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O Festival de Carne de Cachorro e os Mini Porcos de Estimação

Ontem começou um festival de carne de cachorro na cidade chinesa de Yulin, no qual dez mil animais serão comidos até o final deste evento. Muitos grupos protestaram e abaixo-assinados eletrônicos com milhões de adesões circularam pela Internet, pedindo o cancelamento deste festival, sem sucesso.

Cães vendidos em um mercado de Yulin na China

Cães vendidos em um mercado de Yulin na China

Ficamos chocados com crueldades contra animais de estimação como cães e gatos. Não admitimos que sejam mortos para alimentar humanos. Carne de cavalo é muito pouco consumida no Brasil, mas no país existem matadouros que exportam este tipo de “iguaria” para alguns países europeus como, por exemplo, França e Itália. Parece que a proximidade com os cavalos, vistos usualmente à frente de carroças que circulam pelas ruas das cidades brasileiras, torna sua imagem mais concreta e impede o consumo de sua carne. Por outro lado, não se tem a mesma sensibilidade em relação aos bois, porcos e galinhas.

Lembro-me do caso da filha de um colega que parou de comer coração de galinha, quando descobriu que o coração de galinha era de uma galinha. Muitas pessoas têm a incrível habilidade de abstrair a informação sobre a origem do pedaço de carne que comem, desvinculando-a completamente do animal morto. Parece que o presunto não vem do porco, o filet mignon não vem do boi ou o coraçãozinho não vem da galinha.

O mini porco parece ser mais uma destas oportunidades de tomada de consciência das pessoas. Ao adotar porcos, seres mais inteligentes do que os cães, como animais de estimação, ficará difícil consumir sua carne. Estes porquinhos de estimação viverão entre 15 e 20 anos, muito mais do que os leitõezinhos das ceias de fim de ano mortos com um mês de vida ou os demais porcos de corte, abatidos aos quatro meses.

mini-porco

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Impossible Foods e o Hambúrguer Vegetal para os Amantes da Carne

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Em março deste ano, li um artigo do “The Economist” sobre as empresas start-ups do Vale do Silício, na Califórnia que estão desenvolvendo, a partir de vegetais, versões sustentáveis de alimentos à base de carne e leite. A Impossible Foods era uma das empresas citadas no artigo. No final de abril, visitei esta empresa em Redwood City, próxima a San Francisco na Califórnia. A seguir faço um resumo da minha conversa com Patrick Brown, fundador e CEO da empresa, realizada na sala “Avocado”.

Patrick Brown no laboratório da Impossible Foods  [Fonte: Wall Street Journal]

Patrick Brown no laboratório da Impossible Foods [Fonte: Wall Street Journal]

A área de atuação prévia do Dr. Brown era a biomedicina: mecanismos de regulação biológica, diagnóstico de detecção precoce de doenças humanas, ecologia microbiana do corpo humano e novas tecnologias e métodos experimentais e analíticos aplicados à pesquisa biomédica. Segundo suas próprias palavras, ele tinha o melhor trabalho do mundo, mas queria fazer alguma coisa que tivesse um impacto positivo muito maior para a humanidade. Decidiu então fazer produtos de origem 100% vegetal para substituir produtos de origem animal, como carne e queijo. Segundo “The Economist”, Pat Brown disse:

“A pecuária é uma atividade tremendamente destrutiva e totalmente insustentável. Mesmo assim, a demanda por carne e leite está em alta”.

Ele repetiu para mim aquela informação da ONU que a pecuária ocupa 30% da superfície degelada do planeta e é responsável por 14,5% de todas as emissões de gases do efeito estufa. Deste modo, para evitar um impacto maior no planeta por conta do aumento do consumo de carne e leite, seria necessário desenvolver alternativas vegetais que não devessem nada aos produtos de origem animal.

Nos primeiros anos de atividades da Impossible Foods, nenhum produto foi formulado, inúmeras moléculas foram extraídas de vegetais e analisadas. A partir daí se estudou a formulação de produtos e como obter as moléculas que seriam os ingredientes dos produtos. Todos os ingredientes escolhidos devem ser economicamente viáveis e possíveis de serem obtidos em grande escala.

