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A Máquina Fotográfica Digital, o Sexo e a Concordata de um Gigante

Confesso que até hoje tenho certo trauma em relação à atividade de tirar fotografias, talvez porque, no passado, havia um verdadeiro rito processual. Tudo começava com o ato de tirar a foto e aguardar que todo o filme fosse usado, depois se deixava o filme em um laboratório para ser revelado e, finalmente, as fotos eram pagas, retiradas e surgia o resultado. Muitas fotos “queimavam”, porque eram tiradas contra o sol. Algumas eram tortas ou mal enquadradas, cabeças eram cortadas com a mesma eficiência das guilhotinas da Revolução Francesa. Outras ainda saiam “tremidas” ou desfocadas. Existia muita expectativa sobre algumas fotos, podiam ser reuniões de famílias ou amigos, belas paisagens, alguma celebridade. Muitas vezes havia decepção com o resultado…

Assim se procurava minimizar os riscos de “perder” fotos, a atividade era quase exclusiva de adultos. Alguns casais pediam para o filho mais velho tirar uma fotografia deles, mas normalmente com baixa expectativa de sucesso. Lembro que, quando moramos em Passo Fundo, fizemos um passeio na cidade de Vacaria. Eu devia ter seis anos e meus pais se sentaram em um banco da praça principal da cidade e pediram para eu tirar uma foto deles. Quando o filme foi revelado, não apareceu a foto deles, no lugar dela havia uma linda foto das árvores da praça. Minha mira falhou…

As coisas melhoraram um pouco quando ganhei de presente alguns anos depois uma Kodak Instamatic.

Kodak Instamatic

Era mais fácil de colocar o filme e tirar fotos, mas as fotos eram quadradas e era difícil tirar uma foto realmente boa. Abaixo uma foto histórica tirada com esta máquina onde apareço com minha irmã e meus primos de Pelotas.

Primo Éverton (esquerda), eu, prima Simone e mana Flávia

Primo Éverton (esquerda), eu, prima Simone e mana Flávia

Tem algumas invenções que alteram nosso modo de se relacionar com o mundo e favorecem o aparecimento de novos talentos. Uma destas invenções é a máquina fotográfica digital.

Na metade da década de 70, aconteceram os primeiros desenvolvimentos nos laboratórios da Kodak, mas somente no final dos anos 80 e início dos 90 se iniciou a comercialização dos primeiros modelos. O preço inicialmente era muito mais alto do que as câmeras convencionais com filme. A resolução das fotos digitais também era muito inferior. As agências jornalísticas foram os primeiros a perceberem o potencial desta nova invenção, onde um repórter fotográfico podia tirar uma foto e transmiti-la pela linha telefônica para a redação do jornal. Depois surgiram as câmeras com visor de LCD, onde instantaneamente a qualidade da foto poderia ser conferida. O medo de desperdiçar fotos sumiu, poderiam ser tiradas quantas fotos cada um quisesse e só seriam preservadas as que ficassem boas. As crianças ganharam a permissão de experimentar. Uma revolução! Quando o preço caiu, as máquinas fotográficas com filme ficaram restritas a um nicho de mercado, os amadores migraram maciçamente para a novidade.

Até o grande fotógrafo brasileiro Sebastião Salgado aderiu à novidade durante seu último trabalho, Genesis, que traz imagens das regiões mais remotas da Terra. Assista ao vídeo sobre a abertura da turnê da exposição que ocorreu no Museu de História Natural de Londres.

Aqui em casa, nossa filha Júlia tira fotos e faz vídeos com a máquina fotográfica e, principalmente, com o smartphone da mãe. Alguns destes vídeos são bem interessantes! Parece que os smartphones já substituíram a maioria das máquinas fotográficas digitais. A tecnologia avança de forma cada vez mais rápida. Quando algo novo cai nas graças dos consumidores, a migração é muito rápida, abandonando-se a tecnologia anterior.

