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O Papa é Pop – O Carisma e a Mensagem

No dia 22 de julho, o Papa Francisco chegou ao Rio de Janeiro para participar, entre outros eventos, da Jornada Mundial da Juventude. Impressionou a agenda dura que o papa cumpriu em apenas uma semana. Pareceu exagerada para um senhor de 76 anos. Bastava ligar a televisão na semana passada e lá estava ele, esbanjando simplicidade e simpatia.

Papa Francisco

Papa Francisco

O atual papa possui um carisma invejável, é quase impossível não simpatizar com ele, a forma como sorri, o carinho com as crianças e a paciência com as brincadeiras e presentes de gosto duvidoso. Por outro lado, tenho receio quando as pessoas são julgadas somente por suas imagens. Por exemplo, o governo Médici foi o mais duro do período de ditadura militar no Brasil, mas para as pessoas comuns Geisel foi pior. Este julgamento é baseado nos sorrisos do Médici e na “carranca” do Geisel, não importa que a tortura corresse solta no período Médici e que, no período Geisel, as denúncias a respeito da morte, tortura e desaparecimento de presos políticos reduziram muito.

General Emílio Garrastazu Médici com Pelé

General Emílio Garrastazu Médici com Pelé

   

General Ernesto Geisel e sua tradicional "carranca"

General Ernesto Geisel e sua tradicional “carranca”

Como o tempo do Papa Francisco para fazer alguma coisa prática ainda é curto desde sua posse, procurei ouvir suas mensagens. Minha percepção é que, ao falar para os jovens, ele buscou tocar o coração de cada um. A ideia é que para mudar a Igreja e o mundo, comece por você. Mário Quintana disse certa vez esta frase simples e verdadeira:

Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas.

o poeta Mário Quintana

o poeta Mário Quintana

Ou seja, o Papa Francisco, através de suas mensagens, quer inicialmente mudar as pessoas. Assim ele incentivou a juventude a largar o egoísmo e comodismo e se tornar agente da mudança na Igreja e no mundo. Isto fica claro nesta mensagem:

Sigo as notícias do mundo e vejo que tantos jovens de muitas partes do mundo têm saído pelas ruas para expressar o desejo de uma civilização mais justa e fraterna. Os jovens nas ruas são jovens que querem ser protagonistas da mudança. Por favor, não deixem que outros sejam protagonistas da mudança, vocês jovens são os que têm o futuro. Através de vocês o futuro chega ao mundo…

Vi na noite de domingo uma entrevista do papa ao programa Fantástico da Rede Globo. Fora a parte “festiva” da entrevista com questões sobre clima, rivalidade Brasil-Argentina, segurança pessoal, gostei especialmente da análise do papa sobre o momento atual da economia. Ele citou que a globalização com o “protagonismo do dinheiro, economicista, sem qualquer controle ético”, acaba por marginalizar expressivas parcelas da população, como os mais velhos e os mais novos nos mais variados locais do planeta. Ele exemplificou que oscilações nas bolsas de valores são mais importantes do que pessoas sem comida ou educação:

Hoje em dia há crianças que não têm o que comer no mundo. Crianças que morrem de fome, de desnutrição. Há doentes que não têm acesso a tratamento. Há homens e mulheres que são mendigos de rua e morrem de frio no inverno. Há crianças que não têm educação. Nada disso é notícia. Mas quando as bolsas de algumas capitais caem três ou quatro pontos, isso é tratado como uma grande catástrofe mundial. Esse é o drama do humanismo desumano que estamos vivendo. Por isso, é preciso recuperar crianças e jovens, e não cair numa globalização da indiferença.

O papa ainda incentivou os jovens a expressarem seus descontentamentos e as pessoas a ajudarem os mais necessitados, se doando. Entendo que esta ajuda não deveria ser apenas monetária, por exemplo, uma esmola, um dízimo ou uma contribuição em dinheiro para uma entidade assistencial. A definição de Gibran Khalil Gibran, no seu livro “O Profeta” sobre a doação deveria ser seguida por todos:

Vós pouco dais quando doais de vossas posses. É quando doais de vós próprios que realmente dais.

Gibran Khalil Gibran

Gibran Khalil Gibran

Assim, quando usamos nosso tempo, nossa energia, nossa sabedoria ou nossos conhecimentos para ajudar os mais necessitados, estaremos realmente nos doando. Esta não é uma missão fácil, a inércia a que nossas vidas estão submetidas só pode ser quebrada com muito esforço, senão o comodismo vai nos levar a assistir passivamente o que está ao nosso redor.

Acredito que foi um bom início do pontificado de Francisco, mas é melhor aguardar seus próximos passos. João Paulo II também era popular e carismático, mas seu conservadorismo dogmático foi um dos motivos do afastamento da Igreja Católica das reais necessidades do povo.

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O Individual e o Coletivo

Desde o início dos protestos pelo Brasil, tenho pensado muito nas principais reivindicações dos manifestantes. Acredito que a educação de qualidade seja o processo que realmente tem o poder de mudar o Brasil. A própria saúde pública também é função da educação do povo. Afinal sempre será melhor ensinar e promover a adoção de atitudes saudáveis do que tratar as doenças decorrentes de práticas de higiene e alimentação deficientes.

No ano passado, assisti a uma palestra da pesquisadora da Universidade Federal do Tocantins, Fernanda Dias Abadio Finco, contemplada com o Prêmio da Fundação Bunge 2012 na categoria “Juventude”, no tema Segurança Alimentar e Nutricional. Ela apresentou um dado que me chamou a atenção na época. O percentual de pessoas com peso abaixo do normal em comunidades carentes do estado do Tocantins era pequeno, enquanto que a parcela de pessoas com sobrepeso e obesidade era muito maior e crescia rapidamente. Por outro lado, muitas pessoas tinham deficiências de nutrientes. Ou seja, o principal problema não era a quantidade de calorias ingeridas e sim a variedade e qualidade dos alimentos. A proposta da pesquisadora era aproveitar a rica biodiversidade disponível no Brasil, através do uso de vegetais com propriedades funcionais. O conhecimento dessas propriedades seria obtido por meio de pesquisa científica. Como resultado, teríamos a melhoria da nutrição e saúde das comunidades locais, a agregação de valor em produtos tradicionais da região, colaborando para geração de renda da agricultura familiar, preservação das florestas nativas e, consequentemente, promovendo uma relação ganha-ganha.

