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O Gambito da Rainha e a Volta do Meu Encantamento pelo Xadrez

Muitas vezes, repentinamente, deixamos de fazer atividades que, até aquele momento, gostamos e praticamos com frequência. Claro que não estou falando de alguém que está fazendo atividades esportivas ou dietas apenas por razões de saúde ou estéticas. Nesta situação, a tendência natural é abandonar a prática, porque não é realizada por prazer; e sim, por obrigação.

Na semana passada, assisti à série do Netflix “O Gambito da Rainha” (original “The Queens’s Gambit”). Obviamente lembrei dos tempos em que eu jogava xadrez e da minha decisão de afastar-me do tabuleiro.

Aprendi a jogar xadrez e damas cedo. Meu pai era um bom jogador de damas, mas não gostava de jogar xadrez. Segundo ele, o xadrez era muito demorado e ele preferia o dinamismo do jogo de damas. Além disso, ele não aliviava em nenhum jogo: futebol no quintal, futebol de botão ou damas. Deste modo, se eu ganhasse dele em qualquer modalidade, seria porque eu joguei melhor.

No início, perdia quase todas partidas de damas, depois as estatísticas ficaram mais parelhas e, finalmente, no final da minha adolescência, ganhava a maioria das partidas. Assim, minhas habilidades nas damas evoluíram, porque eu tinha um “sparing” muito bom.

No xadrez, tinha um colega no ensino médio, meu amigo inesquecível Eduardo Schaan, que jogava melhor do que eu. Ele era meu estímulo para evoluir. Decidi que precisava estudar mais para evoluir e comprei o “Manual Completo de Aberturas de Xadrez” de Fred Reinfeld. Foi uma ótima compra, o livro me ajudou a ter um jogo mais sólido e não cometer erros elementares que comprometiam minhas partidas. Decorei várias aberturas, além de algumas partidas inteiras.

Passei no vestibular para engenharia química. No centro acadêmico da engenharia, jogava-se, nos intervalos das aulas, ping-pong numa sala; cartas, em outra; e ainda xadrez, numa terceira sala. Eu jogava algumas partidas de xadrez e assistia a outras. Provavelmente este foi meu auge como jogador. Conseguia vislumbrar jogadas que a maioria não enxergava.

Ainda no primeiro ano do curso, vi o cartaz do campeonato aberto de xadrez da engenharia. Claro que fiquei entusiasmado para testar minha força em um campeonato oficial. Quando cheguei no local do torneio, aconteceu uma situação muito parecida com a da protagonista da série, Beth Harmon, em seu primeiro campeonato no Kentucky, perguntaram qual era meu rating. Eu não tinha rating, era meu primeiro torneio, mas cinco competidores já participavam de torneios da Federação Gaúcha de Xadrez. Sentamos em frente aos tabuleiros e o organizador anunciou solenemente:

– Hoje temos a honra da presença do atual campeão gaúcho de xadrez, Iwakura, e também do campeão de Porto Alegre, Palmeira.

Iwakura estava em frente do tabuleiro na minha esquerda e o Palmeira era meu adversário do primeiro jogo…

Perdi com honra após quase uma hora e trinta minutos. Nas duas partidas seguintes, contra amadores do meu nível, empatei uma e ganhei a outra. Fui disputar meu último jogo contra um dos cinco “profissionais”. Certamente sofri o maior massacre em toda a minha incipiente carreira de enxadrista.

Tive a certeza que precisava estudar muito para poder fazer frente contra aqueles cinco enxadristas. Se eu quisesse jogar no nível dos melhores do Brasil, deveria estudar mais ainda e havia a forte probabilidade de que, nem assim, eu seria capaz de derrotá-los.

Como eu era muito competitivo naquela época, aos 17 anos, resolvi encerrar minha carreira. Eu gostava muito de xadrez e poderia continuar jogando de forma amadora contra adversários do meu nível, mas minha decisão foi radical. Provavelmente joguei menos partidas nestes últimos 37 anos do que joguei entre 1982 e 1983.

O Gambito da Rainha me devolveu o prazer de assistir a um jogo xadrez, analisá-lo e sentir prazer ao ver belas jogadas. O cuidado da produção, os jogos, a atmosfera e as belíssimas partidas como a última criada pelo ex-campeão mundial Garry Kasparov (consultor da série) reacenderam a chama.

Hoje entendo melhor minhas limitações e como usufruir das atividades que me proporcionam satisfação pessoal. Por exemplo, gosto de cozinhar, mas não tenho pretensão de participar do MasterChef. Gosto de correr, mas não me frustra ter corredores da minha faixa de idade ou mais velhos com desempenhos muito melhores nas competições em que participo. Faço o melhor que posso e isto me satisfaz. Talvez, se eu tivesse encarado o sétimo lugar daquele campeonato de xadrez da engenharia como o vice-campeonato entre os “amadores”, não teria me afastado do xadrez por longos 37 anos…

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Enfim Acabou 2017 e que Venha 2018

Finalmente acabou 2017! É isto mesmo… Não escrevi errado, nem é uma daquelas piadinhas que circulam pelo WhatsApp com a foto do rico e injustiçado Rubens Barrichello.

Este foi o ano mais longo da minha vida. Durou ao todo 717 dias, um pouco mais do que um ano marciano. Começou na manhã do dia 14/01 de 2017, quando quebrei a tíbia e a fíbula da perna direita, e terminou na manhã do dia 31/12 de 2018, quando eu cruzei a linha de chegada da Corrida de São Silvestre em São Paulo.

Como acontece muitas vezes na vida, algo evita que nossos planos deem 100% certo. No primeiro posto de distribuição de água (km 3 da prova), me desencontrei do meu filho Leonardo e corremos separados. Só nos reencontramos após pegarmos nossas medalhas de participação. Talvez, no dia de hoje, devêssemos correr sozinhos e tomarmos nossas próprias decisões. Quem sabe?

Foram duas horas mágicas. Em vários momentos, fui invadido por uma sensação e alegria e bem-estar. Cheguei a sentir arrepios, como se alguém estivesse correndo ao meu lado. Corri, sorrindo, em várias ocasiões.

Meu réveillon começou no momento em que entrei na avenida Paulista depois da subida da Brigadeiro Luís Antônio (menos sofrida do que minha expectativa). Acelerei minha passada ao ver o portal da linha de chegada com um misto de sorriso e choro. As lágrimas, o suor e a água, que joguei no meu rosto, confirmavam categoricamente que esta etapa da minha vida acabara ali ao cruzar o portal da chegada. Foi difícil conter o choro, porque sei que posso fazer mais do que faço hoje e posso encarar novos e mais complexos desafios.

Vou tentar concluir 2018 até o final de janeiro para entrar em 2019 o mais rápido possível. Quais serão os próximos passos? Siga-me neste blog…

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Eu e o Persistente 2017 que Insiste em Não Acabar

Faz cinco meses que eu não publico nada no blog. Esta deve ser a mais longa inatividade desde a sua criação há nove anos. O pior é que não faltaram assuntos…

Quando escrevi o post “2017 – O Ano que Ainda Não Terminou em Alguns Sons e Imagens”, havia tomado a decisão de voltar para a vida de consultor independente. Reativei minha rede de contatos para ver potenciais parcerias. Em abril, fechei um contrato de um ano com alta carga horária mensal para reestruturar as áreas de engenharia e tecnologia de uma empresa. Iniciei as atividades em maio. O trabalho é muito interessante, tenho aprendido muito sobre processos biotecnológicos. Só tem um detalhe, a empresa está localizada a mais de 500 km da minha residência. Deste modo, praticamente todas as semanas, nas segundas-feiras, eu pego o primeiro voo para o aeroporto mais próximo da cidade onde fica a empresa e retorno no último voo na noite de sexta-feira.

Também decidi que eu não deixaria passar oportunidades de negócio. Fechei um contrato spot como uma empresa de alimentos na Europa para solucionar um problema de qualidade de uma de suas linhas de produtos. Assim passei uma semana, acompanhando testes na planta deles no início de agosto. Tive sucesso e agora estou em negociação para um contrato maior. E recentemente, fechei um contrato com meu antigo empregador para uma consultoria técnica na área ambiental, mais especificamente na nova estação de tratamento do esgoto sanitário e na modernização da estação de tratamento de efluentes industriais de uma planta no Rio Grande do Sul.

Ou seja, meus dias têm sido intensos. Os trabalhos são interessantíssimos, temas variados em regiões geográficas bem diferentes.

Há cinco anos, escrevi o artigo “Empresário ou Empregado – Contatos Quentes e Frios”. Nele descrevi as limitações da vida de consultor. A principal é a contratação quase exclusiva por alguém que te conhece ou recebeu indicação de quem te conhece (os chamados contatos quentes). Além disso, quase sempre você é contratado para fazer aquilo que comprovadamente sabe fazer. A chance de fazer coisas novas é normalmente muito pequena.

Neste ano, só investi nos contatos quentes e poupei energia com os frios. Todos meus contratos são provenientes de contatos quentes. E confesso que desta vez fiz coisas inéditas, aprendi novas tecnologias, negociei contratos no exterior, emiti invoices em inglês, fechei contratos de câmbio…

E consultas para novos projetos continuam chegando…

Para completar, continuo estudando Antroposofia em um curso de formação da pedagogia Waldorf. Esta atividade ocupou um final de semana por mês, além de uma semana inteira em julho. Tenho inclusive tentado pintar algumas aquarelas como a apresentada abaixo.

aquarela

Minha família continua me apoiando nesta correria quase insana. Sem o amor e compreensão da Claudia e das gurias, eu não aguentaria este ritmo.

Por falar em correria, continuo correndo e, segundo o App Runkeeper, já percorri mais de 700 km, desde que iniciei as corridas no final de julho do ano passado. Participei de mais uma corrida de rua, dessa vez foram 10 km em São José do Rio Preto.

Corrida_SJRP

Vamos ver se 2017/ 2018 será encerrado na Corrida de São Silvestre que eu e meu filho Leonardo vamos participar em 31 de dezembro deste ano pelas ruas de São Paulo. Já estamos inscritos!

 

Se existe alguém com saudades de meus artigos sobre política, não perca, na próxima semana, o artigo “A Sérvia e a Eleição Presidencial Brasileira”.

 

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2017 – O Ano que Ainda Não Terminou em Alguns Sons e Imagens

Parece que temos mais histórias para contar em alguns anos do que em outros. O ano de 2017 está entre os mais ricos em novas experiências da minha vida. Na manhã do dia 14 de janeiro, tive uma fratura grave na tíbia e fíbula da perna direita, jogando um inocente futebol com minhas filhas e uma colega da mais velha no quintal da minha casa. Dois vizinhos, Fernando e Toni, me levaram ao Hospital São Luiz no Morumbi. Minha fratura foi reduzida e no dia seguinte fui operado.

