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Bônus – Os Interesses Pessoais e os Corporativos

Muitas empresas pagam generosos bônus para seus executivos com base no atingimento de metas. Acho bom remunerar os profissionais pelos resultados das empresas geridas por eles. Por outro lado, muitas vezes as metas escolhidas causam conflitos de interesses.

Duas das principais medidas financeiras que medem o desempenho de uma empresa são o ROIC e o EVA. O ROIC (Return on Invested Capital) é o retorno sobre o capital investido pela empresa. Ele é calculado através da divisão do lucro líquido (lucro operacional menos impostos) pelo capital investido (soma do capital líquido da empresa com a dívida de longo prazo). O resultado desta operação é um percentual que será comparado com a taxa de remuneração do capital desejado pela empresa.

ROIC = ( Lucro Operacional Líquido – Impostos ) / (Capital Investido)

Outra forma de medir o desempenho da empresa é o EVA (Economic Value Added). Ele é calculado através da diferença entre o lucro líquido e a remuneração esperada sobre o capital investido.

EVA = (Lucro Operacional Líquido – Impostos) – (Custo do Capital × Capital Investido)

Como vocês já perceberam, se o capital investido da empresa aumentar, tanto o ROIC, quanto o EVA, diminuirão. Assim se a empresa investir em novas fábricas ou novos equipamentos, o capital investido crescerá e as duas medidas de desempenho serão reduzidas.

Agora você está na pele do CEO de uma empresa e seu objetivo é atingir ROIC de 10% ou EVA de R$ 10 milhões. Se atingir este resultado, o executivo receberá um polpudo bônus. Por outro lado, se ele aceitar aprovar excelentes investimentos que gerarão caixa e lucros para a empresa pelos próximos dez anos, as medidas de ROIC e EVA diminuirão e as metas talvez não sejam atingidas.

O que este CEO fará? Ele pensará nos seu próprio benefício ou agirá para beneficiar a empresa? Mas o pior mesmo é quando balanços e demonstrações de resultados são “fajutados” para atingir as metas…

Balance Sheet special effects

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Empresário ou Empregado – Contatos Quentes e Frios

Trabalhei vinte anos no mesmo lugar em diferentes funções. Falei “mesmo lugar”, porque a razão social da empresa mudou algumas vezes neste período. Num determinado momento, cheguei à conclusão de que minha perspectiva de crescimento e de automotivação eram pequenas naquela empresa. Então troquei de emprego, mas não deu certo e, depois de um ano, estava no mercado. Apareceram quatro propostas em duas semanas e fiz entrevistas. A economia estava aquecida, queriam desenvolver novos negócios e me ofereceram a gerência destes projetos. Tive receio em fazer uma escolha mal pensada, mas veio a crise financeira de 2008 e as negociações foram abortadas. Como já estava perto do final de ano, vi que até março do ano seguinte nada aconteceria, resolvi por em prática um velho sonho – ser meu chefe.

Aproveitei e me tornei sócio da empresa de engenharia e consultoria técnica da minha esposa. Telefonei para meus conhecidos e surgiram os primeiros contratos. O dinheiro começou a entrar e tentei criar novas opções. Listei empresas no Rio Grande do Sul, onde eu morava naquela época, que poderiam ser potenciais clientes para os serviços de consultoria que eu oferecia. A maioria das empresas não me deu retorno, outras conversavam comigo, mas não havia evolução. Os novos contratos eram firmados apenas através de indicações ou diretamente com os mesmos velhos conhecidos.

Como atrair novos clientes?

Como atrair novos clientes?

Firmei uma parceria com um amigo, colega dos tempos da engenharia química da UFRGS. Demos cursos de gerenciamento de projetos e tocamos alguns contratos juntos. Outro parceiro dele, certa vez, fez uma apresentação para nós sobre prospecção de novos clientes. Ele disse que havia dois tipos de contatos, os quentes e os frios. O grupo dos contatos quentes era formado por clientes que já haviam trabalhado com a empresa, por indicações firmes de algum cliente ou alguém da rede de relacionamento. O grupo dos contatos frios era o resto do mundo, aqueles que não temos relacionamentos pessoais e profissionais. A chance de sucesso em um contato frio é muito mais baixa, eu citaria de acordo com minha experiência alguns motivos:

– muitas vezes não batemos na porta certa na empresa. Quando isto acontece, aquele que nos atende pode não perceber o potencial da consultoria ou pode se sentir ameaçado.
– já existem relacionamentos antigos. Porque trocar alguém que trabalha para a empresa há tempo por um desconhecido? Muitas vezes existem inclusive vínculos de amizade.
– a empresa não está segura que contratar um desconhecido é a melhor opção.

Não é fácil conquistar "contatos frios"

Não é fácil conquistar “contatos frios”

Este último motivo ficou evidente em uma visita para apresentar uma consultoria para melhoria dos processos de manufatura de uma empresa. A reunião com o gerente corporativo de qualidade foi ótima, conversamos sobre diversos pontos a serem atacados e ele ficou visivelmente satisfeito com todas as respostas. Eu conhecia a empresa de consultoria que era referência naquela metodologia e minha proposta era mais flexível e competitiva. Aí veio a pergunta final:

– Vicente, quantas pessoas trabalham na tua empresa?

Minha resposta não teve floreios, mas uma meia-verdade, porque a Claudia, minha esposa e sócia, naquela época trabalhava como funcionária de uma empresa de engenharia:

– Eu e minha esposa que também é engenheira química e trabalha com projetos de engenharia.

Ele perguntou como seria iniciado o trabalho e eu sugeri que fizéssemos um contrato apenas para uma área piloto para teste. Conversamos mais um pouco e ele deu a tradicional resposta que estavam estudando as alternativas, não era certo que a empresa seguiria aquele caminho e entraria em contato se decidissem ir em frente.

Naquele dia, eu entendi claramente várias coisas:

– Eu seria contratado apenas pelos meus contatos quentes e excepcionalmente por algum contato frio.
– Eu seria contratado pelo meu conhecimento passado, não pelo meu potencial de desenvolver novas soluções a partir de aptidões não testadas e comprovadas. Isto reduziria o desafio das minhas atividades e poderia me levar, no futuro, à obsolescência.
– Como minha empresa era o exército de um homem só, havia o risco do contratante não gostar do meu serviço ou ter algum problema de relacionamento comigo. Neste caso, haveria o problema de romper o contrato e iniciar tudo do zero. Se ele contratasse uma grande empresa de consultoria, bastaria telefonar e pedir a substituição do consultor. Havia também o risco de eu ficar doente, morrer, acertar na loteria, receber uma proposta profissional maravilhosa e meu contratante ficaria no pincel…

Após dois anos trabalhando na minha empresa, me dei conta destas limitações. Neste período, desenvolvi uma cara de pau e uma insensibilidade às rejeições dos clientes, especialmente nos contatos frios. Afinal não era o Vicente que era rejeitado e sim a proposta de consultoria da minha empresa.

Por uma coincidência cósmica, pouco tempo depois, no meio de uma consultoria, recebi a ligação de um diretor da empresa onde trabalho atualmente me sondando para uma posição de gerente de projetos com novas tecnologias. Bingo! Após uns meses de conversas e negociações, fechamos o acordo. O tempo para negociação foi bom para eu encerrar os contratos ativos da minha empresa de forma correta sem pendências.

Minhas últimas mensagens valem tanto para aqueles que desejam ser os “donos do próprio nariz”, quanto para a turma da “carteira assinada”. Cultivem sua rede de relacionamentos (networking), porque ela será extremamente útil no desenvolvimento da sua carreira profissional. A propósito, quem me convidou para meu atual emprego era um contato quente.

Importante manter sua rede de relacionamentos

Importante manter sua rede de relacionamentos

Não tenham medo de tentar novas alternativas, mas se estas alternativas não forem promissoras, não hesitem em dar um passo atrás, porque não fazer o que o coração manda, apenas por orgulho pessoal, sempre será a pior alternativa.

