Todos sabem que a região sudeste do Brasil está passando por um longo período de estiagem. Os reservatórios que abastecem o estado mais populoso do país, com mais de 40 milhões de habitantes, estão com níveis cada vez menores. No final de semana passado, choveu para a felicidade da maioria, inclusive a minha. Ontem resolvi conferir se os níveis dos reservatórios haviam aumentado e, para meu espanto, a maioria teve redução nos volumes de água.
O Cantareira é um sistema de reservatórios responsável pelo abastecimento da 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Em maio deste ano, a SABESP (empresa responsável pela captação, tratamento e distribuição de água no estado de São Paulo) iniciou a captação de um volume de reserva d’água do sistema Cantareira, chamado de “volume morto”. Esta medida adicionou ao estoque 182,5 bilhões de litros de água. Todo este volume foi integralmente consumido após quatro meses. Agora se fala em adicionar mais 106 bilhões de litros de água da segunda reserva técnica do Cantareira.
O gráfico e a tabela abaixo apresentam a situação dos reservatórios, sem considerar o uso desta nova reserva no Cantareira e supondo perfil de consumo e reposição semelhante ao atual.
Ou seja, o sistema Alto Tietê secaria antes do final do ano, o Cantareira poderia suportar até o final de janeiro, graças ao uso desta nova reserva, e todo o sistema entraria em colapso no final do primeiro semestre de 2015. Se as chuvas nesta primavera, que inicia hoje, e no próximo verão forem normais, talvez a catástrofe seja adiada por mais alguns meses.
Como a solução deste problema não é rápida ou fácil, a questão que todos fariam é simples:
– Por que ainda não começou racionamento de água no estado e principalmente na região metropolitana, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas?
Minha resposta é óbvia:
– O atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, concorre à reeleição e espera vencer no primeiro turno que acontecerá em duas semanas. E esta medida é muito impopular, além de expor uma grave incompetência de sua gestão.
Passada a eleição em São Paulo, o racionamento deverá entrar em vigor e, como sempre, os mais pobres sofrerão mais… Se a situação avançar até o ponto crítico, em algum momento de 2015, poderemos assistir um êxodo urbano sem precedentes na história brasileira! Tudo poderia ser evitado com investimento em redução de perdas, reuso de água e melhor gerenciamento do sistema, mas se preferiu contar com a sorte…
Pingback: São Paulo “Atacama” – Aproveitamento de Água da Chuva e Reuso de Água Já! | World Observer by Claudia & Vicente
Pingback: Post 200 – Retrospectiva | World Observer by Claudia & Vicente
Pingback: São Paulo “Atacama” – As Medidas que Evitariam a Crise de Abastecimento de Água | World Observer by Claudia & Vicente
Impressionante ter chegado a este ponto.
Estou compartilhando nas redes sociais.
CurtirCurtir
Poucas vezes eu vi um problema tão grande e importante ser tratado de forma secundária como este. Ontem a SABESP anunciou que “as obras para drenar a segunda cota do volume morto do Sistema Cantareira vão garantir um abastecimento à região metropolitana de São Paulo até março de 2015”. Ou seja, continuam contando com a sorte ou com as chuvas.
Nós estamos falando do abastecimento de água para 20 milhões de pessoas!!!
Por gentileza, divulga para o maior número de pessoas. Talvez com pressão da opinião pública, os políticos resolvam correr atrás de soluções ao invés de esperar sentados a ajuda dos céus.
CurtirCurtir