade para aproveitar a vida com sua família. Além disto, estava iniciando uma nova carreira como comentarista esportivo do canal SporTV. Numa circunstância deste tipo, costumamos questionar:

– Como alguém pode morrer assim com todo um futuro pela frente?

Como diria a grande filósofa contemporânea Julinha, minha filha de 6 anos, “todos têm seu tempo neste mundo, o dele era este”. Felizmente ou infelizmente, dependendo do ponto de vista, não sabemos qual é a nossa hora.

Eu, sinceramente, acho ótimo não saber qual é a minha hora. Sinto que devemos equilibrar entre viver o hoje como se fosse o último dia e como se tivesse mais 50 anos pela frente. Equilíbrio difícil entre desfrutar e plantar… Esta é a beleza de nascer, viver e morrer…

Sobre a vida e o que acontece depois da morte, eu poderia pensar em alguma coisa, mas não chegaria aos pés desta verdadeira preciosidade escrita por Monteiro Lobato nesta passagem de “Memórias de Emília” de 1936.

– A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.

[…] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos, por fim pisca pela última vez e morre.

– E depois que morre? – perguntou o Visconde.

– Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

Visconde de Sabugosa e Emília

Visconde de Sabugosa e Emília

Eu e Visconde de Sabugosa só podemos dizer que isto faz muito sentido, Emília! Aproveite cada dia da vida, carpe diem, não deixe o essencial para amanhã, mas nunca se esqueça de semear para ter algo maravilhoso para colher amanhã, na próxima semana, daqui um ano ou cinquenta anos…

Fernandão, infelizmente, piscou pela última vez no sábado passado, mas, entre uma piscada e outra, fez a felicidade de milhões de pessoas…

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De Volta para o Meu Lugar

Neste final de semana, voltei a Porto Alegre para acompanhar as festividades de reinauguração do Gigante da Beira-Rio. Após mais de um ano fechado, o estádio do Internacional foi reaberto com uma linda e emocionante festa.

Nunca me apeguei a lugares, já comprei e vendi alguns apartamentos e terrenos. As boas recordações sempre eram carregadas por mim e o resto ficava para trás. Na minha infância, minha família mudou várias vezes de cidade devido ao trabalho do meu pai. No máximo a cada dois anos, tudo se repetia. Eu não criava raízes e me acostumei a ser “meio-cigano”. Eu me apegava à minha família, principalmente meus pais, depois à minha irmã. Os lugares eram descartáveis…

Revendo toda emoção que senti neste final de semana, em especial na noite de sábado, concluí que o meu lugar é o Beira-Rio. Como se ao entrar nele, depois de alguns anos de “exílio voluntário” em São Paulo, tudo voltasse a minha mente, um verdadeiro turbilhão de emoções.

Meu filho Leonardo e eu na frente do Beira no dia da festa de reinauguração.

Meu filho Leonardo e eu na frente do Beira no dia da festa de reinauguração.

Pude rever ídolos colorados de diferentes gerações e reviver os momentos dos anos 70 que passei ao lado do meu pai e meu tio nas conquistas dos campeonatos brasileiros. Os jogos dos anos 80 nos quais quase conquistamos títulos importantes. O sofrimento quase instransponível dos anos 90. E a redenção dos anos 2000, quando conquistamos os títulos mais importantes da história do clube, sempre ao lado do meu irmão e do meu filho. No momento da festa em que é mostrada a conquista do Mundial em 2006, na apresentação do gol do Gabiru, eu e meu filho nos abraçamos e choramos. Nossas lágrimas eram da mais pura alegria por estarmos vivendo aquele momento maravilhoso juntos naquele lugar especial.

Festa colorada em 05-04-2014.

Festa colorada em 05-04-2014.