Assim trocaríamos o paradigma do tratamento de doenças pela promoção da saúde, através da orientação próxima de profissionais da saúde sobre boas práticas de higiene e nutrição. Tenho certeza que se evitariam muitas doenças ou a recuperação seria mais simples e rápida.

Mais-Medicos

Os governos brasileiros, incluindo o atual e os anteriores independentemente dos partidos, não fizeram muito pela educação e saúde pública nas décadas passadas. O governo atual, pressionado pelas ruas, lançou o programa “Mais Médicos” com o objetivo de levar médicos para as periferias das grandes cidades e para as pequenas cidades do interior do Brasil. O problema principal recai na queda de braço entre o governo federal e as associações que representam a classe médica. O governo alega que não existem médicos brasileiros interessados em trabalhar nos confins do Brasil, longe do conforto dos grandes centros, sem as melhores condições de trabalho. A solução para este problema seria a contratação de médicos no exterior, principalmente, cubanos, portugueses e espanhóis. Os médicos brasileiros, por sua vez, exigem a revalidação dos diplomas dos médicos estrangeiros e afirmam também que não faltam médicos, mas sim condições para exercer suas atividades. Ou seja, o problema principal é referente à administração do SUS (Sistema Único de Saúde).

Parece que os dois lados têm alguma razão nesta discussão. Por tudo que eu vi e li até agora, na maioria das cidades brasileiras, a situação dos hospitais e postos de saúde realmente é ruim, mas faltam médicos especialmente nas regiões Norte e Nordeste do país. Veja o quadro abaixo.

Distribuiçao geográfica dos médicos no Brasil (Fonte: Blog do Dr. Dráuzio Varella)

Distribuiçao geográfica dos médicos no Brasil   (Fonte: Blog do Dr. Dráuzio Varella)

Outra medida proposta pelo governo é um estágio remunerado de dois anos no SUS para os estudantes de medicina a ser realizado no final do curso. Obviamente os médicos são contra!

Em minha opinião, todos os profissionais egressos de universidades públicas, independente da profissão, deveriam realizar atividades deste tipo ao encerrar o curso. Afinal, todo o curso foi custeado através de verbas públicas obtidas através de impostos pagos por toda a sociedade brasileira, incluindo pessoas pobres. Desta forma, nada mais justo do que retribuir à sociedade com um estágio remunerado em áreas críticas do país, como educação, saúde, saneamento básico e infraestrutura.

Minha impressão é que os médicos estão cuidando muito mais dos seus interesses pessoais do que das necessidades dos cidadãos que vivem nas zonas mais pobres e remotas do país. A maioria dos médicos em atividade ou dos estudantes de medicina estudou nas melhores escolas particulares de ensino médio, senão não teriam passado nos vestibulares mais concorridos do país. Desta forma, são oriundos predominantemente das classes A e B, estão acostumados com uma série de confortos e não querem abrir mão deles, mesmo recebendo bons salários para trabalhar no interior do Brasil.

O primeiro grande teórico do Liberalismo Econômico, Adam Smith, em seu livro a “Riqueza das Nações”, criou o termo “mão invisível” para descrever como numa economia de mercado, apesar da inexistência de uma entidade coordenadora do interesse comum, a interação dos indivíduos parece resultar numa determinada ordem, como se houvesse uma “mão invisível” que os orientasse. Dois séculos depois, o americano Eric Maskin, um dos três vencedores do Prêmio Nobel de Economia de 2007, afirmou que “o mercado não funciona muito bem quando se trata de bens públicos” e completou:

– Sociedades não devem contar com as forças do mercado para proteger o ambiente ou fornecer um sistema de saúde de qualidade para todos os cidadãos.

Adam Smith x Eric Maskin

Adam Smith x Eric Maskin

Ou seja, o Estado deve interferir para garantir que a população tenha à disposição serviços públicos de boa qualidade, seja fornecendo-os diretamente ou através de fiscalização permanente sobre a empresa privada que o executa. No momento, a importação de médicos pode ser uma boa medida emergencial, se até o final de julho não houver candidatos brasileiros em número suficiente para cobrir a demanda. No futuro, o problema só será resolvido se houver novas escolas de medicina localizadas no interior do Brasil, suportadas por postos saúde e hospitais públicos com boas condições de trabalho para os profissionais da saúde e por escolas de ensino fundamental e médio de boa qualidade. Estas escolas serão as responsáveis por levar o desenvolvimento humano para estas regiões do país.

Parece que comecei e terminei falando de educação…

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Qual será o Próximo Alvo dos Protestos?

Após uma série de manifestações nas maiores cidades do Brasil, onde o principal objetivo era a redução das tarifas do transporte coletivo, fica uma importante questão no ar:

– Qual será o próximo objetivo deste grande movimento popular?

A força popular do movimento ficou claramente comprovada com a redução das tarifas em várias cidades brasileiras. Faço um paralelo entre os manifestantes brasileiros e o movimento de protesto “Occupy Wall Street” (OWS). Em setembro de 2011, milhares de pessoas ocuparam ruas próximas a Wall Street, acampando no Zuccotti Park (antigo Liberty Park).

Um dos lemas do movimento Occupy Wall Street

Um dos lemas do movimento Occupy Wall Street

As principais questões levantadas pelo OWS foram a desigualdade social e econômica, a ganância, a corrupção e a influência indevida das empresas sobre o governo, particularmente do setor de serviços financeiros. Passados dois anos do início deste movimento, o resultado prático foi insignificante. Entre as causas do fracasso, eu destaco a falta de foco em ações específicas para solucionar as questões justas levantadas pelo movimento.

Na semana passada, a população brasileira mudou rapidamente a percepção sobre movimento local. Como exemplo, vocês podem assistir a este comentário do Arnaldo Jabor no Jornal da Globo do dia 12 de junho.

http://www.youtube.com/watch?v=fdjw00-2nyo

Como comentei no artigo da última sexta-feira, Os Protestos e a Verdadeira Democracia, muita gente era contra o movimento, influenciada pelas imagens de vandalismo apresentadas na televisão. Após o lamentável confronto em São Paulo entre PM e manifestantes no dia 13 de junho, a maioria da população passou a apoiar as manifestações, desde que não haja vandalismo. Você pode escutar o pedido de desculpas do Arnaldo Jabor na Rádio CBN.

https://www.youtube.com/watch?v=RxM4yNy35z4

Sem dúvida, se o movimento flanar entre objetivos estratosféricos ou mal definidos, suas conquistas serão tão pífias quanto as obtidas pelo OWS americano. O próximo objetivo escolhido, até pela premência do prazo, deveria ser a PEC 37 que será votada na Câmara dos Deputados na próxima semana.

