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Sofrer e Amar não são Exclusividades dos Humanos

O voo originado em São José do Rio Preto aterrissou no Aeroporto de Congonhas no início da noite do Dia dos Namorados. Fui rápido para o ponto de táxi, mas, quando cheguei lá, senti que a espera não seria breve, a fila era grande e não havia táxis. Quando finalmente estava chegando minha vez, o responsável pela organização dos táxis gritou no lado da fila:

– Deu um nó no trânsito de São Paulo! A cidade inteira está parada e os táxis não estão conseguindo entrar no aeroporto. Como vocês podem ver, a saída do aeroporto já está trancada…

Realmente a coisa não estava fácil, demoraram mais uns dez minutos para eu embarcar num táxi e mais uma meia hora para o táxi entrar na Avenida Washington Luís. Para percorrer os quinze quilômetros entre o aeroporto e minha residência foram necessárias duas horas e meia.

Congestionamento recorde de 279 km no dia 12-06-2013 em São Paulo

Congestionamento recorde de 279 km no dia 12-06-2013 em São Paulo

Com todo este tempo juntos, eu e o motorista conversamos sobre os mais variados assuntos: trânsito, os protestos em São Paulo, impostos, combustíveis alternativos, produção de etanol, histórias de família (especialmente sobre as sogras). Quando estávamos relativamente perto da minha casa, o motorista iniciou o seguinte diálogo:

– O senhor é do Sul?
– Sim, sou gaúcho.
– Então, deve gostar muito de churrasco…
– Gostava, mas agora não como mais.
– Você é vegetariano?
– Quase! Às vezes eu como peixe. Como eu viajo muito, em alguns lugares, é muito difícil achar boas opções vegetarianas.
– Eu sou vegetariano!

Fiquei surpreso e perguntei o motivo que o levou a tomar aquela decisão. Ele me contou que adotou uma cachorrinha e se afeiçoou muito a ela. Depois de um tempo, o animal ficou doente e o veterinário descobriu que estava com câncer. Ela foi operada, mas o câncer apareceu novamente. O veterinário alertou que poderia operar de novo, mas as chances de recuperação seriam baixas e a dedicação ao animal de estimação deveria ser grande, porque ela não teria condições de alimentar-se sozinha. O dono aceitou o desafio e a cadelinha foi novamente operada, mas ela não conseguiu recuperar as forças. O dono dedicou-se ao máximo, preparava e dava a comida para a cachorrinha algumas vezes ao dia, usando uma seringa. A partir de certo momento, percebeu que ela não queria mais se alimentar, mesmo assim ele forçava para que ela não se enfraquecesse ainda mais e morresse. A cada contato, ela sempre abanava o rabinho para ele.

cãozinho

Na hora da ceia de Natal, a cachorrinha se levantou de sua caminha, coisa que não fazia há muito tempo, deu alguns passos na direção dele e caiu morta. O dono não resistiu e chorou. Quando a família iniciou a celebração do Natal, ele tentou comer um pedaço de carne de peru, mas não conseguia engolir. Decidiu naquele momento que não comeria mais carne, porque todos os animais tinham sentimentos, como sua querida cachorrinha, e não era certo continuar se alimentando de carne, porque havia um animal que sofreu por trás daquele ato. Escondeu da família por um tempo, até ser descoberto, porque estava dando a carne para outros cães adotados que passaram “estranhamente” a rodeá-lo durante as refeições.

Finalizou dizendo que isto aconteceu há um ano e meio. Hoje ele se sente melhor e existem ótimas opções além da salada e do feijão com arroz. Chegamos à frente do meu prédio. Paguei a corrida do táxi, peguei minha mala e me despedi dele, parabenizando-o pela sua decisão.

