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Eros, Philia e Ágape: Três Formas de Amar em uma Relação a Dois

Quando falamos sobre amor em um relacionamento, tendemos a usar uma única palavra para expressar algo que, na prática, é multifacetado e dinâmico. A tradição grega antiga nos oferece uma chave interessante para entender melhor essa complexidade: ela nomeia três formas distintas de amor — Eros, Philia e Ágape.

Esses três aspectos não competem entre si. Pelo contrário, eles se complementam e podem coexistir em diferentes proporções ao longo da vida a dois. Conhecer suas características nos ajuda a cultivar vínculos mais conscientes e duradouros.

Eros – Desejo, atração e encantamento

Eros é o amor do impulso e da conexão física. É o que nos aproxima do outro nos primeiros encontros, aquilo que provoca fascínio, excitação e a sensação de urgência. É uma força vital que desperta o desejo, o toque, o olhar atento.

Nos relacionamentos duradouros, Eros tende a mudar de forma. Pode perder intensidade se não for cuidado, mas também pode se renovar em novas fases da vida a dois. A intimidade física, o prazer mútuo e o desejo cultivado com intenção mantêm essa dimensão viva — não como no início, mas com mais profundidade.

Philia – Amizade, companheirismo e confiança

Philia é o amor da convivência, da admiração mútua e da cumplicidade. É o vínculo que se constrói quando aprendemos a gostar do outro como pessoa — não só como objeto do nosso desejo. É o amor que se expressa em conversas tranquilas (às vezes, intensas e corajosas), apoio nas dificuldades, projetos compartilhados e risos espontâneos.

Essa dimensão é essencial para a sustentação do vínculo. É quando o casal se torna também amigo, parceiro, alguém com quem é possível dividir tanto as dúvidas quanto os sonhos. Com o tempo, Philia aprofunda a base do relacionamento, tornando-o mais estável e acolhedor.

Ágape – Amor consciente, entrega e transcendência

Ágape é uma forma de amor que transcende o desejo e o vínculo emocional imediato. Trata-se de uma entrega mais profunda, marcada por empatia, escuta e presença consciente.

Diferente de Eros e Philia, que foram amplamente discutidos na filosofia grega, Ágape ganhou destaque principalmente na tradição cristã, onde passou a representar o amor incondicional e generoso, com uma dimensão espiritual e ética.

Ágape não significa passividade ou anulação pessoal. É um tipo de amor que se manifesta na capacidade de cuidar, perdoar e escolher estar junto, mesmo quando há falhas e imperfeições. Ele convida à maturidade emocional e à construção consciente do vínculo.

A seguir, uma visão comparativa dos três tipos de amor, destacando suas contribuições e os desafios que podem surgir quando estão em desequilíbrio.

Tipo de AmorFunção na RelaçãoRiscos Quando Isolado ou Desequilibrado
ErosAlimentar a intimidade física e emocional; criar conexão pelo desejo e encantamento.Pode ser passageiro e ilusório. Sem base emocional, tende a se esgotar com o tempo.
PhiliaSustentar a convivência no longo prazo; fortalecer o vínculo por meio da amizade, respeito e confiança.Sem Eros, pode virar apenas parceria funcional.
Sem Ágape, pode faltar profundidade.
ÁgapeSer o eixo ético e espiritual da relação; promover empatia, perdão e crescimento mútuo.Quando não equilibrado, pode gerar autoanulação ou relações assimétricas.

Amar é também um exercício de consciência

Nenhum desses três amores é suficiente por si só. Eles se misturam, mudam de intensidade e exigem cuidado constante. Um relacionamento saudável é aquele em que Eros, Philia e Ágape não competem, mas colaboram — cada um oferecendo sua força no momento certo.

Cultivar esse equilíbrio é um caminho possível para construir vínculos mais conscientes, afetivos e verdadeiros. Afinal, amar também é um verbo: exige ação, presença, escolha e construção diária.

No próximo post, apresentarei 13 fatores práticos que influenciam diretamente a sustentação de uma relação a dois.

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Os 7 Pilares para um Relacionamento Consciente

Há um tempo, assisti a um vídeo do Jonas Masetti, professor tradicional de Vedanta, sobre os sete fundamentos para um relacionamento saudável. A proposta é simples, mas poderosa: repensar o amor como uma prática consciente — não como ideal romântico ou tarefa de autossacrifício.

Os pontos me tocaram porque são, ao mesmo tempo, espirituais e profundamente humanos. Reflito sobre cada um deles a seguir, com um olhar aberto e, espero, útil para quem também busca construir vínculos com mais verdade e presença.

  1. Sacrifício não é símbolo de amor

      Durante muito tempo, aprendemos que amar é se sacrificar, que a prova do amor está na renúncia. Quanto mais você sofre, mais ama. Mas essa lógica, quando vivida de forma crônica, tende ao desequilíbrio e à perda de si mesmo.