Agora um aspecto mais “quente” desta evolução tecnológica! As fotos digitais facilitaram outras atividades, como o sexo e a pornografia. Imagine a seguinte situação: um casal se inscreve num site de swing (troca de parceiros) e precisa anexar fotos desinibidas neste site. No caso das máquinas fotográficas com filme, eles tirariam fotos caseiras, iriam para um laboratório para solicitar a revelação, onde provavelmente todos os funcionários olhariam as fotos. Evidentemente, haveria uma “negociação” do casal para decidir qual dos dois retiraria as fotos, onde, certamente, o marido seria o perdedor. Ele entraria na loja, usando a sua melhor cara de pau, e entregaria o recibo para algum atendente. O marido pegaria o envelope, louco para sumir o mais rápido possível, mas uma atendente diria:

– O senhor tem direito a uma ampliação.

Neste momento, o homem poderia interpretar mal, ficar feliz e dizer:

– Que beleza! Vocês têm convênio com alguma clínica especializada?

Ou poderia se irritar e dizer:

– Achou pequeno, hein? Posso te mostrar ao vivo…

censurado

Deixando a palhaçada de lado, eu realmente acho incrível como um gigante como a Eastman Kodak, em apenas vinte anos, perdeu a liderança do negócio de fotografia e pediu concordata na metade de 2012. Na sequência, para evitar a falência, se desfez de negócios e vendeu suas patentes no segmento de imagens digitais. Parece que esta empresa, como tantas outras grandes corporações, não conseguiu perceber a ameaça que novas tecnologias emergentes representam para seu negócio e não se reinventou a tempo. No caso específico da Kodak, ainda existe o agravante de que o primeiro protótipo da nova invenção nasceu no interior de seus laboratórios de P&D. O orgulho da sua grandeza gerou a arrogância e a cegueira que despedaçaram a empresa, como acontece também com várias pessoas.

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O Passado e o Futuro

No ótimo filme de Woody Allen, Meia-Noite em Paris, o personagem principal Gil Pender – interpretado por Owen Wilson, cita uma frase do escritor americano William Faulkner:

– “O passado não está morto! Na verdade, nem é mesmo passado.”

A frase cai como uma luva para este filme. Por incrível que pareça, os detentores do patrimônio do escritor processaram a Sony por violação de direitos autorais…

midnight_in_paris

No filme, Gil Pender sonha em morar em Paris nos anos 20, época na qual seus escritores favoritos viveram. Na sua viagem ao passado, conhece e se apaixona por Adriana, interpretada por Marion Cotillard, mas ela também deseja viver no seu passado, a Belle Époque parisiense, caracterizando uma sequência de “Síndrome da Época de Ouro”.

Quem já não disse que no tempo da sua juventude era melhor? Ou ninguém faz mais músicas ou filmes como no seu tempo? Nada representa melhor esta postura do que a extraordinária música de Belchior “Como Nossos Pais”, imortalizada por Elis Regina. Assista ao vídeo abaixo.

Este trecho da música que transcrevi abaixo descreve esta postura de apego ao passado.

Já faz tempo
E eu vi você na rua
Cabelo ao vento
Gente jovem reunida
Na parede da memória
Esta lembrança
É o quadro que dói mais…

Minha dor é perceber
Que apesar de termos
Feito tudo, tudo, tudo
Tudo o que fizemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Ainda somos os mesmos
E vivemos
Como Os Nossos Pais…

Nossos ídolos
Ainda são os mesmos
E as aparências
As aparências
Não enganam não
Você diz que depois deles
Não apareceu mais ninguém
Você pode até dizer
Que eu estou por fora
Ou então
Que eu estou inventando…

Mas é você
Que ama o passado
E que não vê
É você
Que ama o passado
E que não vê
Que o novo sempre vem…

Considerando que “o novo sempre vem”, a seguir apresento algumas “obviedades” sobre passado e futuro.

Não é possível criar um novo futuro com base apenas no passado. Seria como dirigir um automóvel, olhando apenas para o espelho retrovisor.

Por outro lado, corremos risco de fracassar, se tentarmos criar um futuro sem entender criticamente o passado. Neste caso, poderemos repetir os mesmos erros. Como eu sempre digo, errar faz parte da vida, mas vamos ser originais e errar de forma criativa.