Pat disse que a Impossible Foods já desenvolveu queijos, exclusivamente a base de vegetais, que foram aprovados por especialistas, mas seu primeiro empreendimento será o hambúrguer. Este primeiro produto a ser lançado terá a mordida, a suculência, o aroma e o sabor de um autêntico hambúrguer de carne. O preço também deverá ser competitivo com o produto convencional. A escolha é óbvia, além dos problemas já citados de desmatamento e aquecimento global, a conversão da ração em carne é muito ineficiente nos bovinos, 10 kg de ração são necessários para gerar apenas 1 kg de carne. Além disto, os norte-americanos são grandes consumidores de hambúrguer. Eu vi numa apresentação que, em média, cada americano consome três hambúrgueres por semana.

Hambúrguer – Foto do site da Impossible Foods

Hambúrguer 100% vegetal – Foto do site da Impossible Foods

Comentei com o Pat que a grande maioria dos vegetarianos não precisaria de um produto assim. Ele concordou e afirmou que o consumidor-alvo deste produto é o amante da carne que deseja reduzir o consumo, sem perder o prazer. Se existir uma alternativa tão boa quanto a carne, por um preço igual ou menor, por que alguém continuaria a consumir carne com todas as questões de maus tratos aos animais e prejuízos ambientais? Neste momento, haveria a migração para os produtos de origem vegetal e a pecuária entraria em declínio.

Neste ponto, eu contra-argumentei que a indústria leiteira está fortemente ligada à indústria da carne. A vaca leiteira fica prenha anualmente. Se a nova cria for um macho, será morto e se transformará em cortes de carne antes da puberdade. Se for uma fêmea, se transformará após dois ou três anos em uma nova vaca leiteira. Se tudo correr bem nos seis anos seguintes, a vaca não morrerá durante uma das gestações ou partos, nem será sacrificada devido à mastite ou outra doença. Como prêmio por ter gerado cinco ou seis crias sãs e ter produzido entre 20 e 25 toneladas de leite, a vaca será enviada para um matadouro onde será abatida e transformada em hambúrgueres e carne industrial. Se não houver bons produtos substitutos para os laticínios, como o queijo, o preço dos produtos lácteos tradicionais poderá aumentar e subsidiar o preço da carne. Se isto acontecer, a lucratividade do negócio da “carne vegetal” será corroída. Ou seja, o ataque contra a indústria da pecuária deve ser realizado pelos dois lados – carne e leite. O que é justo e deveria ser considerado nas leis num futuro próximo são as taxas sobre as externalidades causadas pela indústria da pecuária devido ao gigantesco impacto ambiental que causa. Aí sim a competição desequilibraria em favor das alternativas vegetais.

Perguntei ao Pat como ele enxergava alternativas como a carne in vitro. Provavelmente por causa dos longos anos de trabalho na área biomédica, ele foi enfático. Não acredita nesta alternativa! Explicou que os problemas com contaminações microbiológicas inviabilizam o aumento de escala do laboratório para a indústria. Um boi tem seu sistema de defesa que evita que micróbios destruam tecidos inteiros do seu organismo. No caso de carne in vitro, um simples vírus pode infectar uma célula, se multiplicar com uma velocidade extraordinária e destruir todas as células, acabando com a produção da fábrica.

Atualmente setenta pesquisadores trabalham no desenvolvimento dos produtos da Impossible Foods. Em 2016, a primeira planta deve iniciar a produção numa escala pequena. Se tudo correr bem, o próximo passo será uma planta muito maior para atingir a produção comercial plena pouco tempo depois. Depois virão os queijos…

Se você quiser ler o artigo original do “The Economist”, onde outras empresas são apresentadas, basta clicar no link abaixo.

The Economist

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O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

Segundo, The Wall Street Journal, uma onda de tempo ruim – seca nos Estados Unidos, verão quente demais na Rússia, muita chuva no Brasil – está prejudicando a cadeia de produção de alimentos e aumentando preços ao redor do mundo. A FAO, órgão das Nações Unidas para alimentos e agricultura, anunciou ontem que seu índice para preços de alimentos subiu 6% no mês passado, a maior alta desde novembro de 2009.