Para quem não sabe o que é este Projeto de Emenda Constitucional, explicarei sucintamente. Este projeto de lei inclui um parágrafo no Artigo 144 da Constituição. Se for aprovado pelo Congresso Nacional, o Ministério Público não poderá mais apurar infrações penais contra a ordem política e social ou em detrimento de bens, serviços e interesses da União ou de suas entidades autárquicas e empresas públicas, assim como outras infrações cuja prática tenha repercussão interestadual ou internacional e exija repressão uniforme, segundo se dispuser em lei.

Ou seja, apenas a polícia poderá investigar os crimes praticados pelos políticos como corrupção ou prevaricação (retardar ou deixar de praticar indevidamente ato de ofício, ou praticá-lo contra disposição expressa de lei, para satisfazer interesse pessoal). O Ministério Público, que faz um trabalho muito bom em defesa dos direitos do cidadão, ficará de fora da apuração deste tipo de crime. Esta lei tem o objetivo claro de favorecer a impunidade. Se quisermos combater a corrupção no Brasil, não podemos permitir que esta alteração da Constituição seja aprovada. Preparei a tabela abaixo com a distribuição das assinaturas na proposição da lei por partido.

PEC 37 - partidos

É interessante notar que os percentuais de adesão nos principais partidos de oposição (PSDB, DEM e PPS) são parecidos aos dos partidos da base governista. Isto evidencia, em minha opinião, que a preocupação em não ser investigado pelo Ministério Público depende mais do caráter de cada deputado do que de sua posição política. Se você quiser verificar se seu deputado assinou esta proposição, basta clicar no link abaixo.

Proposição PEC 37

Talvez os melhores versos para descrever este momento é o refrão da música de Geraldo Vandré, Pra Não Dizer Que Não Falei Das Flores, verdadeiro hino contra a ditadura militar brasileira do final dos anos 60 e 70:

Vem, vamos embora
Que esperar não é saber
Quem sabe faz a hora
Não espera acontecer

Esta é a hora da população buscar o atendimento das necessidades básicas, como educação e saúde, além do fim da corrupção e da redução  dos impostos, e exigir melhorias no nosso sistema político para criarmos um país mais eficiente e justo. E melhor, tudo poderá ser conquistado na paz desta vez!

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Obama e o Dilema Capitalista

Nesta semana, a principal notícia foi a reeleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo. Um dos pontos mais importantes debatidos, durante toda a campanha, foi a lenta recuperação da economia americana. Na segunda-feira, li um artigo muito interessante no The New York Times escrito por um professor de Harvard, Clayton Christensen, que iniciava com a seguinte constatação:

– Independente do que acontecerá no Dia das Eleições, os americanos continuarão perguntando: quando a economia melhorará?

Um dos recados transmitidos é que a influência do presidente eleito, Obama ou mesmo Romney, na retomada da economia seria pequena. Você pode ler o artigo na íntegra, clicando no link abaixo.

http://www.nytimes.com/2012/11/04/business/a-capitalists-dilemma-whoever-becomes-president.html?pagewanted=all

Romney e Obama

Um dos debates entre Romney e Obama

Segundo o autor, existem três tipos de inovação:

  1. Inovação capacitante (“empowering innovation”)
  2. Inovação de sustentação (“sustaining innovation”)
  3. Inovação de eficiência (“efficiency innovation”)

O primeiro tipo de inovação supre uma demanda do mercado ainda não atendida. Ela transforma produtos caros disponíveis apenas para um pequeno grupo de pessoas em produtos mais baratos para a maioria da população. Ele cita os exemplos do Ford Modelo T e dos computadores pessoais. Esta forma de inovação cria empregos e usa capital para estruturação da nova cadeia produtiva. Ou seja, estimula o crescimento econômico.

Linha de produção do Ford modelo T

Linha de produção do Ford modelo T

A inovação de sustentação substitui os velhos produtos por novos modelos. Por exemplo, os carros híbridos possuem tecnologia mais avançada do que os convencionais, entretanto o número total de automóveis vendidos não crescerá devido à sua introdução no mercado, porque o público-alvo é exatamente o mesmo dos modelos tradicionais. Esta forma de inovação, apesar de criar poucos empregos novos, mantém o dinamismo da economia.

Automóvel híbrido Toyota Prius

Automóvel híbrido Toyota Prius

A inovação de eficiência, como o próprio nome sugere, busca a redução dos custos de geração de um produto ou serviço. Assim o número de empregos sempre é reduzido com a aplicação deste terceiro tipo de inovação. Por outro lado, a empresa recupera o capital investido que poderá ser o combustível para o próximo ciclo de inovação capacitante.

Estas três formas de inovação devem operar de modo cíclico, onde as inovações capacitantes são essenciais, porque criam novos consumos e mais empregos do que as inovações de eficiência conseguem eliminar posteriormente.

Segundo Christensen, nos últimos 150 anos, a economia americana operou desta forma e conseguiu manter-se distante dos longos períodos de recessão. De 1948 a 1981, o nível de emprego anterior à recessão era recuperado em apenas 6 meses. Na recessão de 1990, demorou 15 meses; na de 2001, 39 meses. E agora já são 60 meses, lutando para voltar ao nível anterior a esta recessão.

O que está havendo? O autor explica que as inovações de eficiência estão gerando capital que é reinvestido em novas inovações de eficiência ao invés das capacitantes. Desta forma, gera-se mais capital, mas não são gerados novos empregos. O capitalismo trata com carinho os bens escassos e “despreza” os bens abundantes. Hoje capital não representa mais uma restrição, porque existem abundantes linhas de financiamento com baixas taxas de juros no mundo. O problema é que os líderes das empresas estão seguindo fielmente os ensinamentos que receberam no passado. Ao analisar a taxa interna de retorno (I.R.R. em inglês) de dois investimentos, uma inovação capacitante com retorno em 8 anos e uma inovação de eficiência que retorna na metade deste período, a opção pelo ganho mais fácil e garantido tem sido a escolhida na grande maioria dos casos.