O que funcionou no passado, talvez não funcione no futuro. O resultado final será no máximo igual. Afinal o mundo evoluiu!

O contrário também vale! Não podemos concluir que algo não funcionará no futuro, porque não funcionou no passado. Afinal agora o mundo pode estar preparado para esta novidade…

Finalmente, devemos sempre planejar o futuro, mas o imponderável ou o inesperado pode derrubar nosso planejamento. Nestas horas, devemos manter nossas mentes abertas, porque muitas vezes as oportunidades que aparecem são melhores do que nosso plano original.

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Os Psicopatas, os Hiperativos, os Estranhos e os Normais

Na semana passada, no mural do Facebook do Nilson, companheiro de tantas jornadas importantes do nosso Inter no Beira-Rio, havia uma interessante palestra do jornalista e documentarista britânico Jon Ronson sobre psicopatia. Se quiser assisti-la, com legendas em português, basta clicar abaixo.

Com é difícil provar a normalidade! Parece que todos somos anormais, psicopatas ou, pelo menos, temos alguns transtornos de personalidade ou de comportamento. Por incrível que pareça, há mais de um século, nosso maior escritor, Machado de Assis, tratou deste assunto na grande obra “O Alienista” (leia o post sobre este conto ou novela).

No início do mês, li uma reportagem na Folha de São Paulo, originalmente publicada no New York Times, cuja manchete era “Nos Estados Unidos, 11% dos estudantes têm transtorno de deficit de atenção”. Fui atraído pela manchete, li a matéria e fui atrás da fonte (jornal americano) para obter mais informações. Abaixo você pode ver o gráfico com a distribuição deste distúrbio por faixa etária e sexo nos Estados Unidos.

Distribuição das crianças diagnosticadas comTDAH nos Estados Unidos. [Fonte: New York Times]

Distribuição das crianças diagnosticadas com TDAH nos Estados Unidos. [Fonte: New York Times]

O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH ou ADHD em inglês) caracteriza-se pela desatenção, dificuldade de manter o foco em uma atividade específica, hiperatividade e impulsividade. Esta síndrome pode causar problemas e dificuldades na escola, durante a infância e juventude, e nas atividades profissionais na idade adulta.

O primeiro questionamento que faço a respeito do aumento da ocorrência deste tipo de problema entre os estudantes americanos é a mudança do ambiente atual em comparação com algumas décadas atrás. Hoje existem muito mais estímulos para as crianças e jovens, temos TV a cabo, Internet, videogames, notebooks, celulares, iPods, iPhones, iPads… Por outro lado, as aulas mudaram pouco nos últimos quarenta anos, predominantemente são expositivas. Só houve evolução na tecnologia para apresentar as informações, do quadro negro e giz, passando pelas lâminas de retro-projetor, até chegar às apresentações preparadas em PowerPoint e projetadas através de um data show. A essência continua a mesma, o professor passa o conhecimento, enquanto os alunos deveriam absorvê-lo. A questão básica é como alguém que vive em um ambiente com alta interatividade se interessará por uma aula com este formato?

Não existe um teste laboratorial para medir o TDAH, como acontece, por exemplo, no caso de suspeita de anemia no qual um simples exame de sangue define a questão. O diagnóstico da TDAH é feito através de questionários aplicados ao paciente (ou seria impaciente) e aos que o cercam, pais, professores, irmãos, colegas… Ou seja, tudo é muito subjetivo, porque depende da percepção de cada um.

A Folha de São Paulo, ao resumir a reportagem do New York Times, omitiu uma parte muito importante da reportagem do jornal americano – o uso de medicamentos e as ações de seus fabricantes. Hoje os pais têm se preocupado cada vez mais com o desempenho escolar dos filhos. Em um ambiente de alta competição, como o americano, a necessidade de ter um alto desempenho na escola para garantir uma vaga em uma universidade de ponta é fundamental para o sucesso na carreira. Percebendo este filão, os laboratórios de medicamentos iniciaram campanhas maciças para estimular os diagnósticos de TDAH e o uso de medicamentos para reduzir a hiperatividade e aumentar o foco das crianças e jovens. Cerca de dois terços dos que receberam diagnóstico positivo passaram a consumir estimulantes como Ritalina, Adderall, Concerta e Vyvanse. Para se ter uma ideia o faturamento com a venda destes remédios passou de US$ 4 bilhões em 2007 para US$ 9 bilhões em 2012.

