Arquivo do mês: maio 2012

Centro Volver!

No Brasil, na Europa e em vários locais democráticos do mundo, não existe mais a separação clara entre a direita e a esquerda. Parece que as duas vertentes políticas migraram para o centro, criando uma grande zona cinzenta. No Brasil, por exemplo, PT e PSDB são muito parecidos em suas propostas, apesar de cada um dos lados alardear ser o criador de cada conceito econômico vigente no país.

Na Europa, os socialistas e os liberais, com o passar do anos, tornaram-se cada vez mais semelhantes, sendo diferenciados por detalhes praticamente insignificantes na ótica dos eleitores. Por incrível que pareça, a extrema direita é a novidade no velho continente. Fato comprovado pelas expressivas votações de Marine Le Pen para presidência da França e dos neo-nazistas nas eleições estaduais na Alemanha.

Marine Le Pen

Marine Le Pen ficou em terceiro lugar com 20% dos votos

Um colega francês ficou indignado na semana passada com alguns comentários sobre a inviabilidade do Euro. Ele respondeu que, muito além das questões monetárias, está o sonho de estabilidade política e paz para todo o continente. Este é um sonho de várias gerações, mas talvez não seja o desta geração que busca empregos e crescimento econômico. Quando alguém de extrema direita culpa os imigrantes pela crise e desemprego, a comparação com a questão entre nazistas e judeus é inevitável.

A paz só é possível com estabilidade política e econômica. Um “novo capitalismo” deve emergir desta crise. A chamada terceira via, tão comentada há alguns anos, não surgiu ainda. Talvez nasça nos países em desenvolvimento… As pessoas não querem só comida, também querem diversão e arte (como cantavam Os Titãs). Um mundo melhor é possível, mas só nascerá se a “mão invisível” do liberalismo, que se tornou a única opção após a derrocada do bloco socialista, for substituída por um novo sistema. Todos devem trabalhar, gerar riqueza, ter acesso à educação e saúde de qualidade…

Eterno Debate

Viverei e verei este novo mundo florescer… Farei o que estiver ao meu alcance, este é meu compromisso!

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A Tecnolatria ou Como a Vida Parece Inviável sem a Tecnologia

Hoje visitamos uma fábrica na minúscula cidade de Arborfield no Canadá. No trajeto de quase duas horas e meia, percorrido de automóvel, apenas os primeiros 30 minutos tiveram uma cobertura precária de sinal do meu celular. Como ficamos aproximadamente 3 horas na cidadezinha, incluindo a visita e o almoço, fiquei desconectado do mundo por 7 horas.

É realmente incrível como passamos a depender da tecnologia! Quando comecei a trabalhar há 25 anos, a telefonia fixa era precária, os computadores pessoais eram lentos, caros e escassos, não existia Internet ou E-mail. As mensagens internas eram papeis transportados por office-boys, enquanto que as externas eram transmitidas por Telex. O quase falecido FAX veio anos depois e revolucionou as comunicações. Afinal podíamos enviar, além dos textos, figuras e cópias de documentos instantaneamente para alguém distante de nós. O problema é que existiam apenas duas cores, preto e branco, e depois se descobriu que aquele papel termossensível desbotava com o tempo e perdíamos conteúdos preciosos…

Máquinas de Telex (esquerda) e de FAX (direita)

Finalmente chegou o correio eletrônico, um grande passo para facilitar e democratizar a troca de informações entre as pessoas e entre as empresas. Agora além de textos e figuras, podemos enviar fotos, planilhas, apresentações…

Com o passar do tempo, apareceram os notebooks (ou laptops, como você preferir) que foram se tornando cada vez mais leves e potentes. Logo se transformaram em sonho de consumo, depois viraram o padrão do mercado. As informações passaram a ser carregadas para toda a parte. Vieram os celulares analógicos, depois os digitais ganharam novas funções e foram criados os multifuncionais, onde se pode navegar na Internet, receber e responder E-mails, tirar fotos, fazer vídeos, ouvir músicas…

Antigo Motorola (esquerda) moderníssimo iPhone 5 (direita)

Parece incrível, mas antes eu ocupava todo meu dia de trabalho sem estas ferramentas: notebook, celular, Internet e E-mail. Atualmente qualquer pane em uma destas ferramentas já causa um golpe na produtividade do trabalho. Tudo o que precisamos migrou para a forma eletrônica, cada vez guardamos menos papeis em arquivos metálicos e gavetas. Tudo estará logo na famosa “cloud” (ou iCloud para a turma da Apple). Só que tudo desaparece quando o plano de telefonia celular do nosso multifuncional não tem cobertura no interior da província de Saskatchewan no Canadá. Nestas horas, só me resta escrever um post da forma antiga, com papel e caneta. Depois se passa a limpo no blog…

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Privatização da Embrapa?