      O amor saudável envolve generosidade, mas não exige autoanulação. A verdadeira entrega nasce da liberdade, não da obrigação.

      Amar não é se apagar para que o outro brilhe — é iluminar juntos, respeitando a própria chama.

      2. Local de fala

        Todos nós falamos a partir de uma história com vivências, traumas, referências e expectativas. Em um relacionamento, respeitar o local de fala do outro é mais do que escutar. É compreender que o que ele sente não precisa fazer sentido para mim para ser legítimo.

        É sair do lugar da defesa e entrar no campo da empatia. E isso só é possível quando reconhecemos que não somos o centro da experiência do outro.

        Escutar com presença é reconhecer que o outro tem um mundo próprio que merece ser visitado com respeito.

        3. Amor não é troca

        Essa é talvez uma das mudanças mais desafiadoras. Em muitos relacionamentos atuais, nos acostumamos a amar esperando algo em troca: reconhecimento, afeto, estabilidade, cuidado. Mas o amor verdadeiro é doação, não barganha.

        Claro, reciprocidade é importante. Mas quando o amor se baseia na expectativa de retorno, ele se torna transação, não vínculo.

        Amar é oferecer o melhor de si sem transformar isso em cobrança. E confiar que o outro saberá responder com o que tiver de mais verdadeiro.

        4. Capacidade de ouvir

        Ouvir parece simples, mas exige esforço. A escuta verdadeira requer que a gente suspenda julgamentos, respostas prontas e a vontade de “corrigir” o outro. Requer presença.

        Ouvir, deste modo, é um exercício de silêncio interno, uma forma de entrega. E é isso que transforma conversas comuns em momentos de conexão real.

        Ouvir não é natural, é escolha — uma prática consciente de abertura e respeito.

        5. Demonstrações de amor em suas diferentes linguagens

        Nem todo mundo se sente amado da mesma forma. Cada pessoa se sente amada de maneiras distintas — seja por meio de palavras carinhosas, do toque, de um presente significativo, de uma ajuda prática ou da simples presença atenta. O amor precisa ser comunicado na linguagem que o outro compreende.

        Reconhecer e praticar essas formas de expressão é essencial para nutrir o vínculo afetivo. Não basta amar em silêncio ou apenas da forma que nos é natural. Amar também é aprender a se comunicar fora da própria zona de conforto.

        Amar é falar na língua emocional do outro — mesmo que, no início, seja com “sotaque”.

        6. Celebrar o não

        Este talvez seja o ponto mais contraintuitivo. Em um mundo que valoriza o “sim” como sinal de aceitação, aprender a dizer “não” e a acolher o “não” do outro são gestos de maturidade.

        O “não” preserva a individualidade e fortalece a confiança. Relacionamentos saudáveis são aqueles em que se pode discordar e recusar — e, mesmo assim, continuar juntos.

        Celebrar o “não” é confiar que o amor é forte o suficiente para sustentar os limites e as diferenças.

        7. Os três propósitos: individuais, da relação e da evolução espiritual

        Esse ponto sintetiza uma visão elevada do relacionamento como um caminho de crescimento. Quando os propósitos individuais são respeitados, o projeto da relação é nutrido, e ambos crescem espiritualmente. Há alinhamento profundo e a relação se torna um campo fértil. Não é só afeto, é também aprendizado, transformação e sentido.

        É uma visão que transcende o amor romântico e o coloca como prática de autoconhecimento. Relacionar-se, desta forma, é ser espelho e espaço de crescimento mútuo. Os três propósitos atuam como bússola. Sem eles, a relação perde o norte e se desgasta na rotina.

        Relacionar-se é partilhar uma travessia. E cada um carrega algo que o outro precisa para seguir mais inteiro.

        Conclusão

        Relacionamentos conscientes não são perfeitos, mas são “mais reais”. São feitos de presença, escuta, verdade e afeto expressado de forma concreta. Não exigem que sejamos outra pessoa, apenas que sejamos inteiros, com coragem para crescer e amar ao mesmo tempo.

        Se você está em uma relação, talvez esses pontos sirvam como um convite à conversa. Se está só, podem servir como um espelho, porque, no fundo, o primeiro relacionamento que exige consciência é o que temos com nós mesmos.

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        Post 300 – A Resistência contra o Colapso da Blogosfera

        E não é que este blog chegou ao tricentésimo post?! Em tempos em que muita gente torce o nariz até para vídeos com mais de cinco minutos no YouTube, como estimular a leitura de textos com mil palavras?

        Com a ascensão da inteligência artificial, respostas instantâneas dispensam visitas a sites ou blogs. Ainda assim, continuo resistindo. Escrever, para mim, é um exercício vital — de reflexão, expressão e partilha.