Como brinde ainda pude cantar a plenos pulmões “Camila” com o Nenhum de Nós e “Deu Pra Ti” com Kleiton & Kledir. O encerramento da festa ficou por conta do músico e DJ britânico Fatboy Slim. Não gosto muito deste tipo de música, mas assisti a apresentação com atenção. Os telões, durante a segunda música, mostravam frases do comediante e músico americano Bill Hicks falecido em 1994 aos 32 anos de idade. Em minha opinião, Hicks é muito mais um crítico social do que comediante. A frase repetida várias vezes no telão era:

– “Is this real or is this just a ride?”

Esta questão sobre a vida é filosoficamente complexa. Isto é real ou isto é apenas um passeio? Vale a pena assistir ao vídeo feito no final de um dos shows de Bill Hicks.

Se tudo é real ou se não passa de um passeio em um parque de diversões, eu não sei, mas em qualquer das duas hipóteses eu diria:

– O Gigante da Beira-Rio é meu lugar e ele está lindo!

Interior do Beira-Rio antes do jogo contra o Peñarol em 06-04-2014.

Interior do Beira-Rio antes do jogo contra o Peñarol em 06-04-2014.

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Minha Última Morada

Já pensei algumas vezes sobre o que seria feito com meu corpo após a vida abandoná-lo. Sinceramente não gostaria que fosse colocado em um caixão para ser consumido por bactérias vorazes e, num dia, ter os ossos transferidos para uma pequena urna guardada em um jazigo por toda a eternidade.

Prefiro a cremação, após a retirada de todos os órgãos ainda úteis para outras pessoas. O problema, neste caso, seria o que fazer com as cinzas. Meu coloradismo exacerbado sugere o gramado do Beira-Rio como o depositário dos minerais que compunham minha carcaça. Duvido que a direção do clube permitisse este procedimento. Afinal quantos torcedores desejariam ter o mesmo destino? Outro ponto contrário são as superstições futebolísticas bobas. Se o time passasse a perder, seria rotulado como um morto pé-frio causador do sofrimento de toda a “Nação Vermelha”. Por outro lado, se ganhasse um campeonato importante logo no primeiro ano, teria o status de santo. Logo eu…Se construirmos alguma casa especial ou, pelo menos, encontrarmos uma, poderia ser incorporado à terra de algum canteiro. Imagina ser reciclado e virar legume, fruta ou verdura? Não acho uma boa ideia! Sempre haveria comentários do tipo:

– Esta laranja está ácida!
– Mas também, a laranjeira foi fertilizada por quem? Como poderia ser diferente?

Só não reclamem que o chuchu está sem gosto, porque aí a culpa não será minha! Resta a alternativa de virar flor, mas gerará comentários maldosos. Que eu vire então uma ávore não-frutífera ou um arbusto…

Às vezes penso que o melhor seria voltar direto para a terra e não dar trabalho para os outros fazerem a “disposição final” dos meus restos. Se algum dia este post tiver alguma importância no mundo, talvez alguém diga:

– Putz! O cara se deu mal…

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Sejamos Oportunistas!

Acho incrível como certas palavras ganham contornos negativos com o passar do tempo, enquanto outras passam a ter significados muito melhores do que os originais. Por exemplo, o grande poeta Augusto dos Anjos escreveu no seu impactante soneto “Versos Íntimos”:
 

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Formidável, em seu sentido original, significa terrível, pavoroso. Afinal o que pode ser mais terrível do que o enterro do último sonho ou ilusão de uma pessoa?  Hoje todos usamos a palavra formidável, no Brasil, para adjetivarmos algo excelente.

Augusto dos Anjos publicou apenas um livro de poesias: "Eu"

Por outro lado, os dicionários definem o oportunista como aquele que sabe tirar proveito das circunstâncias de dado momento, em benefício de seus interesses. Será que isto é realmente mau, se os aspectos éticos forem levados em consideração? O significado de oportunismo, na esfera da política ou dos negócios, deixa implícito que esta prática é empregada independentemente do sacrifício de princípios éticos. No futebol, curiosamente, é um grande elogio dizer que o atacante do time é oportunista. No Internacional, lembro de nomes como Dadá Maravilha, Geraldão e Nilson. Abaixo você pode assistir ao gol de Dario na final do campeonato brasileiro de 1976 contra o Corinthians.