Contei esta história para Cláudia e conversamos sobre o assunto. Hoje as pessoas estão se dando conta que os animais, não só os humanos, têm inteligência e sentimentos. Alguns deles. na idade adulta, têm a inteligência de uma criança humana, por exemplo. O que nos leva a pensar que temos o direito de criá-los para depois serem mortos apenas para nos servir de alimentos, especialmente quando existem boas opções vegetarianas? Lembro-me daqueles filmes em que alienígenas maus e tecnologicamente mais desenvolvidos invadem a Terra e querem usar os humanos como alimento. Quem assiste a um filme deste normalmente pensa:

– Como estes alienígenas podem ser mais evoluídos se não respeitam os direitos dos humanos e querem escravizá-los, matá-los e usar os corpos como alimento?

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Parece que nós humanos agimos como os alienígenas dos filmes frente aos animais terráqueos. E ainda conseguimos abstrair que a picanha era parte de um boi, a linguiça foi feita da carne de um porco e que o coraçãozinho do aperitivo do churrasco era de uma galinha. O dono da cachorrinha, assim como milhares de pessoas que deixaram de comer carne, percebeu não tem lógica amar uns animais e comer outros, causando indiretamente sofrimento a estes animais.

Após escrever este artigo fiquei com mais vontade ainda de poupar os peixes…

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A Vida de Pi

Fui assistir no cinema ao filme “As Aventuras de Pi” de Ang Lee nesta semana. Além de uma belíssima fotografia realçada pela profundidade obtida pelo efeito 3D, a história é incrível. Este é daqueles filmes em que as pessoas saem silenciosas, pensando no que viram… Veja o trailer abaixo.

Life of Pi

Vou começar pelo início, o título é mais uma destas versões infelizes, o original está muito mais adequado “Life of Pi”, porque apresenta a visão autobiográfica do protagonista da infância até a entrevista com a empresa japonesa que investigava as razões do naufrágio do navio em que ele viajaria da Índia ao Canadá.

Cartaz do Filme

Cartaz do Filme

Piscine Molitor Patel (Pi Patel) cresce com os pais e o irmão mais velho em um zoológico no interior da Índia. Neste período, através da sua mãe, ele tem contato e se torna adepto do Hinduísmo, cultuando em especial Brahma, o criador do universo, e Vishnu, seu conservador. Na sequência, tem contato com o Cristianismo, através de um padre, e passa a ter admiração por Jesus. Depois se torna mulçumano sem abandonar a fé pelas duas outras religiões. Seu pai é racionalista e diz que as religiões são trevas, esta opinião foi forjada quando, na infância, ele teve poliomielite e não foi curado por Deus e sim pela medicina ocidental. Durante um jantar, diz que a humanidade evoluiu muito mais por causa da tecnologia do que pela religião. Sua mãe contra-argumentou que a tecnologia explica o que acontece fora das pessoas, mas a fé ajuda a entender o que acontece no coração de cada um.

Vishnu

Vishnu

Quando recebem um tigre para o zoológico, chamado Richard Parker, Pi resolve alimentá-lo, segurando na mão um pedaço de carne. O tigre aproxima-se, enquanto Pi olha fixamente nos olhos da fera. Na hora “h”, seu pai chega e o puxa para longe da jaula. Pi argumenta que os animais tem alma e ele tinha visto isto olhos do tigre. Seu pai fala que os animais agem diferentemente dos humanos e que seu filho tinha visto apenas o reflexo de seus próprios sentimentos. Reflexo é uma palavra chave no filme!

Seu pai resolve emigrar para o Canadá, vendendo todos seus animais neste país. Na viagem, o navio afunda durante uma forte tempestade e os únicos sobreviventes em um bote salva-vidas são Pi, uma zebra com a pata quebrada, uma hiena, uma orangotango fêmea e o tigre Richard Parker. O nome do navio, Tsimtsum, também não foi escolhido ao acaso, na cabala judaica, significa a contração da luz infinita de Deus, formando um “espaço vazio” em que um mundo finito e aparentemente independente poderia existir. No filme, o naufrágio do Tsimtsum criou um espaço para o mundo finito (bote) de Pi.

