Arquivo do mês: agosto 2012

Che Guevara: Anjo ou Demônio?

Esta é minha terceira viagem ao Canadá em 2012. Desta vez escolhi o filme “Diários de Motocicleta” para meu entretenimento durante o jantar. O filme trata de uma viagem que Ernesto Che Guevara e seu amigo Alberto Granado fizeram pela América Latina em 1952.

Che Guevara é daquelas figuras que a maioria das pessoas ama ou odeia. Todos os grandes líderes revolucionários de esquerda fazem parte deste clube como Lenin, Mao Tse Tung e Fidel Castro. Na política brasileira, o grande nome, sem dúvida, é Getúlio Vargas: endeusado pela maioria dos gaúchos e odiado pela maioria dos paulistas.

Ernesto Che Guevara

Ernesto Che Guevara

Voltando ao filme, Guevara tinha uma vida tranquila em Buenos Aires. Ele estava praticamente se formando em medicina aos 23 anos de idade e seu hobby preferido era jogar rúgbi. Na sua viagem de moto, ele se confronta com uma realidade totalmente diferente da sua vida “pasteurizada”. Ele vê, convive e sofre com a miséria extrema que colonos, índios e mestiços sem posses são submetidos no interior da América Latina. Na parte final do filme, ele e Alberto trabalham como voluntários em uma colônia de leprosos na Amazônia peruana. Fica chocado com a separação dos doentes das outras pessoas – médicos, religiosas, enfermeiras – feita através de um grande rio.

A questão básica é se as motivações de Ernesto Guevara eram justas. Minha resposta é sim! Não devemos ser insensíveis à miséria e às injustiças. Neste momento, chegamos à pergunta cuja resposta torna Che Guevara e outras figuras históricas tão polêmicas:

– Se a causa é justa, vale qualquer método para torná-la realidade?

Ernesto Che Guevara acreditava que apenas a luta armada mudaria aquela situação que ele vivenciou em sua viagem pela América Latina. Por outro lado, em todas as guerras, inocentes são mortos, crimes são cometidos e injustiças imperdoáveis são justificadas. Para ele estas perdas seriam aceitáveis, o que eu não concordo. Certa vez li, não me recordo onde, a seguinte frase:

– Até os mais nobres fins são conspurcados pelos meios empregados para obtê-los.

Isto explica a polêmica em torno da maioria dos grandes líderes da história da humanidade. Todos tinham defeitos e virtudes como cada um de nós, mas suas qualidades foram decisivas dentro de determinado contexto histórico. Muitos lutaram contra o Apartheid na África do Sul, mas Gandhi e Mandela optaram por não usar violência. Isto os coloca acima dos demais! Muitos lutaram contra a discriminação racial nos Estados Unidos, Martin Luther King escolheu a não violência como forma de ação e ajudou a melhorar situação dos negros sem derramamento de sangue, com exceção do seu próprio.

Martin Luther King - Nelson Mandela - Mahatma Gandhi

Martin Luther King (esquerda), Nelson Mandela (direita acima) e Mahatma Gandhi (direita abaixo)

Che Guevara decidiu agir com 24 anos para melhorar a vidas dos oprimidos da América Latina. Sua opção pela luta armada, em minha opinião, deve ser criticada, mas, por outro lado, devemos entender que foi tomada por um jovem idealista num contexto muito diferente do atual. Não devemos ser maniqueístas em relação a pessoas, países, religiões, culturas… Devemos analisar sempre nossos atos e nunca seguir líderes cegamente (como apresentei na série de posts sobre o Efeito Lúcifer), porque, como todos os seres humanos, eles acertam e erram.

Assista ao filme! Vale pela história, pelas atuações de Gael Garcia Bernal como Che Guevara e de Rodrigo de La Serna como Alberto Granado, pela música em especial “Al outro lado do rio” do uruguaio Jorge Drexler. Escute esta bela música com imagens de diversas cenas do filme. Como assisti ao filme em espanhol com legendas em inglês, o lado cômico foi a tradução dos palavrões que Alberto Granado volta e meia lançava sobre Ernesto Guevara, até aprendi uns novos de baixíssimo nível.

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Cem Posts, Sem Segredos!!!

Este é um momento histórico para este blog. Você está lendo o centésimo post (ou artigo para os puristas) publicado desde setembro de 2009.

100º post

Passei por diversos assuntos, de gestão de pessoas a gerenciamento de projetos, de gastronomia a cinema, de psicologia e filosofia a viagens, de futebol, em especial meu Inter, a literatura, em especial o grande William Shakespeare. Escrevi sobre vários assuntos sérios e procurei descontrair, por exemplo, quando falei da minha última morada.

Até ontem as estatísticas já computavam aproximadamente 45 mil acessos. Agradeço os amigos e a família, principalmente minha irmã, pelas visitas frequentes…

Quando decidi criar um blog, tinha uma série de objetivos, o principal era escrever sobre qualquer assunto que me atraísse. Acredito que tive sucesso em criar um blog com conteúdo diversificado. Por outro lado, minha produção ficou muito aquém da meta numérica inicial, porque queria publicar dois post por semana, incluindo uma receita gastronômica nas sextas-feiras. Eu poderia me enganar e escrever agora que privilegiei a qualidade em detrimento da quantidade, mas estaria mentindo. Se eu tivesse aquele caderninho para registrar as ideias que chegaram e fugiram pouco tempo depois ou aquele gravador de voz para armazenar meus pensamentos durante os engarrafamentos na Marginal Pinheiros em São Paulo, poderia ter vários artigos interessantes inéditos. Quem sabe não estaria de fardão nas quintas-feiras, sorvendo o chá preto, na companhia de outros imortais? Acho que exagerei desta vez… Afinal dificilmente seria eleito, não sou político, nem tenho ligações dentro da ABL…

Fardão da ABLDesde o início, procurei colocar fotos ou figuras para quebrar um pouco a sequência do texto, tornando sua leitura mais agradável. Descobri que, da mesma forma que eu navegava na Internet em busca de imagens, outras pessoas faziam o mesmo e contribuíam para aumentar o tráfego no blog. Valeu Google!

