No sábado passado, no voo entre New York e Munique, assisti ao filme “Ela” (título original Her) do diretor americano Spike Jonze. Neste trabalho, além de dirigir, ele escreveu o roteiro e produziu o filme.
A seguir faço um breve resumo do filme. A história acontece no futuro, onde todas as pessoas estão conectadas virtualmente. Theodore (atuação muito boa de Joaquin Phoenix) é um homem solitário e seu trabalho é escrever cartas a pedido de outras pessoas, normalmente entre casais. Ele não consegue iniciar novo relacionamento após o final do seu casamento. Para amenizar a sua solidão, ele compra um novo sistema operacional dotado de inteligência artificial (A.I.), Samantha (representada pela voz sexy de Scarlett Johansson). Samantha evolui rapidamente e a relação entre os dois passa pela amizade, cumplicidade, paixão e amor. Como toda relação humana, ela esquenta, esfria e tem crises. Já assisti a filmes bons com finais fracos ou, pelo menos, muito previsíveis. O final de “Ela” é inteligente e surpreendente. Sempre gosto de destacar uma frase do filme. Achei esta, de uma amiga de Theodore, muito boa, eu só trocaria a palavra amor por paixão:
– “O amor é uma forma de insanidade socialmente aceitável”.
Assista ao filme! Garanto que não é daquelas melosas comédias românticas. A história é ótima e nos faz pensar também o que se espera dos relacionamentos em uma era, onde existe muita conexão virtual, mas pouca compreensão e conversas reais. Por incrível que pareça, uma história possível que ganhou o Oscar de melhor roteiro original de 2014.
Outros filmes já trataram a questão da inteligência artificial. Em “A.I. – Inteligência Artificial” de Steven Spielberg, a história gira em torno de um androide menino que é comprado para amar seus pais e substituir o filho humano que está em estado vegetativo. Após um acidente, o “pai” resolve se livrar do androide para proteger o filho natural, mas a “mãe” o ajuda a fugir. Como na história de Pinóquio, o androide quer virar um menino de verdade.
Em outros filmes, computadores dotados de inteligência artificial escravizam os humanos como no “Exterminador do Futuro” e no brilhante “Matrix”. A questão ética é se os sistemas computacionais poderiam ser programados para aprender a desenvolver sentimentos? Como um ser humano, os computadores poderiam sentir amor, compaixão, medo, orgulho, raiva… Até que ponto isto seria seguro?
Lembro-me da declaração de Larry Page, fundador e atual presidente do Google, sobre a possibilidade dos sistemas lerem o cérebro humano. Assim não seriam mais necessárias interfaces de comunicação. Estaremos nus! Enquanto Samantha vasculhava os e-mails e arquivos de Theodore, os sistemas do futuro poderão explorar nossas mentes. Assustador…
Esta discussão pode parecer exótica, mas há pouco foi aprovado o marco civil da internet brasileira. A grande maioria dos países não tem regulação que garanta liberdade de expressão, privacidade e neutralidade da internet. Se hoje este é um assunto importante, há dez anos não tinha relevância. Assim, seria bom iniciar logo a discussão ética sobre a inteligência artificial, porque isto poderá ter grande impacto em nossas vidas no futuro.
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