Eu diria que os capitalistas se viciaram no capital. Ou, em inglês, deixaram de ser capitalist e viraram capital addict.

Dilema capitalista

O Dilema Capitalista

O autor sugere que existe um problema educacional nos Estados Unidos, porque as habilidades para a criação de inovações capacitantes estão escassas atualmente. As universidades deveriam treinar os estudantes para estes tipos de desenvolvimentos, passando a mirar no longo prazo. Em paralelo, o governo americano deveria criar um sistema para incentivar este tipo de investimento.

Clayton Christensen

Clayton Christensen

O Brasil experimentou um crescimento baseado no aumento do consumo interno nos últimos anos. Este modelo parece ter se esgotado. Parece que este artigo dá uma pista sobre o que deve ser feito para que nosso país dê um novo salto de desenvolvimento, mas para que isto ocorra, investimentos em inovação e educação são fundamentais.

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O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

Segundo, The Wall Street Journal, uma onda de tempo ruim – seca nos Estados Unidos, verão quente demais na Rússia, muita chuva no Brasil – está prejudicando a cadeia de produção de alimentos e aumentando preços ao redor do mundo. A FAO, órgão das Nações Unidas para alimentos e agricultura, anunciou ontem que seu índice para preços de alimentos subiu 6% no mês passado, a maior alta desde novembro de 2009.

Atualmente somos 7 bilhões de habitantes no planeta e, segundo estimativa de ONU, passaremos para 8 bilhões em doze anos. Parece claro que, para alimentar uma população humana crescente, os recursos naturais necessários serão enormes. O poder aquisitivo das populações menos favorecidas também crescerá neste período, o que é muito bom! Desta forma, o consumo de alimentos aumentará de forma mais acelerada do que o simples crescimento vegetativo da população e não podemos esquecer que a agricultura depende do clima, da disponibilidade de água e de terras férteis.

Crescimento da População Mundial

Crescimento da população mundial

Há um tempo assisti a um vídeo do filósofo “pop” Slavoj Žižek no qual apresenta seus conceitos sobre ecologia. Ele afirma que a ecologia pode ser a religião do século XXI ao trazer uma série de dogmas a serem cegamente seguidos. Pode-se comprovar pelo massacre a que são submetidos aqueles que ousam contrapor ao senso comum ecológico. Já comentei o assunto no meu post sobre o aquecimento global. O obscurantismo “fanático-religioso” contra os transgênicos é outro exemplo dos malefícios destes dogmas ecológicos. Muitos transgênicos são, por exemplo, resistentes a pragas, reduzindo a aplicação de agroquímicos.

Transgênicos

Os transgênicos são muito criticados pelos ativistas

Assista ao vídeo de Žižek, onde ele apresenta seus conceitos sobre ecologia.

Proponho que dois caminhos distintos sejam trilhados para produzir os alimentos, as roupas e demais bens de consumo para satisfazer a demanda crescente da população:

– combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis;
– ruptura total do atual modelo produtivo através criação de novas tecnologias que tornem o ser humano independente da natureza do planeta.

A primeira via é a exploração do passado. Ela engloba, na agricultura, o uso das melhores práticas disponíveis durante todas as etapas desde a escolha de cultivares, fertilização e correção dos solos, controle de pragas e doenças até a colheita, transporte e armazenamento da safra. Na indústria, o uso das melhores técnologias para a geração de bens duráveis e de consumo, consumindo a menor quantidade de recursos: matérias primas, insumos, água e energia.

A segunda via é mudar radicalmente a forma de gerar alimentos e insumos para a indústria. Como falou Slavoj Žižek, nada de volta às origens, mas a busca de um caminho totalmente novo, desvinculado da natureza. Por exemplo, a criação de novas tecnologias que produzam alimentos a partir da recombinação química ou bioquímica de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e assim por diante. Itens fundamentais são o reciclo total de todos os resíduos e o uso de energias intrinsecamente limpas, como a solar, geotérmica e a fusão nuclear.

O consumo de carne evidentemente não é uma prática sustentável! Hoje metade do milho e 75% da soja são usadas para alimentar animais que serão mortos para servir de alimento para nós humanos. Para gerar um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de milho e soja, além do consumo de 15 mil litros de água. E nem comentei a poluição gerada por esta atividade, uma vaca leiteira, por exemplo, solta 700 litros de metano diariamente na atmosfera (gás 21 vezes mais nocivo do que o gás carbônico para a formação do efeito estufa). A carne não é mais um alimento essencial e seu consumo só pode ser justificado pelo prazer gastronômico. Quando inventarem a picanha ou o filet mignon de laboratório, juro que volto a comer carne. Já existem grupos de pesquisadores criando carne em laboratório. Por enquanto, são pequenas tiras de 3 centímetros de comprimento por 1,5 cm de largura e espessura de apenas meio milímetro, mas o rendimento de conversão dos nutrientes em carne já fica em torno de 50% contra menos de 15% da convencional.

Carne Artificial

No futuro, carne igual a esta na foto poderá ser produzida artificialmente.

Só o artificialismo, que distanciará a satisfação das necessidades humanas da natureza, nos reconciliará definitivamente com a própria natureza e os demais animais que nos cercam. Não existe outra opção…

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Centro Volver!

No Brasil, na Europa e em vários locais democráticos do mundo, não existe mais a separação clara entre a direita e a esquerda. Parece que as duas vertentes políticas migraram para o centro, criando uma grande zona cinzenta. No Brasil, por exemplo, PT e PSDB são muito parecidos em suas propostas, apesar de cada um dos lados alardear ser o criador de cada conceito econômico vigente no país.

Na Europa, os socialistas e os liberais, com o passar do anos, tornaram-se cada vez mais semelhantes, sendo diferenciados por detalhes praticamente insignificantes na ótica dos eleitores. Por incrível que pareça, a extrema direita é a novidade no velho continente. Fato comprovado pelas expressivas votações de Marine Le Pen para presidência da França e dos neo-nazistas nas eleições estaduais na Alemanha.

