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2017 – O Ano que Ainda Não Terminou em Alguns Sons e Imagens

Parece que temos mais histórias para contar em alguns anos do que em outros. O ano de 2017 está entre os mais ricos em novas experiências da minha vida. Na manhã do dia 14 de janeiro, tive uma fratura grave na tíbia e fíbula da perna direita, jogando um inocente futebol com minhas filhas e uma colega da mais velha no quintal da minha casa. Dois vizinhos, Fernando e Toni, me levaram ao Hospital São Luiz no Morumbi. Minha fratura foi reduzida e no dia seguinte fui operado.

Gravei este áudio com a narração do acidente em estilo de transmissão pelo rádio de um jogo de futebol e coloquei algumas fotos do quintal de casa.

A radiografia abaixo mostra o tamanho do estrago. Agora tenho uma haste metálica dentro da tíbia fixada por dois parafusos na altura do joelho e por outros dois no tornozelo. Além disto, tenho duas placas fixadas por seis parafusos na lateral da perna próximo ao tornozelo que ajudaram na consolidação da fíbula.

Fratura_15-01-2017

Pelo menos não precisei engessar a perna, usei uma imobilização removível chamada Robofoot que eu tirava para dormir, tomar banho ou quando estava sentado na sala.

Com menos de uma semana, passei a tomar banho sozinho sem qualquer ajuda. Dois meses depois, já subia escadas.

Passei por vários momentos no processo de recuperação. Desde os tempos iniciais em que não podia encostar o pé no chão aprendi a andar de muletas até a hora tive que largá-las, no final de abril. Para isto fiz muita fisioterapia, com longas sessões de exercícios e choques. Tive que reaprender a andar.

Para ajudar na recuperação comecei com caminhadas na metade de junho e depois com corridas leves. A figura abaixo mostra minha primeira caminhada mais longa.

Runkeeper_17-06-2017

Peguei gosto pelas corridas e perdi mais ou menos 6 quilos em um ano, minha saúde melhorou. Um dia depois de completar 52 anos, participei pela primeira vez de uma corrida de rua.

foto 25-03-2018

Comecei a estudar Antroposofia em um curso de formação da pedagogia Waldorf. Uma vontade de dar aulas de química para pré-adolescentes e adolescentes começou a crescer dentro de mim… O futuro dirá se concretizarei esta vontade.

Durante o curso, junto com aulas teóricas, temos aulas de arte. Sempre me considerei um grande nada como artista. Tinha certeza absoluta da minha incompetência para todas as formas de artes. Com o transcorrer das atividades de modelagem em argila consegui superar esta certeza negativa e saíram algumas peças, como o “Urso” e o “Tio Gervásio”, cujo resultados finais me agradaram.

Urso_argila

Tio Gervasio

O curso de Antroposofia era no Sítio das Fontes em Jaguariúna. Lembro-me de um sábado que eu e alguns colegas acordamos bem cedo para ver o nascer do sol no equinócio da primavera. Repare que na segunda foto aparecem dois sóis.

Equinocio-1

Equinocio-2

No período que fiquei em casa, aproveitei as horas economizadas por não pegar a Rodovia Raposo Tavares nos deslocamentos até o escritório em São Paulo para ler mais e ver filmes e documentários.

No documentário “The Corporation”, havia participação destacada de Ray Anderson, fundador e ex-presidente da Interface, um dos maiores fabricantes mundiais de carpete modular para aplicações comerciais e residenciais. Ele era conhecido nos círculos ambientais por sua posição avançada e progressiva sobre ecologia industrial e sustentabilidade. Em um de seus depoimentos, ele citou dois livros que ajudaram a moldar seu pensamento, “A Ecologia do Comércio” de Paul Hawken e “Ismael” de Daniel Quinn. Descobri que tinha o livro Ismael em casa. Li e fiquei impressionado com a visão de Quinn sobre como o ser humano está destruindo o planeta, através da agricultura.

thecorporation

O pensamento de Quinn baseia-se na premissa que as populações de animais entram em equilíbrio com a disponibilidade de alimentos na região em que vivem. Se a disponibilidade aumenta, a população aumenta; na sequência, isto causa uma redução da disponibilidade de alimentos e a população diminui. Ou seja, na natureza, existe um equilíbrio dinâmico entre alimentação e crescimento populacional.

