Eu estava sentado com um colega americano de empresa no bar de um hotel na Bélgica em 2004. Tivemos um dia pesado com reuniões sobre aumento de produtividade, melhorias de processos e redução de custos. Chegou a hora de relaxar. Enquanto eu degustava uma excelente cerveja belga, ele sorvia aos poucos um cálice de vinho. Aproveitei para fazer algumas perguntas sobre a política americana, afinal sempre quis entender melhor este aspecto da nação mais poderosa do planeta. Ele comentou que uma questão central no debate da eleição presidencial daquele ano entre George W. Bush. e John Kerry era o aborto. Fiquei surpreso, achava que o terrorismo, o desemprego, a saúde e outras questões referentes à economia eram mais importantes. Ele me disse que nos debates estes pontos seriam muito explorados, mas o americano médio, na hora de votar, se preocuparia muito mais com a liberação ou não do aborto. Sabe-se que o conservadorismo religioso é muito forte no meio-oeste americano e os Republicanos se alinham melhor a esta forma de pensar.

Republicanos e Democratas Americanos
Como eu percebi que meu colega sentia-se muito a vontade ao falar destes temas, fiz a pergunta definitiva:
– Quer dizer que para o americano médio foi mais grave o Bill Clinton mentir sobre o caso com a Monica Lewinsky do que o Bush mentir sobre a presença de armas químicas e biológicas no Iraque?
E ele respondeu de modo categórico:
– Claro! Não há a menor dúvida!
Aquilo me soou uma coisa tão absurda e distante que era até difícil de entender. Como uma mentira que causou a morte de milhares de pessoas podia ser muito menos importante do que uma mentira sobre uma “pulada de cerca” do presidente.
Os anos passaram e estamos no segundo turno da eleição presidencial. Nunca na história deste país (como diria uma ilustre figura pública brasileira), tivemos duas opções tão parecidas para escolhermos. Não temos mais dicotomias como Collor e Lula ou FHC e Lula. Nas duas alternativas, temos candidatos a presidência de centro-esquerda com vices oriundos de partidos fisiológicos ávidos por cargos públicos.

Dilma Serra

José Rousseff
Parece quase impossível deter o desenvolvimento do Brasil nos próximos anos. Por outro lado, temos grandes desafios nas áreas da educação, saúde, segurança pública e infraestrutura, mas os dois candidatos estão conscientes destes pontos e, sem dúvida, devem dedicar-se a estas questões. Por incrível que pareça, vejo um maniqueísmo religioso no centro do debate eleitoral. Não estamos discutindo as propostas para solução destas quatro áreas que citei anteriormente, mas a satanização de questões como aborto e direitos das minorias.
Recebi E-mail com links para vídeos dos pastores Paschoal Piragine Jr. e Silas Malafaia. Para assistir, basta clicar sobre o nome do respectivo pastor.
Eu acho que a crítica em relação ao aborto é mais consistente, porque estamos discutindo se uma nova vida pode ser interrompida ou não. As imagens apresentadas no vídeo do pastor Paschoal devem chocar até os defensores desta prática. Os dois pastores também são contra o PNDH-3 (Programa Nacional de Direitos Humanos 3) e o projeto de lei da Câmara Federal PLC 122 / 2006. O cerne das críticas é referente aos direitos dos homossexuais. O mais curioso é que Artigo 2o do projeto de lei apresenta o seguinte:
Define os crimes resultantes de discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia, religião, procedência nacional, gênero, sexo, orientação sexual e identidade de gênero.
Sim, a lei protege os batistas e evangélicos, seguidores das religiões destes dois pastores, de sofrerem alguma discriminação no trabalho, por exemplo.
O vídeo do pastor Paschoal Piragine Jr. perde parte da credibilidade ao misturar com o aborto e homossexualidade, a pedofilia, a violência familiar e o infanticídio. A mensagem transmitida é que, ao votar no PT, estaremos colaborando para aprovar leis que permitem estas práticas.
Como já falei neste post, acho a Dilma e o Serra muito parecidos. A novidade desta eleição indiscutivelmente foi a Marina com sua mensagem de sustentabilidade. Agora devemos encontrar as diferenças entre os dois candidatos para definirmos o voto. A busca de informações de qualidade, sem radicalismo, sem preconceitos será nosso maior desafio.
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