Há alguns anos deixei de, imediatamente, tomar partido de um lado ou de outro nas discussões sobre política e passei a tentar entender as motivações dos dois lados. Estendi este procedimento para outras áreas e, sinceramente, isto me ajudou a entender mais as pessoas e, principalmente, os gaúchos.
Eu estaria exagerando se dissesse que a população do Rio Grande do Sul é uma das mais radicais do mundo, porque hoje não chegamos ao ponto de desejar a morte do outro lado como acontece no Oriente Médio. Por outro lado, ao assumir uma posição, é quase impossível a mudança. A pessoa é malvista e rotulada como vira-casaca. Nós gaúchos formamos sempre dois polos. Na política já tivemos várias fases:
– imperiais x farrapos;
– pica-paus (aliados do Júlio de Castilhos) x maragatos;
– chimangos (aliados de Borges de Medeiros) x maragatos;
– brizolistas x antibrizolistas;
– ARENA x MDB;
– PDS x PMDB;
– petistas x antipetistas.
A situação chega ao ponto de se desejar o mal para o estado para prejudicar o lado adversário. A irracionalidade é muito forte. CPIs com justificativas semelhantes são elogiadas na esfera estadual e criticadas no âmbito federal, mostrando uma completa falta de coerência. É como diz o provérbio popular “a paixão cega a razão”.
No futebol, não poderia ser diferente. O estado se divide em colorados e gremistas. Existem claras diferenças ideológicas entre os dois lados. Para os colorados, é fundamental ter um time que jogue bem, com qualidade técnica e bom toque de bola. A vitória deve ser o resultado da prática do futebol mais bem jogado. Para os tricolores, o mais importante é a raça. A vitória é consequência da superação dos limites da equipe, algo heroico.
Da mesma forma, como acontece em outras áreas, boa parte dos tricolores são anticolorados e boa parte dos torcedores do Inter são antigremistas.
Esperei quase uma semana para escrever sobre a rodada final do Brasileirão deste ano. O Inter, para ser campeão brasileiro, deve vencer seu jogo e esperar a ajuda do seu maior rival no jogo contra o Flamengo no Rio de Janeiro.
Ouvi coisas incríveis durante esta semana. Por exemplo, a culpa desta situação é da fórmula do campeonato por pontos corridos. Outra pérola é a colocação no mesmo nível do ato de “secar” o rival e a facilitação do jogo para o Flamengo. Outra sensacional é a colocação de que a direção tricolor não vai pedir para os jogadores “entregarem” o jogo, mas vai descaracterizar a equipe com a retirada de vários titulares. Assim o time formado por jogadores mais fracos perderia a partida sem fazer “corpo-mole”. Isto me lembra a página mais lamentável da história do Rio Grande do Sul, o episódio do massacre dos negros em Porongos. No final da Revolução Farroupilha, os termos da rendição não admitiam a manutenção dos negros livres que lutaram ao lado dos farrapos. A solução foi desarmá-los e combinar um ataque noturno dos imperiais ao acampamento dos lanceiros negros. Como os soldados negros desarmados poderiam resistir ao ataque do exército imperial? Como o Grêmio pode resistir ao ataque do Flamengo com um time “desarmado” cheio de reservas?
Voltamos à velha questão do dilema ético, já abordada com mais detalhe no post sobre Nelsinho Piquet. As consequências para o Grêmio, dependendo do que ocorrer no domingo, podem ser imprevisíveis. A história centenária do tricolor gaúcho pode ficar manchada e o Grêmio perderá a maior oportunidade de demonstrar toda a sua grandeza.
Sou colorado e alguns leitores podem dizer que estou legislando em causa própria. O ex-deputado Marcos Rolim, defensor dos direitos humanos e gremista de nascença, pensa parecido. Vocês podem conferir o seu artigo.
http://rolim.com.br/2006/index.php?option=com_content&task=view&id=739&Itemid=3
No domingo à noite, saberemos o que aconteceu…
Fábio,
Infelizmente não deu para o Inter. Foi o terceiro vice-campeonato nos últimos cinco anos. Isto mostra que mais cedo ou mais tarde chegaremos lá novamente.
Os jogadores do Grêmio, como era esperado, não entregaram o jogo, mas a direção tricolor fez o trabalho. As retiradas do Victor, Réver e Maxi Lopez comprovaram a intensão.
Saudações coloradas,
Vicente
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Belo texto…to sentindo que domingo será de alegrias para o lado vermelho do Rio Grande…abraço
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