Pi e Richard Parker no bote

Pi e Richard Parker no bote

O vegetariano Pi se obriga a matar e comer peixes, passa por inúmeras privações junto com o tigre Richard Parker que é dessedentado e alimentado por ele. Mesmo assim eles nunca se tornaram amigos, mas Pi credita ao tigre uma parcela importante da sua sobrevivência por tê-lo mantido alerta durante todo o tempo.

Ao enfrentar uma grande tempestade no bote, ele tem um momento de deslumbramento e terror. Nesta ocasião e depois de um tempo, quando já estava cansado e desnutrido, ele sente a morte aproximando-se e oferece sua alma a Vishnu. Finalmente chega a uma praia mexicana, o tigre desce do bote, caminha em direção de uma floresta e simplesmente desaparece.

Tigre Richard Parker indo embora...

Tigre Richard Parker indo embora…

A segunda versão da história relatada por PI para os japoneses responsáveis pela investigação do acidente nos faz compreender o que realmente aconteceu. A conclusão sobre o filme pode ser superficial ou profunda, simples ou complexa, conforme a interpretação de cada um. Todos temos dentro de nós um tigre e podemos desempenhar inúmeros papéis, dependendo da situação. Não nos orgulhamos, ou até mesmo nos arrependemos, de alguns destes papéis, por isso tentamos enjaular nossos tigres. Por outro lado, o exterior (céu, oceano ou um ente supremo) não trouxe respostas ou alimentou o divino para Pi. Nenhuma das três religiões que ele seguia lhe mostrou um caminho, apenas sua força e fé internas lhe mantiveram vivo. Em determinado momento do filme, Pi Patel já adulto disse:

– A fé é uma casa de muitos quartos.

Ou seja, o importante é cultivar uma espiritualidade, independente de religião, etnia e influência política ou social. Deve ser autêntico e genuíno de cada pessoa! E como aconselhou Santosh Patel, o pai do Pi, ao seu filho:

– Não siga nada cegamente!

Eu completaria ainda, nem nossos próprios pensamentos devem ser seguidos cegamente…

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Golfinhos de Guerra

Durante meus vinte dias no Canadá, normalmente aproveitava para fazer uma leitura do jornal local, “The Saskatoon StarPhoenix”, no café da manhã do hotel. Em uma destas leituras matutinas, havia a notícia sobre exercícios conjuntos das forças armadas americanas e canadenses nos quais participaram golfinhos treinados pelos americanos.

Golfinhos da Marinha Americana

Sargento Andrew Garrett observa um golfinho durante treinamento no Golfo Pérsico. (Foto: Brien Aho/AP)

A marinha americana, desde os anos 60, vem desenvolvendo um programa que usa mamíferos marinhos (Marine Mammal System) em operações especiais, como os golfinhos-nariz-de-garrafa (golfinhos comuns) e os leões marinhos californianos. Os golfinhos e baleias possuem um sonar mais eficiente do que o melhor dispositivo desenvolvido pelo homem, enquanto os leões marinhos apresentam uma visão privilegiada mesmo em condições de baixíssima iluminação.

Leão marinho da Marinha Americana.

Leão marinho em treinamento pela Marinha Americana.

A principal função dos golfinhos é a localização de minas marinhas. Eles foram usados com sucesso na Invasão do Iraque em 2003 para limpar as minas no Porto de Umm Qasr. Atualmente estão em treinamento para outra missão semelhante, se o Irã cumprir sua ameaça de colocar minas no Estreito de Ormuz, por onde passam pelo menos um quinto dos carregamentos de petróleo do mundo.

Estreito de Ormuz

Localização do Estreito de Ormuz no Golfo Pérsico

A marinha americana garante que os golfinhos não são responsáveis pela detonação das minas, apenas pela sua detecção e marcação. Por outro lado, de acordo com notícia do site CBS News, em 26 de março de 2011, pelo menos três mortes de golfinhos na costa de San Diego na Califórnia estavam ligadas a exercícios da marinha americana. Claro que estes mamíferos marinhos não estão prestando serviço voluntário para as Forças Armadas! Será que podemos considerar ética a exposição de animais a missões de alto risco como estas?

