O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

Segundo, The Wall Street Journal, uma onda de tempo ruim – seca nos Estados Unidos, verão quente demais na Rússia, muita chuva no Brasil – está prejudicando a cadeia de produção de alimentos e aumentando preços ao redor do mundo. A FAO, órgão das Nações Unidas para alimentos e agricultura, anunciou ontem que seu índice para preços de alimentos subiu 6% no mês passado, a maior alta desde novembro de 2009.

Atualmente somos 7 bilhões de habitantes no planeta e, segundo estimativa de ONU, passaremos para 8 bilhões em doze anos. Parece claro que, para alimentar uma população humana crescente, os recursos naturais necessários serão enormes. O poder aquisitivo das populações menos favorecidas também crescerá neste período, o que é muito bom! Desta forma, o consumo de alimentos aumentará de forma mais acelerada do que o simples crescimento vegetativo da população e não podemos esquecer que a agricultura depende do clima, da disponibilidade de água e de terras férteis.

Crescimento da População Mundial

Crescimento da população mundial

Há um tempo assisti a um vídeo do filósofo “pop” Slavoj Žižek no qual apresenta seus conceitos sobre ecologia. Ele afirma que a ecologia pode ser a religião do século XXI ao trazer uma série de dogmas a serem cegamente seguidos. Pode-se comprovar pelo massacre a que são submetidos aqueles que ousam contrapor ao senso comum ecológico. Já comentei o assunto no meu post sobre o aquecimento global. O obscurantismo “fanático-religioso” contra os transgênicos é outro exemplo dos malefícios destes dogmas ecológicos. Muitos transgênicos são, por exemplo, resistentes a pragas, reduzindo a aplicação de agroquímicos.

Transgênicos

Os transgênicos são muito criticados pelos ativistas

Assista ao vídeo de Žižek, onde ele apresenta seus conceitos sobre ecologia.

Proponho que dois caminhos distintos sejam trilhados para produzir os alimentos, as roupas e demais bens de consumo para satisfazer a demanda crescente da população:

– combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis;
– ruptura total do atual modelo produtivo através criação de novas tecnologias que tornem o ser humano independente da natureza do planeta.

A primeira via é a exploração do passado. Ela engloba, na agricultura, o uso das melhores práticas disponíveis durante todas as etapas desde a escolha de cultivares, fertilização e correção dos solos, controle de pragas e doenças até a colheita, transporte e armazenamento da safra. Na indústria, o uso das melhores técnologias para a geração de bens duráveis e de consumo, consumindo a menor quantidade de recursos: matérias primas, insumos, água e energia.

A segunda via é mudar radicalmente a forma de gerar alimentos e insumos para a indústria. Como falou Slavoj Žižek, nada de volta às origens, mas a busca de um caminho totalmente novo, desvinculado da natureza. Por exemplo, a criação de novas tecnologias que produzam alimentos a partir da recombinação química ou bioquímica de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e assim por diante. Itens fundamentais são o reciclo total de todos os resíduos e o uso de energias intrinsecamente limpas, como a solar, geotérmica e a fusão nuclear.

O consumo de carne evidentemente não é uma prática sustentável! Hoje metade do milho e 75% da soja são usadas para alimentar animais que serão mortos para servir de alimento para nós humanos. Para gerar um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de milho e soja, além do consumo de 15 mil litros de água. E nem comentei a poluição gerada por esta atividade, uma vaca leiteira, por exemplo, solta 700 litros de metano diariamente na atmosfera (gás 21 vezes mais nocivo do que o gás carbônico para a formação do efeito estufa). A carne não é mais um alimento essencial e seu consumo só pode ser justificado pelo prazer gastronômico. Quando inventarem a picanha ou o filet mignon de laboratório, juro que volto a comer carne. Já existem grupos de pesquisadores criando carne em laboratório. Por enquanto, são pequenas tiras de 3 centímetros de comprimento por 1,5 cm de largura e espessura de apenas meio milímetro, mas o rendimento de conversão dos nutrientes em carne já fica em torno de 50% contra menos de 15% da convencional.

Carne Artificial

No futuro, carne igual a esta na foto poderá ser produzida artificialmente.