A reportagem do NYT, por example,cita um panfleto da Shire fabricante do Vyvanse (dimesilato de lisdexanfetamina), vendido no Brasil com a marca Venvanse, que mostra uma mãe olhando para seu filho e dizendo:

– Eu quero fazer tudo que eu posso para ajudá-lo a ter sucesso.

Bela mensagem! Eu poderia escrever diferente:

– Sou uma boa mãe, me preocupo com meu filho e vou dar um estimulante, uma anfetamina, que pode causar vício, mas estarei ajudando-o a melhorar seu desempenho escolar e ter um futuro melhor.

Outro panfleto do Laboratório Shire sobre o Vyvanse

Outro panfleto do Laboratório Shire sobre o Vyvanse

Se você acha que esta é mais uma invenção restrita apenas ao território norte-americano, está enganado. Segundo site do Dr. Drauzio Varella, o Brasil é o segundo mercado do mundo da Ritalina (metilfenidato) produzido pela Novartis. Este remédio tem o apelido de “droga da obediência”, devido ao efeito zumbi que pode causar uma espécie de apatia ou letargia.

A discussão agora é ser mais severo no diagnóstico do TDAH. Assim, cada vez mais crianças, adolescentes e jovens serão tratadas com estas drogas. Meu maior receio é a padronização do comportamento das pessoas que passam a agir como robôs. Como disse Jon Ronson, no final da sua palestra, você não deve rotular as pessoas pelos seus limites mais loucos. O mundo não gosta de áreas cinzas, mas, nestas áreas, encontramos a complexidade, é onde a gente encontra a humanidade e é onde encontramos a verdade. Eu diria mais, encontramos a diversidade, talento, criatividade e a inovação.

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Privacidade, Intromissão e Exibicionismo

No penúltimo post, comentei rapidamente sobre dois livros importantes da literatura mundial, Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley e 1984 de George Orwell. Quem acompanha meu blog já conhece meu otimismo em relação ao futuro da humanidade, mas atualmente a quantidade de informações disponíveis sobre os indivíduos na rede é tão grande que me leva a fazer algumas considerações.

Hoje, sob a justificativa de que a segurança dos indivíduos e comunidades deve ser garantida, uma série de ações para rastrear as atividades já é executada normalmente com o consentimento da maioria das pessoas:

– a Internet é monitorada para evitar ações criminosas como pedofilia, fraudes, lavagem de dinheiro, etc.;
– as movimentações bancárias são vasculhadas e avalia-se a compatibilidade com a evolução do patrimônio;
– as compras no cartão de crédito são registradas; e as tendências, analisadas.

Nunca os Estados tiveram tantos recursos para monitorar a vida dos seus cidadãos. Infelizmente apenas os aspectos positivos destas ações são percebidos. Sem dúvida alguns procedimentos podem ameaçar as democracias, especialmente se forem conjugadas com a apatia das pessoas. Já ouvi apoio para a colocação de chips em pessoas e para sistemas de leitura da mente. No primeiro caso, sequestros poderiam ser inibidos, mas o chip daria a localização exata de cada indivíduo para os Serviços de Inteligência do país. Os sistemas de leitura da mente seriam ótimos para dar mais autonomia aos tetraplégicos, também poderiam ser o canal de comunicação com pessoas em estado vegetativo, mas os mesmos Serviços de Inteligência poderiam usá-los para descobrir as ideias e opiniões das pessoas.