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A Gambiarra

Na engenharia, ou em nossas vidas, muitos problemas são solucionados através de soluções técnicas provisórias, mais conhecidas como gambiarras. O problema é que muitas vezes elas não atendem os mínimos requisitos de segurança e, pior, acabam se tornando definitivas. Geralmente as gambiarras são feitas, porque seu autor não tem recursos, tempo ou disposição para buscar a solução definitiva. Deste modo, o problema é contornado sem pessoal competente, sem as ferramentas corretas, sem o material apropriado. Por outro lado, as gambiarras são também expressões de criatividade do seu autor.

"bela" churrasqueira

“bela” churrasqueira

O artista plástico e cineasta mineiro Cao Guimarães, autor das fotos deste post, já fez um filme sobre esta verdadeira instituição nacional, a gambiarra. Assista ao vídeo abaixo sobre mestres desta prática.

Na sequência, você pode ver outras fotos com gambiarras incríveis. Olhe esta tábua de carne, servindo como suporte nesta janela! Imagine esta tábua despencando do décimo andar de um prédio…

suporte "seguro" para janela

suporte “seguro” para janela

E agora você pode ver uma solução interessante, um CD usado como refletor de uma lâmpada. Ideia bem criativa…

novo uso para CD

novo uso para CD

A gambiarra ainda pode apresentar vários efeitos colaterais. Alguns “gambiarristas” passam a se orgulhar de suas criações e rejeitam as soluções convencionais. Afinal gambiarra vicia, dá prazer! Todos conhecem sucateiros que criam soluções baratas, onde segurança e eficácia são colocadas em segundo plano. No final, o barato sai caro…

Outro problema tem a ver com as restrições causadas pela falta de recursos ou de tempo, por exemplo. As gambiarras são boladas quando existe algum tipo de restrição. A situação pode melhorar, as restrições desaparecerem, mas as pessoas continuam agindo como se elas existissem. E lá vêm novas gambiarras…

Normalmente falta senso crítico para analisar a necessidade de “gambiarrar” e seus impactos sobre a segurança e a implantação de uma solução definitiva do problema.

O pior mesmo é quando a gambiarra vira uma filosofia de vida e passa a ser empregada também nas relações pessoais. Assim ao invés de resolver os problemas, são adotados subterfúgios que só geram sofrimentos futuros. As questões não são solucionadas de modo sustentável, por exemplo no âmbito familiar, e para resolvê-las são escolhidas alternativas como mudar de casa, comprar um automóvel novo, fazer uma viagem ou, muito pior, ter um filho. Gambiarras não são coisas feitas só por pobres. Todos fazem gambiarras quando não sabem como resolver um problema de acordo com as boas técnicas.

Mas, apesar de todos os pontos negativos, nós brasileiros não conseguimos viver sem gambiarra, assim, para finalizar, proponho um brinde em sua homenagem com uma cerveja bem gelada…

gambiarra_cerveja

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As Lições de Alex Ferguson

No mês de agosto, começa um dos principais campeonatos nacionais de futebol da Europa, a Premier League inglesa. Uma das maiores novidades do início desta nova temporada é uma ausência. Alex Ferguson, após quase 27 anos como treinador do Manchester United, se aposentou e não estará no banco de reservas dos Red Devils.

Alex Ferguson

Alex Ferguson

Os números de Ferguson no Manchester são impressionantes. Foram 1.500 jogos, com 895 vitórias, 13 títulos da Premier League, 5 Copas da Inglaterra, 4 Copas da Liga Inglesa, duas Champions League, uma Copa Intercontinental e uma Copa do Mundo Interclubes.

Muitas histórias já foram contadas sobre o ex-treinador do Manchester United. Uma das mais “interessantes” é sobre o controle da disciplina e respeito no grupo de jogadores, aspecto que Ferguson considerava fundamental. Ele acreditava que não havia espaço para broncas durante os treinamentos, mas no vestiário era diferente. O atacante galês Mark Hughes, o “Sparky”, que foi comandado pelo treinador entre 1988 e 1995, criou a expressão “tratamento do secador de cabelo” (hairdryer treatment) para as temíveis brocas com altos decibéis proferidas pelo seu chefe no Manchester United. Ferguson ficava cara a cara com seu jogador e gritava, seu comandado acabava com o cabelo atrás da cabeça (como se usasse um secador de cabelo).

Mark Hughes, o "Sparky"

Mark Hughes, o “Sparky”

Sobre seus métodos de disciplina Ferguson comenta:

Você não pode sempre vir e gritar e gritar. Isso não funciona. Ninguém gosta de ser criticado. Mas, no vestiário, é necessário que você aponte os erros de seus jogadores. Faço logo após o jogo para não esperar até segunda-feira, eu faço isso, e está acabado. Estou pronto para a próxima partida. Não há nenhuma vantagem em criticar sempre um jogador.

Mesmo assim ele admitiu que passava do ponto:

Eu era muito agressivo naqueles tempos, eu sou apaixonado e quero ganhar o tempo todo, mas hoje estou mais amadurecido… A idade faz isso com você e agora eu posso lidar melhor com os jogadores mais frágeis.

Anita Elberse, professora de Administração de Negócios na unidade de Marketing da Harvard Business School fez um interessante trabalho com Alex Ferguson e, no ano passado, deu uma entrevista sobre o sucesso de longo prazo do ex-treinador. Em sua opinião, este sucesso está centrado na sua vontade de desenvolver jovens talentos. Ferguson fala sobre a diferença entre “construir uma equipe e construir um clube.” Quando ele começou no Manchester United, imediatamente começou a reestruturar as categorias de base do clube. Ele também as tornou mais visíveis no clube, por exemplo, garantindo que os jogadores da base aquecessem ao lado de jogadores profissionais diariamente a fim de promover uma atitude de “um único clube”. E, mesmo no início, apesar das opiniões de muitos observadores para ser mais conservador (um comentarista de televisão respeitado disse naquela época que “não se pode ganhar nada com crianças”), ele deu aos jovens jogadores uma chance de ganhar um lugar no time principal. Muitos dos jogadores que ele desenvolveu – Ryan Giggs, David Beckham, Gary Neville, Paul Scholes – se tornaram verdadeiros destaques em sua geração, proporcionando ao clube uma base sólida.

Ryan Giggs (acima à esq.), David Beckham (acima à dir.), Gary Neville (abaixo à esq.), Paul Scholes (abaixo à dir.)

Ryan Giggs (acima à esq.), David Beckham (acima à dir.), Gary Neville (abaixo à esq.), Paul Scholes (abaixo à dir.)

A boa gestão deste processo durante um longo período, inevitavelmente, envolve cortar os jogadores mais velhos que já não podem dar uma boa resposta para a equipe, o que pode ser desgastante emocionalmente. Segundo Ferguson, “a coisa mais difícil de fazer é permitir a saída um jogador que foi um grande cara”.

Muitos outros fatores também contribuíram para o seu sucesso. Um fator particularmente impressionante foi a sua capacidade de se adaptar aos novos tempos. O mundo do futebol hoje em dia não se parece em nada com o que encontrou Ferguson quando começou como treinador no Manchester United há 27 anos. Ele adotou novas tecnologias e novas abordagens, como a contratação de cientistas do esporte na sua equipe, buscando novas formas de medir e melhorar o desempenho dos jogadores. Isso parece simples, mas se você tem sido tão bem sucedido quanto ele foi, é muito fácil ficar preso nos seus próprios caminhos.

Como muitos treinadores, Ferguson devia gerenciar para o curto prazo (durante uma partida e de jogo para jogo), médio prazo (na temporada), e longo prazo (ao longo dos anos). Estes requisitos também deveriam ser equilibrados por executivos de outras áreas, porque há uma troca constante entre a gestão do curto e longo prazo. Alex Ferguson considerou que, dentro da temporada, o truque é pensar no futuro, assumindo riscos calculados:

Eu poderia descansar jogadores chave para um jogo menos importante, mas há um elemento de risco em fazer isso, e o tiro pode sair pela culatra, mas você tem que aceitá-lo. Você tem que confiar no seu plantel.