Peter Singer define especismo como sendo a discriminação dos homens contra as outras espécies de animais. Assim os humanos podem usar outras espécies como escravos ou criá-las para depois abatê-las e usá-las como alimento. O filósofo australiano também comparou o especismo com outras formas de discriminação como o racismo e o sexismo.

Peter Singer

Peter Singer e a Liberação Animal

A maioria das pessoas fica sensibilizada com notícias sobre violência contra golfinhos, baleias, macacos ou animais domésticos, como cães e gatos. Por outro lado, não são concedidos os mesmos direitos a outros animais, como galinhas, porcos e vacas.

Vaca e Golfinho

E eu nem falei sobre sustentabilidade ou dos problemas ecológicos causados pela criação de animais para consumo humano…

Para mais informações sobre este assunto, leia “Ecologia Dentro e Fora de Nossos Corpos“.

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O Ecomarketing de Vladimir Putin

Em mais uma leitura do “The Saskatoon StarPhoenix” no café da manhã de hoje, vi uma reportagem sobre a ultima aventura ecológica do presidente da Rússia, o todo-poderoso Vladimir Putin. Desta vez, ele vestiu um traje branco com capacete e óculos de proteção e voou em um ultraleve cercado por várias garças jovens, que nasceram em cativeiro, a fim de ajudar a apresentá-las à natureza. O feito ocorreu na Península de Yamal, no norte da Rússia, e visava induzir os pássaros a seguir o avião e, portanto, prepará-los para sua rota de migração. Esta ação faz parte do projeto “Voo da Esperança” para proteger a ameaçada garça siberiana branca. Visivelmente satisfeito, Putin disse que tinha sido sua idéia voar com o ultraleve, embora parecia ser dirigido a maior parte do tempo por outra pessoa em um traje branco semelhante ao seu sentado atrás dele. Assista ao filme abaixo.

Esta não a primeira aventura ecológica de Putin. Em 2008, ele seguiu um tigre siberiano, acertou um dardo tranquilizante e colocou uma coleira com rastreador no animal. Mais tarde surgiu a versão de que o animal não era selvagem e sim de um zoológico. Assista também a este filme.

Em 2010, foram mais duas aventuras. Primeiro ele colocou uma coleira com rastreador em um urso polar sedado no Ártico em um espetáculo para os fotógrafos. Depois, dentro de um bote com pesquisadores marinhos, na longínqua Península de Kamchatka (extremo leste da Rússia), coletou uma amostra de pele de uma baleia cinzenta, utilizando uma besta. Veja mais estes dois filmes.

Todos já ouviram as terríveis histórias do assassinato de bebês focas para a obtenção de peles brancas para a fabricação de casacos de luxo. A foto abaixo mostra o método canadense de execução dos animais inocentes.

Em janeiro de 2000, um projeto de lei para proibir a caça à foca foi aprovada pelo parlamento russo por 273 votos a 1, mas foi vetado pelo então presidente Vladimir Putin. Em março de 2009, o ministro russo de Recursos Naturais e Ecologia, Yuriy Trutnev, anunciou uma proibição total da caça de focas menores de um ano de idade no Mar Branco. Se você lembrar, a partir de 2008, Vladimir Putin inicia sua saga ecológica com o tigre siberiano, estendida em 2010 com o urso polar e com a baleia cinzenta.

Este é o mesmo Putin que não se posiciona contra os massacres na Síria e é impiedoso em relação aos rebeldes chechenos. Durante a invasão de um teatro em Moscou, por exemplo, causou a morte de pelo menos 129 reféns devido à colocação de um gás tóxico desconhecido no sistema de ventilação do prédio.

Putin visita vitimas no hospital

Putin visita as vítimas no hospital

O mesmo Putin que governa com mão de ferro a Rússia, onde recentemente as cantoras do Pussy Riot foram condenadas a dois anos de prisão pelo crime de protestar contra seu governo.

