Aranha, os Torcedores Gremistas e o Racismo

Na sexta-feira passada, recebi de um colega de empresa a encomenda de uma postagem no meu blog, tratando do evento recente de racismo no jogo entre Grêmio e Santos. Como já foi amplamente divulgado pela mídia, no jogo contra o Grêmio em Porto Alegre, parte da torcida gremista ofendeu o goleiro Aranha do Santos, chamando-o de macaco.

Goleiro Aranha se revolta com a atitude de parte da torcida do Grêmio

Goleiro Aranha se revolta com a atitude de parte da torcida do Grêmio

Lembro-me de um filme americano de 1970, “Watermelon Man” que assisti com meu pai numa madrugada de sábado no final dos anos 70 ou início dos 80. No Brasil, o título do filme é “A Noite em que o Sol Brilhou”. Neste filme, um americano branco e racista acorda negro. Após tentar voltar ao normal, sem sucesso, ele decide retomar sua vida normalmente, mas percebe que as pessoas passam a tratá-lo de forma diferente. Assista ao trailer do filme.

A cena da corrida para chegar antes à parada do ônibus era uma aposta com o motorista e ele fazia aquilo todos os dias. Para vencer a aposta ele inclusive atravessava quintais de alguns vizinhos. Suas atitudes, incluindo seu humor grosseiro, eram toleradas e ele era considerado um excêntrico. Quando ele tentou fazer a mesma coisa depois de ficar negro, foi preso. Quem se lembra daquela velha piada? Um rico, quando corre, está fazendo um cooper; e um pobre está fugindo da polícia! No filme, a esposa branca do protagonista, apesar de mais liberal e apoiar a luta dos negros americanos, não suportou aquela situação e deixou o marido.

Nos Estados Unidos, a situação foi mais séria, porque houve segregação racial, mas, no Brasil, a coisa não foi muito melhor. Durante muito tempo, atos racistas foram tolerados na nossa sociedade. A Lei Afonso Arinos, que entrou em vigor em 1951, tornou os direitos de todos iguais independente de raça. Ou seja, um negro, por exemplo, não poderia ser impedido de frequentar um estabelecimento comercial apenas por ser negro. Mas o racismo continua vivo ou, pelo menos, adormecido na cabeça de muitas pessoas até hoje. Talvez a jovem torcedora do Grêmio flagrada pelas câmeras de TV não discrimine negros no seu dia a dia, mas, junto com outros torcedores, usou uma forma racista para ofender o goleiro santista. Isto mostra que ela achava aquela atitude normal, senão, no mínimo, ficaria calada.

O fim do racismo claramente é um processo de mudança cultural. Em um post comentei o processo de mudança cultural em relação à segurança. Apresentei o exemplo do uso de cinto de segurança nos automóveis. Vivemos décadas numa sociedade onde o racismo e os atos inseguros eram tolerados. Para mudar a situação devemos ser inflexíveis, senão a “maionese desanda”. Naquele post, apresentei a curva de Bradley da DuPont.

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Existem pessoas com diferentes níveis de maturidade: algumas ainda têm comportamento reativo, outras dependem de supervisão, outros têm comportamento adequado independentemente de orientação e existem os que ajudam os outros a melhorar seus padrões de comportamento.

A punição de exclusão da Copa do Brasil sofrida pelo Grêmio deve servir de exemplo para toda a sociedade brasileira. Quando a Justiça Esportiva passou a punir os clubes, porque algum torcedor lançava algum objeto no campo, muita gente achou que era um exagero, mas os próprios torcedores passaram a se autocontrolar.

Sem dúvida chamar um negro de macaco não está certo, mesmo num estádio de futebol! A maioria da torcida do Grêmio também já entendeu que chamar os torcedores do Internacional de “macacos imundos” é errado e vaiou os que cantaram esta música antes do ultimo jogo em seu estádio.

Todos merecem respeito e igualdade de direitos independente de raça, sexo, patrimônio material, orientação sexual, local de nascimento, religião e profissão. Isto é lógico, parece fácil de fazer, mas, na verdade, é uma luta diária, onde não podemos baixar a guarda ou sermos omissos .

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1 comentário

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