Marine Le Pen

Marine Le Pen ficou em terceiro lugar com 20% dos votos

Um colega francês ficou indignado na semana passada com alguns comentários sobre a inviabilidade do Euro. Ele respondeu que, muito além das questões monetárias, está o sonho de estabilidade política e paz para todo o continente. Este é um sonho de várias gerações, mas talvez não seja o desta geração que busca empregos e crescimento econômico. Quando alguém de extrema direita culpa os imigrantes pela crise e desemprego, a comparação com a questão entre nazistas e judeus é inevitável.

A paz só é possível com estabilidade política e econômica. Um “novo capitalismo” deve emergir desta crise. A chamada terceira via, tão comentada há alguns anos, não surgiu ainda. Talvez nasça nos países em desenvolvimento… As pessoas não querem só comida, também querem diversão e arte (como cantavam Os Titãs). Um mundo melhor é possível, mas só nascerá se a “mão invisível” do liberalismo, que se tornou a única opção após a derrocada do bloco socialista, for substituída por um novo sistema. Todos devem trabalhar, gerar riqueza, ter acesso à educação e saúde de qualidade…

Eterno Debate

Viverei e verei este novo mundo florescer… Farei o que estiver ao meu alcance, este é meu compromisso!

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Privatização da Embrapa?

Faz alguns meses que estou trabalhando em um projeto em conjunto com a Embrapa. Neste período, pude perceber a excelência, dedicação e o profissionalismo de seus técnicos. Os primeiros resultados foram muito promissores e deveremos fortalecer esta parceria para os próximos anos.

Um aspecto que chamou minha atenção foi o entusiasmo e a visão no desenvolvimento do país. Um destes técnicos me disse que ele estava feliz com os primeiros resultados, mas sabia que provavelmente, nos próximos anos, as multinacionais colocariam no mercado híbridos mais produtivos. Comentei com ele que a função de gerador de tecnologia e desbravador do mercado foi exercida com eficiência pela Embrapa.

Fiquei surpreso quando vi as notícias sobre a privatização da Embrapa. Achei um verdadeiro absurdo e pensei em escrever um post sobre o assunto, mas encontrei este belo texto escrito pelo Delfim Netto na sua coluna da Folha de São Paulo do dia 11 de abril de 2012. A coluna está apresentada na íntegra abaixo.

Há tarefas que as virtudes do mercado não podem realizar adequadamente. Não se pode e não se deve esperar que uma empresa privada, que só pode sobreviver se gerar lucro, distribuir dividendos e criar valor para seus acionistas, atenda corretamente ao interesse social se tiver objetivos conflitantes entre o curto e o longo prazo.

É o que pode acontecer, por exemplo, quando a pesquisa e a inovação ocorrem em empresas que são, ao mesmo tempo, produtoras e disseminadoras de bens que incorporem seus resultados.

Suponhamos, para simplificar o argumento, uma empresa que produza um eficiente fungicida para combater doença que ataca a produção de feijão. Um dia, seus cientistas constroem com sucesso uma variedade de feijão resistente ao fungicida que ela mesma produz. Qual será a provável reação da sua administração, cujo primeiro dever é proteger o valor do patrimônio de seus acionistas? Patentear a inovação e colocá-la na prateleira! Até quando? Até que o valor dos seus investimentos na produção do fungicida seja completamente amortizado.

O “mercado” apresenta uma “falha”. Não funciona adequadamente pela simples e boa razão que o “incentivo” que lhe determina a ação – a maximização dos lucros – subordina o interesse coletivo ao “curto-prazismo” do interesse privado. Em outras palavras, o feijão resistente aos fungicidas que beneficiaria toda a sociedade terá a sua disseminação controlada pela velocidade da depreciação do investimento já feito para produzir o fungicida, condicionada ainda à possibilidade de garantir a remuneração dos dispêndios feitos com a pesquisa – ou seja, à patente e ao controle do valor criado pela descoberta.

Se não houver a “garantia” da patente, o mais provável é que, devido ao interesse privado, a inovação de interesse social nunca veja a luz.

Foram constatações tão simples como essas que levaram o governo, em 1972, a criar a EMBRAPA, que transformou o maior “passivo” brasileiro, o cerrado, no nosso maior “ativo”. Um ativo construído com dedicação, diligência e trabalho duro, que precisa continuar a ser defendido do “aparelhamento” ideológico-partidário.

colheita de soja no cerrado brasileiro

Ao contrário do que pensam alguns de nossos economistas, a EMBRAPA não nasceu para competir com o setor privado. Nasceu para inovar, criar e transmitir conhecimentos, usando as empresas privadas como instrumento para disseminá-los. Ela não produz “distorções” no mercado.

Muito pelo contrário, corrige a sua miopia “prazo-curtista”. É isso que torna incompreensível o misterioso e confuso “ruído” político atual sobre o seu importante papel para o desenvolvimento nacional.

FONTE: escrito por Antonio Delfim Netto na Folha de São Paulo  (http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/36373-embrapa.shtml)

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Malditas Multinacionais

Muitas pessoas acreditam que empresas multinacionais querem prejudicar um país, quando decidem não investir ou descontinuar suas atividades em determinadas regiões do planeta. Na verdade, tudo se baseia no binômio lucro e risco. Meu objetivo, neste artigo, não é fazer uma defesa incondicional destes grupos econômicos, mas levantar alguns pontos para reflexão.

Visão sobre Multinacionais por Rodrigo Minêu

Multinacionais na visão de Rodrigo Minêu

Todos nós fazemos esta análise de risco e lucro ou custo e benefício na nossa vida. Se você tiver R$ 200 mil para aplicar e dois bancos lhe oferecem propostas para fundos de investimento. Um dos bancos é de primeira linha, um dos maiores do Brasil, e paga uma taxa de 1% ao mês, enquanto que o outro é um pequeno banco desconhecido da maioria das pessoas e remunera o capital com o dobro da taxa do grande banco. O que você faria? Colocaria todo seu dinheiro no banco menor, arriscando a perder tudo em caso de uma falência?

