Arquivo do mês: novembro 2012

Memórias e os Fantasmas do Passado

Uma das piores coisas que podemos fazer é remoer o passado. Todas as vezes que entramos neste estado mental, nos envenenamos e esquecemos de viver o presente.

Como escrevi no post anterior, cada um tem sua própria percepção da realidade e esta realidade existe dentro de nossas cabeças. Com nossas memórias, acontece o mesmo, elas são moldadas a partir de nossas percepções, valores, inteligência e sabedoria. Isto significa que nossas memórias vão se alterando com o passar do tempo, porque nós também mudamos. Se insistirmos em guardar mágoas devido a um fato, todas as vezes que nos lembrarmos do ocorrido, sentiremos dor, tristeza ou raiva. O que ganhamos com isto? Nada!

Estátua de Rodin retrata desespero extremo.

Claro que não vamos esquecer tudo o que nos prejudicou no passado, mas seria fundamental se extraíssemos os aprendizados como aspectos positivos e os vinculássemos a estas memórias. Por exemplo, meu primeiro chefe foi o canonizável Eng.º Mário. Como profissional jovem, achei que este podia ser o padrão, mas, após 25 anos de estrada, sei que ele é uma honrosa exceção no mundo corporativo. Obviamente tive problemas com outros superiores hierárquicos ou funcionais na sequência da minha carreira. No início, guardava mágoa ou raiva em relação a estes profissionais. Há algum tempo, percebi o quanto fui ajudado por eles, do jeito deles, a me tornar um profissional e até mesmo uma pessoa melhor. Algumas vezes desconsiderei o conteúdo da mensagem por conta da forma inadequada de expressão: confusa, autoritária ou agressiva. Em outros casos, a percepção da realidade deles era diametralmente oposta à minha. Nestes casos, não adianta bancar o guri birrento e simplesmente executar as tarefas do seu jeito, ou pior ignorá-las, ao invés de pensar nas razões do chefe e, se for o caso, buscar novos argumentos para convencê-lo.

Na vida pessoal, muitas vezes valorizamos demais problemas e conflitos pontuais que temos com os pais, companheiros, filhos e amigos. Ou seja, longos anos de amor, amizade e companheirismo são destruídos nas nossas mentes por alguma ocorrência de importância muito menor.

Quem decide sofrer com as lembranças somos nós mesmos e somente nós podemos alterá-las, aprender com elas e continuar vivendo em constante evolução.

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Como a Matrix de Neo e a Caverna de Platão nos Mostram a Realidade

Há duas semanas participei de um treinamento sobre os princípios que regem nossos pensamentos, realizado em um hotel em Miami Beach. Muito além do belo visual da praia, passei dias intensos nos quais refleti profundamente sobre minhas ideias e modo de agir.

Tudo começou com a ideia de que a realidade está na cabeça de cada um. Ou seja, cada um tem a sua realidade percebida. Este conceito parece óbvio, mas muita gente não o aceita. No sensacional primeiro filme da série Matrix, Neo é abordado por Morpheus que lhe oferece a pílula vermelha para enxergar uma nova realidade ou uma azul para permanecer na mesma situação. Ele opta pela alternativa mais arriscada e opta pela vermelha. Infelizmente, em nossas vidas, a escolha não aparece de modo tão claro e direto…

matrix neo morpheus red blue pill

Morpheus oferece a Neo as pílulas vermelha e azul.

Esta passagem lembra a história da “Caverna” de Platão, presente no livro “A República”. Nesta história homens estão acorrentados no interior de uma caverna, vendo apenas sombras projetadas no seu fundo. Este era o mundo real para eles. Um dos membros daquele grupo resolve fugir para ver se existe alguma coisa além daquelas imagens. Ele se liberta, enfrenta uma jornada difícil, fica quase cego por causa da luz intensa do dia, sente dor, pensa em voltar, mas resiste, passa a entender que aquela é uma realidade totalmente nova. Finalmente resolve voltar para libertar seus companheiros. Chega à caverna e conta o que viu. Então, no início, ele é ridicularizado e depois considerado louco. Como ele insiste em manter seu pensamento, é agredido e morto pelos seus antigos colegas. Apesar do seu final triste, provavelmente ele plantou sementes que florescerão na mente de alguns dos seus algozes que se libertarão e perceberão uma nova realidade.