Gravei este áudio com a narração do acidente em estilo de transmissão pelo rádio de um jogo de futebol e coloquei algumas fotos do quintal de casa.

A radiografia abaixo mostra o tamanho do estrago. Agora tenho uma haste metálica dentro da tíbia fixada por dois parafusos na altura do joelho e por outros dois no tornozelo. Além disto, tenho duas placas fixadas por seis parafusos na lateral da perna próximo ao tornozelo que ajudaram na consolidação da fíbula.

Fratura_15-01-2017

Pelo menos não precisei engessar a perna, usei uma imobilização removível chamada Robofoot que eu tirava para dormir, tomar banho ou quando estava sentado na sala.

Com menos de uma semana, passei a tomar banho sozinho sem qualquer ajuda. Dois meses depois, já subia escadas.

Passei por vários momentos no processo de recuperação. Desde os tempos iniciais em que não podia encostar o pé no chão aprendi a andar de muletas até a hora tive que largá-las, no final de abril. Para isto fiz muita fisioterapia, com longas sessões de exercícios e choques. Tive que reaprender a andar.

Para ajudar na recuperação comecei com caminhadas na metade de junho e depois com corridas leves. A figura abaixo mostra minha primeira caminhada mais longa.

Runkeeper_17-06-2017

Peguei gosto pelas corridas e perdi mais ou menos 6 quilos em um ano, minha saúde melhorou. Um dia depois de completar 52 anos, participei pela primeira vez de uma corrida de rua.

foto 25-03-2018

Comecei a estudar Antroposofia em um curso de formação da pedagogia Waldorf. Uma vontade de dar aulas de química para pré-adolescentes e adolescentes começou a crescer dentro de mim… O futuro dirá se concretizarei esta vontade.

Durante o curso, junto com aulas teóricas, temos aulas de arte. Sempre me considerei um grande nada como artista. Tinha certeza absoluta da minha incompetência para todas as formas de artes. Com o transcorrer das atividades de modelagem em argila consegui superar esta certeza negativa e saíram algumas peças, como o “Urso” e o “Tio Gervásio”, cujo resultados finais me agradaram.

Urso_argila

Tio Gervasio

O curso de Antroposofia era no Sítio das Fontes em Jaguariúna. Lembro-me de um sábado que eu e alguns colegas acordamos bem cedo para ver o nascer do sol no equinócio da primavera. Repare que na segunda foto aparecem dois sóis.

Equinocio-1

Equinocio-2

No período que fiquei em casa, aproveitei as horas economizadas por não pegar a Rodovia Raposo Tavares nos deslocamentos até o escritório em São Paulo para ler mais e ver filmes e documentários.

No documentário “The Corporation”, havia participação destacada de Ray Anderson, fundador e ex-presidente da Interface, um dos maiores fabricantes mundiais de carpete modular para aplicações comerciais e residenciais. Ele era conhecido nos círculos ambientais por sua posição avançada e progressiva sobre ecologia industrial e sustentabilidade. Em um de seus depoimentos, ele citou dois livros que ajudaram a moldar seu pensamento, “A Ecologia do Comércio” de Paul Hawken e “Ismael” de Daniel Quinn. Descobri que tinha o livro Ismael em casa. Li e fiquei impressionado com a visão de Quinn sobre como o ser humano está destruindo o planeta, através da agricultura.

thecorporation

O pensamento de Quinn baseia-se na premissa que as populações de animais entram em equilíbrio com a disponibilidade de alimentos na região em que vivem. Se a disponibilidade aumenta, a população aumenta; na sequência, isto causa uma redução da disponibilidade de alimentos e a população diminui. Ou seja, na natureza, existe um equilíbrio dinâmico entre alimentação e crescimento populacional.

Daniel Quinn

Daniel Quinn

O ser humano quebrou este equilíbrio através da agricultura. Invadiu áreas, destruiu ecossistemas e matou outros animais que competiam pela mesma fonte de alimentos. Quanto maior se tornava a disponibilidade de alimentos, mais rapidamente cresciam as populações humanas. Consequentemente mais alimentos eram necessários, aumentavam-se as áreas para agricultura, novos ecossistemas eram destruídos, novas espécies eram extintas. Ao invés do equilíbrio dinâmico de outrora, temos hoje uma espiral ascendente de destruição causada pela agricultura em nível planetário. Tudo isto é agravado pelo consumismo que estimula o consumo de alimentos e bens de forma insustentável.

Como tornar a ação humana mais sadia para o planeta? Comecei a estudar agricultura e como, suas práticas ajudam a mudar clima da Terra e a destruir o solo, as reservas de água doce e a biodiversidade. Tentei então imaginar como as diversas vertentes da agricultura orgânica poderiam ajudar a recuperar o meio ambiente ao mesmo tempo que alimentam a população humana. Fiz um curso de agricultura biodinâmica.

Escrevi um trabalho sobre o assunto. Propus alternativas onde novas tecnologias digitais e robótica ajudariam a agricultura, evitando a aplicação massiva de fertilizantes sintéticos, pesticidas e herbicidas nas lavouras. Quando o trabalho estava pronto para ser apresentado, fui informado que minha área na empresa, inovação global, seria extinta. Após reflexões e sonhos reveladores, achei melhor sair e reativar a empresa de consultoria que a Claudia fundou e entrei de sócio em 2008. A ideia de deixar a empresa, onde trabalho há quase oito anos, já estava em maturação desde o período em que fiquei recuperando-me da fratura em casa.

Recentemente esbarrei numa frase do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard:

“A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.”

Soren_Kierkegaard

Soren Kierkegaard

Na época, não entendi porque quebrei a perna. Hoje percebo que precisava parar e pensar. Minha ligação com nossa filha menor, Luiza, cresceu. Não podia mais ser levado pela vida como aconteceu nos dois ou três últimos anos. Não podia mais viver, acumulando reservas, sem ousar com a justificativa que precisava garantir a estabilidade da minha família. Preciso construir um novo caminho e continuo contando com o amor e apoio da minha família nesta construção.

Daqui a alguns anos, quero parar (de maneira menos dramática) e olhar para trás e entender o sentido das mudanças de 2017 e 2018. Depois voltarei a seguir em frente certo que tudo fez sentido nesta jornada incrível que chamamos de vida.

 

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O Quadragésimo Quarto e as Meias para Aquecer os Pés

Mais um Gre-Nal decidiu o campeonato gaúcho de futebol no domingo passado. Uma velha rotina… Uma hora antes do início do jogo liguei a televisão e coloquei num destes programas esportivos que debatiam as possibilidades de cada clube nas finais dos principais campeonatos estaduais brasileiros. Quando faltavam uns quinze minutos, localizei o canal do pay-per-view onde o jogo passaria.

Os times entraram no gramado do Beira-Rio e as escalações foram apresentadas. Meus pés estavam desagradavelmente gelados. A temperatura ambiente mais baixa não justificava aquela condição. A expectativa do jogo e a influência do pessimismo do meu filho estavam congelando meus pés. A história era parecida em 2006, primeira final de campeonato que nós dois assistimos juntos no estádio. O primeiro jogo das finais acabou empatado em 0x0 no estádio do Grêmio, da mesma forma que em 2015. Naquela ocasião, no jogo de volta no Beira-Rio, ganhávamos a partida até quase o final quando sofremos o empate e perdemos o campeonato, porque o Grêmio fez um gol fora de casa (chamado saldo qualificado). Isto deve ter gerado um trauma esportivo no meu filho, com dez anos na época.

Decidi ir ao quarto antes do jogo começar e escolher um par de meias. Cuidei para que não houvesse nenhum sinal de azul e, pelo menos, algum detalhe vermelho. Superstição boba, mas por que arriscar? Voltei para a sala e vesti as meias. Olhei para meus pés e lembrei-me do meu pai. Podia ser um dia quente de verão, mas toda vez que nos juntávamos para ouvir os jogos do Inter no rádio, ele botava meias para esquentar os pés gelados. Naquele momento, além dos pés, senti meu coração aquecer, motivado por uma saudade gostosa, alegria, paz…

Meias

Isto não evitou que eu xingasse o juiz durante a partida, gritasse loucamente nos gols do Colorado e ficasse apreensivo com a escassez da vantagem. Afinal o Grêmio novamente estava a um gol do título, como em 2006. Mas o resultado final não poderia ser outro – Inter mais uma vez campeão gaúcho, quadragésima quarta conquista estadual, com mais uma vitória sobre seu maior rival.

Inter Pentacampeão Gaúcho 2015  [Fonte: GloboEsporte.com]

Inter Pentacampeão Gaúcho 2015     [Fonte: GloboEsporte.com]

Mas se me perguntarem qual foi a sensação mais prazerosa da tarde, eu responderei, sem nenhuma dúvida, foi o momento no qual olhei meus pés com as meias e as memórias do meu pai voaram dentro da minha cabeça.

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Post 200 – Retrospectiva

Este é o ducentésimo (por que não é “duzentésimo”?) post publicado neste blog.

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Normalmente o centésimo é mais festejado, talvez pela introdução do terceiro dígito na contagem do número de posts, mas não posso perder a chance de fazer uma retrospectiva dos últimos cem posts publicados.

Vários posts foram inspirados por filmes. “Diários de Motocicleta” ajudou a contar a história da formação da consciência social de Che Guevara. “As Aventuras de Pi” tratou de temas como religiosidade e espiritualidade. “Amour” tratou dos sacrifícios extremos assumidos em nome do amor. “Meia-Noite em Paris” inspirou uma discussão sobre “O Passado e o Futuro”. “Ela” (título original Her) trouxe à tona as maravilhas e os perigos da inteligência artificial meio ano antes do físico Stephen Hawking externar seus temores sobre o assunto (fiquei bem acompanhado desta vez…).

Outros posts resgataram fatos históricos, como as descobertas e invenções de Heron de Alexandria ou o ato heroico de Sérgio Macaco que evitou centenas de mortes durante os anos de chumbo no Brasil. O próprio golpe militar foi protagonista de um post, onde reafirmei minha certeza que a democracia é o único caminho. As semelhanças dos casos de Napoleão Bonaparte e Eike Batista também renderam um post. E a guerra, o ato mais estúpido do ser humano, foi meu alvo após uma visita a Les Invalides em Paris,”Pra Não Dizer que Não Falei das Flores“.