Cantoras do Pussy Riot durante o  julgamento

Cantoras do Pussy Riot durante o julgamento

Parece que Putin, no seu populismo arbitrário, percebeu qual é o produto indiscutível do século XXI, a ecologia, e decidiu dar o que a opinião pública deseja: proteger animais ameaçados de extinção. Claro que ele poderia ter estimulado a criação de políticas e ações para a preservação de tigres, ursos polares, baleias e garças siberianas, mas nada teria maior efeito do que colar sua imagem a estas iniciativas. Estes filmes deixam bem claro que Putin estava na linha de frente da preservação da vida animal, um verdadeiro “Capitão Planeta Russo”. Na verdade, ele se tornou um dos maiores ecomarqueteiros da política mundial, enquanto restringe a liberdade da população russa, sendo impiedoso com seus adversários, defende a proteção de espécies ameaçadas. Algum defensor da causa animal terá coragem de defendê-lo?

O Capitão Planeta Russo

Super Putin, O Capitão Planeta Russo

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O Artificialismo – A Melhor Forma de Proteger o Ambiente Natural

Segundo, The Wall Street Journal, uma onda de tempo ruim – seca nos Estados Unidos, verão quente demais na Rússia, muita chuva no Brasil – está prejudicando a cadeia de produção de alimentos e aumentando preços ao redor do mundo. A FAO, órgão das Nações Unidas para alimentos e agricultura, anunciou ontem que seu índice para preços de alimentos subiu 6% no mês passado, a maior alta desde novembro de 2009.

Atualmente somos 7 bilhões de habitantes no planeta e, segundo estimativa de ONU, passaremos para 8 bilhões em doze anos. Parece claro que, para alimentar uma população humana crescente, os recursos naturais necessários serão enormes. O poder aquisitivo das populações menos favorecidas também crescerá neste período, o que é muito bom! Desta forma, o consumo de alimentos aumentará de forma mais acelerada do que o simples crescimento vegetativo da população e não podemos esquecer que a agricultura depende do clima, da disponibilidade de água e de terras férteis.

Crescimento da População Mundial

Crescimento da população mundial

Há um tempo assisti a um vídeo do filósofo “pop” Slavoj Žižek no qual apresenta seus conceitos sobre ecologia. Ele afirma que a ecologia pode ser a religião do século XXI ao trazer uma série de dogmas a serem cegamente seguidos. Pode-se comprovar pelo massacre a que são submetidos aqueles que ousam contrapor ao senso comum ecológico. Já comentei o assunto no meu post sobre o aquecimento global. O obscurantismo “fanático-religioso” contra os transgênicos é outro exemplo dos malefícios destes dogmas ecológicos. Muitos transgênicos são, por exemplo, resistentes a pragas, reduzindo a aplicação de agroquímicos.

Transgênicos

Os transgênicos são muito criticados pelos ativistas

Assista ao vídeo de Žižek, onde ele apresenta seus conceitos sobre ecologia.

Proponho que dois caminhos distintos sejam trilhados para produzir os alimentos, as roupas e demais bens de consumo para satisfazer a demanda crescente da população:

– combate implacável aos desperdícios de recursos naturais através do uso das melhores técnicas disponíveis;
– ruptura total do atual modelo produtivo através criação de novas tecnologias que tornem o ser humano independente da natureza do planeta.

A primeira via é a exploração do passado. Ela engloba, na agricultura, o uso das melhores práticas disponíveis durante todas as etapas desde a escolha de cultivares, fertilização e correção dos solos, controle de pragas e doenças até a colheita, transporte e armazenamento da safra. Na indústria, o uso das melhores técnologias para a geração de bens duráveis e de consumo, consumindo a menor quantidade de recursos: matérias primas, insumos, água e energia.