A opção da maioria das pessoas seria pela alternativa do grande banco, onde os lucros e os riscos são menores. O mesmo acontece muitas vezes em relação às multinacionais. As empresas procuram países onde haja estabilidade política e econômica, onde as regras não mudem com frequência e exista um judiciário independente. Este é o motivo que hoje é muito mais atraente investir no Brasil do que há vinte anos.
dineheiro na mão

Continuando o nosso exemplo, o Fundo Garantidor de Crédito cobre investimentos até R$ 70 mil em caso de falência da instituição financeira. Neste caso, poderíamos colocar R$ 70 mil no banco menor e os restantes R$ 130 mil no banco maior. Claramente houve uma maximização do lucro e um controle do risco. Você acha que os funcionários do banco pequeno teriam razão em dizer que você deveria investir todo seu dinheiro onde trabalham? Por que então as multinacionais deveriam colocar todo seu dinheiro em países onde podem perder seu patrimônio?

A conclusão deste post é que temos mais um motivo para desejar estabilidade político-econômica e instituições sólidas no país, porque ninguém põe seu dinheiro onde não existe isto. Sem investimentos não há desenvolvimento econômico nem empregos, nem redução da pobreza, nem justiça social.

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Gasto com Publicidade Oficial – Como o Dinheiro Público Escorre pelo Ralo

Todos criticam a malversação de recursos públicos no Brasil. As recentes denúncias sobre as ONGs do Programa Segundo Tempo do Ministério dos Esportes são mais um exemplo recente. Deveria haver fiscalização, além dos tribunais de contas, dos próprios cidadãos. Quando navegamos pelos portais da transparência das três esferas da administração pública, podemos buscar dados interessantes de como o dinheiro público é gasto pelos governos.

No meu último post, sobre liberdade de expressão, comentei sobre a relação dos governos com a imprensa. As verbas dedicadas à publicidade oficial crescem anualmente. Segundo o Portal Transparência do governo federal, os gastos com publicidade institucional foram de R$ 177 milhões em 2010. O gasto total com publicidade da administração direta do governo federal foi de R$ 644 milhões neste período. Se for incluída a administração indireta, segundo a Folha de São Paulo, o gasto deve chegar a R$ 1 bilhão.

Na cidade de Novo Hamburgo, a Prefeitura resolveu investir pesado em publicidade oficial a partir de 2010. A Tabela abaixo apresenta o orçamento com publicidade oficial dos últimos nove anos.

Neste momento, ainda não discutirei os gastos com publicidade legal e de utilidade pública, mesmo suspeitando que muitos destes dispêndios não tenham estas motivações. O gráfico abaixo mostra o aumento impressionante dos gastos com a publicidade institucional da Prefeitura de Novo Hamburgo. Em 2011, serão gastos aproximadamente R$ 2 milhões, quase o mesmo valor orçado no período 2005-2009.

Sob a desculpa de prestar contas à população e divulgar iniciativas de interesse público, a Prefeitura faz propaganda eleitoral para a eleição municipal do próximo ano. De acordo com o Portal Transparência do município, de janeiro a agosto de 2011, foram gastos aproximadamente R$ 2 milhões com o pagamento de três agências de publicidade. Apenas uma agência de Porto Alegre recebeu R$ 1.175.000,00. Outras duas de Novo Hamburgo receberam, no mesmo período, R$ 426 mil e R$ 381 mil cada.

Gostaria que a publicidade oficial fosse proibida no país. Este dinheiro poderia ser investido em áreas realmente importantes para a população como saúde, educação e infraestrutura. Sugiro que não se espere a sanção de uma lei federal, porque existe um projeto tramitando no Congresso Nacional há seis anos e ninguém sabe quando entrará na pauta de votação.

Lembro da proibição de animais em circos. Uma lei foi aprovada em Novo Hamburgo em 2007 devido ao desejo da população organizada pela ONG de proteção animal ONDAA. No ano seguinte, foi aprovada outra lei na Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul. Deste o final de 2009, um projeto de lei (PL 7291/2006) foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e encontra-se atualmente no Plenário da Câmara dos Deputados, onde aguarda para entrar na pauta de votação.

A população deve exigir que os vereadores de Novo Hamburgo evitem a queima dos recursos públicos no orçamento de 2012. Na sequência, deve pedir que seus representantes criem e aprovem a lei municipal que proíba a publicidade oficial. Só assim poderemos realmente aproveitar bem o dinheiro dos impostos que pagamos. Chega de propaganda enganosa!

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Vale Tudo para Conseguir o Emprego dos Sonhos? Veja o Filme “O Corte”!

O cineasta grego Costa-Gavras é famoso pelos filmes políticos. Por exemplo, ele dirigiu filmes como “Z” que trata da ditadura militar grega nos anos 60 e “Desaparecidos, Um Grande Mistério” (Missing) que aborda a ditadura de Pinochet no Chile. Seu último filme, rodado em 2005 na França, é “O Corte”.

Cineasta Costa-Gavras

Um processo aparentemente irreversível é a globalização da economia. As terceirizações, fusões e incorporações são consequências deste processo. Quando duas empresas se transformam em apenas uma, ajustes nos quadros dos níveis administrativos e na diretoria são inevitáveis. Ou seja, demissões ocorrem e, normalmente, apenas as funções operacionais não são afetadas em um primeiro momento.

“O Corte” conta a história de Bruno Davert de 41 anos, interpretado pelo ator francês José Garcia, quinze dos quais prestando bons serviços a uma fábrica francesa de papel. Dois anos depois de perder seu emprego, ele toma uma decisão totalmente heterodoxa, resolve identificar, perseguir e eliminar os candidatos ao cargo que cobiça. Bruno parte para um jogo sem regras onde a concorrência é eliminada e o objetivo final justifica os meios adotados. Como podemos perceber, Costa-Gavras, através de sua ideologia de esquerda, criou uma paródia do capitalismo selvagem, onde livre competição pode significar a eliminação implacável da concorrência. O resultado final do filme é muito interessante e o humor negro vem na dose correta. Além de divertir, nos leva a boas reflexões sobre limites éticos e morais. Será que vale tudo para atingir os objetivos?

Como já escrevi em outro post, concorrência forte é fundamental para evitar acomodação e estimular o crescimento. Por outro lado, agir de modo ético é essencial para a construção de uma vida pessoal e profissional de sucesso. Nada melhor do que viver sem medo de ser descoberto e sem paranoias ou manias de perseguição, porque esperamos dos outros as mesmas atitudes que praticamos.