A Caverna de Platão

A Caverna de Platão

Podemos dizer que não agimos assim, mas quantas vezes criticamos, ridicularizamos, isolamos e, até mesmo, somos agressivos com aqueles que têm pensamento diferente dos nossos? Dentro de casa mesmo, como tratamos nossos pais, filhos e companheiros?

Fizemos um exercício interessante em trios, durante o treinamento, onde duas pessoas discutiam de forma reflexiva o problema do terceiro componente do grupo. O “dono” da questão explicava o caso e depois ouvia as reflexões e fazia comentários somente após a conclusão da conversa. Todos ficaram impressionados com os resultados obtidos, porque, sem exceção, receberam insights úteis para resolver seus problemas. Por que isto não acontece normalmente em nossas vidas?

Um dos motivos é que não ouvimos com atenção os outros. Muitas vezes cortamos a fala do nosso interlocutor para “ajudar” ou rebatê-lo, prejudicando o desenvolvimento das ideias. Por outro lado, também amamos nossas ideias e nossos egos não aceitam qualquer crítica ou desafio. Parece que nos apegamos a elas como se fossem partes inseparáveis de nosso ser. Deveríamos ter desapego pelos nossos pensamentos e imaginar que, após compartilhá-los, eles são públicos e todos têm liberdade para usá-los, desenvolvê-los e aperfeiçoá-los. Não existe ideia perfeita, porque somos criadores imperfeitos…

Não quero ouvir

Os três princípios apresentados no treinamento estão apresentados abaixo: 

  1. Nós vivenciamos nossos pensamentos a cada momento.
  2. Nós sentimos nossos pensamentos.
  3. Nós podemos sempre ter novos pensamentos.

 Ou seja, devemos sentir se devemos ou não ter certos pensamentos e atitudes e, se sentimos que não é o melhor, podemos pensar e agir diferentemente. Claro que não é fácil, mas vale a pena tentar e praticar.

Para finalizar, lembro-me de outra cena do Matrix, quando Neo vai consultar o Oráculo para saber se ele é o escolhido. A mulher pergunta se ele leu a frase que estava escrita na entrada da casa:

– Conhece a ti mesmo!

Insistimos em achar que, como diria Sartre, o inferno são os outros e que estamos infelizes por causa da família, do nosso emprego, do local onde moramos, do clima… Na verdade, nós temos a capacidade de alterar nossa percepção da realidade e analisar o que é importante e o que acessório ou supérfluo nas nossas vidas. E muito importante: felicidade ou equilíbrio não são sinônimos de passividade e alienação!

temet nosce

“Conhece a ti mesmo” em latim.

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Rescaldo Eleitoral ou a Volta de Tarcísio “Jason” Zimmermann

Na noite de ontem, finalmente saiu o resultado do julgamento do recurso do prefeito de Novo Hamburgo, Tarcísio Zimmermann, no TSE. Ele foi derrotado por 4 a 3. Deste modo, foi confirmada a sua inelegibilidade até o final de 2012. Se você quiser saber toda a história, leia o post Auf Wiedersehen Tarcísio.

Tarcísio Zimmermann

Tarcísio Zimmermann fez festa apesar da eleição estar sob júdice.

Abaixo está apresentado o raio-X da eleição para o executivo municipal hamburguense:

Eleitorado – 177.706
Abstenção – 26.295 (14,80%)
Total de votos – 151.411

Votos brancos – 13.839 (9,14%)
Votos nulos – 11.135 (7,35%)
Votos válidos – 126.437

Tarcísio Zimmermann (PT) – 67.283 votos (53,21%)
Paulo Kopschina (PMDB) – 57.085 votos (43,29%)
Dione Moraes (PSC) – 2.069 votos (3,50%)

Como Tarcísio obteve mais da metade do votos válidos, esta eleição está anulada e uma nova será realizada no primeiro trimestre de 2013.