Só o artificialismo, que distanciará a satisfação das necessidades humanas da natureza, nos reconciliará definitivamente com a própria natureza e os demais animais que nos cercam. Não existe outra opção…

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8 Comentários

Arquivado em Animais, Economia, Filosofia, Inovação, linkedin, Meio Ambiente, Tecnologia

8 Respostas para “O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

  1. Mauricio Bandeira

    Muito bom! Mas será que não deveríamos pensar em um novo mundo sob a perspectiva de um limite deste planeta para crescimento da populaçao humana, ou o balanço tende ao equilíbrio naturalmente?

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    • Hoje a maioria dos casais tem 1 ou 2 filhos. Apenas nos países mais pobres teremos crescimento populacional acelerado nos próximos anos. O principal motivo é a melhoria das condições gerais dos países – crescimento econômico, redução da fome, redução da mortalidade infantil, menos guerras… A tendência é a aproximação dos mesmos patamares de natalidade nestes países depois de algumas décadas. A população da Terra deve estabilizar e envelhecer em algumas décadas.

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  2. Olá! O texto dá pra render muito. Minha contribuição vai ser
    superficial, rápida e limitada numa mistura de críticas e de aceitação,
    além da possibilidade de ter interpretado o texto de maneira equivocada.

    Antes eu gostaria de dizer sou a favor da carne in vitro como uma
    alternativa para a apatia moral com relação aos animais. Também sou a
    favor das intervenções no chamado mundo natural para beneficiar os que
    sofrem em decorrência das circunstâncias que ocorrem nele (acho que aqui
    também se encaixa os organismos geneticamente modificados).

    Entretanto, o texto todo está sustentado nas nossas utopias e em certa
    dicotomia. Eu tenho consciência que as perspectivas de mundo que estamos
    tentando passar adiante são utopias, talvez tenham algum lugar em
    determinado momento e no nosso nicho. Mas, ingenuidade e estratégia a
    parte, sabemos que nós como humanos não somos tão altruístas. Parece-me
    que o padrão continuará sendo a tônica: os mais desfavorecidos sofrendo
    e quem tem recursos se esquivando até onde/quando der.

    Citei dicotomia porque em algum momento o texto pareceu sugerir isso
    entre os avanços das grandes corporações (Monsanto, por exemplo) versus
    uma visão dura da ecologia (e tenho muita crítica sobre ecologia e
    veneração pelo equilíbrio natural). Ainda que não seja sabido nessa
    área, pareceu que ficou de fora dessa análise (e acho que estou
    enganado aqui) a agricultura familiar, a permacultura e provavelmente
    outras modalidades que não foram contempladas no ‘um ou outro’ – mas
    inevitavelmente estamos imersos em utopias e temos que investir nelas.
    Aqui também fica faltando uma proposta de solução para a ganância
    destrutiva dessas grandes corporações que desenvolvem os OGM e que estão
    patenteando e corroendo tudo em volta em nome de dinheiro e poder para
    poucos e não como uma forma de solucionar a desgraça dos mais
    desfavorecidos.

    Além dos dois caminhos propostos, e não tenho repertório ainda pra
    perceber essas propostas de fato, temos outras questões sobre alimentos
    que envolvem as grandes redes de distribuição e venda, por exemplo: os
    supermercados com as legislações atuais. Quando conversamos com as
    pessoas que trabalham em qualquer desses tantos locais distribuídos no
    planeta inteiro, é vergonhoso constatar o descarte e desperdício de tudo
    que é tipo de alimentos que não estarão viçosos no dia posterior e que a
    lei impede de ser doado. Vai tudo fora. É um horror. Particularmente,
    tem sido uma ginástica conseguir folhas para os coelhos que tirei de um
    matadouro. Certa vez tive que conversar com dois gerentes. Logo em
    seguida, uma atendente me confessou que vai tudo fora, frutas, verduras,
    todos os pães e produtos elaborados para compra no local etc.

    Então, nessa rápida e bem duvidosa análise minha, fico em dúvida se só o
    artificialismo será uma alternativa para a reconciliação. Talvez seja
    para uma minoria que sobreviver num planeta inóspito.