Big Brother de George Orwell

Big Brother de George Orwell

A grande maioria das pessoas não deseja que suas preferências sejam gravadas por sites de busca como o Google. Afinal onde está a privacidade? Queixa-se também quando recebem E-mails comerciais baseados em cadastros de clubes sociais, clubes esportivos ou cadastro dos cartões de crédito. Por outro lado, as mesmas pessoas que reclamam ao ter a privacidade “violada”, postam fotos, vídeos e opiniões comprometedoras em redes sociais.

redes-sociais

O que leva a este tipo de comportamento? Parece que muitas pessoas buscam aceitação, reconhecimento social e fama a qualquer custo. Abraham Maslow há 70 anos formulou sua Teoria da Hierarquia das Necessidades, conhecida popularmente como a Pirâmide de Maslow. Existem críticas que dizem ser impossível criar um modelo universal, por outro lado as necessidades variam de acordo com as circunstâncias, mas acredito que este modelo é um bom ponto de partida para esta análise.

Piramide de Maslow

Pirâmide de Maslow

Os dois primeiros níveis da pirâmide (fisiológico e segurança) são os mais objetivos. Dizem respeito à alimentação, saúde, moradia, emprego, renda mínima e paz. O terceiro nível (social) refere-se aos relacionamentos, amizades, amor e família. Nestas épocas digitais, onde as pessoas se esforçam para ter mais amigos no Facebook, até mesmo o conceito de amizade mudou. Os amigos de carne e osso reais, que oferecem o ombro nos momentos difíceis e nos dizem o que devemos ouvir, foram substituídos por outros que curtem tudo o que postamos, mas isto satisfaz muita gente…

O nível da pirâmide relativo ao status e a autoestima é mais fácil de ser compreendido. Muitas pessoas acreditam que o importante é aparecer, não importa a forma. Ou seja, não importa o que falam, bem ou mal, o essencial para o ego é ser visto e comentado por muitos. Toda esta leva de subcelebridades e pseudomodelos se encaixa nesta forma de agir. Neste momento, percebo que é praticamente impossível para estas pessoas atingirem a autorrealização, porque não têm a mínima ideia do que realmente tem valor, é importante ou quais seriam os propósitos das suas vidas.

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Obama e o Dilema Capitalista

Nesta semana, a principal notícia foi a reeleição de Barack Obama como presidente dos Estados Unidos, o país mais poderoso do mundo. Um dos pontos mais importantes debatidos, durante toda a campanha, foi a lenta recuperação da economia americana. Na segunda-feira, li um artigo muito interessante no The New York Times escrito por um professor de Harvard, Clayton Christensen, que iniciava com a seguinte constatação:

– Independente do que acontecerá no Dia das Eleições, os americanos continuarão perguntando: quando a economia melhorará?

Um dos recados transmitidos é que a influência do presidente eleito, Obama ou mesmo Romney, na retomada da economia seria pequena. Você pode ler o artigo na íntegra, clicando no link abaixo.

http://www.nytimes.com/2012/11/04/business/a-capitalists-dilemma-whoever-becomes-president.html?pagewanted=all

Romney e Obama

Um dos debates entre Romney e Obama

Segundo o autor, existem três tipos de inovação:

  1. Inovação capacitante (“empowering innovation”)
  2. Inovação de sustentação (“sustaining innovation”)
  3. Inovação de eficiência (“efficiency innovation”)

O primeiro tipo de inovação supre uma demanda do mercado ainda não atendida. Ela transforma produtos caros disponíveis apenas para um pequeno grupo de pessoas em produtos mais baratos para a maioria da população. Ele cita os exemplos do Ford Modelo T e dos computadores pessoais. Esta forma de inovação cria empregos e usa capital para estruturação da nova cadeia produtiva. Ou seja, estimula o crescimento econômico.

Linha de produção do Ford modelo T

Linha de produção do Ford modelo T

A inovação de sustentação substitui os velhos produtos por novos modelos. Por exemplo, os carros híbridos possuem tecnologia mais avançada do que os convencionais, entretanto o número total de automóveis vendidos não crescerá devido à sua introdução no mercado, porque o público-alvo é exatamente o mesmo dos modelos tradicionais. Esta forma de inovação, apesar de criar poucos empregos novos, mantém o dinamismo da economia.

Automóvel híbrido Toyota Prius

Automóvel híbrido Toyota Prius

A inovação de eficiência, como o próprio nome sugere, busca a redução dos custos de geração de um produto ou serviço. Assim o número de empregos sempre é reduzido com a aplicação deste terceiro tipo de inovação. Por outro lado, a empresa recupera o capital investido que poderá ser o combustível para o próximo ciclo de inovação capacitante.

