Não existe outra árvore como a jabuticabeira! Além dela, qual árvore possui deliciosas frutas presas diretamente nos seus troncos e galhos? Mas houve um tempo em que a jabuticabeira não dava frutos e ela sentia uma profunda tristeza ao ver outras árvores floridas ou cheias de frutas ao seu redor.
Numa noite, uma jabuticabeira acordou de sono assustada ao sentir a presença de inúmeros seres sobre seu tronco e seus galhos. Ela sussurrou:
– Quem está sobre mim? Sei que não pousaram sobre meu corpo insetos ou outros seres conhecidos por mim!
Várias vozes falaram em coro:
– Somos Sílfides. Somos pequenas fadas da mata. Trabalhamos durante todo o dia, levando o pólen de uma flor para outra. Ajudamos as árvores desta floresta a frutificarem. Seus frutos serão alimentos para todos animais que aqui vivem e as sementes destes frutos, ao encontrarem solo fértil e água, gerarão novas árvores.
A Jabuticabeira retrucou:
– E por que vocês pousaram em mim? Sou uma pobre árvore estéril. Vocês estão vendo flores nas pontas dos meus ramos, como nos espetaculares ipês, flamboyants ou jacarandás? Vocês acham que todos esperam ansiosos minha floração como acontece com as cerejeiras que ainda produzem frutos deliciosos? Ah que injustiça…
Uma das Sílfides, constrangida, confessou:
– Na verdade, viemos descansar. Trabalhamos o dia inteiro, polinizando os ipês e procuramos um lugar, sem flores, para nos recuperarmos depois de um dia duro de trabalho. Sabe, não é bom levar o trabalho para casa…
Gotas de água começaram a verter por todas as folhas da Jabuticabeira até virarem uma chuva. As Sílfides fugiram para outra árvore com medo daquela tempestade causada pela tristeza da pobre árvore estéril.
Naquela noite, ninguém dormiu. Elas sugeriram diversas alternativas para acabar com o sofrimento daquela Jabuticabeira solitária. Uma sugeriu que ela tivesse flores lindas como as rosas; outra, flores delicadas como os lírios. Outra sugeriu que tivesse frutas como amoras; outra, como abacates ou goiabas. Finalmente, uma delas deu uma ideia incrível:
– Vamos fazer algo inédito! A Jabuticabeira terá flores parecidas conosco, pequeninhas e delicadas. Ao invés de nascer na ponta dos ramos, estas flores aparecerão no tronco e galhos grossos da árvore.
– E as frutas, como serão? – As outras perguntaram curiosas.
– Serão bolinhas escuras de uma doçura incrível. Os mais velhos se deliciarão catando-as do tronco e seu sabor ativará a memória dos tempos de criança, quando escalavam seus galhos, disputando com os pássaros desta mata cada frutinha.
Todas as Sílfides adoraram a ideia e naquela noite mesmo a colocaram em prática.
Pela manhã, a Jabuticabeira sentiu uma estranha comichão por todo seu corpo. Não entendeu o que estava acontecendo. Depois milhares de florzinhas pequenas e delicadas surgiram sobre seu tronco e galhos. Abelhas e Sílfides dançavam freneticamente em volta dela. O zumbido das asas era uma sinfonia, o fim do silêncio solitário.
Passados alguns dias as flores foram, progressivamente, substituídas por pequenas bolinhas verdes que foram crescendo e escurecendo até ficarem do tamanho de bolinhas de gude.
Insetos, pássaros e crianças passaram a disputar seus deliciosos frutos. As sementes voltaram para o solo e novas jabuticabeiras nasceram.
A Jabuticabeira ficou feliz. As Sílfides se orgulharam da sua criação. E nós somos imensamente gratos a elas.