Daniel Quinn

Daniel Quinn

O ser humano quebrou este equilíbrio através da agricultura. Invadiu áreas, destruiu ecossistemas e matou outros animais que competiam pela mesma fonte de alimentos. Quanto maior se tornava a disponibilidade de alimentos, mais rapidamente cresciam as populações humanas. Consequentemente mais alimentos eram necessários, aumentavam-se as áreas para agricultura, novos ecossistemas eram destruídos, novas espécies eram extintas. Ao invés do equilíbrio dinâmico de outrora, temos hoje uma espiral ascendente de destruição causada pela agricultura em nível planetário. Tudo isto é agravado pelo consumismo que estimula o consumo de alimentos e bens de forma insustentável.

Como tornar a ação humana mais sadia para o planeta? Comecei a estudar agricultura e como, suas práticas ajudam a mudar clima da Terra e a destruir o solo, as reservas de água doce e a biodiversidade. Tentei então imaginar como as diversas vertentes da agricultura orgânica poderiam ajudar a recuperar o meio ambiente ao mesmo tempo que alimentam a população humana. Fiz um curso de agricultura biodinâmica.

Escrevi um trabalho sobre o assunto. Propus alternativas onde novas tecnologias digitais e robótica ajudariam a agricultura, evitando a aplicação massiva de fertilizantes sintéticos, pesticidas e herbicidas nas lavouras. Quando o trabalho estava pronto para ser apresentado, fui informado que minha área na empresa, inovação global, seria extinta. Após reflexões e sonhos reveladores, achei melhor sair e reativar a empresa de consultoria que a Claudia fundou e entrei de sócio em 2008. A ideia de deixar a empresa, onde trabalho há quase oito anos, já estava em maturação desde o período em que fiquei recuperando-me da fratura em casa.

Recentemente esbarrei numa frase do filósofo dinamarquês Soren Kierkegaard:

“A vida só pode ser compreendida, olhando-se para trás; mas só pode ser vivida, olhando-se para frente.”

Soren_Kierkegaard

Soren Kierkegaard

Na época, não entendi porque quebrei a perna. Hoje percebo que precisava parar e pensar. Minha ligação com nossa filha menor, Luiza, cresceu. Não podia mais ser levado pela vida como aconteceu nos dois ou três últimos anos. Não podia mais viver, acumulando reservas, sem ousar com a justificativa que precisava garantir a estabilidade da minha família. Preciso construir um novo caminho e continuo contando com o amor e apoio da minha família nesta construção.

Daqui a alguns anos, quero parar (de maneira menos dramática) e olhar para trás e entender o sentido das mudanças de 2017 e 2018. Depois voltarei a seguir em frente certo que tudo fez sentido nesta jornada incrível que chamamos de vida.

 

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Os Veganos e os Orgânicos

O veganismo não é somente um tipo de dieta, é muito mais do que isto. Na verdade, ser vegano é optar por uma filosofia de vida, onde qualquer sofrimento animal é intolerável.

Começo por uma definição sobre veganismo divulgada pela The Vegan Society em 1979:

“Uma filosofia e modo de vida que procura excluir – na medida do possível e praticável – todas as formas de exploração e crueldade de animais para alimentação, vestuário ou qualquer outro propósito e, por extensão, promove o desenvolvimento e uso de alternativas livres de animais em benefício dos seres humanos, dos animais e do meio ambiente. Em termos alimentares, denota a prática de dispensar todos os produtos derivados total ou parcialmente de animais.”

Deste modo, um vegano não se alimenta com produtos de origem animal como carne, leite, ovos, mel e todos os seus derivados. Não usa roupas de couro, seda ou lã. Não usa cosméticos ou produtos de limpeza testados em animais. Também não aprova diversões como zoológicos, aquários, rodeios e shows com animais.

go-veganNo que se refere à alimentação, o vegano só consome plantas e seus derivados, sua dieta é estritamente vegetariana. Como sabemos, atualmente, a agricultura comercial emprega fertilizantes químicos para garantir a fertilidade do solo; herbicidas, para reduzir a concorrência de outras espécies vegetais por água e nutrientes do solo; e pesticidas, para que insetos não se alimentem de partes das plantas, reduzindo a produtividade da lavoura.