Sejamos o atacante oportunista da nossa vida pessoal e profissional para aproveitarmos as circunstâncias favoráveis e atingir mais rápidos nossos objetivos. Vamos manter as antenas sempre ligadas. Só tenho um último lembrete, não esqueçam da ética, porque como escreveu Augusto dos Anjos no final do soneto “O Morcego”:

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

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A Decepção Colorada

Esperei uns dias para escrever sobre a surpreendente derrota do Inter para o Mazembe do Congo na semifinal do Mundial de Clubes em Abu Dhabi. Óbvio que o resultado me deixou muito chateado, afinal a expectativa pela conquista do Bi era muito grande.

Kidiaba do Mazembe foi destaque no jogo (Foto do site do Internacional)

Muitos dizem que esta é a maior derrota do Colorado em todos os tempos, mas eu particularmente não concordo. O pior momento da história centenária do Inter foi a derrota para o Olímpia na semifinal da Libertadores de 1989. Naquela ocasião, o Inter buscava um título que o igualaria ao seu maior rival, o Grêmio. Tivemos muitos momentos difíceis na década seguinte, quando conquistamos apenas uma Copa do Brasil.

No basquete ou no vôlei, se um time é muito melhor do que o outro, certamente ganhará. Quando um time joga melhor, tem mais volume de jogo, será o vencedor. Já no futebol, um time pode ser dominado durante os noventa minutos, sofrer uma pressão incrível e, em apenas um lance, pode ganhar a partida. Este é um dos atrativos deste esporte, onde Davi pode derrotar Golias.

Dois jogos coincidentemente com o mesmo placar, 3 x 2, e com circunstâncias semelhantes me mostraram isto. Inter e Olímpia do Paraguai, já citado acima, e a derrota da seleção brasileira para a italiana na Copa de 82 na Espanha foram muito injustas. Ensinaram-me que não existem deuses no futebol, premiando o time que joga melhor e busca a vitória todo o tempo, mesmo quando um simples empate já é suficiente para garantir a classificação. Estes jogos foram responsáveis pela redução da minha sensibilidade em relação às derrotas futebolísticas. Assim consigo encarar derrotas com mais serenidade.

Desde 2006, o Inter ganhou todos os títulos internacionais disponíveis e estas conquistas não serão diminuídas por este fracasso. A direção do clube deve extrair os ensinamentos, levantar a cabeça e pensar no futuro.

O primeiro ponto é não se poupar para um grande momento, quando existem outros momentos importantes para viver até este dia. Talvez, se houvesse mais empenho para vencer o Campeonato Brasileiro, estivéssemos festejando uma conquista que a torcida espera há mais de trinta anos. O Mundial seria a cereja do bolo de uma temporada maravilhosa! Mas, após o gol do Mazembe, os jogadores sentiram o peso de mostrar que os quatro meses de preparação foram justificados, incluindo o abandono da maior competição nacional. Em 2011, o Inter tem que entrar para ganhar a Libertadores, o Brasileirão e, se tivermos chance, o Mundial sem reduzir a atenção dada à competição nacional.

O Inter deve trocar peças para qualificar o elenco em termos técnicos e motivacionais. Devem ser criadas oportunidades para as jovens promessas. Jogadores, que apresentam desempenho abaixo do esperado ou que estejam desmotivados, devem ser negociados ou dispensados. Acredito que o atual treinador, Celso Roth, não terá condições de motivar e liderar o elenco na Libertadores que já se iniciará em fevereiro. A direção deve buscar alguém que saiba e goste de trabalhar com jovens para renovar o elenco. Se não conseguirmos ganhar a Libertadores, pelo menos chegaremos ao Brasileirão com o time montado.

O Inter cresceu muito nos últimos cinco anos e este fracasso não deve ser motivo para deter este processo. Ou já esqueceram que o Inter foi eliminado na primeira fase da Libertadores de 2007 após vencer a edição anterior? Continuo acreditando que o Inter vive, como já escrevi um post, um ciclo virtuoso.