Estas três formas de inovação devem operar de modo cíclico, onde as inovações capacitantes são essenciais, porque criam novos consumos e mais empregos do que as inovações de eficiência conseguem eliminar posteriormente.

Segundo Christensen, nos últimos 150 anos, a economia americana operou desta forma e conseguiu manter-se distante dos longos períodos de recessão. De 1948 a 1981, o nível de emprego anterior à recessão era recuperado em apenas 6 meses. Na recessão de 1990, demorou 15 meses; na de 2001, 39 meses. E agora já são 60 meses, lutando para voltar ao nível anterior a esta recessão.

O que está havendo? O autor explica que as inovações de eficiência estão gerando capital que é reinvestido em novas inovações de eficiência ao invés das capacitantes. Desta forma, gera-se mais capital, mas não são gerados novos empregos. O capitalismo trata com carinho os bens escassos e “despreza” os bens abundantes. Hoje capital não representa mais uma restrição, porque existem abundantes linhas de financiamento com baixas taxas de juros no mundo. O problema é que os líderes das empresas estão seguindo fielmente os ensinamentos que receberam no passado. Ao analisar a taxa interna de retorno (I.R.R. em inglês) de dois investimentos, uma inovação capacitante com retorno em 8 anos e uma inovação de eficiência que retorna na metade deste período, a opção pelo ganho mais fácil e garantido tem sido a escolhida na grande maioria dos casos.

Eu diria que os capitalistas se viciaram no capital. Ou, em inglês, deixaram de ser capitalist e viraram capital addict.

Dilema capitalista

O Dilema Capitalista

O autor sugere que existe um problema educacional nos Estados Unidos, porque as habilidades para a criação de inovações capacitantes estão escassas atualmente. As universidades deveriam treinar os estudantes para estes tipos de desenvolvimentos, passando a mirar no longo prazo. Em paralelo, o governo americano deveria criar um sistema para incentivar este tipo de investimento.

Clayton Christensen

Clayton Christensen

O Brasil experimentou um crescimento baseado no aumento do consumo interno nos últimos anos. Este modelo parece ter se esgotado. Parece que este artigo dá uma pista sobre o que deve ser feito para que nosso país dê um novo salto de desenvolvimento, mas para que isto ocorra, investimentos em inovação e educação são fundamentais.

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Golfinhos de Guerra

Durante meus vinte dias no Canadá, normalmente aproveitava para fazer uma leitura do jornal local, “The Saskatoon StarPhoenix”, no café da manhã do hotel. Em uma destas leituras matutinas, havia a notícia sobre exercícios conjuntos das forças armadas americanas e canadenses nos quais participaram golfinhos treinados pelos americanos.

Golfinhos da Marinha Americana

Sargento Andrew Garrett observa um golfinho durante treinamento no Golfo Pérsico. (Foto: Brien Aho/AP)

A marinha americana, desde os anos 60, vem desenvolvendo um programa que usa mamíferos marinhos (Marine Mammal System) em operações especiais, como os golfinhos-nariz-de-garrafa (golfinhos comuns) e os leões marinhos californianos. Os golfinhos e baleias possuem um sonar mais eficiente do que o melhor dispositivo desenvolvido pelo homem, enquanto os leões marinhos apresentam uma visão privilegiada mesmo em condições de baixíssima iluminação.

Leão marinho da Marinha Americana.

Leão marinho em treinamento pela Marinha Americana.

A principal função dos golfinhos é a localização de minas marinhas. Eles foram usados com sucesso na Invasão do Iraque em 2003 para limpar as minas no Porto de Umm Qasr. Atualmente estão em treinamento para outra missão semelhante, se o Irã cumprir sua ameaça de colocar minas no Estreito de Ormuz, por onde passam pelo menos um quinto dos carregamentos de petróleo do mundo.