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Existe Espaço para os Pequenos, desde que Tenham Qualidade

Na véspera do segundo turno das eleições, saí com a Cláudia, minha irmã Flávia e meu cunhado Adriano. Fomos ao Bier Markt em Porto Alegre, um bar especializado em cervejas especiais. Tudo estava ótimo, as cervejas, a casa, o atendimento cortês, os petiscos e a companhia. Uma noite memorável!

Degustamos uns quatro tipos de cerveja. Eu e a Cláudia gostamos muito de uma que vinha em uma garrafa de um litro cheia de estilo, a Abadessa Helles. Ela tem um aroma floral e de mel e o sabor é levemente adocicado, mas não é enjoativo. E onde esta cerveja é produzida? Não é em Munique, a terra natal deste tipo de cerveja, mas na pequena cidade de Pareci Novo no Rio Grande do Sul.

Cerveja Abadessa Helles

Fiquei surpreso com a procedência da cerveja, mas o Adriano citou outras microcervejarias como a Barley, localizada em Capela de Santana, e a Coruja de Teutônia,. De fora do Rio Grande do Sul, comentou sobre a Baden Baden de Campos do Jordão e a famosa Eisenbahn de Blumenau, recentemente adquiridas pelo Grupo Schincariol.

Na saída do bar, minha irmã e meu cunhado foram presenteados com duas garrafas de cerveja. Eles gentilmente nos repassaram o presente. Uma delas era a Eisenbahn São Sebá que venceu o concurso Mestre Cervejeiro de 2010. A outra era uma cerveja feita por um dos funcionários do bar com nome típico dos gaúchos da fronteira, La Missionera.

Rótulo da Cerveja La Missionera

Dias depois, aqui em Novo Hamburgo, degustamos algumas cervejas da Colorado de Ribeirão Preto. Meus conceitos sobre cerveja mudaram. Óbvio que não vou rejeitar uma Skol bem gelada, mas ficou claro que no Brasil também eram produzidas cervejas artesanais de ótima qualidade. Todas as microcervejarias que citei neste post tem menos de dez anos de idade. Ou seja, a concentração do mercado de cervejas nas mãos de poucos trouxe uma padronização da maioria das marcas. Surgiu, desta forma, um espaço para pequenos fabricantes de produtos premium. A Schincariol percebeu isto e adquiriu a Baden Baden, a Devassa e a Eisenbahn.

Cervejas Colorado

O mesmo está acontecendo em vários setores da economia. Se você não for um gigante que trabalha com grandes volumes e custos baixos, deve buscar nichos de mercado, onde exista demanda para produtos diferenciados de alta qualidade.

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Aquecimento Global é um Dogma e Dogmas não Podem ser Discutidos

Dogma é definido como um ponto fundamental e indiscutível de uma crença religiosa ou filosófica. Nos últimos anos, a teoria de que a atividade humana na Terra é responsável pelo aquecimento global se fortaleceu a tal ponto que raramente vemos versão contrária na grande imprensa. Desta forma, devemos reduzir a emissão de gases geradores do efeito estufa, como o gás carbônico, para evitar a aumento da temperatura média do planeta, o derretimento das calotas polares e a elevação do nível dos oceanos. Consequências catastróficas são mostradas em programas de televisão periodicamente. Isto sempre me incomodou, porque nestes milhões de anos de história do planeta quantos períodos de aquecimento e resfriamento aconteceram? O próprio ser humano já passou por períodos glaciais e de forte aquecimento nos últimos milênios. Certamente a atividade humana não foi responsável por estes ciclos.

A primeira vez que eu ouvi um profissional criticando este alarmismo generalizado foi o Eugenio Hackbart, fundador e atual diretor-geral da MetSul Meteorologia no Rio Grande do Sul. Ele comentou que havia muitas notícias sobre o degelo no Ártico, mas pouco se falava sobre o aumento recorde da camada de gelo na Antártida.

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Professor Eugenio

O urso polar, devido às alterações no Polo Norte, foi escolhido como o símbolo desta causa. Frequentemente vemos fotos comoventes como a apresentada abaixo.  

urso-polar

Urso Polar no Ártico

 

The Great Global Warming Swindle (A Grande Farsa do Aquecimento Global, em português) é um documentário produzido em 2007 pelo britânico Martin Durkin. Ideias opostas àquelas sobre as quais se baseiam os estudos sobre o aquecimento global antropogênico são expostas e defendidas por cientistas, economistas, políticos e escritores. Assista ao vídeo abaixo da primeira parte do documentário com legendas em português. Na sequência, você pode ver a continuação no YouTube.

Alguns cientistas dizem que o Sol influencia o número de raios cósmicos que chegam à atmosfera e, assim, o número de nuvens. Quando o Sol está com grande atividade, aumenta o vento solar de partículas carregadas que ele sopra. Isso amplia o casulo de campos magnéticos em volta do sistema solar, desviando alguns raios cósmicos. Quando as manchas e os ventos solares se acalmam, o casulo magnético se contrai, mais raios cósmicos atingem a Terra, mais nuvens se formam, menos luz solar chega à superfície, e a temperatura cai.

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Manchas Solares

Não tenho condições de afirmar se os dados apresentados neste documentário estão totalmente corretos. Existem críticas em relação a algumas informações, mas parece ser lógico que um dos maiores responsáveis pela temperatura no planeta seja o Sol. Outros cientistas estudam a grande influência dos oceanos e seus ciclos no aquecimento e resfriamento do planeta.

O meu maior receio nesta história toda é o prejuízo que os países pobres podem sofrer com as metas de redução de emissões. Como um país africano poderá se desenvolver com estas restrições?

Por outro lado, o governo brasileiro discute se vamos reduzir 20% ou 40% nossas emissões de gases geradores do efeito estufa. O ministro Carlos Minc obviamente defende com entusiasmo a meta de 40%.

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Ministro Carlos Minc e as metas para redução de emissão de gás carbônico

Este é um assunto muito importante para o futuro do Brasil. Gostaria que a discussão envolvesse toda a sociedade. Assim seria possível entender como este objetivo, aparentemente ousado, poderia ser alcançado sem prejudicar o desenvolvimento do nosso país. As queimadas nas florestas poderiam ser muito reduzidas, contribuindo para atingir este objetivo.

