No dia 22 de julho, o Papa Francisco chegou ao Rio de Janeiro para participar, entre outros eventos, da Jornada Mundial da Juventude. Impressionou a agenda dura que o papa cumpriu em apenas uma semana. Pareceu exagerada para um senhor de 76 anos. Bastava ligar a televisão na semana passada e lá estava ele, esbanjando simplicidade e simpatia.
O atual papa possui um carisma invejável, é quase impossível não simpatizar com ele, a forma como sorri, o carinho com as crianças e a paciência com as brincadeiras e presentes de gosto duvidoso. Por outro lado, tenho receio quando as pessoas são julgadas somente por suas imagens. Por exemplo, o governo Médici foi o mais duro do período de ditadura militar no Brasil, mas para as pessoas comuns Geisel foi pior. Este julgamento é baseado nos sorrisos do Médici e na “carranca” do Geisel, não importa que a tortura corresse solta no período Médici e que, no período Geisel, as denúncias a respeito da morte, tortura e desaparecimento de presos políticos reduziram muito.
Como o tempo do Papa Francisco para fazer alguma coisa prática ainda é curto desde sua posse, procurei ouvir suas mensagens. Minha percepção é que, ao falar para os jovens, ele buscou tocar o coração de cada um. A ideia é que para mudar a Igreja e o mundo, comece por você. Mário Quintana disse certa vez esta frase simples e verdadeira:
– Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.
Ou seja, o Papa Francisco, através de suas mensagens, quer inicialmente mudar as pessoas. Assim ele incentivou a juventude a largar o egoísmo e comodismo e se tornar agente da mudança na Igreja e no mundo. Isto fica claro nesta mensagem:
– Sigo as notícias do mundo e vejo que tantos jovens de muitas partes do mundo têm saído pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem que outros sejam protagonistas da mudança, vocês jovens são os que têm o futuro. Através de vocês o futuro chega ao mundo…
Vi na noite de domingo uma entrevista do papa ao programa Fantástico da Rede Globo. Fora a parte “festiva” da entrevista com questões sobre clima, rivalidade Brasil-Argentina, segurança pessoal, gostei especialmente da análise do papa sobre o momento atual da economia. Ele citou que a globalização com o “protagonismo do dinheiro, economicista, sem qualquer controle ético”, acaba por marginalizar expressivas parcelas da população, como os mais velhos e os mais novos nos mais variados locais do planeta. Ele exemplificou que oscilações nas bolsas de valores são mais importantes do que pessoas sem comida ou educação:
– Hoje em dia há crianças que não têm o que comer no mundo. Crianças que morrem de fome, de desnutrição. Há doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são mendigos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não têm educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem três ou quatro pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama do humanismo desumano que estamos vivendo. Por isso, é preciso recuperar crianças e jovens, e não cair numa globalização da indiferença.
O papa ainda incentivou os jovens a expressarem seus descontentamentos e as pessoas a ajudarem os mais necessitados, se doando. Entendo que esta ajuda não deveria ser apenas monetária, por exemplo, uma esmola, um dízimo ou uma contribuição em dinheiro para uma entidade assistencial. A definição de Gibran Khalil Gibran, no seu livro “O Profeta” sobre a doação deveria ser seguida por todos:
– Vós pouco dais quando doais de vossas posses. É quando doais de vós próprios que realmente dais.
Assim, quando usamos nosso tempo, nossa energia, nossa sabedoria ou nossos conhecimentos para ajudar os mais necessitados, estaremos realmente nos doando. Esta não é uma missão fácil, a inércia a que nossas vidas estão submetidas só pode ser quebrada com muito esforço, senão o comodismo vai nos levar a assistir passivamente o que está ao nosso redor.
Acredito que foi um bom início do pontificado de Francisco, mas é melhor aguardar seus próximos passos. João Paulo II também era popular e carismático, mas seu conservadorismo dogmático foi um dos motivos do afastamento da Igreja Católica das reais necessidades do povo.
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