O nascimento de nossa caçula, Luiza, recebeu um post superespecial – “A Maior Emoção da Minha Vida”. A Claudia deve futuramente fazer um post mais aprofundado sobre o parto humanizado.

Alguns posts trataram das minhas visões pessoais sobre família, amor pelos filhos (“Quando nos sentimos pais”) e educação dos filhos (“O que Dar e o que Esperar do Futuro de Nossos Filhos”). Afinal minha riqueza não deve ser medida pelos meus bens materiais, mas pela qualidade dos meus relacionamentos e “Eu Sou um Homem Rico”.

As questões do exibicionismo e da privacidade foram discutidas em dois posts, o primeiro sobre o BBB e o segundo que também trata do monitoramento da vida privada das pessoas pelos Estados – “Privacidade, Intromissão e Exibicionismo”. A propósito este post foi publicado quatro meses antes das denúncias de Edward Snowden.

As religiões e a manipulação dos fiéis por líderes inescrupulosos são fontes inesgotáveis de inspiração. Não escaparam deste blog o Islamismo, a igreja católica, representada pelos papas Bento XVI e Francisco, e nem mesmo “Deus, Sempre Ele”.

Dediquei dois posts para uma das piores figuras públicas da atualidade, o russo Vladimir Putin, sobre seu ecomarketing e sobre a Crimeia. Muito, mas muito menos importante, o ex-prefeito de Novo Hamburgo, Tarcísio Zimmermann, também foi “agraciado” com dois posts, enquanto tentava se reeleger antes de ser cassado devido à Lei da Ficha Limpa.

Em outros três posts, procurei comentar como nossos pensamentos podem ser nossos maiores aliados ou inimigos – “Como a Matrix de Neo e a Caverna de Platão nos Mostram a Realidade”, “Memórias e os Fantasmas do Passado” e “Como Assassinamos Nossos Insights”. Na mesma linha, escrevi mais dois posts – “O Medo” e “A Autossabotagem”.

A culinária vegana manteve seu lugar de destaque – moqueca de tofu, ratatouille, torta de sorvete, estrogonofe ou como preparar proteína texturizada de soja.

Aventurei-me em novos territórios – primeiro escrevi uma história infantil sobre bullying (“A Bruxinha Totute”); depois um poema no meio da “Turbulência” de um voo entre a França e o Brasil; mais um conto de ficção científica dividido em cinco partes sobre a expansão da humanidade em outros sistemas planetários e sua incontrolável ambição (“A Fonte da Juventude de Perennial”). Para finalizar escrevi, na semana passada, uma história que mescla ciência e religião (“Projeto Gaia – Experiência Final”).

Vários posts tiveram como inspiração as manifestações de junho do ano passado. Iniciei com “Os Protestos e a Verdadeira Democracia”, na sequência sugeri como próximo alvo a finada PEC 37/2011. Imaginem como ficaria a investigação da “Operação Lava Jato”, se o poder de investigação do Ministério Público Federal fosse tolhido? A melhoria nos serviços públicos de saúde foi um dos principais alvos dos manifestantes e o governo federal reagiu com a criação do “Programa Mais Médicos” que inspirou um artigo. Em breve, voltarei a escrever sobre a política brasileira.

Tentei desvendar os mistérios da satisfação pessoal em ”Não Esqueçam seus Objetivos Pessoais no Avião” e “Salário Motiva os Funcionários?”.

Questões éticas com animais foram tratadas em “Golfinhos de Guerra” e “Sofrer e Amar não são Exclusividades dos Humanos”.

A sustentabilidade ambiental também teve destaque com artigos sobre reciclagem de metais raros de telefones celulares, reciclagem de fósforo e da influência do consumo de carne na degradação do meio ambiente.

Este blog não é mais somente meu. A Claudia estreou em grande estilo com o post que conta como virou vegetariana, “Eu, a carne e a berinjela…”. Sinto que o respeito aos vegetarianos cresce a cada dia como retratei no post “Vitória Vegetariana”. E aqui entre nós, “Por Que Comer Carne?”.

A Copa do Mundo de Futebol realizada no Brasil em 2014 rendeu dois posts, “A Copa do Mundo Envergonhada” e “Como o Futebol Brasileiro foi Massacrado pelo Alemão”. Dentro da esfera futebolística, publiquei mais dois post “De Volta para o Meu Lugar”, sobre a reabertura do Beira-Rio, e “Fernandão, Vida, Morte e Piscadas”, sobre o morte do ídolo colorado Fernandão.

A seca em São Paulo que ameaça o fornecimento de água à população do estado também inspirou dois posts – “o que fazer quando a água acabar?” e “as medidas que evitariam a crise de abastecimento de água”. Apesar das excelentes chuvas dos últimos dias, o risco continua…

Falei sobre os mais variados assuntos, das “Gambiarras” ao “Portuglish ou Portunglês”, do show de Yusuf Islam em São Paulo aos “Múltiplos Papéis da Mulher no Mundo Atual”, dos conflitos entre judeus e palestinos em “O Escudo Humano” aos problemas da economia americana em “Obama e o Dilema Capitalista”, do racismo contra o goleiro Aranha a “Os Psicopatas, os Hiperativos, os Estranhos e os Normais”. Afinal “As Pessoas são Diferentes – Que Bom!!!”.

Agradeço a todos que acompanham nosso blog, espero críticas e sugestões para os assuntos dos próximos cem posts e lembro, mais uma vez que tento não falhar e fazer “Jornalismo Profundo como um Pires“ e “Eu Não me Chamo “Martho Medeiros”.

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Aranha, os Torcedores Gremistas e o Racismo

Na sexta-feira passada, recebi de um colega de empresa a encomenda de uma postagem no meu blog, tratando do evento recente de racismo no jogo entre Grêmio e Santos. Como já foi amplamente divulgado pela mídia, no jogo contra o Grêmio em Porto Alegre, parte da torcida gremista ofendeu o goleiro Aranha do Santos, chamando-o de macaco.

Goleiro Aranha se revolta com a atitude de parte da torcida do Grêmio

Goleiro Aranha se revolta com a atitude de parte da torcida do Grêmio

Lembro-me de um filme americano de 1970, “Watermelon Man” que assisti com meu pai numa madrugada de sábado no final dos anos 70 ou início dos 80. No Brasil, o título do filme é “A Noite em que o Sol Brilhou”. Neste filme, um americano branco e racista acorda negro. Após tentar voltar ao normal, sem sucesso, ele decide retomar sua vida normalmente, mas percebe que as pessoas passam a tratá-lo de forma diferente. Assista ao trailer do filme.

A cena da corrida para chegar antes à parada do ônibus era uma aposta com o motorista e ele fazia aquilo todos os dias. Para vencer a aposta ele inclusive atravessava quintais de alguns vizinhos. Suas atitudes, incluindo seu humor grosseiro, eram toleradas e ele era considerado um excêntrico. Quando ele tentou fazer a mesma coisa depois de ficar negro, foi preso. Quem se lembra daquela velha piada? Um rico, quando corre, está fazendo um cooper; e um pobre está fugindo da polícia! No filme, a esposa branca do protagonista, apesar de mais liberal e apoiar a luta dos negros americanos, não suportou aquela situação e deixou o marido.

Nos Estados Unidos, a situação foi mais séria, porque houve segregação racial, mas, no Brasil, a coisa não foi muito melhor. Durante muito tempo, atos racistas foram tolerados na nossa sociedade. A Lei Afonso Arinos, que entrou em vigor em 1951, tornou os direitos de todos iguais independente de raça. Ou seja, um negro, por exemplo, não poderia ser impedido de frequentar um estabelecimento comercial apenas por ser negro. Mas o racismo continua vivo ou, pelo menos, adormecido na cabeça de muitas pessoas até hoje. Talvez a jovem torcedora do Grêmio flagrada pelas câmeras de TV não discrimine negros no seu dia a dia, mas, junto com outros torcedores, usou uma forma racista para ofender o goleiro santista. Isto mostra que ela achava aquela atitude normal, senão, no mínimo, ficaria calada.

O fim do racismo claramente é um processo de mudança cultural. Em um post comentei o processo de mudança cultural em relação à segurança. Apresentei o exemplo do uso de cinto de segurança nos automóveis. Vivemos décadas numa sociedade onde o racismo e os atos inseguros eram tolerados. Para mudar a situação devemos ser inflexíveis, senão a “maionese desanda”. Naquele post, apresentei a curva de Bradley da DuPont.

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Existem pessoas com diferentes níveis de maturidade: algumas ainda têm comportamento reativo, outras dependem de supervisão, outros têm comportamento adequado independentemente de orientação e existem os que ajudam os outros a melhorar seus padrões de comportamento.

A punição de exclusão da Copa do Brasil sofrida pelo Grêmio deve servir de exemplo para toda a sociedade brasileira. Quando a Justiça Esportiva passou a punir os clubes, porque algum torcedor lançava algum objeto no campo, muita gente achou que era um exagero, mas os próprios torcedores passaram a se autocontrolar.

Sem dúvida chamar um negro de macaco não está certo, mesmo num estádio de futebol! A maioria da torcida do Grêmio também já entendeu que chamar os torcedores do Internacional de “macacos imundos” é errado e vaiou os que cantaram esta música antes do ultimo jogo em seu estádio.

Todos merecem respeito e igualdade de direitos independente de raça, sexo, patrimônio material, orientação sexual, local de nascimento, religião e profissão. Isto é lógico, parece fácil de fazer, mas, na verdade, é uma luta diária, onde não podemos baixar a guarda ou sermos omissos .

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Como o Futebol Brasileiro foi Massacrado pelo Alemão

Durante a última Copa do Mundo, escrevi um artigo, “Lições do Futebol para Gerentes”. Eu comentei que o treinador do time deveria escalar o time e escolher a sua tática após analisar os pontos fortes e fracos do seu elenco e da equipe adversária. Conclui o artigo, dizendo que “muitas vezes o sucesso pode depender mais de como o treinador se relaciona e motiva seus subordinados do que táticas ou estratégias sofisticadas”.

Naquele artigo, citei o Felipão como exemplo de técnico motivador. O que assistimos ontem, sem dúvida, foi o maior prova de que apenas motivação e torcida a favor não são suficientes para vencer alguma coisa. Alguém pode dizer que os jogadores alemães não estavam tão motivados quanto os brasileiros? Nesta hora, a organização e a qualidade técnica muito superiores do adversário ajudaram a escancarar as deficiências que apareceram em todos os jogos anteriores do Brasil nesta Copa. Felipão acreditou na superação, advinda da perda de Neymar, e armou um time ultraofensivo, onde apenas dois volantes marcavam no meio-campo. Por outro lado, o alemão Joachim Löw montou uma equipe compacta para aproveitar todas as fraquezas brasileiras. Quem assistiu ao jogo tinha a impressão que a Alemanha jogava com dois jogadores a mais. Após o segundo gol, os alemães foram para cima do Brasil, como um lutador em busca do nocaute ao ver seu adversário atordoado, e marcou mais três gols em apenas cinco minutos.