Para finalizar este post, gostaria de fazer um paralelo com o Mundial que o Grêmio perdeu para o Ajax em 1995, Claro que sequei o Grêmio e me senti aliviado com a sua derrota. Naquela época o Inter estava enterrado em um lamaçal. Não ganhava títulos importantes e assistia ao Grêmio, levantando taças ou, pelo menos, disputando campeonatos importantes com chances reais de conquistá-los. Ou seja, nós colorados não queríamos que a distância para o Grêmio crescesse ainda mais.

Ajax x Grêmio - Mundial Interclubes de 1995

Parece que o sentimento que move os tricolores, depois de quinze anos da conquista da sua última Libertadores é este… O que é aceitável e compreensível por parte dos torcedores. Lamentável foi a postura da nova direção gremista. Dirigentes devem ter um comportamento diferente da torcida. As manifestações públicas devem ser centradas nos interesses diretos do clube. Estas cornetas do presidente Paulo Odone e do vice-presidente do clube Eduardo Antonini servem apenas para criar ressentimentos e ações violentas de torcedores. Não ajudam nem o próprio Grêmio.

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Círculo Virtuoso Colorado

O Inter ganhou no final da noite de quarta-feira a sua segunda Taça Libertadores da América. Confesso que em 2006 na decisão contra o São Paulo, eu estava muito mais nervoso do que nesta vez. Agora que já passaram quase de 48 horas da conquista, começo a entender melhor as diferenças entre os meus sentimentos de 2006 e de 2010.

Até o mágico ano de 2006, o Inter não tinha nenhum título internacional de expressão, enquanto seu maior rival já tinha duas Libertadores, uma Copa Intercontinental e uma Recopa Sul-americana. A conquista da Libertadores em 2006 foi um grande alívio, porque finalmente o Inter obteve a projeção internacional que seu nome sempre sugeriu. Na noite de 16 de agosto de 2006, eu temia que uma derrota aniquilasse todo o projeto de crescimento do clube. Naquela vez, a derrota teria uma consequência pior do que as perdas da final para o Nacional do Uruguai em 1980 e, por incrível que pareça, para o Olímpia do Paraguai na semifinal de 1989. Afinal os resultados positivos são essenciais para trazer reconhecimento para os bons trabalhos realizados. Assim é no futebol, e na vida pessoal ou na carreira profissional vale a mesma regra. Ninguém quer um rótulo de perdedor competente afixado no peito!

Nestes últimos quatro anos, além da Libertadores, o Inter ganhou um Mundial Interclubes, uma Recopa Sul-americana e uma Copa Sul-americana e passou a exibir a marca de Campeão de Tudo. Talvez por este motivo, não estava tão nervoso como em 2006. Uma derrota, desta vez, não seria uma tragédia irremediável. A merecida vitória veio e meu sentimento foi de orgulho.

Sinto que agora subimos mais um estágio. Todos lembram de frases como estas:

  • “Mais difícil do que chegar ao topo é se manter lá!”
  • “Tudo o que acontece uma vez pode nunca mais acontecer, mas tudo o que acontece duas vezes, acontecerá certamente uma terceira”.

A segunda frase é um provérbio árabe, podemos interpretar que ganhar uma vez pode ser um mero acidente, a repetição da vitória demonstra que a primeira vez não foi um acaso. Este era o motivo do meu orgulho colorado. O Inter agora é visto por todos como um clube realmente vitorioso e novas conquistas são esperadas. Entramos no círculo virtuoso almejado por todos.

Para os gremistas que conseguiram chegar até este ponto e que gostaram do provérbio árabe, porque ganharam duas Libertadores e dois Campeonatos Brasileiros e uma terceira conquista certamente acontecerá, lembro que vocês foram rebaixados duas vezes…

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O Profeta Xuxu

Mantemos o mesmo ritual das partidas anteriores da Libertadores de 2010. Chegamos ao estádio ainda com sol. Coloquei meu carro num bom local dentro do estacionamento. Depois conversamos sobre o jogo, meu irmão Fábio e eu bebemos algumas cervejas, só para relaxar… Acho que foi meu filho Leonardo que viu o Xuxu, saindo da sala do Departamento de Relações Consulares. Fomos cumprimentá-lo e ele nos mostrou uma relação de materiais relativos ao Mundial Interclubes de 2006 que foram doados ao Colorado. Ouvimos algumas boas histórias do Xuxu e, na hora de nos despedirmos, perguntei para ele.