Quando se trata de gerenciar para o sucesso em diferentes temporadas, a importância de apostar na juventude, como já foi apresentado, é crítica. Há um grande comentário de Ferguson sobre esta questão:

O primeiro pensamento para 99% dos treinadores recém-nomeados é ter certeza de que ganharão logo para sobreviver. Eles trazem jogadores experientes, muitas vezes de seus clubes anteriores. Mas eu acho que é importante construir uma estrutura para o clube de futebol, e não apenas um time de futebol. Você precisa de um alicerce. E não há nada melhor do que ver um jovem jogador atuando para sua primeira equipe.

As lições de Alex Ferguson, especialmente, em relação à importância dos objetivos de longo prazo e do apoio aos jovens talentos não valem apenas para treinadores de futebol. Muitos executivos de empresas também olham apenas o curto prazo, não apostam nos jovens, levam amigos e ex-colegas para trabalhar com eles nos novos empregos. Agindo desta forma, tanto os treinadores, quanto os executivos acreditam que garantirão o resultado do ano, ganharão suas gratificações e permanecerão nos seus cargos. Será que os clubes e as empresas terão resultados sustentáveis administrados por este tipo de treinadores e executivos?

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O Passado e o Futuro

No ótimo filme de Woody Allen, Meia-Noite em Paris, o personagem principal Gil Pender – interpretado por Owen Wilson, cita uma frase do escritor americano William Faulkner:

– “O passado não está morto! Na verdade, nem é mesmo passado.”

A frase cai como uma luva para este filme. Por incrível que pareça, os detentores do patrimônio do escritor processaram a Sony por violação de direitos autorais…

midnight_in_paris

No filme, Gil Pender sonha em morar em Paris nos anos 20, época na qual seus escritores favoritos viveram. Na sua viagem ao passado, conhece e se apaixona por Adriana, interpretada por Marion Cotillard, mas ela também deseja viver no seu passado, a Belle Époque parisiense, caracterizando uma sequência de “Síndrome da Época de Ouro”.

Quem já não disse que no tempo da sua juventude era melhor? Ou ninguém faz mais músicas ou filmes como no seu tempo? Nada representa melhor esta postura do que a extraordinária música de Belchior “Como Nossos Pais”, imortalizada por Elis Regina. Assista ao vídeo abaixo.

Este trecho da música que transcrevi abaixo descreve esta postura de apego ao passado.

Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como Os Nossos Pais…

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
As aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou inventando…

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…

Considerando que “o novo sempre vem”, a seguir apresento algumas “obviedades” sobre passado e futuro.

Não é possível criar um novo futuro com base apenas no passado. Seria como dirigir um automóvel, olhando apenas para o espelho retrovisor.

Por outro lado, corremos risco de fracassar, se tentarmos criar um futuro sem entender criticamente o passado. Neste caso, poderemos repetir os mesmos erros. Como eu sempre digo, errar faz parte da vida, mas vamos ser originais e errar de forma criativa.

O que funcionou no passado, talvez não funcione no futuro. O resultado final será no máximo igual. Afinal o mundo evoluiu!

O contrário também vale! Não podemos concluir que algo não funcionará no futuro, porque não funcionou no passado. Afinal agora o mundo pode estar preparado para esta novidade…

Finalmente, devemos sempre planejar o futuro, mas o imponderável ou o inesperado pode derrubar nosso planejamento. Nestas horas, devemos manter nossas mentes abertas, porque muitas vezes as oportunidades que aparecem são melhores do que nosso plano original.

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Obama e o Dilema Capitalista

Nesta semana, a principal notícia foi a reeleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo. Um dos pontos mais importantes debatidos, durante toda a campanha, foi a lenta recuperação da economia americana. Na segunda-feira, li um artigo muito interessante no The New York Times escrito por um professor de Harvard, Clayton Christensen, que iniciava com a seguinte constatação:

– Independente do que acontecerá no Dia das Eleições, os americanos continuarão perguntando: quando a economia melhorará?

Um dos recados transmitidos é que a influência do presidente eleito, Obama ou mesmo Romney, na retomada da economia seria pequena. Você pode ler o artigo na íntegra, clicando no link abaixo.

http://www.nytimes.com/2012/11/04/business/a-capitalists-dilemma-whoever-becomes-president.html?pagewanted=all

Romney e Obama

Um dos debates entre Romney e Obama

Segundo o autor, existem três tipos de inovação:

  1. Inovação capacitante (“empowering innovation”)
  2. Inovação de sustentação (“sustaining innovation”)
  3. Inovação de eficiência (“efficiency innovation”)

O primeiro tipo de inovação supre uma demanda do mercado ainda não atendida. Ela transforma produtos caros disponíveis apenas para um pequeno grupo de pessoas em produtos mais baratos para a maioria da população. Ele cita os exemplos do Ford Modelo T e dos computadores pessoais. Esta forma de inovação cria empregos e usa capital para estruturação da nova cadeia produtiva. Ou seja, estimula o crescimento econômico.

Linha de produção do Ford modelo T

Linha de produção do Ford modelo T

A inovação de sustentação substitui os velhos produtos por novos modelos. Por exemplo, os carros híbridos possuem tecnologia mais avançada do que os convencionais, entretanto o número total de automóveis vendidos não crescerá devido à sua introdução no mercado, porque o público-alvo é exatamente o mesmo dos modelos tradicionais. Esta forma de inovação, apesar de criar poucos empregos novos, mantém o dinamismo da economia.

Automóvel híbrido Toyota Prius

Automóvel híbrido Toyota Prius

A inovação de eficiência, como o próprio nome sugere, busca a redução dos custos de geração de um produto ou serviço. Assim o número de empregos sempre é reduzido com a aplicação deste terceiro tipo de inovação. Por outro lado, a empresa recupera o capital investido que poderá ser o combustível para o próximo ciclo de inovação capacitante.

Estas três formas de inovação devem operar de modo cíclico, onde as inovações capacitantes são essenciais, porque criam novos consumos e mais empregos do que as inovações de eficiência conseguem eliminar posteriormente.

Segundo Christensen, nos últimos 150 anos, a economia americana operou desta forma e conseguiu manter-se distante dos longos períodos de recessão. De 1948 a 1981, o nível de emprego anterior à recessão era recuperado em apenas 6 meses. Na recessão de 1990, demorou 15 meses; na de 2001, 39 meses. E agora já são 60 meses, lutando para voltar ao nível anterior a esta recessão.

O que está havendo? O autor explica que as inovações de eficiência estão gerando capital que é reinvestido em novas inovações de eficiência ao invés das capacitantes. Desta forma, gera-se mais capital, mas não são gerados novos empregos. O capitalismo trata com carinho os bens escassos e “despreza” os bens abundantes. Hoje capital não representa mais uma restrição, porque existem abundantes linhas de financiamento com baixas taxas de juros no mundo. O problema é que os líderes das empresas estão seguindo fielmente os ensinamentos que receberam no passado. Ao analisar a taxa interna de retorno (I.R.R. em inglês) de dois investimentos, uma inovação capacitante com retorno em 8 anos e uma inovação de eficiência que retorna na metade deste período, a opção pelo ganho mais fácil e garantido tem sido a escolhida na grande maioria dos casos.

Eu diria que os capitalistas se viciaram no capital. Ou, em inglês, deixaram de ser capitalist e viraram capital addict.

Dilema capitalista

O Dilema Capitalista

O autor sugere que existe um problema educacional nos Estados Unidos, porque as habilidades para a criação de inovações capacitantes estão escassas atualmente. As universidades deveriam treinar os estudantes para estes tipos de desenvolvimentos, passando a mirar no longo prazo. Em paralelo, o governo americano deveria criar um sistema para incentivar este tipo de investimento.

Clayton Christensen

Clayton Christensen

O Brasil experimentou um crescimento baseado no aumento do consumo interno nos últimos anos. Este modelo parece ter se esgotado. Parece que este artigo dá uma pista sobre o que deve ser feito para que nosso país dê um novo salto de desenvolvimento, mas para que isto ocorra, investimentos em inovação e educação são fundamentais.

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O Efeito Lúcifer – O Homem é o Homem e sua Circunstância (parte 3)

Nas duas primeiras partes, apresentei os experimentos de Stanley Milgram e Philip Zimbardo sobre a obediência cega. Agora, na parte final deste artigo, comentarei o “Efeito Lúcifer” criado por Zimbardo. Abaixo está apresentada a gravura de Gustave Doré com a representação da história da expulsão do anjo Lúcifer do Paraíso.