A segunda via é mudar radicalmente a forma de gerar alimentos e insumos para a indústria. Como falou Slavoj Žižek, nada de volta às origens, mas a busca de um caminho totalmente novo, desvinculado da natureza. Por exemplo, a criação de novas tecnologias que produzam alimentos a partir da recombinação química ou bioquímica de átomos de carbono, hidrogênio, nitrogênio, oxigênio, fósforo e assim por diante. Itens fundamentais são o reciclo total de todos os resíduos e o uso de energias intrinsecamente limpas, como a solar, geotérmica e a fusão nuclear.

O consumo de carne evidentemente não é uma prática sustentável! Hoje metade do milho e 75% da soja são usadas para alimentar animais que serão mortos para servir de alimento para nós humanos. Para gerar um quilo de carne bovina são necessários 7 quilos de milho e soja, além do consumo de 15 mil litros de água. E nem comentei a poluição gerada por esta atividade, uma vaca leiteira, por exemplo, solta 700 litros de metano diariamente na atmosfera (gás 21 vezes mais nocivo do que o gás carbônico para a formação do efeito estufa). A carne não é mais um alimento essencial e seu consumo só pode ser justificado pelo prazer gastronômico. Quando inventarem a picanha ou o filet mignon de laboratório, juro que volto a comer carne. Já existem grupos de pesquisadores criando carne em laboratório. Por enquanto, são pequenas tiras de 3 centímetros de comprimento por 1,5 cm de largura e espessura de apenas meio milímetro, mas o rendimento de conversão dos nutrientes em carne já fica em torno de 50% contra menos de 15% da convencional.

Carne Artificial

No futuro, carne igual a esta na foto poderá ser produzida artificialmente.

Só o artificialismo, que distanciará a satisfação das necessidades humanas da natureza, nos reconciliará definitivamente com a própria natureza e os demais animais que nos cercam. Não existe outra opção…

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O Aracnicídio

Quando mudei para São Paulo, pedi uma vaga no estacionamento do conjunto de prédios onde estão localizados os escritórios da empresa em que trabalho. Passados alguns dias me deram uma vaga no quarto subsolo de um dos edifícios-garagem. Notei que havia algumas teias de aranha no teto e em paredes próximas. Um dia vi uma aranha preta com manchas vermelhas no corpo e nas patas. Depois apareceu uma teia semiesférica com outra aranha dentro. Depois de algumas semanas, a aranha saiu da sua “toca”, ela era parecida com a primeira, mas era maior.

Aranha parecida com minhas vizinhas

Resolvi buscar uma convivência pacífica com minhas colegas de vaga. Inclusive dei nomes, a primeira era a Lucrécia (homenagem à Lucrécia Bórgia) e a maior era a Jacobina (homenagem a Jacobina Mentz Maurer dos Muckers).

As teias foram crescendo, assim como a proximidade das aranhas ao meu automóvel. Comecei a ficar com receio de me enrolar em alguma teia ou de ser atacado por uma das aranhas. Na quinta-feira passada, quando estava descendo a rampa de acesso do estacionamento, encontrei dois funcionários da limpeza. Aproveitei e informei o número da minha vaga e pedi para remover as aranhas. O pessoal imediatamente foi até o local e matou a Lucrécia, a Jacobina e suas crias. Sinceramente senti certo remorso por ter sido o mandante da matança das aranhas, mas tentei racionalizar que a situação representava um risco para mim.

Depois estava trabalhando normalmente, quando a secretária chegou e me avisou que mudou o local do estacionamento do meu carro. Na mesma hora, lembrei-me das aranhas inutilmente mortas. Que coisa mais terrível, parecia script de filme…

No final do dia, me dirigi até meu carro e vi que todas as teias foram removidas exceto uma junto à coluna no lado da minha ex-vaga. Ali durante o dia outra aranha da mesma espécie teceu uma nova teia. Já a batizei como Messalina (a polêmica imperatriz romana casada com Cláudio).

