Sempre tive certa discordância em relação aos livros que eram empurrados goela abaixo dos estudantes no segundo grau. Obrigar adolescentes a ler “O Ateneu” de Raul Pompéia ou “Inocência” do Visconde de Taunay poderia ser considerado um estupro intelectual ou, pelo menos, atentado violento ao pudor mental. Podemos perceber nestes livros o processamento paralelo nos cérebros dos jovens leitores. A página é lida, mas nada é capturado. Se perguntarmos sobre o conteúdo que acabou de ser lido, a resposta será um desconcertante “não lembro”. A leitura foi um processo mecânico desprovido de atenção e prazer.
Acredito que a leitura, como tudo na vida, deve ser treinada e estimulada. Comecei lendo crônicas de Fernando Sabino, Rubem Braga, Carlos Drummond de Andrade e Paulo Mendes Campos em uma coleção chamada “Para Gostar de Ler”. Nome justo por sinal… Li toda a coleção do Monteiro Lobato. Parti para Jorge Amado (Capitães de Areia), Érico Veríssimo (Incidente em Antares), Moacyr Scliar (Exército de Um Homem Só), Josué Guimarães (Tambores Silenciosos), José Lins do Rego (Fogo Morto)…
Obviamente existem livros clássicos da nossa literatura que devem ser lidos por todos. Dentre estes livros, destaco a célebre tríade de Machado de Assis: Memórias Póstumas de Brás Cubas, Quincas Borba e Dom Casmurro. De novo, obrigar alguém que não tenha o hábito da leitura a lê-los seria transformar o prazer em tortura. Infelizmente muitos estudantes são submetidos a este processo e passam a odiar nosso maior escritor.
Quem começou lendo livros do tão criticado Paulo Coelho, enveredou depois por nomes reconhecidos da literatura contemporânea brasileira e internacional, pode agora enfrentar os clássicos. Se quiser ler Machado de Assis, comece pelo conto O Alienista. São mais ou menos oitenta páginas trepidantes.
A história do eminente médico Dr. Simão Bacamarte na pacata cidade de Itaguaí transformada em um grande hospício é mais um dos grandes momentos da literatura nacional. Machado de Assis critica a aceitação da ciência como verdade inquestionável, usando como arma a sua fina ironia. Destaque para o bajulador Crispim Soares e para o ardiloso barbeiro Porfírio.
O final é ótimo. Afinal como dizem “olhando de perto, ninguém é normal”.
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