    Mas antes, acho que nunca existiu uma conciliação. O mundo natural é
    nefasto. Reconciliar seria pensar que já existiu uma situação anterior,
    e uma análise imparcial sugere que acontecer enquanto entidade pensante
    (mente, ‘eu’, personalidade seja o nome que se der) que de certa forma
    habita um bioma que funciona por si só (o corpo) nesse lugar está mais
    perto de um castigo no inferno que um acontecimento no paraíso. Talvez a
    invenção dum novo mundo mediado pelo viés do homem (e isso até pode ser
    interpretado como um totalitarismo) com a intenção de melhorar as coisas
    seja possível apenas pelo ‘artificialismo’ e intervenções diversas,
    pegar as rédeas dos poderes ‘naturais’ e impor o nosso modo de
    interpretar uma vida que valha a pena ser vivida por todos.

    Acho que vão gostar de ler esse artigo:
    http://www.olharanimal.net/luciano-cunha/1558-sobre-danos-naturais

    Ps. li e respondi bebendo cerveja! Abraços para vocês e obrigado por
    pedir minha opinião. Que bom que a questão da carne in vitro e
    possibilidades tecnológicas, por exemplo, estão entrando em cena para
    questionar o modelo ecológico petrificado.

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    • Juliano,

      Grande comentário!

      Só tenho alguns esclarecimentos iniciais. O que hoje parece uma utopia, pode ser a realidade no futuro. O Artificialismo seria o novo paradigma, a síntese na dialética entre o ecológico tradicional e a agropecuária de grande escala. Inevitavelmente deverá ser puxado por grandes corporações (isto já reduz o componente utópico da ideia).

      Espero que os líderes destas novas tecnologias não ajam da forma prepotente e arrogante como foi conduzida a questão dos OGM’s. Isto levou a uma reação radical da Europa que criou a resistência descabida contra esta nova tecnologia.

      Você acertou em cheio na observação sobre a agricultura familiar, a permacultura e, eu incluiria, agricultura natural / orgânica. Estas modalidades poderão continuar existindo em paralelo ao novo sistema. Muitos ainda gostariam de comer uma fruta que cresceu em uma árvore de verdade sem a adição de agroquímicos. Em relação a permacultura, não acredito nela como solução para a humanidade, parece aquela velha história da natureza em equilíbrio, mas todos terão livre arbítrio (olha a utopia de novo) de optarem por esta forma de vida.

      A questão da distribuição e logística de alimentos também entra no primeiro caminho: “combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis”. Li um relatório da FAO sobre desperdícios de alimentos no mundo. Os americanos e europeus apresentam pequenas perdas no campo e grandes perdas nos pontos de vendas e residências. Na América Latina, aumentam as perdas no campo e se reduzem um pouco no comércio e residências. Na África, quase metade do alimento é perdido na colheita, armazenamento e transporte para os centros consumidores, nas casas o desperdício é quase desprezível. Ou seja, se simplesmente melhorar a questão logística na África, a disponibilidade de alimentos dobraria.

      Para finalizar, minha ideia não é dobrar os joelhos da Natureza para sermos seu mestre supremo. Quero que o ser humano deixe de depender da Natureza e de sua instabilidade. E agora vem a grande utopia final, um mundo com acesso à alimentação abundante e energia barata será um mundo sem guerras e com natureza preservada.

      Já baixei o artigo que você enviou o link. Oportunamente conversaremos sobre ele.

      Grande abraço!

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  3. Nina Weber

    Ótimo texto Vicente! Parabéns! Me fez refletir muitas coisas, e até debatemos sobre o assunto por aqui! Abraço!!

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    • Nina,

      Neste mundo em que a população de humanos cresce e precisa ser alimentada melhor do que atualmente, como conciliar preservação ambiental e respeito aos animais? Somente com a criação de um modelo completamente novo e só através do debate e da busca de novas tecnologias conseguiremos desenvolver este novo modelo.

      Valeu! Abraços para você e o Gilberto e um beijão no fofo do Francisco!

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  4. ótimo texto e ótima análise, belo toque na cuca. abraços

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    • Valeu Chris!
      A ideia é encontrar formas totalmente novas de fazer os produtos consumidos atualmente. A chamada volta à Natureza significaria uma era de fome e escassez, o que levaria inevitavelmente a novas guerras.
      Abraço.

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