Klose comemora o segundo gol da Alemanha contra o Brasil [Fonte: site globoesporte.com]

Klose comemora o segundo gol da Alemanha contra o Brasil [Fonte: site globoesporte.com]

Claro que Felipão teve uma parcela significativa de culpa na tragédia desta terça-feira! Alguém pode dizer que o principal culpado é quem o colocou como técnico, o que também é certo, mas quais são os técnicos brasileiros de destaque hoje, além do Felipão? Mano Menezes (testado e reprovado na Seleção), Tite, Muricy… Nenhum empolga muito…

Felipão e Joachim Löw se cumprimentam ao fim do jogo – [Fonte: David Gray / Agência Reuters]

Felipão e Joachim Löw se cumprimentam ao fim do jogo [Fonte: David Gray / Agência Reuters]

O futebol brasileiro também está numa fase de transição. Além de Neymar, alguém se lembra de mais algum grande jogador em atividade? Apenas alguns bons jogadores, sendo que a maioria já faz parte do elenco da seleção brasileira na Copa.

O último campeonato brasileiro foi o mais fraco tecnicamente desde 2003. O campeão Cruzeiro era um bom time, nada excepcional, mas não teve adversário e conquistou o título com onze pontos de diferença para o segundo colocado. Na Libertadores deste ano, a pobreza técnica do nosso futebol ficou clara, nenhum time brasileiro se classificou para a semifinal da competição.

Veteranos, em final de carreira, voltam para o Brasil e parecem deuses desfilando em nossos gramados, devido ao desnível técnico em relação aos outros jogadores. Onde estão os jovens talentos? As promessas surgem no início da temporada e muitas vezes, na metade do mesmo ano, seus passes já são negociados com equipes do exterior, normalmente do leste europeu, onde são esquecidos.

No meu Internacional, por exemplo, os dois melhores jogadores são estrangeiros, o argentino D’Alessandro e o chileno Aránguiz. Na metade do ano passado, o meia Fred, destaque do time desde o segundo semestre de 2012, foi vendido para o Shakhtar Donetsk da Ucrânia, destino de outros jovens jogadores brasileiros.

Os jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Pela ordem, atrás: Luiz Adriano (E), Ilsinho, Taison, Alex Teixeira, Maicon (morto em fevereiro), Ismaily – na frente: Eduardo (E), Fred, técnico Lucescu, Fernando, Wellington Nem, Bernard e Douglas Costa

Os jogadores brasileiros do Shakhtar Donetsk, da Ucrânia. Pela ordem, atrás: Luiz Adriano (E), Ilsinho, Taison, Alex Teixeira, Maicon (morto em fevereiro), Ismaily – na frente: Eduardo (E), Fred, técnico Lucescu, Fernando, Wellington Nem, Bernard e Douglas Costa

Como fortalecer nossos clubes para melhorar a promoção e retenção dos jovens talentos? Urge uma alteração do calendário brasileiro com o fim, ou pelo menos redução, dos campeonatos regionais. Seria ótimo sanear clubes, federações e CBF, assim poderia sobrar mais dinheiro no cofre dos clubes para segurar suas promessas. Quando eu falo sanear, significa botar na cadeia os ladrões que se locupletam com o dinheiro das transações com jogadores e patrocinadores.

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Quem Não Treina, Não Ganha

Nestes tempos de Copa do Mundo, sempre se chega à mesma conclusão – para se ganhar uma competição deste nível, a equipe deve estar bem treinada. Todos concordam com este pressuposto, quando o assunto é esporte, mas nem sempre conseguem ter a mesma percepção em outras áreas.

Eu já estava há alguns anos trabalhando como engenheiro de processo de uma empresa. Comecei a sentir que os ganhos advindos da minha atividade estavam cada vez menores, o que os economistas chamam de ganhos marginais decrescentes. Em bom português, cada vez se trabalha ou se gasta mais para ganhar menos em termos de custo, eficiência ou produtividade. Eu me sentia estagnado e queria fazer algo diferente. Procurei externar o que eu sentia, me pediram um pouco de calma e, depois de um tempo, me ofereceram a gerência de produção de uma fábrica. Não era uma fábrica qualquer, aquela fábrica estava em mau estado de conservação, era totalmente manual e havia muita gente trabalhando na área de empacotamento. Para completar, o produto tinha baixa margem de lucro, resumindo era o “patinho feio” daquele parque industrial.

Como a maioria dos engenheiros, achei que resolveria tecnicamente os problemas da fábrica. Boa parte dos problemas eram mecânicos. Eu e o responsável por esta área da manutenção, preparamos um plano, onde detalhamos o que deveria ser feito, como e quando. Seguíamos cada passo com atenção. Lembro-me do caso do transporte pneumático de matéria prima. Explicarei rapidamente para os leigos como era aquele equipamento.

Esquema simples de um transporte pneumático similar ao descrito

Esquema simples de um transporte pneumático similar ao descrito

O tipo de transporte pneumático que tínhamos, naquela fábrica, funcionava como um aspirador de pó gigante. A matéria prima ficava estocada em silos e roscas, no andar térreo do prédio, dosavam-na na tubulação por onde passava a corrente de ar. O material ficava em suspensão no interior da tubulação que subia até o último andar do prédio, quando era separado do ar através de filtro de mangas (mesma função do saco do aspirador de pó). Neste filtro, diferentemente do aspirador de pó doméstico, um sistema automático com ar comprimido era responsável pela remoção do material das mangas. O ar limpo passava por um ventilador e saia pela chaminé. O processo seguia continuamente e a matéria prima era encaminhada a um misturador, onde recebia os demais ingredientes.

O problema é que havia muitas falhas neste sistema e frequentemente a fábrica parava por falta de matéria prima nos misturadores, apesar dos silos estarem cheios.

Toda a vez que havia uma falha, o trecho da tubulação por onde entrava a matéria prima ficava totalmente obstruído e o ar não arrastava mais o material. Os operadores, então, batiam nas tubulações até formar um caminho por onde o ar passava, arrastando o material. Como aconteciam falhas frequentes, você pode imaginar o estado das tubulações… As pobres coitadas já estavam meio quadradas de tanto levar pancada!

Todos os componentes do transporte pneumático foram consertados ou trocados, incluindo as tubulações deformadas. Os problemas aparentemente terminaram…

Em um final de tarde, eu estava guardando minhas coisas para ir embora, quando ouvi umas batidas no andar de baixo. Desci rapidamente a escada e vi dois operadores, batendo com martelos de borracha com toda a força nos tubos novos. Já cheguei gritando:

– O que é isto? O que vocês pensam que estão fazendo?

Os dois operadores se assustaram e responderam que o transporte pneumático havia “embuchado” (entupido). Novamente parti para o ataque:

– Precisa destruir as tubulações novas? Vocês já foram até o último andar para verificar se o sistema de limpeza das mangas está funcionando direito? Vejam isto e depois passem na minha sala.

Os dez minutos de espera foram suficientes para baixar a adrenalina. Os dois operadores entraram na minha sala e avisaram que o sistema de limpeza não estava funcionando e eles já haviam chamado alguém da manutenção para consertá-lo.

Eu pedi desculpas pelos meus gritos e expliquei como funcionava o transporte pneumático e, no caso de outro problema, o que eles deveriam fazer.

Naquele momento, me dei conta que os operadores tinham de receber treinamentos melhores do que as simples conversas e explicações que eu havia feito até então. Quem é bem treinado reage melhor aos desvios do processo, porque tem domínio da situação e sabe o que está fazendo. Escute a gravação da comunicação de um piloto para torre de comando, avisando que fará um pouso de emergência. Um profissional só consegue ter este comportamento com muito conhecimento, treinamento e confiança.

http://exame.abril.com.br/brasil/noticias/ouca-o-audio-do-piloto-da-avianca-antes-do-pouso

Avião da Avianca fez pouso de emergência em Brasília devido a um problema no trem de pouso dianteiro em março de 2014

Avião da Avianca fez pouso de emergência em Brasília devido a um problema no trem de pouso dianteiro em março de 2014.

O maior aprendizado que tive, no meu caso, é que a técnica traz a base indispensável para entender o que está acontecendo, como solucionar problemas e o que fazer para atingir novos patamares de excelência, mas quem faz tudo acontecer são as pessoas. Só as pessoas conseguem manter tudo rodando corretamente. A partir daquele momento, passei a investir muito mais tempo no treinamento da equipe para ajudá-los a mudar suas atitudes e visões.

Só as pessoas mudam o mundo, o que podemos fazer é ajudar a mudar as pessoas.

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A Copa do Mundo Envergonhada

Começou na semana passada a Copa do Mundo de Futebol no Brasil. Já ganhamos o primeiro jogo na nossa jornada rumo ao hexacampeonato! Infelizmente, estava no meio de um teste no Canadá e apenas pude ver os melhores lances do jogo à noite em um canal de esportes local.

Gol de empate de Neymar para o Brasil contra a Croacia [Fonte: site Globoesporte.com]

Gol de empate de Neymar para o Brasil contra a Croácia  [Fonte: site Globoesporte.com]

Mesmo em Saskatoon, tive a surpresa de ver o destaque da Copa na edição local do jornal Metro, considerando que o futebol tem pouca importância para a população local. No dia da estreia do Brasil, a capa era dedicada à Copa, além de mais uma página interna. No dia seguinte, havia mais uma página sobre a abertura e o jogo do Brasil; e outra, sobre os jogos de sexta-feira. Nos canais de esporte canadenses, a Copa dividia o tempo com as finais da NBA, da NHL (hóquei no gelo, o esporte nacional) e do U.S. Open de golfe. Realmente a Copa é um dos maiores eventos mundiais.

Poucos povos do mundo gostam de futebol como os brasileiros, mas nunca vi uma Copa do Mundo na qual os brasileiros estão tão tímidos ou mesmo envergonhados para torcer pela nossa seleção. Houve os tradicionais atrasos de obras, a malversação das verbas públicas, os desmandos da FIFA… Isto pode e deve nos trazer indignação, mas por que a vergonha em torcer pelo Brasil?