Atualmente somos 7 bilhões de habitantes no planeta e, segundo estimativa de ONU, passaremos para 8 bilhões em doze anos. Parece claro que, para alimentar uma população humana crescente, os recursos naturais necessários serão enormes. O poder aquisitivo das populações menos favorecidas também crescerá neste período, o que é muito bom! Desta forma, o consumo de alimentos aumentará de forma mais acelerada do que o simples crescimento vegetativo da população e não podemos esquecer que a agricultura depende do clima, da disponibilidade de água e de terras férteis.

Crescimento da População Mundial

Crescimento da população mundial

Há um tempo assisti a um vídeo do filósofo “pop” Slavoj Žižek no qual apresenta seus conceitos sobre ecologia. Ele afirma que a ecologia pode ser a religião do século XXI ao trazer uma série de dogmas a serem cegamente seguidos. Pode-se comprovar pelo massacre a que são submetidos aqueles que ousam contrapor ao senso comum ecológico. Já comentei o assunto no meu post sobre o aquecimento global. O obscurantismo “fanático-religioso” contra os transgênicos é outro exemplo dos malefícios destes dogmas ecológicos. Muitos transgênicos são, por exemplo, resistentes a pragas, reduzindo a aplicação de agroquímicos.

Transgênicos

Os transgênicos são muito criticados pelos ativistas

Assista ao vídeo de Žižek, onde ele apresenta seus conceitos sobre ecologia.

Proponho que dois caminhos distintos sejam trilhados para produzir os alimentos, as roupas e demais bens de consumo para satisfazer a demanda crescente da população:

– combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis;
– ruptura total do atual modelo produtivo através criação de novas tecnologias que tornem o ser humano independente da natureza do planeta.

A primeira via é a exploração do passado. Ela engloba, na agricultura, o uso das melhores práticas disponíveis durante todas as etapas desde a escolha de cultivares, fertilização e correção dos solos, controle de pragas e doenças até a colheita, transporte e armazenamento da safra. Na indústria, o uso das melhores técnologias para a geração de bens duráveis e de consumo, consumindo a menor quantidade de recursos: matérias primas, insumos, água e energia.

A segunda via é mudar radicalmente a forma de gerar alimentos e insumos para a indústria. Como falou Slavoj Žižek, nada de volta às origens, mas a busca de um caminho totalmente novo, desvinculado da natureza. Por exemplo, a criação de novas tecnologias que produzam alimentos a partir da recombinação química ou bioquímica de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e assim por diante. Itens fundamentais são o reciclo total de todos os resíduos e o uso de energias intrinsecamente limpas, como a solar, geotérmica e a fusão nuclear.

O consumo de carne evidentemente não é uma prática sustentável! Hoje metade do milho e 75% da soja são usadas para alimentar animais que serão mortos para servir de alimento para nós humanos. Para gerar um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de milho e soja, além do consumo de 15 mil litros de água. E nem comentei a poluição gerada por esta atividade, uma vaca leiteira, por exemplo, solta 700 litros de metano diariamente na atmosfera (gás 21 vezes mais nocivo do que o gás carbônico para a formação do efeito estufa). A carne não é mais um alimento essencial e seu consumo só pode ser justificado pelo prazer gastronômico. Quando inventarem a picanha ou o filet mignon de laboratório, juro que volto a comer carne. Já existem grupos de pesquisadores criando carne em laboratório. Por enquanto, são pequenas tiras de 3 centímetros de comprimento por 1,5 cm de largura e espessura de apenas meio milímetro, mas o rendimento de conversão dos nutrientes em carne já fica em torno de 50% contra menos de 15% da convencional.

Carne Artificial

No futuro, carne igual a esta na foto poderá ser produzida artificialmente.

Só o artificialismo, que distanciará a satisfação das necessidades humanas da natureza, nos reconciliará definitivamente com a própria natureza e os demais animais que nos cercam. Não existe outra opção…

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