Paraíso Perdido de Gustavo Doré

Paraíso Perdido de Gustavo Doré

Vou iniciar este post com um pequeno vídeo para descontrair um pouco antes do assunto sério. O Candid Camera foi pioneiro nas “pegadinhas” na televisão e neste vídeo aparece a pressão do grupo sobre os indivíduos. Veja e dê boas risadas.

https://youtu.be/BgRoiTWkBHU

Em 2003, o secretário de defesa americano, Donald Rumsfeld, declarou que os fatos ocorridos na prisão de Abu Ghraib foram resultado de “umas poucas maçãs podres” no turno da noite. Zimbardo considerou que existem três categorias para explicar os fatos ocorridos na prisão iraquiana:

– disposicional – originadas de dentro de cada indivíduo, de cada soldado, as chamadas “maçãs podres”;
– situacional – originadas no entorno dos indivíduos, a prisão, o “barril de maçãs ruim”;
– sistêmica – são as influências mais amplas, poderes econômicos, políticos e legais, os “fabricantes dos barris de maçãs ruins”.

Uma das fotos da Prisão de Abu Ghraib

Zimbardo considera que a linha entre o bem e o mal é muito tênue e permeável. Eu gostaria de salientar que o mal não é um país, um povo ou uma raça. O mal está nos pensamentos e atitudes de cada indivíduo, independente de nacionalidade ou religião. Ele listou sete processos sociais que facilitam o escorregão para o mal:

– displicentemente dar o primeiro passo;
– desumanização dos outros;
– anonimato;
– responsabilidade individual difusa;
– obediência cega à autoridade;
– conformismo não crítico às regras do grupo;
– tolerância passiva ao mal pela inação ou indiferença.

Não esqueçam que o primeiro choque do experimento de Milgram foi de apenas 15 volts. Quem apertou o botão deve ter pensado que não havia problema, porque o “aluno” não deve ter sentido nada… Como diz Zimbardo, “esta é a chave, todo o mal começa com 15 volts”.

Por incrível que pareça, os experimentos que descrevi nos dois posts anteriores passaram pelos sete processos… A responsabilidade difusa, a obediência cega e o conformismo passivo são pontos de partida para uma série de comportamentos errados, principalmente em situações novas ou não familiares.

Assista à palestra de Zimbardo sobre o Efeito Lúcifer.

Zimbardo conclui que a mesma situação pode inflamar a imaginação para o mal, também pode inspirar heroísmo em outros, mas o pior, em minha opinião, é que a maioria das pessoas é culpada pelo mal da inação. Assim ele recomenda que nossos filhos sejam criados para serem heróis. Quando falamos em heróis pensamos em super-herois com superpoderes ou heróis modernos de carne e osso como Mahatma Gandhi, Martin Luther King ou Nelson Mandela. Apesar destes três últimos homens terem assumido enormes sacrifícios pessoais em nome da sociedade, buscamos herois comuns do dia a dia. Pessoas que não aceitam passivamente as injustiças denunciam e lutam para mudar o mundo que os cerca. Pode ser em casa, no trabalho, na escola ou na sua comunidade.

Para ser um heroi, você deve ser divergente, deve agir quando outras pessoas são passivas. Deve pensar de modo sociocêntrico ao invés de egocêntrico. O mais interessante é que as conclusões e recomendações de Zimbardo vão ao encontro do filósofo espanhol José Ortega y Gasset. Ele é o autor da frase que utilizei como título desta série de posts:

– “O homem é o homem e a sua circunstância”.

Filósofo espanhol José Ortega y Gasset

Para Ortega y Gasset, não é possível considerar o ser humano como sujeito ativo sem levar em conta simultaneamente tudo o que o circunda, incluindo o contexto histórico em que se insere. A Educação se transforma em instrumento para que cada um possa conscientizar-se de sua circunstância, relacionar-se com ela e superá-la. “Se não a salvo, não me salvo”, conclui o filósofo espanhol.

Sempre uso como exemplo o caso das relações entre árabes e judeus. No Brasil, não ouvimos falar de conflitos, porque o contexto não estimula violência entre estas duas etnias no nosso país. Agora se transferirmos algumas pessoas daqui para o Oriente Médio, a situação muda. O meio influencia decisivamente o comportamento dos indivíduos.

Amizade entre meninos árabe e judeu

Voltando para o mundo empresarial, muitas iniciativas são bloqueadas pela cultura interna. Grandes corporações muitas vezes tem responsabilidade individual difusa, obediência cega à autoridade, conformismo não crítico às regras e tolerância passiva ou indiferença aos verdadeiros problemas da empresa. Isto pode ser resumido por frases como:

– Esta não é minha responsabilidade!
– Eu estou fazendo a minha parte…
– Temos que manter o foco naquilo que “realmente” é importante!

Pensando bem, isto não acontece apenas em grandes corporações, pode acontecer em qualquer lugar, até mesmo nos nossos lares…

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O Efeito Lúcifer – O Homem é o Homem e sua Circunstância (parte 2)

Na primeira parte, comentei o experimento de Stanley Milgram sobre a obediência, no qual pessoas davam choques de até 450 volts em desconhecidos. Desta vez, o experimento da prisão de Stanford, criado por Philip Zimbardo em 1971, será nosso assunto principal.

Phil Zimbardo em 1971

Zimbardo recrutou 24 jovens voluntários do sexo masculino que foram divididos em dois grupos: doze seriam guardas e os demais presos. Ele transformou algumas salas do subsolo do Departamento de Psicologia da renomada Universidade de Stanford em um presídio, instalando grades no lugar de portas. O experimento deveria durar duas semanas e cada voluntário receberia US$ 15 por dia, o equivalente a US$ 85 em 2012.

Os “guardas” usavam uniformes militares, óculos escuros e cassetetes de madeiras e receberam instruções que deveriam fazer de tudo para manter a ordem com exceção do uso de violência física. Os “presos” usavam camisolões compridos, sem roupa de baixo, tocas de nylon na cabeça para simular a raspagem dos cabelos e tiveram seus nomes trocados por números. O “superintendente” do presídio era o próprio Zimbardo.

Após o primeiro dia calmo, estourou uma rebelião no segundo dia. Os guardas passaram a humilhar os presos das mais diferentes formas, inclusive sexual. Obrigavam os presos a fazerem longos períodos de exercícios forçados. Cortavam refeições e retiravam os colchões dos presos com mau comportamento. Um dos presos teve um colapso nervoso e foi substituído por outro jovem que estava na lista de espera.

Stanford Prison Experiment

Algumas fotos da Prisão de Stanford

Este novo preso, o número 416, se revoltou contra os maus tratos sofridos e iniciou uma greve de fome. Os guardas o trancaram em uma pequena peça no escuro (solitária) por algumas horas e depois tentaram forçá-lo a comer, sem sucesso.

Muitos guardas se ofereciam para fazer horas extras não remuneradas para “ajudar” a manter a ordem na prisão. No turno da noite, alguns deles achavam que as câmeras não filmavam no escuro e protagonizaram várias cenas de humilhação grave contra os prisioneiros.

No sexto dia, Zimbrado pediu que uma colega pesquisadora, Christina Maslach, avaliasse o andamento do experimento. Ela ficou horrorizada com as condições e recomendou o final imediato das atividades. Zimbardo, que estava se sentindo envolvido emocionalmente pela situação, concordou. Assim o que deveria levar duas semanas, durou apenas seis dias.

A própria Drª Maslach avaliou os participantes do experimento e concluiu que um terço dos guardas apresentaram fortes tendências sádicas, enquanto que os demais permaneceram omissos. A grande maioria dos presos aceitou passivamente as humilhações impingidas pelos guardas.

Zimbardo chegou à conclusão de que a situação é mais importante do que a personalidade individual para a determinação do comportamento das pessoas. Os guardas uniformizados ajudaram a construir uma autoridade inquestionável sobre os presos que a legitimaram através da aceitação passiva. Estes resultados são semelhantes aos obtidos por Milgram em seu experimento.