Lucrécia Borgia, Jacobina Maurer e a Imperatriz Messalina

Parecia um sinal que, apesar do massacre a que foram expostas, aquela espécie continuaria lutando e resistiria a todas as violências e adversidades do mundo exterior. Afinal a vida deve triunfar no final, mesmo que um tirano intolerante ache impossível a convivência entre criaturas diferentes. Esta é uma história verídica, mas poderia ser uma fábula sobre xenofobia e genocídios…

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Gasto com Publicidade Oficial – Como o Dinheiro Público Escorre pelo Ralo

Todos criticam a malversação de recursos públicos no Brasil. As recentes denúncias sobre as ONGs do Programa Segundo Tempo do Ministério dos Esportes são mais um exemplo recente. Deveria haver fiscalização, além dos tribunais de contas, dos próprios cidadãos. Quando navegamos pelos portais da transparência das três esferas da administração pública, podemos buscar dados interessantes de como o dinheiro público é gasto pelos governos.

No meu último post, sobre liberdade de expressão, comentei sobre a relação dos governos com a imprensa. As verbas dedicadas à publicidade oficial crescem anualmente. Segundo o Portal Transparência do governo federal, os gastos com publicidade institucional foram de R$ 177 milhões em 2010. O gasto total com publicidade da administração direta do governo federal foi de R$ 644 milhões neste período. Se for incluída a administração indireta, segundo a Folha de São Paulo, o gasto deve chegar a R$ 1 bilhão.

Na cidade de Novo Hamburgo, a Prefeitura resolveu investir pesado em publicidade oficial a partir de 2010. A Tabela abaixo apresenta o orçamento com publicidade oficial dos últimos nove anos.

Neste momento, ainda não discutirei os gastos com publicidade legal e de utilidade pública, mesmo suspeitando que muitos destes dispêndios não tenham estas motivações. O gráfico abaixo mostra o aumento impressionante dos gastos com a publicidade institucional da Prefeitura de Novo Hamburgo. Em 2011, serão gastos aproximadamente R$ 2 milhões, quase o mesmo valor orçado no período 2005-2009.

Sob a desculpa de prestar contas à população e divulgar iniciativas de interesse público, a Prefeitura faz propaganda eleitoral para a eleição municipal do próximo ano. De acordo com o Portal Transparência do município, de janeiro a agosto de 2011, foram gastos aproximadamente R$ 2 milhões com o pagamento de três agências de publicidade. Apenas uma agência de Porto Alegre recebeu R$ 1.175.000,00. Outras duas de Novo Hamburgo receberam, no mesmo período, R$ 426 mil e R$ 381 mil cada.

Gostaria que a publicidade oficial fosse proibida no país. Este dinheiro poderia ser investido em áreas realmente importantes para a população como saúde, educação e infraestrutura. Sugiro que não se espere a sanção de uma lei federal, porque existe um projeto tramitando no Congresso Nacional há seis anos e ninguém sabe quando entrará na pauta de votação.

Lembro da proibição de animais em circos. Uma lei foi aprovada em Novo Hamburgo em 2007 devido ao desejo da população organizada pela ONG de proteção animal ONDAA. No ano seguinte, foi aprovada outra lei na Assembleia Legislativa do estado do Rio Grande do Sul. Deste o final de 2009, um projeto de lei (PL 7291/2006) foi aprovado na Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania e encontra-se atualmente no Plenário da Câmara dos Deputados, onde aguarda para entrar na pauta de votação.

A população deve exigir que os vereadores de Novo Hamburgo evitem a queima dos recursos públicos no orçamento de 2012. Na sequência, deve pedir que seus representantes criem e aprovem a lei municipal que proíba a publicidade oficial. Só assim poderemos realmente aproveitar bem o dinheiro dos impostos que pagamos. Chega de propaganda enganosa!

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Ontem os Negros, Hoje os Animais, Amanhã os Robôs!

Estamos no ano de 2067, a Assembleia Geral da ONU debate um tema polêmico, a alteração da ordem da segunda e da terceira Lei da Robótica. Estas leis famosas foram formuladas quase um século antes por Issac Asimov.