Faz alguns meses que estou trabalhando em um projeto em conjunto com a Embrapa. Neste período, pude perceber a excelência, dedicação e o profissionalismo de seus técnicos. Os primeiros resultados foram muito promissores e deveremos fortalecer esta parceria para os próximos anos.

Um aspecto que chamou minha atenção foi o entusiasmo e a visão no desenvolvimento do país. Um destes técnicos me disse que ele estava feliz com os primeiros resultados, mas sabia que provavelmente, nos próximos anos, as multinacionais colocariam no mercado híbridos mais produtivos. Comentei com ele que a função de gerador de tecnologia e desbravador do mercado foi exercida com eficiência pela Embrapa.

Fiquei surpreso quando vi as notícias sobre a privatização da Embrapa. Achei um verdadeiro absurdo e pensei em escrever um post sobre o assunto, mas encontrei este belo texto escrito pelo Delfim Netto na sua coluna da Folha de São Paulo do dia 11 de abril de 2012. A coluna está apresentada na íntegra abaixo.

Há tarefas que as virtudes do mercado não podem realizar adequadamente. Não se pode e não se deve esperar que uma empresa privada, que só pode sobreviver se gerar lucro, distribuir dividendos e criar valor para seus acionistas, atenda corretamente ao interesse social se tiver objetivos conflitantes entre o curto e o longo prazo.

É o que pode acontecer, por exemplo, quando a pesquisa e a inovação ocorrem em empresas que são, ao mesmo tempo, produtoras e disseminadoras de bens que incorporem seus resultados.

Suponhamos, para simplificar o argumento, uma empresa que produza um eficiente fungicida para combater doença que ataca a produção de feijão. Um dia, seus cientistas constroem com sucesso uma variedade de feijão resistente ao fungicida que ela mesma produz. Qual será a provável reação da sua administração, cujo primeiro dever é proteger o valor do patrimônio de seus acionistas? Patentear a inovação e colocá-la na prateleira! Até quando? Até que o valor dos seus investimentos na produção do fungicida seja completamente amortizado.

O “mercado” apresenta uma “falha”. Não funciona adequadamente pela simples e boa razão que o “incentivo” que lhe determina a ação – a maximização dos lucros – subordina o interesse coletivo ao “curto-prazismo” do interesse privado. Em outras palavras, o feijão resistente aos fungicidas que beneficiaria toda a sociedade terá a sua disseminação controlada pela velocidade da depreciação do investimento já feito para produzir o fungicida, condicionada ainda à possibilidade de garantir a remuneração dos dispêndios feitos com a pesquisa – ou seja, à patente e ao controle do valor criado pela descoberta.

Se não houver a “garantia” da patente, o mais provável é que, devido ao interesse privado, a inovação de interesse social nunca veja a luz.

Foram constatações tão simples como essas que levaram o governo, em 1972, a criar a EMBRAPA, que transformou o maior “passivo” brasileiro, o cerrado, no nosso maior “ativo”. Um ativo construído com dedicação, diligência e trabalho duro, que precisa continuar a ser defendido do “aparelhamento” ideológico-partidário.

colheita de soja no cerrado brasileiro

Ao contrário do que pensam alguns de nossos economistas, a EMBRAPA não nasceu para competir com o setor privado. Nasceu para inovar, criar e transmitir conhecimentos, usando as empresas privadas como instrumento para disseminá-los. Ela não produz “distorções” no mercado.

Muito pelo contrário, corrige a sua miopia “prazo-curtista”. É isso que torna incompreensível o misterioso e confuso “ruído” político atual sobre o seu importante papel para o desenvolvimento nacional.

FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto na Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/36373-embrapa.shtml)

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