– E aí, Xuxu, qual vai ser o resultado do jogo de hoje?

Ele respondeu de primeira:

– Hoje vai ser 1×0 para o Inter.

Tentei argumentar:

– Pô, Xuxu, podia ser pelo menos 2×0…

Mas ele confirmou que seria 1×0 “magrinho”. Então perguntei sobre o resultado do jogo de volta e a resposta foi surpreendente:

– Vai ser 2×1 para o São Paulo.

Tentei convencê-lo a mudar o palpite, mas não teve jeito:

– Vai ser 2×1 “sofridinho”. Contra o Estudiantes, eu também disse que seria 2×1. No final do jogo, eu estava tranqüilo, enquanto que o pessoal em volta de mim estava desesperado. Eu sabia que o Inter faria um gol.

Despedimos-nos e ficamos discutindo os palpites do Xuxu. Se ele estivesse certo, seria muito sofrimento. O Inter estava num momento muito melhor do que o São Paulo, a classificação deveria ser mais fácil.

O São Paulo armou um verdadeiro “retrancão” e ganhamos o primeiro jogo por um “magrinho” 1×0. Xuxu acertou a primeira parte da previsão.

Giuliano marcou o gol da vitória no jogo de ida (Fonte: Site do Inter)

Chegou o dia da grande decisão com um ingrediente extra, porque, além da classificação para a final da Libertadores, o jogo já valia uma vaga para o Mundial Interclubes em Abu Dhabi. Desta vez, eu estava sozinho dentro de um quarto de hotel em São José do Rio Preto. O nervosismo foi diminuindo à medida que o jogo passava. Sandro e Tinga jogavam bem e o Inter foi controlando o meio-campo. De repente o Renan falhou e o São Paulo fez o gol. Temi pela classificação, mas o Inter não mudou a forma de jogar e o primeiro tempo acabou.

No intervalo, fiz e recebi telefonemas de outros colorados preocupados. Lembrei os prognósticos do Xuxu e, se alguém me propusesse aqueles 2×1 para o São Paulo, assinaria o contrato na hora.

Começou o segundo tempo e o Inter logo empatou o jogo. Parecia que tudo ficaria muito mais tranqüilo, entretanto, o São Paulo voltou a marcar e a coisa complicou. Quando faltavam dez minutos para o final, o Tinga foi expulso.  Nos minutos seguintes, para me acalmar, procurava pensar na conversa com o Xuxu e repetia:

– O Xuxu tem que estar certo!

E o juiz apitou o final do jogo. O Inter estava classificado para mais uma final de Libertadores e para o Mundial.

Alecsandro fez o gol do Inter em São Paulo (Fonte: Site do Inter)

Vibrei muito, mas o grande personagem que não saia da minha mente não era o Alecsandro, autor do gol, ou o Sandro, melhor jogador do Inter em campo, ou o Roth, que armou magistralmente o time, era o profeta Xuxu. Ele fez um sashimi de polvo Paul. Ele não se limitou a acertar o vencedor e cravou o resultado exato dos dois jogos. Só espero que desta vez seja mais fácil…

Xuxu e eu na tarde de autógrafos do livro Histórias Coloradas II (Arquivo Pessoal)

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Grêmio: Entrega ou Não Entrega?

Há alguns anos deixei de, imediatamente, tomar partido de um lado ou de outro nas discussões sobre política e passei a tentar entender as motivações dos dois lados. Estendi este procedimento para outras áreas e, sinceramente, isto me ajudou a entender mais as pessoas e, principalmente, os gaúchos.

