Há muitos anos li um livro de um grande escritor gaúcho não muito popular do grande público, Dyonélio Machado. O livro “Os Ratos” trata do período de 24 horas da vida de um funcionário público a procura de dinheiro para pagar sua dívida com o leiteiro. Você pode achar o enredo meio bobo, mas o livro, publicado há quase 80 anos, é muito bom e sua leitura continua atual.
Se você não quiser saber o final do livro, volte a ler após a figura da capa do livro.
Depois de passar horas, tentando arrumar dinheiro com o chefe, colegas e agiotas, o personagem principal finalmente consegue a quantia que precisa para pagar sua dívida. Ele deixa a quantia sobre a mesa da cozinha da sua casa. Eram outros tempos, o leiteiro deixava as garrafas ou tarros cheios e levava os vazios. Durante a noite, ele imagina que vários ratos roem e destroem totalmente o dinheiro que ele havia deixado sobre a mesa. Mesmo assim, ele não se levanta para verificar se isto realmente está acontecendo, apenas sofre. E só consegue relaxar, quando o leiteiro chega no horário de sempre e entrega o leite que havia ameaçado suspender o fornecimento caso a dívida não fosse quitada. Veja a passagem onde a paranoia e angústia chega ao ponto máximo.
De repente, um barulho no forro… “Ratos… São ratos”. Fica esperando o barulho dos ratos na cozinha. O barulho aumentou: em vários pontos, no forro, o rufar… “A casa está cheia de ratos!” Há um roer ali perto. O que estarão comendo? É isto! “Os ratos vão roer – já roeram! – todo o dinheiro!…” Tem um grande desespero. É preciso levantar-se. Mas o barulho cessou. Há só o silêncio. Será que ratos roem dinheiro? É melhor perguntar à mulher. Absurdo. Claro que ratos não roem dinheiro! “Vê os ninhos, os papéis picados, miudinhos, picadinhos… uma poeira”.
Muitas vezes inventamos barreiras e problemas imaginários. Algumas pessoas criam conspirações complexas, onde todos querem prejudicá-las. Inimigos imaginários ganham vida. Ao invés de agir, a reação é uma paralisia, como aconteceu com o personagem principal do livro “Os Ratos”, onde a pessoa, após criar a fantasia, fica com medo de enfrentá-la.
Um caso mais sutil acontece, quando nos convencemos que somos incapazes de fazer algo. O pensamento típico desta forma de comportamento é a frase:
– Não adianta tentar! Eu não vou conseguir mesmo…
Outra forma de autossabotagem é acreditar que o simples desejo tem poder para conseguir alguma coisa. A máxima que resume isto é aquela frase do “O Alquimista” do Paulo Coelho:
– Quando você quer alguma coisa, todo o universo conspira para que você realize o seu desejo.
Concordo que o primeiro passo para se conseguir algo é acreditar, mas se você apenas confiar que isto basta e não trabalhar duro, não desenvolver suas aptidões, não perseverar, dificilmente chegará ao resultado almejado. Na hora do fracasso, o culpado é a sorte ou o destino.
Aqueles que alcançam seus objetivos depois de batalharem muito, ainda são classificados como sortudos ou, então, se diz que nasceu com certa parte do corpo virada para a lua.
Temos que nos vigiar permanentemente, porque nossa mente pode ser nosso maior aliado ou nosso maior inimigo. Nós somos os principais agentes dos nossos sucessos e fracassos.
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