Lembro-me que no segundo grau se decidiu fazer uma peça com a versão em inglês do texto do “Pequeno Príncipe” de Saint-Exupéry. Eu recebi o menor papel de todos – o bêbado, porque provavelmente ninguém acreditava no meu talento dramático. O motivo da escolha do papel não foi certamente a minha identificação com o personagem, porque, naquela época, eu não consumia absolutamente nada de álcool. Leia a íntegra do capítulo XII abaixo.

Bebado_Pequeno-Principe

O planeta seguinte era habitado por um bêbado. Esta visita foi muito curta, mas mergulhou o principezinho numa profunda melancolia.

– Que fazes aí? Perguntou ao bêbado, silenciosamente instalado diante de uma coleção de garrafas vazias e uma coleção de garrafas cheias.

– Eu bebo, respondeu o bêbado, com ar lúgubre.

– Por que é que bebes? Perguntou-lhe o principezinho.

– Para esquecer, respondeu o beberrão.

– Esquecer o que? Indagou o principezinho, que já começava a sentir pena.

– Esquecer que eu tenho vergonha, confessou o bêbado, baixando a cabeça.

– Vergonha de que? Investigou o principezinho, que desejava socorrê-lo.

– Vergonha de beber! Concluiu o beberrão, encerrando-se definitivamente no seu silêncio.

E o principezinho foi-se embora, perplexo.

As pessoas grandes são decididamente muito bizarras, dizia de si para si, durante a viagem.

Vejo amigos, amantes absolutos de futebol, envergonhados de torcer pela nossa seleção. As pessoas estão com vergonha de botar bandeiras nas casas e carros. Lembro-me de outras copas realizadas fora do país – as ruas eram decoradas; postes e meios-fios pintados; população mobilizada.

A vergonha é um sentimento curioso, é muito diferente da culpa. A vergonha é baseada na frase:

– O que os outros vão pensar se descobrirem que eu fiz isto?

Ou seja, a vergonha não nasce do conflito entre uma ação e os valores da pessoa, como a culpa. A vergonha se origina nas convenções sociais ou regras religiosas, por exemplo.

Agora parece que o brasileiro que torcer pela seleção, estará apoiando o governo, a FIFA, o gasto excessivo com estádios, desvios de verbas, falta de investimentos em educação, saúde e infraestrutura. Como se a paixão por futebol tivesse algo a ver com isto? Para ajudar o pessoal a ficar “sem vergonha”, preparei o quadro abaixo que mostra que eleição para presidente e o resultado da seleção brasileira na Copa não tem relação.

Copa_Presidentes-Brasil

Quadro: Resultado do Brasil na Copa do Mundo e a eleição presidencial.

Como observamos no quadro acima, FHC foi o único candidato da situação vencedor de eleição em ano que o Brasil ganhou a Copa. Em 1994, o maior cabo eleitoral de FHC não foi o futebol pragmático da seleção de Parreira, certamente foi o sucesso do Plano Real. Em 2002, o Brasil conquistou o Penta no Japão, mas o candidato da situação, José Serra, foi derrotado por Lula.

Ao invés de ficar com esta vergonha depreciativa, devíamos lutar para melhorar o país. Devíamos fiscalizar ativamente os atos e as contas dos três poderes em todas as esferas do país. Devíamos pressionar os Legislativos para aprovarem as leis de nosso interesse, ao invés de ficar lamentando ou postando coisas sem o menor fundamento nas redes sociais. Se continuarmos na espera que os outros resolvam os problemas do Brasil, deveremos sentir culpa por nossa omissão, ao invés de vergonha em relação ao país.

Felizmente as crianças, com sua espontaneidade, estão fazendo os adultos a perderem a vergonha de torcer pela nossa seleção, porque “as pessoas grandes são decididamente muito bizarras”

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Fernandão, Vida, Morte e Piscadas

O sábado iniciou com uma notícia impactante para os colorados – Fernando Lúcio da Costa, o Fernandão morreu devido a um acidente de helicóptero. Fiquei com uma sensação estranha, senti algo parecido quando Ayrton Senna morreu. Os ídolos têm uma espécie de onipresença em nossas vidas que muitas vezes não nos damos conta que o conhecemos profundamente apenas no âmbito profissional. Não os conhecemos realmente…

Fernandão chegou ao Inter em 2004 e, logo na estreia, marcou o milésimo gol da história dos Gre-Nais. Quando deixou o clube em 2008, havia conquistado vários títulos com destaque para a Copa Libertadores e o Mundial, ambos em 2006. Foi capitão do time, um líder dentro e fora de campo. Ele era um jogador de futebol muito acima da média – educado e bem articulado. Sempre atendia todos os fãs de forma atenciosa e simpática. Nunca vi frases deselegantes contra adversários ou jornalistas. Tudo isto explica a verdadeira comoção dos gaúchos com a sua morte.

Fernandão com meu filho Leonardo

Fernandão com meu filho Leonardo

Uma questão importante é a idade do ex-jogador colorado, 36 anos. Ou seja, ele era um jovem saudável, bem sucedido e, após a aposentadoria como jogador de futebol, tinha mais liberdade para aproveitar a vida com sua família. Além disto, estava iniciando uma nova carreira como comentarista esportivo do canal SporTV. Numa circunstância deste tipo, costumamos questionar:

– Como alguém pode morrer assim com todo um futuro pela frente?

Como diria a grande filósofa contemporânea Julinha, minha filha de 6 anos, “todos têm seu tempo neste mundo, o dele era este”. Felizmente ou infelizmente, dependendo do ponto de vista, não sabemos qual é a nossa hora.

Eu, sinceramente, acho ótimo não saber qual é a minha hora. Sinto que devemos equilibrar entre viver o hoje como se fosse o último dia e como se tivesse mais 50 anos pela frente. Equilíbrio difícil entre desfrutar e plantar… Esta é a beleza de nascer, viver e morrer…

Sobre a vida e o que acontece depois da morte, eu poderia pensar em alguma coisa, mas não chegaria aos pés desta verdadeira preciosidade escrita por Monteiro Lobato nesta passagem de “Memórias de Emília” de 1936.

– A vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca. A gente nasce, isto é, começa a piscar. Quem para de piscar, chegou ao fim, morreu. Piscar é abrir e fechar os olhos – viver é isso. É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.

[…] A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso. Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia. Pisca e mama; pisca e anda; pisca e brinca; pisca e estuda; pisca e ama; pisca e cria filhos; pisca e geme os reumatismos, por fim pisca pela última vez e morre.

– E depois que morre? – perguntou o Visconde.

– Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?

Visconde de Sabugosa e Emília

Visconde de Sabugosa e Emília

Eu e Visconde de Sabugosa só podemos dizer que isto faz muito sentido, Emília! Aproveite cada dia da vida, carpe diem, não deixe o essencial para amanhã, mas nunca se esqueça de semear para ter algo maravilhoso para colher amanhã, na próxima semana, daqui um ano ou cinquenta anos…

Fernandão, infelizmente, piscou pela última vez no sábado passado, mas, entre uma piscada e outra, fez a felicidade de milhões de pessoas…

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Eu Não me Chamo “Martho Medeiros”

Faz quase quatro anos que mantenho este blog ativo e tenho publicado artigos todas as terças-feiras desde julho do ano passado, incluindo até a terça de carnaval. Confesso que algumas vezes não foi fácil encontrar algum assunto interessante. No penúltimo domingo, a Claudia me perguntou qual seria o assunto do próximo artigo. Eu comentei que escreveria sobre o reciclo de fósforo. Na sequência, completei:

– O número de acessos diretos através das redes sociais será baixo. Este tipo de artigo mais técnico tem pouco acesso.

Eu tinha assistido a algumas apresentações em uma feira sobre sustentabilidade na Alemanha e queria compartilhar algumas informações interessantes sobre reciclagem. Estava certo, não tive dez acessos diretos ao artigo, somando Facebook, Twitter e Linkedin. Tudo bem, não tenho como saber quantos dos assinantes diretos do blog, além da própria Claudia, leram este artigo… Alguns ainda dirão maldosamente que a “coitada” da Claudia é obrigada a ler tudo que eu escrevo, mas é mentira! Eu só tenho que obrigá-la a ler os posts sobre futebol…

Desde que criei meu blog, decidi que me manteria fiel a sua missão e escreveria sobre tudo o que me interessa. Alguns artigos fizeram mais sucesso; outros, muito pouco… Sinceramente, gostaria de ter milhares de acessos diários, mas não deixaria de publicar artigos que nasceram de uma boa reflexão e, ao escrevê-los, consegui resolver as maiores (só as maiores) inconsistências do meu pensamento. Muitas vezes não consigo solucionar meus conflitos, em relação ao tema, em uma ou, pior, duas páginas. Se a pessoa não se sente atraída por determinado tema, como vai suportar a leitura de um longo artigo? Parece impossível resumir tudo a poucos “tweets” de 140 caracteres…

Twitter

Meus sucessos (guardadas as devidas proporções) foram os artigos que tratavam de temas pessoais, como relacionamentos, ou os profissionais, como autorrealização e sucesso na carreira. Nesta hora, me dei conta de um dos motivos do sucesso da escritora Martha Medeiros.

Martha Medeiros

Martha Medeiros

Não sou um leitor frequente de suas colunas no jornal, mas acho seu estilo muito interessante. Ela apresenta temas, aparentemente simples do dia a dia, com sua visão de mundo, chegando a uma conclusão que eu concordo integralmente – não se preocupe com os rótulos e não se estresse em seguir os modelos de sucesso dos livros e revistas, ache seu modelo e seja feliz do seu jeito. E mais, sofrer de vez em quando também é normal.

Apesar dos meus textos de maior sucesso seguirem esta linha, eu não sou o “Martho Medeiros”!

Quero ter a mais completa liberdade no meu blog de baixar a lenha no ex-prefeito de Novo Hamburgo por causa de seus desmandos, como se minha antiga cidade no Rio Grande do Sul fosse a Antares de Érico Veríssimo ou a Lagoa Branca do excelente “Tambores Silenciosos” de Josué Guimarães. Afinal a política de Novo Hamburgo era a representação do pior da política brasileira (sobre a qual também escrevi)…

Quero falar livremente das religiões! Por que não questionar o Islamismo, o Judaísmo e o Cristianismo? Pior do que seguir cegamente alguma coisa, é ser manipulado por um líder sem escrúpulos. As escrituras não devem ser usadas literalmente fora do contexto da época. Não se pode destacar as passagens que interessam e omitir as que não interessam.

Quero escrever sobre futebol, sem deslumbramentos, apesar da maravilha que é meu Internacional, nem com aquele surrado chavão de “ópio do povo”.

Quero falar sobre tecnologia, meio ambiente, sobre o futuro da humanidade… Sou um otimista, apesar de ter certeza que o caminho até este futuro radioso não será um passeio no parque.