Eu estaria exagerando se dissesse que a população do Rio Grande do Sul é uma das mais radicais do mundo, porque hoje não chegamos ao ponto de desejar a morte do outro lado como acontece no Oriente Médio. Por outro lado, ao assumir uma posição, é quase impossível a mudança. A pessoa é malvista e rotulada como vira-casaca. Nós gaúchos formamos sempre dois polos. Na política já tivemos várias fases:

– imperiais x farrapos;
– pica-paus (aliados do Júlio de Castilhos) x maragatos;
– chimangos (aliados de Borges de Medeiros) x maragatos;
– brizolistas x antibrizolistas;
– ARENA x MDB;
– PDS x PMDB;
– petistas x antipetistas.

Cavalaria Farroupilha

A situação chega ao ponto de se desejar o mal para o estado para prejudicar o lado adversário. A irracionalidade é muito forte. CPIs com justificativas semelhantes são elogiadas na esfera estadual e criticadas no âmbito federal, mostrando uma completa falta de coerência. É como diz o provérbio popular “a paixão cega a razão”.

No futebol, não poderia ser diferente. O estado se divide em colorados e gremistas. Existem claras diferenças ideológicas entre os dois lados. Para os colorados, é fundamental ter um time que jogue bem, com qualidade técnica e bom toque de bola. A vitória deve ser o resultado da prática do futebol mais bem jogado. Para os tricolores, o mais importante é a raça. A vitória é consequência da superação dos limites da equipe, algo heroico.

Da mesma forma, como acontece em outras áreas, boa parte dos tricolores são anticolorados e boa parte dos torcedores do Inter são antigremistas.

Rivalidade Gre-Nal

Esperei quase uma semana para escrever sobre a rodada final do Brasileirão deste ano. O Inter, para ser campeão brasileiro, deve vencer seu jogo e esperar a ajuda do seu maior rival no jogo contra o Flamengo no Rio de Janeiro.

Ouvi coisas incríveis durante esta semana. Por exemplo, a culpa desta situação é da fórmula do campeonato por pontos corridos. Outra pérola é a colocação no mesmo nível do ato de “secar” o rival e a facilitação do jogo para o Flamengo. Outra sensacional é a colocação de que a direção tricolor não vai pedir para os jogadores “entregarem” o jogo, mas vai descaracterizar a equipe com a retirada de vários titulares. Assim o time formado por jogadores mais fracos perderia a partida sem fazer “corpo-mole”. Isto me lembra a página mais lamentável da história do Rio Grande do Sul, o episódio do massacre dos negros em Porongos. No final da Revolução Farroupilha, os termos da rendição não admitiam a manutenção dos negros livres que lutaram ao lado dos farrapos. A solução foi desarmá-los e combinar um ataque noturno dos imperiais ao acampamento dos lanceiros negros. Como os soldados negros desarmados poderiam resistir ao ataque do exército imperial? Como o Grêmio pode resistir ao ataque do Flamengo com um time “desarmado” cheio de reservas?

 Voltamos à velha questão do dilema ético, já abordada com mais detalhe no post sobre Nelsinho Piquet. As consequências para o Grêmio, dependendo do que ocorrer no domingo, podem ser imprevisíveis. A história centenária do tricolor gaúcho pode ficar manchada e o Grêmio perderá a maior oportunidade de demonstrar toda a sua grandeza.

Sou colorado e alguns leitores podem dizer que estou legislando em causa própria. O ex-deputado Marcos Rolim, defensor dos direitos humanos e gremista de nascença, pensa parecido. Vocês podem conferir o seu artigo.

http://rolim.com.br/2006/index.php?option=com_content&task=view&id=739&Itemid=3

No domingo à noite, saberemos o que aconteceu…

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Concorrência Fraca e a Acomodação

Este é um ano especial para todos os colorados. O Internacional completou cem anos de existência em 4 de abril de 2009. Dentre as várias ações para comemorar seu centenário, foi lançado um filme que conta a história do clube desde sua fundação até os dias atuais. O aspecto inovador deste filme foi a escolha de torcedores para apresentar esta história. Tive a honra e felicidade de ser um dos escolhidos para dar um depoimento.