Isaac Asimov

O secretário-geral solenemente abre a sessão plenária:

– Prezados representantes de todas as nações da Terra, estamos aqui reunidos para mais uma sessão histórica. Desde a criação de unidades autônomas artificiais providas de inteligência e livre arbítrio, os robôs, assistimos a uma enorme evolução no relacionamento com os seres humanos. Respeito, lealdade, afinidade, amizade e até amor são palavras que definem inúmeras relações entre humanos e robôs. Hoje discutiremos se as três leis da robótica estão adequadas à realidade de nosso tempo. Os seguintes princípios guiam atualmente a programação dos robôs:

    • 1ª Lei – Um robô não pode ferir um ser humano ou, por omissão, permitir que um ser humano sofra algum mal.
    • 2ª Lei – Um robô deve obedecer as ordens que lhe sejam dadas por seres humanos, exceto nos casos em que tais ordens contrariem a Primeira Lei.
    • 3ª Lei – Um robô deve proteger sua própria existência desde que tal proteção não entre em conflito com a Primeira ou a Segunda Lei.

Na prática, se um humano ordenasse que dois robôs lutem até a destruição de um deles, não existiria problema legal. Isto poderia ter razões fúteis, como apostas, ou por puro sadismo.

No século XIX, se discutia se os negros tinham alma e se poderiam ser livres. Parece uma conversa absurda nos dias atuais; e em 2067, nem se fala…

Escravo sendo castigado (Debret)

Hoje temos o mesmo debate em relação aos direitos dos animais. Cada vez mais pessoas defendem o bem estar animal. Afinal respeito, lealdade, afinidade, amizade e até amor são palavras que definem inúmeras relações entre humanos e animais. Maus tratos contra animais atualmente são crimes e práticas como touradas ou rodeios são cada vez mais limitadas. Talvez nas próximas décadas assistamos o declínio no consumo de carne por conta desta consciência em relação aos direitos dos animais. Se nós humanos temos alma, porque os animais não as possuem?

Teste dermatológico em coelhos

Hoje parece ridículo discutir os direitos dos robôs. Há um século, discutir os direitos dos animais deveria ser uma excentricidade. No século XVI, defender o fim da escravidão dos negros era uma afronta contra os interesses das metrópoles europeias.

Apesar de muitos discordarem, a humanidade evolui e a nossa consciência continua crescendo. O que hoje é um ato aceitável, amanhã será um crime grave.

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Por que os animais de Fernando de Noronha não sentem medo dos humanos?

Há três anos eu e minha esposa Cláudia visitamos um lugar paradisíaco, Fernando de Noronha. Quando tiver oportunidade, gostaria de passar mais uns dez dias por lá. Abaixo podemos admirar alguns dos cartões postais, o Morro Dois Irmãos e a Baía dos Porcos.

Morro Dois Irmãos

Morro Dois Irmãos

Baía dos Porcos

Baía dos Porcos

Não vou falar neste post sobre como chegar, o que fazer, onde se hospedar ou comer. Escreverei sobre o que mais me chamou a atenção neste santuário da natureza: a convivência harmônica entre os animais e os seres humanos.

Diferente do que se vê em outros Parques Nacionais, é muito raro encontrar lixo nas trilhas. As placas que proíbem o acesso são respeitadas por todos os turistas. Os peixes, tartarugas, golfinhos e demais animais marinhos não são molestados pelos mergulhadores. As fotos abaixo mostram um peixe azul e uma arraia nadando em água rasas indiferentes à minha presença.

Peixe Azul

Peixe Azul

Arraia

Arraia

Deixei o mais incrível para o final. Assistam ao vídeo abaixo. Ele foi feito pela Cláudia durante um mergulho. A tartaruga demonstra curiosidade ou, sabendo que não havia risco, resolveu apenas se exibir para a câmera.

Saímos de lá com a certeza de que se pode conviver em total harmonia com a natureza sem depredá-la, respeitando todos os animais. Infelizmente parece que quando voltamos para a “civilização” gradativamente esquecemos estes valores.

Se você não conhece Fernando de Noronha, programe suas próximas férias. É um uso excelente daquelas milhas do Programa Smiles.

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