A situação ocorrida neste experimento em Stanford guarda uma incrível semelhança com os lamentáveis fatos praticados por militares americanos na prisão iraquiana Abu Ghraib (foto abaixo). Parece que lá também o ambiente estimulou comportamentos reprováveis.

Foto de tortura na Prisão de Abu Ghraib

Se você quiser saber mais sobre este experimento, veja este documentário preparado pela BBC. No último post desta série, finalmente falarei sobre o Efeito Lúcifer e como evitá-lo.

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O Efeito Lúcifer – O Homem é o Homem e sua Circunstância (parte 1)

Na semana passada, participei de um programa de treinamento na renomada Harvard Business School sobre a construção de novos negócios em organizações consolidadas. Entre os vários estudos de casos e discussões sobre as diversas dimensões que influenciam este assunto, achei muito interessante a aula sobre cultura empresarial.

A ideia geral é que o contexto influencia decisivamente na atitude das pessoas, determinando seus comportamentos. Se a empresa tem uma forte cultura tradicional e anti-inovadora, os comportamentos de seus colaboradores seguirão esta cultura, mesmo que suas personalidades sejam distintas dela. Ou seja, se a empresa quer inovar, tem que primeiro ajustar sua cultura. O instrutor desta aula comentou rapidamente o trabalho de dois pesquisadores, Stanley Milgram e Phil Zimbardo. Suas experiências me causaram um impacto no meu entendimento sobre as pessoas. Usei o tempo de espera nos aeroportos na volta para estudar mais sobre os métodos e conclusões dos experimentos destes dois psicólogos.

Stanley Milgram

Stanley Milgram

O teste de Milgram foi realizado no início dos ano 60, inicialmente na Universidade de Yale. Sob a falsa alegação de que participariam de um teste sobre melhoria de memória, voluntários foram atraídos e selecionados. Na verdade o teste era sobre a obediência das pessoas em relação a ordens e apenas uma pessoa era testada (o “professor”), as outras duas (o “experimentador” e o “aluno”) eram atores. A figura abaixo apresenta o esquema básico do experimento.

Experimento de Milgram

O “professor” (T) lia uma série de pares de palavras, depois dizia uma destas palavras e as opções que completariam o par. O “aluno” (L) escolhia uma das opções. Se estivesse certa, o teste seguiria normalmente. Em caso de erro o “professor” aplicaria um choque elétrico no aluno, antes de prosseguir a leitura. O primeiro choque era de 15 volts, cada choque na sequência era acrescido de 15 volts até chegar a incríveis 450 volts! É importante salientar que ninguém sofria os choques, porque o “professor” não tinha contato visual com “aluno” que era substituído por uma gravação.

Num certo momento, após um choque, o “aluno” gritava de dor e pedia para sair. Os “professores” se viravam para o “experimentador” (E) e pediam para encerrar o teste, mas este ordenava a sua continuação, argumentando que o “aluno” não corria risco e que o teste era importante. Em um dos experimentos,  o “professor” realmente sofria a cada resposta errada do “aluno” e disse para o “experimentador” que não queria ser o responsável pela morte do “aluno”. O “experimentador” repetiu as ordens e completou que era o responsável pela integridade do “aluno”. Como não tinha mais responsabilidade, este “professor” continuou o teste, mesmo quanto o “aluno” parou de responder ou reclamar, ele prosseguiu com os choques até repetir três vezes os 450 volts, quando o teste foi finalmente encerrado.

No final, o teste era explicado para o “professor” e um ambiente mais leve era criado para atenuar o clima pesado durante o experimento. Por incrível que pareça dois terços dos testados foram até o final, conforme o gráfico apresentado abaixo. Ou seja, deram três choques de 450 volts! Nenhum dos testados, mesmos os que pararam antes, insistiu para ver o real estado dos “alunos”.

Resultado do Experimento de Milgram

Fica claro que em uma situação completamente fora do normal e do controle, ao receber as ordens, foi mais cômodo segui-las mesmo não concordando com a ação realizada. Ficou ainda mais fácil, quando a responsabilidade foi completamente removida dos ombros. Como se fosse aceitável puxar o gatilho do revólver e matar alguém, só porque alguém assumiu toda a responsabilidade.

Estas situações podem acontecer de modo mais sútil. O gerente ordena uma ação que você não concorda, mas realiza sem questionar. Esta forma é o popular “manda quem pode e obedece quem tem juízo”. Será que tem mesmo?  Outra, mais sútil ainda, é a do “expert” profundo conhecedor de determinada técnica. Ele fala alguma coisa sobre este assunto e todos concordam sem pensar ou questionar. Como se existisse alguém infalível…

Se você quiser saber mais sobre o experimento de Stanley Milgram, assista ao trecho do documentário abaixo. No próximo post, falarei sobre o Experimento da Prisão de Stanford desenvolvido por Phil Zimbardo.

 

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BR-116 – Sem Plano de Contingência na Grande Porto Alegre

Durante os últimos anos, os moradores da Grande Porto Alegre percebem o agravamento da situação do trânsito na BR-116 no trecho da capital gaúcha até Novo Hamburgo. Os congestionamentos são frequentes mesmo fora dos horários do rush. A rodovia encontra-se completamente saturada.

Congestionamento diário na BR-116

Veículos acidentados, ou apenas com panes mecânicas, são retirados da rodovia após longo período de espera, agravando ainda mais a situação. O Jornal NH descreve um acidente que exemplifica estas ocorrências rotineiras.

No dia 8 de abril, a demora para remoção de uma carreta que capotou na BR-116, em Canoas, provocou oito quilômetros de congestionamento. O veículo tombou na primeira hora da madrugada, mas a retirada só ocorreu às 9 horas, e a liberação total, às 11 horas.

Em agosto de 2009, uma carreta carregada com adesivo PVA (cola branca para papel ou madeira) tombou na rodovia e a demora para removê-la causou um engarrafamento de doze quilômetros no sentido interior-capital. A foto deste acidente pode ser vista abaixo.

 

Finalmente anuncia-se que procedimentos mais ágeis serão adotados para a remoção de veículos acidentados e um moderno sistema de monitoramento entrará em operação nos próximos meses. Por outro lado, gostaria de ouvir das autoridades responsáveis que existem planos de contingência para desvio do trânsito devido a bloqueios em pontos críticos da rodovia.

Parece que os motoristas estão expostos à própria sorte. A única ajuda vem de emissoras de rádio que mantém serviço de monitoramento das condições desta rodovia.

Os planos de contingência ou “planos B” descrevem as medidas a serem adotadas por uma empresa para fazer com que seus processos vitais voltem a funcionar plenamente, ou num estado minimamente aceitável, o mais rápido possível, evitando assim uma paralisação prolongada que possa gerar maiores prejuízos. A elaboração do plano nas empresas normalmente contém as seguintes etapas:

– identificação dos processos da empresa;

– avaliação dos impactos dos processos no negócio;

– identificação de todos os processos críticos para a sobrevivência da organização;

– identificação dos riscos e definir cenários possíveis de falha para cada um dos processos críticos;

– listagem das medidas a serem postas em prática em caso da ocorrência de falhas;

– definição das ações necessárias para operacionalização das medidas;

– estimativa dos custos de cada medida;

– definição da forma de monitoramento após a ocorrência da falha;

– definição dos critérios de ativação do plano;

– identificação do responsável pela ativação do plano;

– identificação dos responsáveis pela execução do plano de contingência;

– definição da forma de reposição do negócio à situação habitual.

A BR-116 deveria ser gerenciada de modo que acidentes e grandes congestionamentos não sejam encarados como ocorrências normais. Na verdade, são desvios da normalidade que devem ser prontamente atacados. As responsabilidades devem ser definidas claramente, senão corremos o risco de ficar à mercê da responsabilidade difusa entre o DNIT e a Polícia Rodoviária Federal.

Os investimentos em viadutos e novas vias alternativas são importantíssimos, mas nenhuma empresa resolve seus problemas apenas adquirindo novos ativos, gerenciá-los de forma competente é fundamental para a sustentabilidade do negócio.