Estreito de Ormuz

Localização do Estreito de Ormuz no Golfo Pérsico

A marinha americana garante que os golfinhos não são responsáveis pela detonação das minas, apenas pela sua detecção e marcação. Por outro lado, de acordo com notícia do site CBS News, em 26 de março de 2011, pelo menos três mortes de golfinhos na costa de San Diego na Califórnia estavam ligadas a exercícios da marinha americana. Claro que estes mamíferos marinhos não estão prestando serviço voluntário para as Forças Armadas! Será que podemos considerar ética a exposição de animais a missões de alto risco como estas?

Peter Singer define especismo como sendo a discriminação dos homens contra as outras espécies de animais. Assim os humanos podem usar outras espécies como escravos ou criá-las para depois abatê-las e usá-las como alimento. O filósofo australiano também comparou o especismo com outras formas de discriminação como o racismo e o sexismo.

Peter Singer

Peter Singer e a Liberação Animal

A maioria das pessoas fica sensibilizada com notícias sobre violência contra golfinhos, baleias, macacos ou animais domésticos, como cães e gatos. Por outro lado, não são concedidos os mesmos direitos a outros animais, como galinhas, porcos e vacas.

Vaca e Golfinho

E eu nem falei sobre sustentabilidade ou dos problemas ecológicos causados pela criação de animais para consumo humano…

Para mais informações sobre este assunto, leia “Ecologia Dentro e Fora de Nossos Corpos“.

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O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

Segundo, The Wall Street Journal, uma onda de tempo ruim – seca nos Estados Unidos, verão quente demais na Rússia, muita chuva no Brasil – está prejudicando a cadeia de produção de alimentos e aumentando preços ao redor do mundo. A FAO, órgão das Nações Unidas para alimentos e agricultura, anunciou ontem que seu índice para preços de alimentos subiu 6% no mês passado, a maior alta desde novembro de 2009.

Atualmente somos 7 bilhões de habitantes no planeta e, segundo estimativa de ONU, passaremos para 8 bilhões em doze anos. Parece claro que, para alimentar uma população humana crescente, os recursos naturais necessários serão enormes. O poder aquisitivo das populações menos favorecidas também crescerá neste período, o que é muito bom! Desta forma, o consumo de alimentos aumentará de forma mais acelerada do que o simples crescimento vegetativo da população e não podemos esquecer que a agricultura depende do clima, da disponibilidade de água e de terras férteis.

Crescimento da População Mundial

Crescimento da população mundial

Há um tempo assisti a um vídeo do filósofo “pop” Slavoj Žižek no qual apresenta seus conceitos sobre ecologia. Ele afirma que a ecologia pode ser a religião do século XXI ao trazer uma série de dogmas a serem cegamente seguidos. Pode-se comprovar pelo massacre a que são submetidos aqueles que ousam contrapor ao senso comum ecológico. Já comentei o assunto no meu post sobre o aquecimento global. O obscurantismo “fanático-religioso” contra os transgênicos é outro exemplo dos malefícios destes dogmas ecológicos. Muitos transgênicos são, por exemplo, resistentes a pragas, reduzindo a aplicação de agroquímicos.

Transgênicos

Os transgênicos são muito criticados pelos ativistas

Assista ao vídeo de Žižek, onde ele apresenta seus conceitos sobre ecologia.

Proponho que dois caminhos distintos sejam trilhados para produzir os alimentos, as roupas e demais bens de consumo para satisfazer a demanda crescente da população:

– combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis;
– ruptura total do atual modelo produtivo através criação de novas tecnologias que tornem o ser humano independente da natureza do planeta.

A primeira via é a exploração do passado. Ela engloba, na agricultura, o uso das melhores práticas disponíveis durante todas as etapas desde a escolha de cultivares, fertilização e correção dos solos, controle de pragas e doenças até a colheita, transporte e armazenamento da safra. Na indústria, o uso das melhores técnologias para a geração de bens duráveis e de consumo, consumindo a menor quantidade de recursos: matérias primas, insumos, água e energia.

A segunda via é mudar radicalmente a forma de gerar alimentos e insumos para a indústria. Como falou Slavoj Žižek, nada de volta às origens, mas a busca de um caminho totalmente novo, desvinculado da natureza. Por exemplo, a criação de novas tecnologias que produzam alimentos a partir da recombinação química ou bioquímica de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e assim por diante. Itens fundamentais são o reciclo total de todos os resíduos e o uso de energias intrinsecamente limpas, como a solar, geotérmica e a fusão nuclear.