Quero falar sobre a ética como algo absoluto, jamais relativo. As circunstâncias que explicam os desvios de comportamento devem ser discutidas sem preconceitos, entendidas e alteradas.

Sei que muitas pessoas buscam algum conforto para seus problemas imediatos. Ler uma coluna da Martha Medeiros que ajude a perceber que você não é o único do mundo que sofre com certo tipo de dor é bom. Talvez por isto, as mulheres são suas maiores fãs. Como já escrevi no meu blog, as mulheres são pressionadas atualmente para serem mães, esposas, amantes e profissionais perfeitas. Sejam as melhores de acordo com suas possibilidades, porque perfeição total não existe! Quando eu escrevo sobre este tipo de assunto, existe sempre uma motivação pessoal, nasce dentro de mim ou da observação de uma pessoa próxima. O diabo é que ainda tenho aquela ideia de querer ajudar a salvar o mundo, por isso também tenho que escrever sobre política, religião, economia, tecnologia, meio ambiente…

Eu e Martha, sem dúvida, concordamos que escrever liberta, como pode ser visto neste trecho de uma entrevista:

– Para mim, escrever é libertador sempre. Posso ter sofrimentos meus pessoais, mas que na hora que começo a escrever começam a se dissolver. O ato da escrita não é sofrido. Sofrida é a vida. O ato de escrever, para mim, é mais cura do que sofrimento.

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De Volta para o Meu Lugar

Neste final de semana, voltei a Porto Alegre para acompanhar as festividades de reinauguração do Gigante da Beira-Rio. Após mais de um ano fechado, o estádio do Internacional foi reaberto com uma linda e emocionante festa.

Nunca me apeguei a lugares, já comprei e vendi alguns apartamentos e terrenos. As boas recordações sempre eram carregadas por mim e o resto ficava para trás. Na minha infância, minha família mudou várias vezes de cidade devido ao trabalho do meu pai. No máximo a cada dois anos, tudo se repetia. Eu não criava raízes e me acostumei a ser “meio-cigano”. Eu me apegava à minha família, principalmente meus pais, depois à minha irmã. Os lugares eram descartáveis…

Revendo toda emoção que senti neste final de semana, em especial na noite de sábado, concluí que o meu lugar é o Beira-Rio. Como se ao entrar nele, depois de alguns anos de “exílio voluntário” em São Paulo, tudo voltasse a minha mente, um verdadeiro turbilhão de emoções.

Meu filho Leonardo e eu na frente do Beira no dia da festa de reinauguração.

Meu filho Leonardo e eu na frente do Beira no dia da festa de reinauguração.

Pude rever ídolos colorados de diferentes gerações e reviver os momentos dos anos 70 que passei ao lado do meu pai e meu tio nas conquistas dos campeonatos brasileiros. Os jogos dos anos 80 nos quais quase conquistamos títulos importantes. O sofrimento quase instransponível dos anos 90. E a redenção dos anos 2000, quando conquistamos os títulos mais importantes da história do clube, sempre ao lado do meu irmão e do meu filho. No momento da festa em que é mostrada a conquista do Mundial em 2006, na apresentação do gol do Gabiru, eu e meu filho nos abraçamos e choramos. Nossas lágrimas eram da mais pura alegria por estarmos vivendo aquele momento maravilhoso juntos naquele lugar especial.

Festa colorada em 05-04-2014.

Festa colorada em 05-04-2014.

Como brinde ainda pude cantar a plenos pulmões “Camila” com o Nenhum de Nós e “Deu Pra Ti” com Kleiton & Kledir. O encerramento da festa ficou por conta do músico e DJ britânico Fatboy Slim. Não gosto muito deste tipo de música, mas assisti a apresentação com atenção. Os telões, durante a segunda música, mostravam frases do comediante e músico americano Bill Hicks falecido em 1994 aos 32 anos de idade. Em minha opinião, Hicks é muito mais um crítico social do que comediante. A frase repetida várias vezes no telão era:

– “Is this real or is this just a ride?”

Esta questão sobre a vida é filosoficamente complexa. Isto é real ou isto é apenas um passeio? Vale a pena assistir ao vídeo feito no final de um dos shows de Bill Hicks.

Se tudo é real ou se não passa de um passeio em um parque de diversões, eu não sei, mas em qualquer das duas hipóteses eu diria:

– O Gigante da Beira-Rio é meu lugar e ele está lindo!

Interior do Beira-Rio antes do jogo contra o Peñarol em 06-04-2014.

Interior do Beira-Rio antes do jogo contra o Peñarol em 06-04-2014.

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Futebol, Sociologia e Psicologia

Quem mora em São Paulo, deve estar sempre atento às notícias sobre o trânsito. Um pequeno acidente com apenas danos materiais, por exemplo, pode ser responsável por dezenas de quilômetros de lentidão na cidade. Assim, quando saio do escritório, ligo o rádio na Band News para saber como está a situação no meu trajeto. Semanalmente, nesta rádio, existe um quadro chamado “Brasil com S”, no qual estrangeiros que moram no Brasil contam suas histórias pessoais e suas impressões sobre nosso país e sobre seus países de origem.

Algumas destas entrevistas são muito interessantes, outras são apenas engraçadas, enquanto que outras caem no lugar comum e me empurram para alguma emissora que tenha música e boletim de trânsito alternadamente. Há pouco mais de um mês ouvi uma entrevista surpreendente do correspondente de esportes da BBC, Tim Vickery, que mora no Rio de Janeiro.

Tim Vickery

Tim Vickery

Ele começou a entrevista, afirmando que todos os países são mitos, normalmente criados pela elite. Na sequência, disse que o Brasil moderno iniciou com Getúlio Vargas e, durante o Estado Novo, ele percebeu que seria muito bom criar o mito da felicidade – povo pobre, mas feliz. Para construir esta mentalidade, ele patrocinou manifestações populares, com destaque para o carnaval. Finalmente Vickery entrou no assunto futebol que também definiu com um mito. Citou o mito do futebol ofensivo (leva sete, mas faz oito), mas para o brasileiro o que importa mesmo é ganhar e afirmou que o torcedor brasileiro não é tão fiel assim. Se o time começa a perder, ele não vai mais no estádio, porque o torcedor não quer ter vínculo com a derrota e tem comportamento do tipo:

– Eu torço para este clube, mas este time não me representa.

Citou, como exemplo, a seleção brasileira de futebol de 1950. Definiu o time como espetacular, mas perdeu apenas o último jogo e, durante mais de meio século, nunca permitiram que a derrota fosse esquecida. E arrematou dizendo que, através do futebol, há uma abordagem sociológica muito profunda sobre quem são os brasileiros.

Seleção Brasileira de Futebol - 1950

Seleção Brasileira de Futebol – 1950

Eu fiquei impressionado! Muitas vezes, alguém de fora consegue enxergar nossas virtudes e mazelas com mais clareza do que nós mesmos. Sobre a decantada felicidade do povo, Vickery disse que a palavra carente diz mais do que feliz para o estado de espírito dos brasileiros. Isto obviamente gerou polêmica, mas a pessoa carente não é aquela que sempre se acha pior do que as outras e está sempre em busca de aprovação? O brasileiro, ao invés de esperar por manchetes favoráveis dos jornais “The New York Times” e “Washington Post” ou da revista “The Economist” para ficar satisfeito com o país, deveria se orgulhar das coisas boas que temos e lutar para modificar as ruins. Nestes últimos vinte anos, tivemos avanços admiráveis em várias áreas. Em outras, como saúde e educação, progredimos com uma velocidade inferior a desejada. Assim, onde estamos “perdendo”, ao invés de simplesmente desistir e “cornetear”, deveríamos “ir para arquibancada gritar até o time virar o jogo e garantir a vitória”.

No nível dos indivíduos, também podemos tirar conclusões interessantes sobre o comportamento no futebol e no trabalho. Existem aqueles que parecem que ganhar ou perder é indiferente. Só jogam quando recebem a bola, não ajudam o time a se defender ou recuperar a bola. No trabalho, são aqueles que dizem repetidamente que estão fazendo a sua parte.

Outros passam o jogo inteiro reclamando dos colegas de time. Para seus erros sempre existem boas desculpas. No trabalho, não é muito diferente…

Há aqueles que se escondem do jogo, têm a habilidade de estar sempre longe das jogadas. No trabalho, fogem das responsabilidades e se escondem atrás de outros colegas.

Outra categoria é a dos desanimados. Se o outro time é forte e sai vencendo o jogo, já desistem de lutar e tentar reverter o jogo. No trabalho, também desanimam ao enfrentar os primeiros obstáculos.

Tem o jogador-operário, aquele cara que joga para o time e não se preocupa em aparecer, mas nunca foge da batalha. No trabalho, este é aquele colega que todo mundo gosta de conviver, porque costuma apoiar os que estão em dificuldade e pensa em primeiro lugar no time.

Um tipo interessante é o “firuleiro”, aquele jogador que, ao invés de armar um contra-ataque, prefere dar um drible humilhante no adversário e acaba atrasando toda a jogada. Cada jogada transforma-se em demonstração de habilidade, mas com baixa efetividade. No trabalho, adora soluções complexas, porque o simples não demonstraria sua competência.

Uma variação deste último tipo é o “fominha”, aquele cara que não passa bola para nenhum colega de time. Não importa se há um companheiro livre na frente do gol vazio, ele prefere tentar a sorte sozinho. No trabalho, este seria aquele chefe centralizador que não repassa atividades para os subordinados, porque ele só confia em si mesmo.

O fominha

O fominha

Você acha que existe relação da forma de jogar futebol e trabalhar? Você conhece outro tipo de jogador-colega de trabalho? Como você se enquadraria?

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As Lições de Alex Ferguson

No mês de agosto, começa um dos principais campeonatos nacionais de futebol da Europa, a Premier League inglesa. Uma das maiores novidades do início desta nova temporada é uma ausência. Alex Ferguson, após quase 27 anos como treinador do Manchester United, se aposentou e não estará no banco de reservas dos Red Devils.

Alex Ferguson

Alex Ferguson

Os números de Ferguson no Manchester são impressionantes. Foram 1.500 jogos, com 895 vitórias, 13 títulos da Premier League, 5 Copas da Inglaterra, 4 Copas da Liga Inglesa, duas Champions League, uma Copa Intercontinental e uma Copa do Mundo Interclubes.

