Eu assumo que já fui um cara muito ciumento. Já tive crises em que este sentimento vil teve contornos doentios. Hoje eu controlo-o da forma mais eficiente que minha capacidade permite. Talvez a Cláudia ache que eu não demonstre mais hoje, mas confesso que, quando ela me conta de caronas para colegas de trabalho, lá no fundo eu não gosto.
Nesta semana, eu li Otelo de Shakespeare, um grande clássico sobre o ciúmes. Óbvio que o ciúmes extremado que Otelo sentia em relação a Desdêmona é um paradigma do limite máximo atingível por este sentimento.
O que poderia explicar o ciúmes é a sensação de posse. Não somos donos de nossos companheiros. Se o amor for revestido de confiança, respeito, liberdade e transparência, não haveria necessidade de nos sentirmos proprietários de nossas “caras metades”. Assim não seríamos inseguros, não imaginaríamos que alguém melhor do que nós nos substituiria ou não teríamos o medo da perda.
Como eu sempre digo, se formos autênticos e sinceros e agirmos da mesma forma com os outros como desejamos ser tratados, não existiria motivos para insegurança e ciúmes.
No caso de Otelo, Iago percebeu a insegurança de seu chefe e minou a confiança que ele tinha pela esposa. Talvez Otelo não sentia-se suficientemente confiante, porque era mouro, negro e bem mais velho do que Desdêmona, enquanto ela era filha de um respeitável senador veneziano, linda, culta, inteligente e articulada.
Resumindo, o importante é amar e ser amado, respeitar e ser respeitado, acreditar e ser acreditado. Assim venenos plantados por outros ou por nossas próprias mentes sempre serão neutralizados por antídotos poderosos. A melhor descrição sobre o amor aparece na primeira carta de São Paulo aos Coríntios. Para encerrar, transcrevo um pequeno trecho.
O Amor é paciente, é benigno; o Amor não é invejoso, não trata com leviandade, não se ensoberbece, não se porta com indecência, não busca os seus interesses, não se irrita, não suspeita mal, não folga com a injustiça, mas folga com a verdade. Tudo tolera, tudo crê, tudo espera e tudo suporta. O Amor nunca falha.
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Seria então o relacionamento aberto a forma máxima do não-ciúme?
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Vinícius,
Um relacionamento genuinamente aberto, onde os dois aceitam a liberdade plena do outro, seria o modelo IDEAL do não-ciúme. Existe o exemplo de Sartre e Simone de Beauvoir, o mais famoso relacionamento aberto da história, descrito pela célebre frase “entre nós, trata-se de um amor necessário: convém que conheçamos também amores contingentes”. Até hoje circulam versões que apenas Sartre realmente acreditava na prática, enquanto Simone de Beauvoir foi “empurrada” para o relacionamento aberto…
Na minha modesta opinião, o relacionamento aberto não passa de mais uma utopia e como tal é inatingível. Na política ou economia, o liberalismo e o comunismo são outros modelos utópicos extremos inatingíveis. Como tudo na vida, o importante é determinar bem as cláusulas que regem a relação e que esta regra seja justa e que nenhum dos dois saia prejudicado.
Abraço,
Vicente
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