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Por que não gostamos do Óbvio? Adams gostava…

Outro dia, estava lendo alguns artigos em um grupo de discussão do LinkedIn. Havia um artigo com alguns comentários negativos sobre como fazer avaliação de desempenho. Basicamente colocavam que o autor disse apenas o óbvio e que jamais contratariam a sua consultoria. O responsável pela postagem do vídeo ficou indignado com os comentários e teve uma reação forte. Fiquei curioso e cliquei no link. Era um pequeno vídeo de cinco minutos no qual um consultor de RH falava sobre a importância, os cuidados e a preparação para uma avaliação de desempenho.

Na verdade, não havia nenhuma novidade na fala do consultor, mas se todos se preocupassem com aquelas obviedades comentadas por ele no vídeo, certamente o ambiente nas empresas seria muito melhor. Por que não gostamos do óbvio e vamos atrás do complexo e do sofisticado? Soluções complexas mostram nossa inteligência e a dependência da empresa em relação ao nosso conhecimento. Afinal todos entendem as soluções simples e acham que também poderiam tê-las encontrado.

Um pequeno livro que trata deste assunto é Adams Óbvio de Robert R. Updegraff. O autor escreveu o conto sobre um publicitário em 1916. Você pode pensar que um livro de quase cem anos deve estar completamente ultrapassado, mas a sua mensagem permanece atual.

Não devemos confundir o óbvio com o simplório. O óbvio praticado por Adams era resultado de observação atenta e análise detalhada, não era um simples chute ou o exercício de “achologia”. 

O autor, vários anos após a publicação, reconheceu que existiam barreiras para a implantação de soluções óbvias, porque “o óbvio tende a ser tão simples e comum, que não tem apelo à imaginação”. Ele desenvolveu cinco maneiras para testar ideias e verificar se são realmente óbvias: 

  1. A solução, quando encontrada, será óbvia!
  2. Esta solução é compatível com a natureza humana?
  3. É fácil colocar a ideia no papel?
  4. Ela “explode” na cabeça das pessoas?
  5. Devemos reconhecer o momento certo de implementar a ideia!

Quem não teve estas experiências de “explosões” mentais ao termos uma ideia deste tipo? Realmente é uma sensação ótima! Pensamos “como não tivemos esta ideia antes”? Por outro lado, devemos cuidar para não cairmos na armadilha de nos apaixonarmos pela solução do problema antes de analisá-la com a profundidade necessária.

O livro pode ser encontrado em inglês na Amazon, entretanto existe uma versão traduzida para o português e para baixá-la basta clicar neste link.

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O Projeto não Deve Começar pela Solução do Problema

Quantas vezes não passamos por situações como esta que descreverei a seguir? O gerente de produção entra na sala do gerente de engenharia e diz:

– Precisamos comprar uma máquina nova. As três que trabalham em paralelo hoje não darão conta da produção prevista pela área comercial.

O gerente de engenharia pode simplesmente abrir uma base de dados e digitar o título do novo projeto:

– Aquisição e instalação da máquina 4 da linha de produção X.

Na sequência o gerente de produção deveria digitar a justificativa, benefícios, prazo, etc.

Comprar e instalar um novo equipamento em uma fábrica existente que não pode parar, geralmente, não é uma tarefa simples ou barata. Talvez nem seja esta a melhor alternativa, pois, na verdade, o título do projeto deveria ser:

– Aumento da produção da Linha X em 30%.

Neste caso, as possibilidades de análise seriam mais amplas. Poder-se-ia começar pelo cálculo da Eficiência Geral do Equipamento (OEE em inglês).

Assim estaríamos levando em consideração três aspectos da operação dos equipamentos atuais:

– Disponibilidade – setups, quebras, manutenções não-previstas, falta de matéria prima;
– Desempenho – pequenas paradas, redução de velocidade;
– Qualidade – retrabalhos, rejeitos, sucatas.

A figura abaixo apresenta um exemplo.

Cálculo da Eficiência Geral do Equipamento

Neste exemplo, a disponibilidade do equipamento é de 80% devido às manutenções imprevistas, a produção média horária é de 70% da capacidade nominal provada do equipamento e o índice de produto dentro da especificação é de 90%. A expressão matemática que calcula a OEE está apresentada abaixo:

OEE % = [Disponibilidade %] x [Desempenho %] x [Qualidade %]

No nosso exemplo, a OEE seria de aproximadamente 50%. Ou seja, para aumentar em 30% a produção não deve ser necessário investir em um novo equipamento, pode-se atingir ao objetivo trabalhando na melhoria destas três dimensões apresentadas acima: disponibilidade, desempenho e qualidade.

Mas, muitas vezes, não é fácil mudar a cabeça do solicitante de um novo projeto, pois ele está convicto que esta é a forma de solucionar um determinado problema. O que podemos fazer nesta hora. Existem diferentes técnicas para quebrar as barreiras. Uma das mais simples e poderosas é a dos “5 porques”.

Nossos filhos praticam a técnica dos “20 porques” por vezes com o objetivo de atrasar o início de uma tarefa doméstica.

Nosso objetivo, ao aplicar esta técnica, é chegar à causa raiz, mas cuidado com as respostas circulares…

Abaixo tem a aplicação da técnica relativa ao exemplo desenvolvido neste post.

P1.  Por que devemos comprar mais uma máquina?
R1. Porque nossa produção atual está abaixo das necessidades da área comercial.

P2.  Por que a produção está abaixo do necessário?
R2. Porque não conseguimos trabalhar na capacidade nominal dos equipamentos.

P3.  Por que não se consegue trabalhar na capacidade nominal?
R3. Porque aumentam as quebras e o percentual das peças fora de especificação.

Nem chegamos à quinta pergunta e já temos boas informações para iniciar a investigação. O próximo passo é estratificar as causas e determinar a importância de cada uma delas. Um Diagrama de Pareto é uma ferramenta simples e prática para priorizar as principais causas.

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As Quatro Fases da Formação da Equipe de Projeto

Para executar um projeto com sucesso é fundamental a criação de uma equipe que trabalhe de forma harmoniosa sem lacunas técnicas ou gerenciais. Todos concordam com esta afirmação, entretanto normalmente o time formado não é o ideal. Quantas vezes já fomos chamados na sala do chefe para receber a notícia que um funcionário da empresa vai ser deslocado para o projeto que lideramos? E existem casos que este colega apresenta dificuldades de relacionamento e gerentes de vários setores da empresa não querem colocar o “indivíduo” nas suas equipes. Como ninguém o quer ou tem coragem de demiti-lo, a “solução” é encostá-lo em um projeto.

E este é apenas o início. Depois de formar a equipe a diversão só aumenta. Existem conflitos e disputas de “beleza”. O gráfico apresentado abaixo é muito interessante.

 

Como podemos ver, ao invés de um grupo de trabalho, passamos a ter um pseudo-time com desempenho inferior à soma dos desempenhos individuais anteriores. Muito tempo é perdido com especulações de como o projeto vai ser gerenciado e quais serão as responsabilidades de cada membro da equipe.

Nesta etapa de formação temos as seguintes características:

– ambiente agitado e confuso;
– objetivos, responsabilidades e canais de comunicação nebulosos;
– relacionamentos superficiais e fraco comprometimento.

Temos, na sequência, potencialmente um time, mas os conflitos devem ser atacados de frente pelo gerente sob pena de gerar problemas de solução muito complexa. Em muitos casos, as vaidades superam as metas do projeto. Dependendo da situação, a saída pode passar pela substituição de alguns membros da equipe.

Nesta etapa de turbulência, encontramos:

– ambiente conturbado por conflitos e ataques;
– confronto com o líder, com resistências e desistências;
– “panelinhas” e dificuldades de entendimento.

Se os conflitos forem solucionados, as responsabilidades e metas claramente definidas, chegaremos a um time de verdade.

Para um grupo trabalhar realmente como uma equipe, devemos passar pela normatização:

– ambiente de coesão com padrões de comportamento e processo de entendimento;
– identificação dos problemas importantes;
– resolução de conflitos.

O sonho, ou utopia para alguns, é o time de alto desempenho. Os membros da equipe criam relações de interdependência genuínas, onde cada membro apoia o colega.

Se chegarmos à etapa de alto desempenho, teremos:

– ambiente cooperativo;
– articulação entre os componentes;
– criatividade e flexibilidade.