No julgamento, os votos favoráveis ao atual prefeito petista foram dos ministros Marco Aurélio Mello, Dias Toffoli e Henrique Neves. O ministro Marco Aurélio lembrou que a Justiça Eleitoral deferiu os registros de candidatura de Zimmermann a deputado federal em 2006 e a prefeito de Novo Hamburgo em 2008. “Como pode agora fulminar a tentativa de reeleição em 2012?”, perguntou o ministro.

Marco Aurélio Mello

Ministro Marco Aurélio Mello do STF e do TSE.

O mais curioso neste voto é que, pela redação vigente da Lei da Ficha Limpa, estão inelegíveis os que forem condenados, em decisão por órgão colegiado da Justiça Eleitoral (como o TRE gaúcho) por conduta vedada aos agentes públicos em campanhas eleitorais que impliquem cassação do registro ou do diploma, pelo prazo de 8 (oito) anos a contar da eleição. Ou seja, o ministro desprezou a Lei da Ficha Limpa…

O ministro Dias Toffoli afirmou que o artigo que trata de condutas vedadas a agentes públicos é o 73 e não o 77 da Lei das Eleições. “Essa questão de comparecer a uma inauguração, ela tem a sua repercussão para a eleição específica”, disse.

Dias Toffoli

Ministro Dias Toffoli do STF e TSE.

Mas que “grande contribuição” deste membro do Supremo Tribunal Federal! Abaixo transcrevi a redação do Artigo 77 da Lei Federal 9.504/97 que vale para todos os candidatos a cargos eletivos.

Art. 77. É proibido a qualquer candidato comparecer, nos 3 (três) meses que precedem o pleito, a inaugurações de obras públicas.
Parágrafo único. A inobservância do disposto neste artigo sujeita o infrator à cassação do registro ou do diploma.

Parece que pela segunda vez a Lei da Ficha Limpa foi desconsiderada. Sempre devemos lembrar que Tarcísio Zimmermann foi condenado pelo TRE-RS por participar de uma inauguração de obra pública antes da eleição de 2004.

Infelizmente os votos destes dois Excelentíssimos Ministros do Supremo Tribunal Federal não me surpreende. Basta observar seus votos em outros julgamentos…

Voltando à eleição de Novo Hamburgo. Tarcísio afirma que vai recorrer ao STF e tentar bloquear na Justiça a execução de novas eleições antes do julgamento do mérito do seu derradeiro recurso. Enquanto isto, a cidade será governada por um interino, o presidente da Câmara de Vereadores do município. Ele também pretende concorrer se houver nova eleição. Isto é muito polêmico já vi argumentos a favor e contra a sua participação. Ou seja, ele pode ganhar e não levar de novo!

Jason da séria Sexta-Feira 13

Jason da séria Sexta-Feira 13 e Tarcísio – os dois voltam sempre para continuar suas maldades…

Por outro lado, me surpreende que o povo hamburguense seja iludido pela propaganda oficial da Prefeitura e continue votando no atual prefeito que a cada dia mostra mais seu ego superinflado, sua prepotência e o desrespeito pelas regras democráticas.

Independente do que acontecer pela frente, gostaria que Tarcísio Zimmermann pagasse integralmente o custo desta nova eleição. Talvez uma ação popular consiga buscar o ressarcimento destes gastos que, segundo li em um site de notícias, ficariam em torno de R$ 200 mil.

Urna Eletrônica

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Obama e o Dilema Capitalista

Nesta semana, a principal notícia foi a reeleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo. Um dos pontos mais importantes debatidos, durante toda a campanha, foi a lenta recuperação da economia americana. Na segunda-feira, li um artigo muito interessante no The New York Times escrito por um professor de Harvard, Clayton Christensen, que iniciava com a seguinte constatação:

– Independente do que acontecerá no Dia das Eleições, os americanos continuarão perguntando: quando a economia melhorará?