Os resíduos oriundos das atividades agropecuárias geram grandes quantidades de metano durante sua degradação. Biodigestores podem processar estes dejetos, produzindo biogás, rico em metano, que pode substituir combustíveis fósseis para geração de calor ou eletricidade. Sabe-se que este gás é vinte e uma vezes mais potente do que o gás carbônico na geração do efeito estufa.

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Biodigestor rural

A economia deve crescer. As condições de vida das populações carentes devem ser melhoradas. O meio ambiente deve ser preservado. São grandes desafios, mas, para serem atingidos, não pode haver radicalização de todos os envolvidos. As discussões devem ser equilibradas e as “teorias da conspiração” não podem entrar nas salas de reuniões.

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A Chance de Resolver Todas as Mazelas Chama-se: Projeto Novo!

Como dizem os economistas, as necessidades humanas são ilimitadas, enquanto que os recursos são finitos. Esta regra tão fácil de ser entendida muitas vezes é desafiada durante a execução de projetos. Em muitas empresas, a aprovação de capital para investimento é vista como a oportunidade para resolver problemas que não estão ligados diretamente a esta autorização.

Um dos maiores expoentes desta filosofia é o Engenheiro francês “Jaquê”. “Já que” trocaremos o tanque, vamos aproveitar e arrumar todo o piso e recuperar as paredes.

Podemos dizer que o projeto que envolva aumento de produção nasce de uma necessidade definida através do Business Case. Partindo deste documento, a equipe do projeto define quais são os requisitos e restrições a serem seguidos. O escopo é progressivamente detalhado.

Tudo isto parece muito simples, mas, na vida real, existem muitas armadilhas a serem evitadas. Neste post, destacarei dois pontos que o gerente do projeto deve ter especial atenção.

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Sempre devemos buscar opções para minimizar os investimentos sem agregação de valor. Deste modo, a efetividade dos investimentos será aumentada. O gerente deve verificar as oportunidades para redução dos investimentos. Podemos pensar, por exemplo, em alugar um armazém ou contratar uma empresa de logística ao invés de construir um novo depósito. Estoques geralmente oneram os custos das empresas, reduzindo a lucratividade dos negócios.

Outro ponto é a execução dos projetos sem mudanças. Engenheiro são seres que têm novas ideias frequentemente. Afinal sempre existe um jeito de fazer melhor! Na medida em que o projeto avança, os equipamentos são adquiridos e montados, as mudanças causam aumentos indesejáveis de custos e atrasos nos cronogramas de implantação. A figura abaixo nos mostra que a hora da criatividade é na etapa inicial do projeto. Os custos para corrigir erros na etapa final do projeto normalmente são altos.

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Influência das Partes Interessadas e o Custo das Mudanças ao Longo do Tempo do Projeto (Fig. 2-2, PMBOK 2008)

Sempre digo que existem três motivos que podem levar a alterações de projeto:

  1. Existe um risco grave de segurança de processo que pode causar acidentes (com lesões nos funcionários ou perdas patrimoniais) ou contaminações (problemas de saúde ocupacional ou ambientais).
  2. O projeto não vai atender as premissas estipuladas pelo Business Case.
  3. Foi descoberta uma nova solução genial que vai melhorar significativamente o retorno do investimento.

Apenas o primeiro é mandatório! O segundo e o terceiro motivos devem ser analisados através do sistema de controle integrado de mudanças. Talvez o mais importante seja o prazo para iniciar a produção. Neste caso, estas alterações ficarão registradas para serem aproveitadas no futuro.

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Parem de Olhar para as Árvores e Comecem a Olhar para a Floresta

Fiquei surpreso com o pessimismo dos comentários postados no grupo “BRASIL: VAGAS EXECUTIVAS” do site LinkedIn para o meu artigo “Rio 2016 – a Olimpíada e a Autoestima”. Não consegui entender como muitas pessoas acreditam que é inevitável que a corrupção coma boa parte do dinheiro para o Olimpíada, a educação e a saúde permaneçam com qualidade abaixo da crítica e o dinheiro para investimentos do país seja drenado apenas para obras supérfluas. Parece aquela conclusão: o que está ruim vai permanecer ruim para toda a eternidade.

Hoje ouvi uma entrevista com o economista Fábio Giambiagi para a Rádio Gaúcha de Porto Alegre sobre as perspectivas do Brasil para a década 2010-2020. Ele e Octávio de Barros acabam de organizar e lançar o livro “Brasil Pós-Crise”. Gambiagi acredita que esta será a melhor década desde os anos 80.

Octavio de Barros (esquerda) e Fábio Giambiagi (direita)

Octavio de Barros (esquerda) e Fábio Giambiagi (direita)

Além dos dois organizadores, economistas como Delfim Netto, José Roberto Afonso, Francisco Dornelles, Gustavo Loyola, José Márcio Camargo, Armando Castelar Pinheiro e Alexandre Marinis discutem as reformas que o governo terá que liderar para garantir um crescimento sustentável de 6% ao ano. Se estas reformas não forem efetivadas o crescimento estimado será de 4,7% ao ano.

Voltando à entrevista, Giambiasi disse que, em 99% dos dias, o retorno para casa dos brasileiros é frustrado por todos os problemas que a gente vê no dia-a-dia. Mas quando a gente olha para o conjunto da obra, vemos como o país avançou nos último vinte anos. A imagem que aparece claramente é de um país que aos poucos vai se firmando como uma economia que vai se consolidar. Ou seja, quando a gente olha para a árvore todos os problemas aparecem, mas quando se olha para a floresta, para o conjunto do período, notam-se os avanços. Certamente com o pré-sal, há condições de ter nos próximos anos um fator de catalisação de investimentos e progresso. O desafio é aproveitar isto da melhor forma possível.

Se o Brasil crescer 6% ao ano na próxima década, quase dobraremos nossa atual renda per capita. A educação e saúde devem ser os grandes investimentos do governo para garantir este crescimento sustentável.

Parece que muitos brasileiros estão olhando para algumas árvores (problemas) e se desiludindo com o país. O melhor é olharmos inicialmente para a floresta (conjunto da obra) para constatarmos que o país está se desenvolvendo. Depois devemos trabalhar para que fatores como educação de má qualidade, sistema de saúde deficiente, má versação de verbas e corrupção não prejudiquem o crescimento da floresta. Cabe a nós escolhermos bons representantes nos poderes executivos e legislativos e, depois, fiscalizarmos ativamente suas atuações.

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