O consumo de carne evidentemente não é uma prática sustentável! Hoje metade do milho e 75% da soja são usadas para alimentar animais que serão mortos para servir de alimento para nós humanos. Para gerar um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de milho e soja, além do consumo de 15 mil litros de água. E nem comentei a poluição gerada por esta atividade, uma vaca leiteira, por exemplo, solta 700 litros de metano diariamente na atmosfera (gás 21 vezes mais nocivo do que o gás carbônico para a formação do efeito estufa). A carne não é mais um alimento essencial e seu consumo só pode ser justificado pelo prazer gastronômico. Quando inventarem a picanha ou o filet mignon de laboratório, juro que volto a comer carne. Já existem grupos de pesquisadores criando carne em laboratório. Por enquanto, são pequenas tiras de 3 centímetros de comprimento por 1,5 cm de largura e espessura de apenas meio milímetro, mas o rendimento de conversão dos nutrientes em carne já fica em torno de 50% contra menos de 15% da convencional.

Carne Artificial

No futuro, carne igual a esta na foto poderá ser produzida artificialmente.

Só o artificialismo, que distanciará a satisfação das necessidades humanas da natureza, nos reconciliará definitivamente com a própria natureza e os demais animais que nos cercam. Não existe outra opção…

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A Tecnolatria ou Como a Vida Parece Inviável sem a Tecnologia

Hoje visitamos uma fábrica na minúscula cidade de Arborfield no Canadá. No trajeto de quase duas horas e meia, percorrido de automóvel, apenas os primeiros 30 minutos tiveram uma cobertura precária de sinal do meu celular. Como ficamos aproximadamente 3 horas na cidadezinha, incluindo a visita e o almoço, fiquei desconectado do mundo por 7 horas.

É realmente incrível como passamos a depender da tecnologia! Quando comecei a trabalhar há 25 anos, a telefonia fixa era precária, os computadores pessoais eram lentos, caros e escassos, não existia Internet ou E-mail. As mensagens internas eram papeis transportados por office-boys, enquanto que as externas eram transmitidas por Telex. O quase falecido FAX veio anos depois e revolucionou as comunicações. Afinal podíamos enviar, além dos textos, figuras e cópias de documentos instantaneamente para alguém distante de nós. O problema é que existiam apenas duas cores, preto e branco, e depois se descobriu que aquele papel termossensível desbotava com o tempo e perdíamos conteúdos preciosos…

Máquinas de Telex (esquerda) e de FAX (direita)

Finalmente chegou o correio eletrônico, um grande passo para facilitar e democratizar a troca de informações entre as pessoas e entre as empresas. Agora além de textos e figuras, podemos enviar fotos, planilhas, apresentações…

Com o passar do tempo, apareceram os notebooks (ou laptops, como você preferir) que foram se tornando cada vez mais leves e potentes. Logo se transformaram em sonho de consumo, depois viraram o padrão do mercado. As informações passaram a ser carregadas para toda a parte. Vieram os celulares analógicos, depois os digitais ganharam novas funções e foram criados os multifuncionais, onde se pode navegar na Internet, receber e responder E-mails, tirar fotos, fazer vídeos, ouvir músicas…

Antigo Motorola (esquerda) moderníssimo iPhone 5 (direita)

Parece incrível, mas antes eu ocupava todo meu dia de trabalho sem estas ferramentas: notebook, celular, Internet e E-mail. Atualmente qualquer pane em uma destas ferramentas já causa um golpe na produtividade do trabalho. Tudo o que precisamos migrou para a forma eletrônica, cada vez guardamos menos papeis em arquivos metálicos e gavetas. Tudo estará logo na famosa “cloud” (ou iCloud para a turma da Apple). Só que tudo desaparece quando o plano de telefonia celular do nosso multifuncional não tem cobertura no interior da província de Saskatchewan no Canadá. Nestas horas, só me resta escrever um post da forma antiga, com papel e caneta. Depois se passa a limpo no blog…

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