Cartaz do filme sobre o centenário do S.C. Internacional

Cartaz do filme sobre o centenário do S.C. Internacional

O diretor do filme, Saturnino Rocha, durante minha entrevista, fez uma pergunta interessante:

– Por que o Inter teve um desempenho tão ruim durante os anos 90?

Eu tenho uma explicação para fato e parece que o pessoal do filme aprovou, pois esta é uma das minhas aparições no filme. Em 1991, o maior rival do Inter, o Grêmio, foi rebaixado para a série B. Parece que a torcida do Inter e a direção do clube se acomodaram com aquela situação. Afinal o maior rival estava condenado a jogar uma divisão inferior, enquanto o Inter permanecia no convívio dos grandes clubes brasileiros. Em 1992, houve uma mudança no regulamento e doze clubes subiram para a primeira divisão, inclusive o Grêmio. Pior ainda, eles montaram um bom time e tiveram a melhor década da sua história. O Inter, por sua vez, tentou desesperadamente reverter a situação e passou a pensar no curto prazo, mudando jogadores e treinadores algumas vezes por ano. Os resultados foram pífios e o clube quase foi rebaixado em duas ocasiões. Somente na virada do século, quando passou a fazer um trabalho mais estruturado, voltou a crescer e atingiu seu momento mais importante com a conquista do campeonato mundial interclubes em 2006.

Nas empresas muitas vezes acontece este tipo de acomodação:

– a concorrência está passando por dificuldades;

– o câmbio está favorável, deixando os produtos importados pouco competitivos;

– barreiras alfandegárias ou não-alfandegárias inviabilizam importações.

Nós também nessas situações nos acomodamos e achamos que nossa bagagem técnico-gerencial já é suficiente, mas o mundo está mudando em velocidade cada vez maior.

Parece que aquela situação vai perdurar até o final dos tempos. De repente tudo muda:

– uma grande multinacional entra no mercado com um marketing agressivo;

– um concorrente lança um produto com tecnologia inovadora;

– o real se valoriza e produtos chineses entram no mercado com preços arrasadores.

O que fizemos na época de “vacas gordas”?

A empresa se modernizou? Buscou novas tecnologias? Investiu em inovação? Cortou suas ineficiências?

Nós estudamos outro idioma? Aprendemos novas técnicas de gerenciamento de pessoas? Fizemos uma especialização ou MBA?

Talvez nós ou nossas empresas não tenhamos a oportunidade que o Internacional teve de dar a volta por cima depois de dez anos de maus resultados. A acomodação é uma palavra que deve ser expurgada de nossas vidas sob pena de criar situações irreversíveis.

Termino este post, falando sobre um atleta que muitos dizem que é extraterrestre, o jamaicano Usain Bolt. Assista ao vídeo da final dos 100 metros do campeonato mundial de atletismo em Berlim. Notem que ele apenas confere com o canto do olho a posição de seu maior rival, o americano Tyson Gay, mas vira a cabeça para a esquerda para ver o tempo de sua prova. Sua luta é para superar o seu recorde mundial, não é para vencer adversários inferiores a ele.

Segundo informações do site GloboEsporte.com, Bolt falou sobre sua reconhecida irreverência após esta prova consagradora:

– Esse é o meu jeito. Eu treino duro o ano inteiro, então posso me divertir o quanto quero e mesmo antes das provas. Mas quando a corrida começa, eu me concentro totalmente. Sei exatamente o que tenho que fazer. Estou me sentindo orgulhoso de mim mesmo. Estava buscando esse título, buscando chegar à faixa dos 9s50. Ser o primeiro é especial.

Ou seja, ele tem metas de desempenho bem definidas e as busca independente de sua concorrência. Além disto, o trabalho lhe traz diversão e satisfação pessoal. Esta deve ser a postura a ser seguida por nós e pelas empresas.

Boa semana a todos!

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