Um dos recados transmitidos é que a influência do presidente eleito, Obama ou mesmo Romney, na retomada da economia seria pequena. Você pode ler o artigo na íntegra, clicando no link abaixo.

http://www.nytimes.com/2012/11/04/business/a-capitalists-dilemma-whoever-becomes-president.html?pagewanted=all

Romney e Obama

Um dos debates entre Romney e Obama

Segundo o autor, existem três tipos de inovação:

  1. Inovação capacitante (“empowering innovation”)
  2. Inovação de sustentação (“sustaining innovation”)
  3. Inovação de eficiência (“efficiency innovation”)

O primeiro tipo de inovação supre uma demanda do mercado ainda não atendida. Ela transforma produtos caros disponíveis apenas para um pequeno grupo de pessoas em produtos mais baratos para a maioria da população. Ele cita os exemplos do Ford Modelo T e dos computadores pessoais. Esta forma de inovação cria empregos e usa capital para estruturação da nova cadeia produtiva. Ou seja, estimula o crescimento econômico.

Linha de produção do Ford modelo T

Linha de produção do Ford modelo T

A inovação de sustentação substitui os velhos produtos por novos modelos. Por exemplo, os carros híbridos possuem tecnologia mais avançada do que os convencionais, entretanto o número total de automóveis vendidos não crescerá devido à sua introdução no mercado, porque o público-alvo é exatamente o mesmo dos modelos tradicionais. Esta forma de inovação, apesar de criar poucos empregos novos, mantém o dinamismo da economia.

Automóvel híbrido Toyota Prius

Automóvel híbrido Toyota Prius

A inovação de eficiência, como o próprio nome sugere, busca a redução dos custos de geração de um produto ou serviço. Assim o número de empregos sempre é reduzido com a aplicação deste terceiro tipo de inovação. Por outro lado, a empresa recupera o capital investido que poderá ser o combustível para o próximo ciclo de inovação capacitante.

Estas três formas de inovação devem operar de modo cíclico, onde as inovações capacitantes são essenciais, porque criam novos consumos e mais empregos do que as inovações de eficiência conseguem eliminar posteriormente.

Segundo Christensen, nos últimos 150 anos, a economia americana operou desta forma e conseguiu manter-se distante dos longos períodos de recessão. De 1948 a 1981, o nível de emprego anterior à recessão era recuperado em apenas 6 meses. Na recessão de 1990, demorou 15 meses; na de 2001, 39 meses. E agora já são 60 meses, lutando para voltar ao nível anterior a esta recessão.

O que está havendo? O autor explica que as inovações de eficiência estão gerando capital que é reinvestido em novas inovações de eficiência ao invés das capacitantes. Desta forma, gera-se mais capital, mas não são gerados novos empregos. O capitalismo trata com carinho os bens escassos e “despreza” os bens abundantes. Hoje capital não representa mais uma restrição, porque existem abundantes linhas de financiamento com baixas taxas de juros no mundo. O problema é que os líderes das empresas estão seguindo fielmente os ensinamentos que receberam no passado. Ao analisar a taxa interna de retorno (I.R.R. em inglês) de dois investimentos, uma inovação capacitante com retorno em 8 anos e uma inovação de eficiência que retorna na metade deste período, a opção pelo ganho mais fácil e garantido tem sido a escolhida na grande maioria dos casos.

Eu diria que os capitalistas se viciaram no capital. Ou, em inglês, deixaram de ser capitalist e viraram capital addict.

Dilema capitalista

O Dilema Capitalista

O autor sugere que existe um problema educacional nos Estados Unidos, porque as habilidades para a criação de inovações capacitantes estão escassas atualmente. As universidades deveriam treinar os estudantes para estes tipos de desenvolvimentos, passando a mirar no longo prazo. Em paralelo, o governo americano deveria criar um sistema para incentivar este tipo de investimento.

Clayton Christensen

Clayton Christensen

O Brasil experimentou um crescimento baseado no aumento do consumo interno nos últimos anos. Este modelo parece ter se esgotado. Parece que este artigo dá uma pista sobre o que deve ser feito para que nosso país dê um novo salto de desenvolvimento, mas para que isto ocorra, investimentos em inovação e educação são fundamentais.

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