Muitas histórias já foram contadas sobre o ex-treinador do Manchester United. Uma das mais “interessantes” é sobre o controle da disciplina e respeito no grupo de jogadores, aspecto que Ferguson considerava fundamental. Ele acreditava que não havia espaço para broncas durante os treinamentos, mas no vestiário era diferente. O atacante galês Mark Hughes, o “Sparky”, que foi comandado pelo treinador entre 1988 e 1995, criou a expressão “tratamento do secador de cabelo” (hairdryer treatment) para as temíveis brocas com altos decibéis proferidas pelo seu chefe no Manchester United. Ferguson ficava cara a cara com seu jogador e gritava, seu comandado acabava com o cabelo atrás da cabeça (como se usasse um secador de cabelo).

Mark Hughes, o "Sparky"

Mark Hughes, o “Sparky”

Sobre seus métodos de disciplina Ferguson comenta:

Você não pode sempre vir e gritar e gritar. Isso não funciona. Ninguém gosta de ser criticado. Mas, no vestiário, é necessário que você aponte os erros de seus jogadores. Faço logo após o jogo para não esperar até segunda-feira, eu faço isso, e está acabado. Estou pronto para a próxima partida. Não há nenhuma vantagem em criticar sempre um jogador.

Mesmo assim ele admitiu que passava do ponto:

Eu era muito agressivo naqueles tempos, eu sou apaixonado e quero ganhar o tempo todo, mas hoje estou mais amadurecido… A idade faz isso com você e agora eu posso lidar melhor com os jogadores mais frágeis.

Anita Elberse, professora de Administração de Negócios na unidade de Marketing da Harvard Business School fez um interessante trabalho com Alex Ferguson e, no ano passado, deu uma entrevista sobre o sucesso de longo prazo do ex-treinador. Em sua opinião, este sucesso está centrado na sua vontade de desenvolver jovens talentos. Ferguson fala sobre a diferença entre “construir uma equipe e construir um clube.” Quando ele começou no Manchester United, imediatamente começou a reestruturar as categorias de base do clube. Ele também as tornou mais visíveis no clube, por exemplo, garantindo que os jogadores da base aquecessem ao lado de jogadores profissionais diariamente a fim de promover uma atitude de “um único clube”. E, mesmo no início, apesar das opiniões de muitos observadores para ser mais conservador (um comentarista de televisão respeitado disse naquela época que “não se pode ganhar nada com crianças”), ele deu aos jovens jogadores uma chance de ganhar um lugar no time principal. Muitos dos jogadores que ele desenvolveu – Ryan Giggs, David Beckham, Gary Neville, Paul Scholes – se tornaram verdadeiros destaques em sua geração, proporcionando ao clube uma base sólida.

Ryan Giggs (acima à esq.), David Beckham (acima à dir.), Gary Neville (abaixo à esq.), Paul Scholes (abaixo à dir.)

Ryan Giggs (acima à esq.), David Beckham (acima à dir.), Gary Neville (abaixo à esq.), Paul Scholes (abaixo à dir.)

A boa gestão deste processo durante um longo período, inevitavelmente, envolve cortar os jogadores mais velhos que já não podem dar uma boa resposta para a equipe, o que pode ser desgastante emocionalmente. Segundo Ferguson, “a coisa mais difícil de fazer é permitir a saída um jogador que foi um grande cara”.

Muitos outros fatores também contribuíram para o seu sucesso. Um fator particularmente impressionante foi a sua capacidade de se adaptar aos novos tempos. O mundo do futebol hoje em dia não se parece em nada com o que encontrou Ferguson quando começou como treinador no Manchester United há 27 anos. Ele adotou novas tecnologias e novas abordagens, como a contratação de cientistas do esporte na sua equipe, buscando novas formas de medir e melhorar o desempenho dos jogadores. Isso parece simples, mas se você tem sido tão bem sucedido quanto ele foi, é muito fácil ficar preso nos seus próprios caminhos.

Como muitos treinadores, Ferguson devia gerenciar para o curto prazo (durante uma partida e de jogo para jogo), médio prazo (na temporada), e longo prazo (ao longo dos anos). Estes requisitos também deveriam ser equilibrados por executivos de outras áreas, porque há uma troca constante entre a gestão do curto e longo prazo. Alex Ferguson considerou que, dentro da temporada, o truque é pensar no futuro, assumindo riscos calculados:

Eu poderia descansar jogadores chave para um jogo menos importante, mas há um elemento de risco em fazer isso, e o tiro pode sair pela culatra, mas você tem que aceitá-lo. Você tem que confiar no seu plantel.

Quando se trata de gerenciar para o sucesso em diferentes temporadas, a importância de apostar na juventude, como já foi apresentado, é crítica. Há um grande comentário de Ferguson sobre esta questão:

O primeiro pensamento para 99% dos treinadores recém-nomeados é ter certeza de que ganharão logo para sobreviver. Eles trazem jogadores experientes, muitas vezes de seus clubes anteriores. Mas eu acho que é importante construir uma estrutura para o clube de futebol, e não apenas um time de futebol. Você precisa de um alicerce. E não há nada melhor do que ver um jovem jogador atuando para sua primeira equipe.

As lições de Alex Ferguson, especialmente, em relação à importância dos objetivos de longo prazo e do apoio aos jovens talentos não valem apenas para treinadores de futebol. Muitos executivos de empresas também olham apenas o curto prazo, não apostam nos jovens, levam amigos e ex-colegas para trabalhar com eles nos novos empregos. Agindo desta forma, tanto os treinadores, quanto os executivos acreditam que garantirão o resultado do ano, ganharão suas gratificações e permanecerão nos seus cargos. Será que os clubes e as empresas terão resultados sustentáveis administrados por este tipo de treinadores e executivos?

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O Islamismo é Violento?

Anteontem mais dezenove pessoas morreram no Paquistão em protestos contra o filme ofensivo ao profeta Muhammad, “Innocence of Muslims”. Como falei no post anterior, nada justifica esta reação violenta dos mulçumanos.

No versículo 62 da Segunda Surata (capítulo) do Alcorão, está escrito que os fieis (mulçumanos), os judeus, os cristãos e os sabeus (antigo povo que vivia na região do Iêmen), enfim todos os que crêem em Deus e praticam o bem, no Dia do Juízo Final, receberão a sua recompensa do seu Senhor e não serão presas do temor.

Este é um verdadeiro exemplo de tolerância religiosa. Onde está o radicalismo?

O embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens, e outros três funcionários morreram em ataque ao consulado em Benghazi no dia 11 de setembro. Imediatamente as redes de notícias colaram o atentado ao filme anti-islâmico, mas veja a foto abaixo onde civis líbios resgatam e tentam salvar a vida do embaixador. Estas pessoas da foto também não são mulçumanas? A generalização deve sempre ser evitada!

Resgate embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens

Resgate embaixador dos EUA na Líbia, Christopher Stevens

Parece que a religião foi só um pretexto…

Outra onda de protestos ocorreu em vários pontos da China contra os japoneses por causa das Ilhas Senkaku. Um arquipélago composto por cinco ilhotas desabitadas e três rochas estéreis, com uma área total de aproximadamente 6 km².

Ilhas Senkaku

Ilhas Senkaku

Empresas japonesas, como Toyota, Honda, Canon e Panasonic, foram obrigadas a paralisar suas atividades por questões de segurança. Qual seria a relação entre empresas japonesas e estas ilhas sem importância? Quem liderou estes protestos de cunho nacionalista?

Protestos anti-Japao na China por causa das Ilhas Senkaku

Protestos anti-Japao na China por causa das Ilhas Senkaku

Parece que as ilhas foram só um pretexto…

Em 1985, uma hora antes da disputa da final da Taça dos Campeões da Europa, entre Liverpool da Inglaterra e Juventus da Itália, aconteceu um conflito entre torcedores no Heysel Stadium em Bruxelas na Bélgica. O resultado final foi uma tragédia com 39 mortos e aproximadamente 600 feridos. O que os torcedores da Juventus fizeram de tão grave para justificar o massacre protagonizado pelos hooligans ingleses?

Liverpool_Juventus_Heysel

Imagens do conflito no jogo Liverpool x Juventus no Estádio Heysel

Em 1995, ocorreu a final da Supercopa São Paulo de Futebol Júnior entre as equipes do São Paulo e do Palmeiras no Estádio do Pacaembu na capital paulista. Logo após o final do jogo, torcedores do Palmeiras invadiram o gramado para festejar a conquista do título. A torcida do São Paulo se enfureceu, pegou pedaços de madeira e entulhos (o estádio estava em obras) e iniciou uma batalha campal. No final, um rapaz de dezesseis anos de idade morreu e outras 102 pessoas ficaram feridas.

briga entre as torcidas do Palmeiras e São Paulo na final da Supertaça São Paulo de Juniores em 1995

Briga entre as torcidas do Palmeiras e São Paulo na final da Supertaça São Paulo de Juniores em 1995

Parece que o futebol era só um pretexto…

Em todos estes casos que apresentei acima, tenho absoluta certeza que a esmagadora maioria dos mulçumanos, dos chineses e dos torcedores de futebol desaprova estes atos violentos. Então afinal por que eles aconteceram? Na minha opinião, líderes inescrupulosos conseguem usar pessoas menos evoluídas para, através da violência, atingir seus objetivos. Assim religião, futebol ou amor à pátria são apenas pretextos para a realização de atentados e assassinatos. Se melhorar a educação destas pessoas, provavelmente, esta cultura de violência será enterrada…

 

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Ninguém Consegue Pensar Bem com Raiva

É muito difícil ter discernimento do que falar ou fazer, quando estamos dominados pelo ressentimento ou pela raiva. Normalmente as decisões, nestes momentos, não são as corretas e causam problemas futuros.

O esporte de lutas em mais evidência hoje é o chamado MMA (Mixed Martial Arts). Um dos maiores nomes da história deste esporte é Antônio Rodrigo Nogueira, o Minotauro. No ano passado, ele perdeu uma luta impressionante para o americano Frank Mir. Em dezembro de 2008, ele já havia perdido a luta para este lutador por nocaute técnico, a única derrota desta forma na sua carreira. No último combate de 2011, Minotauro acertou uma sequência de golpes que derrubou Mir. Se ele desse mais dois ou três golpes na cabeça do adversário, o juiz certamente encerraria a luta, mas Minotauro decidiu vencer a luta por submissão. Parecia que sua vingança só seria saciada se ele imobilizasse seu adversário no chão, a melhor técnica dominada por seu rival. Incrivelmente Mir conseguiu uma chave de braço. Nogueira tentou reverter a situação, mas não era mais possível, ele não quis desistir e acabou com o braço fraturado.

Antô Nogueira, o Minotauro vs Frank Mir

Minotauro domina a luta (esquerda). Finalização de Mir (direita).