O gerente de projeto deve estar consciente que o sucesso do empreendimento passa pelas pessoas. A evolução da equipe depende da sua atuação. Se ele agir como um avestruz, enterrar a cabeça no chão para não ver os problemas, eles poderão assumir uma proporção muito grande para serem resolvidos apenas com bate-papos. A substituição de membros da equipe, incluindo o próprio gerente, pode ser imperiosa.

Gerente Avestruz

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A Caça aos Culpados

Um processo praticado em muitas empresas é a chamada caça aos culpados, quando alguma coisa sai diferente do planejado. Nestes casos, temos uma nova máxima:

– Errar é humano. Perdoar não é a política da companhia.

Nestas empresas, ser escalado para fazer parte do time de um projeto normalmente é visto como um fardo pesado, porque os resultados sempre ficam muito aquém do prometido. E como sempre a diretoria pede um nome para imolar, lá vai nosso bode expiatório…

Abaixo está apresentada a clássica figura das seis etapas de um projeto.

Fases-Projetos

Segundo o Estudo de Benchmarking em Gerenciamento de Projetos no Brasil em 2008 do PMI, 62% dos projetos não cumprem os prazos estabelecidos. As principais causas para os atrasos encontradas neste estudo estão listadas abaixo:

– indefinições ou mudanças no escopo;
– problemas de comunicação;
– má avaliação dos riscos;
– recursos humanos insuficientes;
– concorrência entre o dia-a-dia e o projeto.

Normalmente o problema não está materializado em uma única pessoa, mas sim no processo de execução dos projetos da empresa. Algumas das principais características destas empresas estão apresentadas abaixo:

– mudanças frequentes de prioridades;
– descrédito no planejamento;
– informalidade excessiva;
– indefinição das responsabilidades;
– falta de comprometimento e postura reativa dos funcionários;
– visão de curto prazo, centrada apenas no resultado do mês;
– falta de abertura para discussão;
– elevado turnover (rotatividade de funcionários).

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O importante é achar um culpado…

Para quebrar este círculo vicioso, a mudança deve começar pela alta administração. Ela deve se dar conta do que está ocorrendo e investir em treinamento e na melhoria do clima organizacional. Este não é um processo rápido, exige muita disciplina. Pode demorar algum tempo para a colheita dos primeiros frutos, mas uma base sólida para a obtenção de resultados sustentáveis será construída a partir deste ponto.

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Os Projetos são Apenas Meios para Atingir os Objetivos Estratégicos

No sábado passado, estive em Caxias do Sul no IV Ciclo de Palestras em Gestão de Projetos da Serra Gaúcha promovido pelo PMI-RS. Na ocasião, apresentei a palestra “Atingindo Objetivos Estratégicos com a Gestão de Projetos”.

O interesse na área de gestão de projetos tem crescido exponencialmente nos últimos tempos. Todas as empresas querem atingir melhores resultados nos seus projetos. O não-cumprimento nos prazos e orçamentos torna-se um pecado cada vez mais mortal no mundo dos negócios.

Preferi enfatizar, na minha apresentação, que o momento da escolha dos projetos é fundamental para a sustentabilidade da empresa. Tudo deveria se originar no Planejamento Estratégico. A definição básica se refere aos valores, à missão e à visão da empresa.

 

Os valores são as balizas éticas e morais da empresa. São seus princípios e todos os funcionários devem segui-los.

A missão é o propósito da empresa. Apresenta claramente os produtos ou serviços entregues ao mercado, clientes-alvos, diferenciais competitivos e cobertura geográfica. A missão nos dá o foco.

A visão nos diz onde a empresa deseja chegar no futuro. A visão é a “bússola”.

Com base na missão e na visão, a empresa deve definir qual é o seu posicionamento no mercado. Deve entender o ambiente em que está inserida, considerando aspectos como mercado alvo, concorrência, estratégias de marketing e canais de vendas.

Com base nestas definições são elaborados os objetivos estratégicos da empresa para os próximos anos. Quatro áreas devem ser cobertas com metas mensuráveis:

– financeira;
– clientes;
– processos internos;
– aprendizado e crescimento.

Na sequência, os objetivos são desdobrados em estratégias. Se o objetivo financeiro for aumentar em 15% o faturamento líquido da empresa, poderemos ter as seguintes estratégias:

– aumentar o faturamento dos clientes atuais em 5%;
– se tornar o líder no mercado do interior de São Paulo;
– aumentar em 20% o número de novos clientes.

As estratégias ainda não nos dizem “como fazer”, e sim “o que fazer”. O plano de ações está relacionado às estratégias e estas, sim, explicam “como fazer”. No exemplo acima, para se tornar líder no mercado do interior de São Paulo, poderia haver o seguinte plano de ações:

– aumentar em 30% a capacidade da planta de Campinas;
– participar das feiras regionais;
– implantar sistema de telemarketing ativo;
– colocar representante novo para atender o oeste paulista.

Este é o momento em que os projetos estratégicos da empresa deveriam nascer…

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Email: Aliado ou Inimigo?

Email é uma excelente forma de comunicação para trocar informações durante um projeto. Por outro lado, esta ferramenta pode causar grandes problemas, se for mal utilizada.

As mensagens eletrônicas deveriam ser usadas com muito cuidado. Quando conversamos por telefone com alguém, podemos ouvir sua voz, perceber seu estado de espírito e esclarecer imediatamente quaisquer dúvidas. Melhor ainda se estivermos dialogando pessoalmente, pois, além de ouvir a voz, veremos o rosto e os gestos. Ficará ainda mais fácil compreender as intenções do interlocutor.

Email não tem rosto ou voz. Fica muito difícil sentir a emoção que o seu emissor estava submetido. Isto pode causar erros de interpretação. Imagine esta frase:

– Você pode detalhar mais este orçamento?

Quais das carinhas da figura abaixo você imagina que expressaria melhor a emoção do emissor do Email ao redigi-lo?

O recebedor da mensagem pode achar que o emissor foi agressivo e estava desconfiado da precisão do orçamento preparado por ele.  Na verdade, o emissor apenas desejava que os itens fossem mais bem detalhados, porque ele precisava desta informação para elaborar o cronograma financeiro do projeto.

Recomendo que o emissor da mensagem releia cuidadosamente o texto para verificar se não pode haver outra interpretação além da desejada. Por outro lado, o destinatário não deve levar para o lado pessoal. Se houver alguma dúvida, deve ser imediatamente esclarecida.

Além desta limitação, o Email deve ser mandado apenas para os diretamente envolvidos. Aquelas discussões intermináveis com réplicas e tréplicas normalmente não colaboram para encontrar a melhor solução para um problema. O resultado é a explosão da caixa de entrada com mensagens que não interessam a vários destinatários.

 

Temos ainda aquelas cópias “bcc” ou “cco”. Discuto, muitas vezes, a ética de usar este recurso de copiar alguém sem o conhecimento do destinatário da mensagem.

Sempre gosto de lembrar que o Email pode se tornar público. Controlamos quem são os destinatários da mensagem, mas não temos controle sobre os encaminhamentos futuros. Deste modo, a mensagem pode chegar a pessoas que nem imaginamos. Assim devemos ter cuidado com o conteúdo das mensagens. Brincadeiras, ofensas e comentários irônicos devem ser evitados, porque o Email é um documento.

Finalmente lembrem-se que há coisas que são mais bem resolvidas pessoalmente ou por telefone do que usando o Email.

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Sete Métodos de Tomada de Decisão – Democracia às Vezes Atrapalha…

Tomar decisões é uma das atribuições mais importantes dos gerentes de projeto. Muitos acreditam que a democracia sempre é o melhor sistema, mas, em muitos momentos, não há tempo ou condições de, pelo menos, ouvir a maioria antes de decidir. A seguir eu comento os sete principais métodos de tomada de decisão:

1.  Líder sem a participação dos membros da equipe

Este tipo é recomendado para a rotina ou quando não se tem tempo suficiente para envolver outras pessoas. Deste modo, o gerente decide baseado apenas na sua cabeça sem conhecer a opinião de outros membros da equipe. Não pode ser usado indistintamente, sob pena de transformar o gerente em ditador.

