Na sexta-feira, a Claudia me avisou que haveria uma reunião com os pais na escola da Júlia no dia seguinte. Sábado! E o início estava marcado para as 9 horas da manhã. Perguntou se participaríamos e eu respondi, quase com lágrimas nos olhos, que sim apesar de ser um dia de descanso.
A escola da Júlia segue a pedagogia Waldorf, a qual nós ainda não conhecemos profundamente. Então toda oportunidade para conversar com a professora do 1º ano e com a coordenadora pedagógica sempre é bem-vinda. Realmente foi uma manhã encantadora, a forma lúdica do ensino e o cuidado com todos os detalhes, incluindo até a alimentação, me chamaram a atenção.
Num certo momento, me dei conta de um ponto importante – o que eu espero do futuro da Júlia? Cada vez vejo mais pais ansiosos com o futuro dos filhos. Alguns pais entram em uma competição para mostrar como os filhos são inteligentes, estudam nos mais afamados colégios da região e, no futuro, deverão passar nos mais disputados vestibulares para os cursos que levam às carreiras mais prestigiadas. Se me perguntarem sobre a Júlia, acho que simplesmente responderia:
– A Ju é ótima. Tem muita energia, tem muita vontade de aprender e, principalmente, tem um lindo brilho no olhar.
– E seu futuro? Vai ser construído por ela de acordo com sua vontade. Só tenho que ajudá-la a ser uma pessoa íntegra.
Lembrei que muitas destas escolas de ponta, conhecidas por terem seus alunos nas listas de aprovados dos vestibulares, empurram goela abaixo dos seus alunos grande quantidade de conteúdo – teoremas matemáticos, leis da física, fórmulas químicas, datas de acontecimentos históricos, nomes de livros, classificação de orações…
A imagem que me vem à cabeça é daquele horrível processo para alimentar os gansos para a produção do foie gras, a gavagem. Como você pode ver na foto abaixo, o ganso é obrigado a comer. No final, ele é abatido e seu fígado gordo é vendido como uma especiaria, o foie gras.
Será que a “gavagem” de conteúdos na criança não vai “engordar” seu cérebro, sem fortalecê-lo efetivamente? Será que as crianças e adolescentes que não suportarem a ingestão desta quantidade de conteúdos não entrarão em depressão por sentirem-se pior do que os outros colegas? Será que os pais não estão pressionando seus filhos além da conta?
Vivemos em um mundo repleto de fontes de informação. O mais importante seria a capacidade de entender criticamente o mundo que nos cerca, desenvolver a visão do todo, ver e entender os outros que estão ao redor e entender que somos diferentes, mas devemos respeitar e valorizar estas diferenças.
Não temos certeza se um caminho é melhor do que outro, mas devemos tentar oferecer aos nossos filhos as “ferramentas” – auto-confiança, amor, espaço para crescer, tempo para brincar – para viver em um futuro muito diferente do mundo em que nós vivemos.
Valeu a pena acordar cedo no sábado…
Pingback: Post 200 – Retrospectiva | World Observer by Claudia & Vicente
Sempre gostei da pedagogia Waldorf e na época nao consegui matricular o Miguel por conta da idade….tenho algumas amigas com filhos nessas escolas e elas estão bem contentes….o fato é o quanto os pais conseguem e estão aptos e abertos a respeitar o tempo de seus filhos sem coloca-os nessa competição…..assunto para mais de horas!
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Karen,
Este é um daqueles temas onde não há certezas. Devemos dar amor e limites, estimular sem pressionar, orientar sem obrigar e, acima de tudo, não colocar nossos sonhos e frustrações nas cabeças de nossos filhos, porque eles devem ter os seus próprios sonhos.
Fácil falar, mas difícil de seguir…
Abraço.
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Revisei o post, seguindo a sugestão da minha editora-chefe, Claudia. Expliquei melhor quais são as ferramentas que devemos dar para nossos filhos.
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