No final de semana passado, o brasileiro Junior Cigano defendeu seu título de campeão dos pesos pesados do UFC justamente contra Frank Mir. Cigano ficou toda a luta em pé, porque seu ponto forte é o boxe. Após uma sequência de golpes, Mir caiu e o brasileiro percebeu que o adversário ainda estava ativo, se distanciou e deixou que Mir se reerguesse. Logo depois, Cigano conseguiu uma nova série de golpes, Mir sentiu e caiu, o brasileiro novamente recuou, mas desta vez o americano não conseguiu se levantar e ele aproveitou a oportunidade e acertou mais um golpe na cabeça do adversário. O juiz imediatamente encerrou o combate para evitar lesões mais graves.

Junior Cigano vs. Frank Mir

Junior Cigano dominou a luta do início ao fim.

Qual foi a diferença entre as lutas de Cigano e Minotauro? Cigano lutou focado, sem emoção e sua tática foi seguida à risca até a vitória, enquanto Minotauro teve uma atuação irrepreensível até o ponto em que conquistou uma enorme vantagem, neste momento, a vingança pareceu ser o mais importante… O resultado foi a mais dolorosa derrota da sua carreira e um braço quebrado!

Na nossa vida pessoal ou profissional, em determinados momentos, deixamo-nos levar por sentimentos inferiores como o ódio ou a raiva. Quando tomamos decisões neste estado mental, podemos machucar as outras pessoas e a nós mesmos. Só que diferentemente do Minotauro, ao invés de um braço quebrado, você pode causar sequelas mais graves. A sua própria carreira poderá sofrer sérios prejuízos. Relacionamentos importantes podem ser envenenados ou, até mesmo, inviabilizados.

Incrível Hulk

Quando não controlamos a raiva, podemos virar “Hulks”.

 

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Bolo de Milho sem Glúten e sem Lactose

Há alguns meses a Cláudia descobriu que tinha intolerância a lactose, o açúcar do leite, e a glúten, um tipo de proteína presente em cereais como trigo, aveia e cevada. Seu problema com glúten não chega a ser tão grave quanto o dos celíacos, mas, mesmo assim, lhe causa uma série de transtornos.

Um dos celíacos mais famosos é Novak Djokovic. O sérvio sempre foi considerado um dos tenistas mais talentosos do circuito profissional, mas falhava nas horas decisivas dos jogos mais longos. Por ser jovem e magro, todos creditavam suas derrotas a alguma fraqueza psicológica. Mas ele descobriu que era celíaco, alterou sua dieta e chegou, no ano seguinte, ao topo do ranking da Associação dos Tenistas Profissionais.

Norman Djokovic

Casos como os da Cláudia e do Djokovic são mais comuns do que imaginamos.  Assim a busca por alternativas que substituam a farinha de trigo, rica em glúten, por outros ingredientes nos alimentos tornar-se cada vez mais frequente.

Antes de repassar a receita deste bolo, eu tenho um último aviso. A Cláudia já contribuiu como fotógrafa em outros posts gastronômicos e nos artigos sobre Rodin e Monet inspirados nas nossas férias na França. Desta vez, além da foto do bolo, ela também assina a receita. Hoje a minha parte é apenas o “enrolation”… Então vamos ao que realmente interessa, tudo com a Cláudia…

Vida de quem tem intolerância a glúten não é fácil… e bolo sem farinha de trigo é difícil achar um bom. Sempre os acho meio “secos”… mas esta receita salvou minha vida!! Adorei… seria perfeita se não precisasse de ovos… o que ainda irei testar. Mas por enquanto, para ajudar os que também têm intolerância, vai aí a receita. É superfácil:

Ingredientes:

8 colheres de sopa de Milharina (Quaker)
1 xícara de açúcar
3 ovos
1 vidro de leite de coco
1 lata de milho verde (colocar tudo, com a água)
1 colher média cheia de fermento em pó (Royal)

Modo de preparo:

Bater tudo no liquidificador.

Pode provar a massa e colocar mais açúcar à gosto.

Colocar numa forma pequena, de 20x30cm.

Assar até dourar (de 30 a 40min). Não cresce muito e fica úmido.

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Sejamos Oportunistas!

Acho incrível como certas palavras ganham contornos negativos com o passar do tempo, enquanto outras passam a ter significados muito melhores do que os originais. Por exemplo, o grande poeta Augusto dos Anjos escreveu no seu impactante soneto “Versos Íntimos”:
 

Vês?! Ninguém assistiu ao formidável
Enterro de tua última quimera.
Somente a Ingratidão — esta pantera —
Foi tua companheira inseparável!

Formidável, em seu sentido original, significa terrível, pavoroso. Afinal o que pode ser mais terrível do que o enterro do último sonho ou ilusão de uma pessoa?  Hoje todos usamos a palavra formidável, no Brasil, para adjetivarmos algo excelente.

Augusto dos Anjos publicou apenas um livro de poesias: "Eu"

Por outro lado, os dicionários definem o oportunista como aquele que sabe tirar proveito das circunstâncias de dado momento, em benefício de seus interesses. Será que isto é realmente mau, se os aspectos éticos forem levados em consideração? O significado de oportunismo, na esfera da política ou dos negócios, deixa implícito que esta prática é empregada independentemente do sacrifício de princípios éticos. No futebol, curiosamente, é um grande elogio dizer que o atacante do time é oportunista. No Internacional, lembro de nomes como Dadá Maravilha, Geraldão e Nilson. Abaixo você pode assistir ao gol de Dario na final do campeonato brasileiro de 1976 contra o Corinthians.

Sejamos o atacante oportunista da nossa vida pessoal e profissional para aproveitarmos as circunstâncias favoráveis e atingir mais rápidos nossos objetivos. Vamos manter as antenas sempre ligadas. Só tenho um último lembrete, não esqueçam da ética, porque como escreveu Augusto dos Anjos no final do soneto “O Morcego”:

A Consciência Humana é este morcego!
Por mais que a gente faça, à noite ele entra
Imperceptivelmente em nosso quarto!

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A Decepção Colorada

Esperei uns dias para escrever sobre a surpreendente derrota do Inter para o Mazembe do Congo na semifinal do Mundial de Clubes em Abu Dhabi. Óbvio que o resultado me deixou muito chateado, afinal a expectativa pela conquista do Bi era muito grande.

Kidiaba do Mazembe foi destaque no jogo (Foto do site do Internacional)

Muitos dizem que esta é a maior derrota do Colorado em todos os tempos, mas eu particularmente não concordo. O pior momento da história centenária do Inter foi a derrota para o Olímpia na semifinal da Libertadores de 1989. Naquela ocasião, o Inter buscava um título que o igualaria ao seu maior rival, o Grêmio. Tivemos muitos momentos difíceis na década seguinte, quando conquistamos apenas uma Copa do Brasil.

No basquete ou no vôlei, se um time é muito melhor do que o outro, certamente ganhará. Quando um time joga melhor, tem mais volume de jogo, será o vencedor. Já no futebol, um time pode ser dominado durante os noventa minutos, sofrer uma pressão incrível e, em apenas um lance, pode ganhar a partida. Este é um dos atrativos deste esporte, onde Davi pode derrotar Golias.

Dois jogos coincidentemente com o mesmo placar, 3 x 2, e com circunstâncias semelhantes me mostraram isto. Inter e Olímpia do Paraguai, já citado acima, e a derrota da seleção brasileira para a italiana na Copa de 82 na Espanha foram muito injustas. Ensinaram-me que não existem deuses no futebol, premiando o time que joga melhor e busca a vitória todo o tempo, mesmo quando um simples empate já é suficiente para garantir a classificação. Estes jogos foram responsáveis pela redução da minha sensibilidade em relação às derrotas futebolísticas. Assim consigo encarar derrotas com mais serenidade.

Desde 2006, o Inter ganhou todos os títulos internacionais disponíveis e estas conquistas não serão diminuídas por este fracasso. A direção do clube deve extrair os ensinamentos, levantar a cabeça e pensar no futuro.

O primeiro ponto é não se poupar para um grande momento, quando existem outros momentos importantes para viver até este dia. Talvez, se houvesse mais empenho para vencer o Campeonato Brasileiro, estivéssemos festejando uma conquista que a torcida espera há mais de trinta anos. O Mundial seria a cereja do bolo de uma temporada maravilhosa! Mas, após o gol do Mazembe, os jogadores sentiram o peso de mostrar que os quatro meses de preparação foram justificados, incluindo o abandono da maior competição nacional. Em 2011, o Inter tem que entrar para ganhar a Libertadores, o Brasileirão e, se tivermos chance, o Mundial sem reduzir a atenção dada à competição nacional.

O Inter deve trocar peças para qualificar o elenco em termos técnicos e motivacionais. Devem ser criadas oportunidades para as jovens promessas. Jogadores, que apresentam desempenho abaixo do esperado ou que estejam desmotivados, devem ser negociados ou dispensados. Acredito que o atual treinador, Celso Roth, não terá condições de motivar e liderar o elenco na Libertadores que já se iniciará em fevereiro. A direção deve buscar alguém que saiba e goste de trabalhar com jovens para renovar o elenco. Se não conseguirmos ganhar a Libertadores, pelo menos chegaremos ao Brasileirão com o time montado.

O Inter cresceu muito nos últimos cinco anos e este fracasso não deve ser motivo para deter este processo. Ou já esqueceram que o Inter foi eliminado na primeira fase da Libertadores de 2007 após vencer a edição anterior? Continuo acreditando que o Inter vive, como já escrevi um post, um ciclo virtuoso.

Para finalizar este post, gostaria de fazer um paralelo com o Mundial que o Grêmio perdeu para o Ajax em 1995, Claro que sequei o Grêmio e me senti aliviado com a sua derrota. Naquela época o Inter estava enterrado em um lamaçal. Não ganhava títulos importantes e assistia ao Grêmio, levantando taças ou, pelo menos, disputando campeonatos importantes com chances reais de conquistá-los. Ou seja, nós colorados não queríamos que a distância para o Grêmio crescesse ainda mais.

Ajax x Grêmio - Mundial Interclubes de 1995

Parece que o sentimento que move os tricolores, depois de quinze anos da conquista da sua última Libertadores é este… O que é aceitável e compreensível por parte dos torcedores. Lamentável foi a postura da nova direção gremista. Dirigentes devem ter um comportamento diferente da torcida. As manifestações públicas devem ser centradas nos interesses diretos do clube. Estas cornetas do presidente Paulo Odone e do vice-presidente do clube Eduardo Antonini servem apenas para criar ressentimentos e ações violentas de torcedores. Não ajudam nem o próprio Grêmio.

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