A hora das refeições para um vegetariano no mundo corporativo muitas vezes tem questionamentos, comentários estranhos ou provocações. Muitos colegas perguntam os motivos da minha opção e como me alimento. Dou todas as explicações para estes colegas. Afinal esta é uma forma de desmistificar o tema! Basicamente existem dois motivos principais para não comer carne – as questões éticas em relação ao sofrimento dos animais e as questões ecológicas.
Outro dia mandei para alguns colegas de trabalho um pequeno vídeo do National Geographic sobre como alimentar a população mundial em 2050. Você pode assisti-lo abaixo.
A seguir apresento um resumo do vídeo. Em 2050, precisaremos do dobro dos alimentos produzidos atualmente. Mais de um terço das terras não congeladas do planeta já são usadas para plantações, mas apenas metade alimentam os humanos diretamente. A maior parte da outra metade produz rações para animais. Por outro lado, desperdiçamos um terço dos alimentos produzidos. A nossa dieta também impacta diretamente na disponibilidade de alimentos. Uma vaca, por exemplo, precisa de 7 quilos de ração para gerar um quilo de carne, enquanto que um peixe precisa de apenas um quilo de ração por quilo de carne. Vale a pena ressaltar que a umidade da carne é de aproximadamente 70%, enquanto que a umidade das rações fica entre 10 e 15%.
O vídeo finaliza com algumas sugestões para atacar o problema da disponibilidade de alimentos para a população mundial:
– usar os recursos mais eficientemente;
– aumentar a produção nas fazendas existentes;
– parar a expansão das fazendas;
– mudar nossas dietas;
– reduzir os resíduos.
Se você acha incrível desperdiçar um terço dos alimentos produzidos, siga meu raciocínio e verá que o desperdício de alimentos com o consumo de carne é muito maior. Podemos cozinhar grãos como arroz, feijão e milho para consumo humano direto. No final do cozimento a umidade dos grãos fica entre 60 e 80%. Ou seja, um quilo de grão seco gera aproximadamente três quilos de grãos cozidos, prontos para o consumo. Para produzir um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de grãos secos, estes grãos equivaleriam a 21 quilos de alimentos prontos para o consumo humano. Assim deixamos de disponibilizar 20 kg de alimentos para produzir apenas um quilo de carne bovina – um desperdício de mais de 95%.
Com a água acontece uma situação parecida.
Segundo o site da SABESP, é possível economizar água através de pequenas atitudes como fechar a torneira, enquanto escovamos os dentes, ou tomar banhos mais curtos. Para escovar os dentes com a torneira um pouco aberta, gastam-se 12 litros de água, quando poderia ser gasto apenas meio litro. Em um banho de ducha de 15 minutos com a torneira 50% aberta, são consumidos 135 litros de água. Se o banho durasse apenas 5 minutos, o consumo cairia para 45 litros.
Se considerarmos uma pessoa que diariamente escova os dentes três vezes e toma um banho, seu consumo anual de água poderá variar de 17 m³ a 62 m³. Ou seja, uma pessoa consciente, que escova os dentes com a torneira fechada e toma banhos curtos, economizará 45 m³ de água por ano.
Para se produzir um quilo de carne bovina são necessários 20 m³ de água, enquanto que são gastos 3,5 m³ de água por quilo de arroz, 2,5 m³ por quilo de feijão ou soja e apenas 0,1 m³ por quilo de batata. Ou seja, se você consumir três quilos de carne acaba com toda sua economia anual de água devido aos banhos curtos e escovações de dentes com a torneira fechada.
Ainda existem outros fatores ambientais negativos devido ao consumo de carne. Áreas são desmatadas para criação de pastagens ou plantações de grãos para alimentar animais que serão, posteriormente, abatidos para consumo. O INPE, Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, anualmente avalia o incremento no desmatamento da Amazônia Legal. A tabela abaixo apresenta a evolução dos últimos dez anos. A expansão da pecuária foi a principal responsável pelo desmatamento. Na sequência, muitas áreas foram desmatadas para extração de madeira e para a agricultura.
Segundo a FAO, Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, a pecuária tem um peso importante nas mudanças climáticas. Estima-se que a atividade seja responsável pela emissão anual de 7,1 bilhões de toneladas de gás carbônico equivalente (gases do efeito estufa), o que representa 14,5% de todas as emissões induzidas pelo homem. Destacam-se três fontes deste total:
– 45% são devido à produção de rações para os animais, incluindo as plantações, desmatamento e processamento de grãos;
– 39% são originados na emissão de metano oriundo da fermentação entérica (digestão) de ruminantes como os bovinos e os ovinos;
– 10% são formados a partir da decomposição do estrume dos animais.
Deste modo, além de todos os aspectos éticos em relação ao sofrimento dos animais, existem fortes razões ecológicas para você, pelo menos, reduzir seu consumo de carne. Há previsões, apontando para o aumento de 70% do consumo dos produtos de origem animal até 2050. Se isto não for revertido, os recursos naturais do planeta serão consumidos numa velocidade muito maior do que a atual. Além disto, o peso da pecuária na geração dos gases de efeito estufa poderia aumentar para 20 a 25% do total.
Se você se apresenta como defensor do meio ambiente, não seria mais coerente repensar sua dieta?