A agricultura orgânica supre as necessidades de nutrientes do solo com resíduos de animais e vegetais. Deste modo, não são adicionadas novas quantidades de nitrogênio (extraído do ar e transformado em amônia através da síntese de Haber-Bosch) e fósforo (extraído através de mineração) aos ciclos destes nutrientes. Para obter mais detalhes, leia o artigo Temos Tempo para Discutir o Aquecimento Global?, e você verá que existem outros problemas ambientais tão importantes quanto o aquecimento global – o desequilíbrio dos ciclos de nitrogênio e fósforo é um dos mais graves. Outra motivação para o consumo de produtos orgânicos é o não uso de herbicidas e pesticidas, o que é benéfico para quem se alimenta dos vegetais e para a natureza em geral.

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Neste ponto, um vegano chegaria a um dilema – as frutas, grãos e verduras orgânicas não são provavelmente veganas, porque geralmente usam dejetos de criação de animais como fertilizante. Vocês poderão concluir que, pelo menos, os dejetos provêm de animais criados de forma orgânica, sem confinamento, mas esta prática é apenas uma recomendação. De acordo com a norma que rege à agricultura orgânica, os agricultores de locais sem disponibilidade de dejetos oriundos de produção orgânica poderão usar dejetos de produção convencional, sem que seu produto deixe de ser rotulado como orgânico. Estrume de vacas confinadas e camas de frango de aviários são exemplos de fertilizantes permitidos nestas circunstâncias.

As camas de frango são misturas de serragem colocadas no piso de aviários para receber os excrementos das aves. São gerados entre 1,0 e 1,5 kg de cama de frango por ave. Se considerarmos que em 2016 foram abatidos aproximadamente 6 bilhões de frangos no Brasil, houve geração entre 6 e 9 milhões de toneladas de cama de frango.

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Aviário comercial com cama de frango.

Atualmente cerca de 80% do total dos antibióticos produzidos no mundo são consumidos por animais que servirão como alimento para humanos. Os frangos possuem aparelho digestivo curto e uma quantidade significativa do medicamento não é absorvida por seus intestinos. Deste modo, suas fezes contaminadas com antibióticos são incorporadas às camas de frangos.

O tratamento normalmente empregado para a estabilização deste resíduo é a compostagem em grandes pilhas, onde os microrganismos presentes na cama degradam parte da matéria orgânica, elevando a temperatura acima de 70°C. As pilhas são periodicamente revolvidas e, depois de alguns dias, os microrganismos patogênicos são inativados. As especificações exigidas na regulamentação dos produtos orgânicos com relação ao patógenos são atendidas. Por outro lado, as moléculas dos antibióticos são apenas parcialmente degradadas e não existe restrição, quanto as concentrações máximas permitidas para o uso como fertilizante orgânico.

Quando esta cama de frango estabilizada é utilizada como fertilizante no solo, os efeitos são imprevisíveis, resultando, por exemplo, na degradação parcial das moléculas dos antibióticos com a geração de moléculas mais tóxicas, na absorção parcial pelas plantas, na contaminação de águas superficiais e lençol freático, além da seleção de superbactérias patogênicas.

Então um vegano poderia chegar à conclusão que talvez seja melhor comprar produtos agrícolas oriundos de adubação química. Assista ao vídeo abaixo e depois discutiremos alternativas.

Existe a possibilidade de usar adubação 100% vegetal, estabilizada através de compostagem. A Embrapa Agrobiologia, localizada no estado do Rio de Janeiro, desenvolveu compostos totalmente vegetais a partir da compostagem de mistura de torta-de-mamona com bagaço de cana-de-açúcar ou palhada de capim-elefante com excelente desempenho e isento de contaminantes biológicos ou químicos.

Assim os vegetarianos em geral e especificamente os veganos (além dos onívoros que consomem orgânicos) deveriam buscar informação sobre a forma de fertilização do solo onde seus orgânicos foram produzidos. Alimentos produzidos com resíduos da pecuária comercial não deveriam ser certificados como orgânicos. Admitir o uso de cama de frango na agricultura auxilia na redução dos custos da avicultura comercial que promove exploração e maus-tratos em animais, polui o meio ambiente e compromete a saúde dos humanos.

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