Cadeira do Gerente-Ditador

2.  Especialista da equipe

Neste método, o especialista recebe a autoridade para decidir sobre um assunto no qual ele é o maior conhecedor da equipe. O problema pode acontecer se este expert não foi bem escolhido.

Dr. Smith – Cuidado ao escolher o especialista!

3.  Opinião média dos membros da equipe

Neste caso, o líder consulta os demais membros da equipe isoladamente e escolhe a opinião mais popular. Mais uma vez perde-se a vantagem da interação entre diversas ideias que poderia criar uma nova alternativa melhor para solucionar um problema. Justifica-se quando não se tem  prazo hábil para reunir o time.

4.  Líder após consulta aos membros da equipe

O líder decide sozinho após ouvir as opiniões dos demais membros da equipe. Apesar de semelhante ao primeiro método, neste caso, o líder escuta a opinião de alguns conselheiros antes de decidir, reduzindo as chances de erro.

5.  Voto da maioria

A opinião da maioria prevalece. Pode ser adotada, quando não se tem tempo suficiente para chegar ao consenso. A minoria derrotada pode se sentir alijada, prejudicando o andamento do projeto. Assim só recomenda-se a votação em assuntos de menor importância.

6.  Pequeno grupo da equipe do projeto

Quando existe pressão muito forte de tempo, pode ser escolhida uma força-tarefa para tomar decisão sobre determinado assunto. Seria interessante envolver as pessoas que tenham conhecimento para contribuir efetivamente na decisão. Caso contrário, pode haver falta de comprometimento com a decisão adotada.

Força-Tarefa

7.  Consenso

Apesar de parecer o ideal, pode demandar muito tempo e energia do grupo. Não pode ser escolhida se houver premência de prazos. O consenso geralmente gera uma solução criativa de melhor qualidade. Deste modo, indica-se este método principalmente nas fases iniciais do projeto.

Qual é o melhor método? Não existe uma resposta absoluta. Um método é melhor do que outro em determinadas circunstâncias como prazo, competência e maturidade da equipe.

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Como Fugir da Maldição do Gráfico de Dente de Serra e Manter as Melhorias no Processo

Temos um problema de processo. Um grupo se reúne e encontra a solução. Na semana seguinte, o desempenho é medido e, para a alegria deste grupo, tem-se um resultado excelente. Mensagens com congratulações circulam pelo e-mail da empresa e a vida prossegue.  Passa um tempo e alguém se lembra de dar uma olhadinha para ver como está funcionando aquele processo e tem uma surpresa! O desempenho voltou para o nível anterior àquela intervenção. Neste momento, pode-se perguntar para um operador o que está acontecendo e a resposta será desconcertante:

– Sempre foi assim! Isto nunca funcionou muito bem mesmo…

Neste caso, pode-se simplesmente repetir o que foi feito anteriormente e voltar a colocar o processo nos trilhos.

O gráfico de dente de serra apresentado abaixo será uma rotina nesta empresa e os resultados não serão sustentáveis. 

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Gráfico de Dente de Serra

Mas como os resultados podem ser sustentados?

O primeiro ponto é o comprometimento genuíno da gerência da área. O gerente deve acreditar e adotar a solução como sendo sua. Ele deve liderar pelo exemplo. Todo o processo de mudança encontra obstáculos. A maior barreira é a reatividade das pessoas. Para conquistá-las, melhor seria a participação na solução do problema, mas, se isto não for possível, devem ser treinadas e conscientizadas sobre a importância da mudança.

A base para o treinamento é a criação e atualização de padrões e procedimentos. Taiicchi Ohno disse que onde não existem padrões não pode haver melhoria contínua. Claro que a maioria das pessoas não gosta de redigir procedimentos e para se justificar costumam dizer:

– Pessoas não são robôs! Elas têm que ter espaço para usar a criatividade.

Na verdade, um procedimento descreve a melhor forma conhecida e comprovada de fazer certa atividade. Se cada um usar seu livre arbítrio e executar uma tarefa de acordo com sua fórmula pessoal, o resultado final terá uma variabilidade desastrosa. A disciplina operacional é chave para que todos trabalhem de modo padronizado. Sempre existirá o momento para usar a criatividade, mas as melhorias serão efetuadas a partir dos standards estabelecidos.

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Taiicchi Ohno

Também é fundamental a definição de parâmetros mensuráveis para avaliar o desempenho do processo. Como todos costumam dizer “você não pode controlar o que não mede”. A divulgação dos indicadores do processo em quadros de gestão à vista ajuda a sustentá-los.

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Quadro de Gestão à Vista

O melhor mesmo é estimular a participação dos funcionários. O envolvimento do pessoal do chão de fábrica, incluindo operação e manutenção, durante a resolução de um problema, cria comprometimento para a manutenção dos resultados. A gerência deve criar as condições necessárias para maximizar esta participação.

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Procrastinação: a Arte de Desperdiçar o Próprio Tempo

Muitas pessoas se acostumam a fazer apenas o que é urgente independente da importância da atividade. Stephen Covey apresenta, no seu conhecido livro “Os Sete Hábitos das Pessoas Altamente Eficazes”, uma matriz de gerenciamento do tempo.

Matriz de Gerenciamento do Tempo

Matriz de Gerenciamento do Tempo

No primeiro quadrante, estão os “incêndios” que devem ser atacados imediatamente sob pena de causar grandes estragos.

O tempo livre é preenchido prioritariamente no terceiro quadrante com a participação em reuniões genéricas, telefonemas, conferência frequente dos e-mails e a reposta imediata dos novos.  Se sobrar algum tempo, ele é desperdiçado com as atividades do quarto quadrante.

Assim, de forma inconsciente, ocorre a procrastinação das importantes atividades do segundo quadrante. Como elas não são realizadas, um dia se tornarão urgentes. Virarão novos incêndios e finalmente serão atacados.

Como quebrar esta maldição?

Em primeiro lugar, devem ser definidas metas pessoais e profissionais claras. Deste modo, será possível avaliar a importância das atividades.

O próximo passo é mais difícil, deve-se aprender a dizer não para atividades que não são importantes. Por exemplo, não precisamos participar de todas as reuniões que somos convidados.

Para concluir, a autodisciplina é fundamental! Sem isto poderemos regredir para a situação anterior.

Se este modo de agir for adotado, pode-se passar a ter uma postura pró-ativa ao invés de reativa, passando a controlar o tempo com maior eficácia.

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Criatividade em Tempos Difíceis: Música “Construção” de Chico Buarque

Os momentos de dificuldade podem ser verdadeiros motores para que um profissional talentoso use todo seu potencial. Grandes desafios tecnológicos ou restrições de cronograma e orçamento podem ser o ponto de partida para a busca de novas formas para realizar projetos.

Nestes momentos, deve-se evitar a aceitação de ideias dominantes, obstáculos, experiências passadas obtidas em outras circunstâncias, decisões prematuras e pensamentos convencionais.

A livre associação de ideias deve ser estimulada. As barreiras devem ser questionadas e superadas. Novas conexões entre conceitos e tecnologias devem ser criadas.

MacGyver - O Rei da Criatividade sob Pressão

MacGyver - O Rei da Criatividade sob Pressão

Durante o período da ditadura militar no Brasil, as manifestações culturais e artísticas foram censuradas com rigor. Apesar destas limitações, Chico Buarque criou verdadeiras obras primas da música popular brasileira. Posso citar “Apesar de Você”, “Cálice”, “Meu Caro Amigo”, “Roda Viva” e “Construção”. As letras tinham duplo sentido e passavam mensagens contra o regime militar. Todo o talento do Chico foi desafiado pela barreira da censura, mas ele conseguiu superá-la.

Abaixo você pode assistir à apresentação da música “Construção” de Chico Buarque. Esta música acabou de ser considerada pela revista Rolling Stones Brasil como a melhor música brasileira de todos os tempos.

Atenção para a maravilhosa poesia. Bela, densa, crua, triste, sufocante, libertadora…

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho seu como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contramão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague

Chico é simplesmente genial…

Ele desafiou o status quo da época. Cabe a nós desafiarmos o status quo de nossas empresas. Vamos usar nossa criatividade!

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