Outro procedimento que ajuda a divulgação do blog é anunciar as novidades no Twitter e Facebook. Também existe a possibilidade do leitor assinar o blog (o botão está na coluna ao lado) e receber um E-mail, sempre que houver um novo post.

Para finalizar, gostaria que os leitores novos e os assíduos deste blog deixassem um pequeno comentário com críticas e sugestões. Escreva o que gostaria de ler com mais frequência. Pode simplesmente dizer quais são posts preferidos e aqueles que não gostaram. Prometo que considerarei todas as observações nos próximos cem artigos. Por gentileza, só não façam como Oswald de Andrade, se alguém lhe perguntar sobre meu blog:

– “Não li e não gostei!”

Oswald de Andrade

 

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O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

Segundo, The Wall Street Journal, uma onda de tempo ruim – seca nos Estados Unidos, verão quente demais na Rússia, muita chuva no Brasil – está prejudicando a cadeia de produção de alimentos e aumentando preços ao redor do mundo. A FAO, órgão das Nações Unidas para alimentos e agricultura, anunciou ontem que seu índice para preços de alimentos subiu 6% no mês passado, a maior alta desde novembro de 2009.

Atualmente somos 7 bilhões de habitantes no planeta e, segundo estimativa de ONU, passaremos para 8 bilhões em doze anos. Parece claro que, para alimentar uma população humana crescente, os recursos naturais necessários serão enormes. O poder aquisitivo das populações menos favorecidas também crescerá neste período, o que é muito bom! Desta forma, o consumo de alimentos aumentará de forma mais acelerada do que o simples crescimento vegetativo da população e não podemos esquecer que a agricultura depende do clima, da disponibilidade de água e de terras férteis.

Crescimento da População Mundial

Crescimento da população mundial

Há um tempo assisti a um vídeo do filósofo “pop” Slavoj Žižek no qual apresenta seus conceitos sobre ecologia. Ele afirma que a ecologia pode ser a religião do século XXI ao trazer uma série de dogmas a serem cegamente seguidos. Pode-se comprovar pelo massacre a que são submetidos aqueles que ousam contrapor ao senso comum ecológico. Já comentei o assunto no meu post sobre o aquecimento global. O obscurantismo “fanático-religioso” contra os transgênicos é outro exemplo dos malefícios destes dogmas ecológicos. Muitos transgênicos são, por exemplo, resistentes a pragas, reduzindo a aplicação de agroquímicos.

Transgênicos

Os transgênicos são muito criticados pelos ativistas

Assista ao vídeo de Žižek, onde ele apresenta seus conceitos sobre ecologia.

Proponho que dois caminhos distintos sejam trilhados para produzir os alimentos, as roupas e demais bens de consumo para satisfazer a demanda crescente da população:

– combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis;
– ruptura total do atual modelo produtivo através criação de novas tecnologias que tornem o ser humano independente da natureza do planeta.

A primeira via é a exploração do passado. Ela engloba, na agricultura, o uso das melhores práticas disponíveis durante todas as etapas desde a escolha de cultivares, fertilização e correção dos solos, controle de pragas e doenças até a colheita, transporte e armazenamento da safra. Na indústria, o uso das melhores técnologias para a geração de bens duráveis e de consumo, consumindo a menor quantidade de recursos: matérias primas, insumos, água e energia.

A segunda via é mudar radicalmente a forma de gerar alimentos e insumos para a indústria. Como falou Slavoj Žižek, nada de volta às origens, mas a busca de um caminho totalmente novo, desvinculado da natureza. Por exemplo, a criação de novas tecnologias que produzam alimentos a partir da recombinação química ou bioquímica de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e assim por diante. Itens fundamentais são o reciclo total de todos os resíduos e o uso de energias intrinsecamente limpas, como a solar, geotérmica e a fusão nuclear.

O consumo de carne evidentemente não é uma prática sustentável! Hoje metade do milho e 75% da soja são usadas para alimentar animais que serão mortos para servir de alimento para nós humanos. Para gerar um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de milho e soja, além do consumo de 15 mil litros de água. E nem comentei a poluição gerada por esta atividade, uma vaca leiteira, por exemplo, solta 700 litros de metano diariamente na atmosfera (gás 21 vezes mais nocivo do que o gás carbônico para a formação do efeito estufa). A carne não é mais um alimento essencial e seu consumo só pode ser justificado pelo prazer gastronômico. Quando inventarem a picanha ou o filet mignon de laboratório, juro que volto a comer carne. Já existem grupos de pesquisadores criando carne em laboratório. Por enquanto, são pequenas tiras de 3 centímetros de comprimento por 1,5 cm de largura e espessura de apenas meio milímetro, mas o rendimento de conversão dos nutrientes em carne já fica em torno de 50% contra menos de 15% da convencional.

Carne Artificial

No futuro, carne igual a esta na foto poderá ser produzida artificialmente.

Só o artificialismo, que distanciará a satisfação das necessidades humanas da natureza, nos reconciliará definitivamente com a própria natureza e os demais animais que nos cercam. Não existe outra opção…

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