        Por isso, neste marco simbólico, não pude deixar de lembrar dos trezentos de Esparta, que resistiram ao poderoso exército persa no desfiladeiro de Termópilas. No início do ano, li o romance histórico Portões de Fogo, de Steven Pressfield, e confesso: identifiquei-me com Dienekes, o guerreiro que acreditava que o verdadeiro campo de batalha era interior. Quem sabe, em breve, escrevo sobre isso. Por ora, sigo firme — com minha lança, meu escudo e meu notebook.

        Nestes últimos cem posts, diversidade não faltou…

        O post nº 202 tratou do reuso de água durante a crise hídrica de São Paulo (2014–2015). Também publiquei uma apresentação didática para crianças sobre poluição hídrica, com roteiro e explicações de slides.

        O tema da sustentabilidade apareceu em vários momentos. Comecei com uma mesa-redonda durante uma feira ambiental na Alemanha — Por um Mundo mais Sadio e Justo: o Lixo e a Consciência. Ali conheci o conceito de economia circular. Anos depois, fiz um curso do MIT sobre este tema e publiquei seis artigos baseados nas reflexões do curso. A pergunta segue: ainda temos tempo para discutir o aquecimento global?

        As proteínas vegetais entraram na pauta com uma carta aberta à Revista dos Vegetarianos e em uma conversa que tive com Pat Brown, fundador da Impossible Foods. Também compartilhei como preparar proteína texturizada de soja e um saborosíssimo estrogonofe vegano.

        Criei uma série com quatro textos que conectam físico-química e comportamento humano. Expliquei, de forma descomplicada, conceitos como a Primeira Lei da Termodinâmica, reações químicas, energia de ativação, equilíbrio químico e soluções tampão. Afinal, tem gente endotérmica e exotérmica!

        Lá em 2016, escrevi sobre os algoritmos das redes sociais e a formação de bolhas digitais. Em 2017, manifestei preocupação com a ascensão do nacionalismo e as ameaças à democracia. Em 2020, após ler Engenheiros do Caos, de Giuliano Da Empoli, algumas peças se encaixaram. A busca pelos “Arquitetos da Ordem” continua.

        A polarização daquele período levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e, pouco depois, à ascensão do Bolsonarismo. Vários posts trataram do governo Bolsonaro, inclusive sobre o início da pandemia — O Triste Clown e seu All-In.

        Comemorei meu cinquentenário com uma série de reflexões sobre a vida. Agora, rumo aos sessenta, sigo na luta…

        Em 2017, fraturei a perna jogando futebol com minhas filhas no quintal. No ano seguinte, contei o que aconteceu depois. E em 2024, contei o surgimento do “Vicente maratonista“, uma consequência surpreendente do acidente de 2017.

        Em um momento mais leve, nasceu a “Trilogia das Sílfides”: histórias fantasiosas sobre jabuticabas, beija-flores e o mormacento verão de Porto Alegre.

        Li As Seis Lições, de Ludwig Von Mises, e escrevi três artigos sobre convergências e divergências. O mundo mudou desde os anos 1950, mas muitos ainda defendem um liberalismo sem freios. Também sugiro ler Autofagia Liberal e Umbigocentrismo e refletir sobre as Três Formas Modernas de Escravidão.

        Parece que muita gente cristalizou posições. Esquecem que polaridade e ritmo são essenciais para uma vida saudável.

        2021 ainda era pandêmico… Escrevi sobre a convivência familiar em tempos de quarentena. Em agosto, perdi minha mãe, Dona Ladi, e fiz uma homenagem com Descartes, Shakespeare e Hilel, o Ancião como testemunhas.

        Li A Revolta de Atlas, de Ayn Rand. Depois de devorar suas 1.200 páginas, escrevi sobre a autora, Francisco D’Anconia, Ragnar Danneskjöld e Ellis Wyatt. Mas esse capítulo ainda não terminou, porque — afinal — quem é John Galt?

        O Papa Francisco, que infelizmente nos deixou, foi citado em um post sobre polarização política. Parece que todos precisam ser rotulados em alguma caixinha.

        O Islamismo foi tema de outros textos. Como escrevi certa vez: Para obter a paz não basta uma vitória militar sobre o Estado Islâmico — ou sobre o Hamas.

        Este blog passou por temas como eutanásia, maioridade penal, empatia, cancelamento digital, David Bowie, Marie Curie, o filme Fragmentado e o último Matrix.

        Fiz uma fusão entre Coringa, Osho e Krishnamurti para falar dos riscos de seguir líderes cegamente. Este tema volta no que considero meu melhor artigo dos últimos cem: I’m Not Dog No – A Servidão Voluntária.

        Quando deixei o conforto da CLT, escrevi As Gaiolas e o Corvo. Porque, sim, tanto a falta, quanto o excesso de propósito podem nos devastar.

        Não sou Martha Medeiros, nem Fabrício Carpinejar, mas escrevo sobre relacionamentos porque a vida me provoca. Por isso, surgiram textos como O Amor Constrói, a Paixão e o Ódio Arrasam Quarteirões; Dores, Crescimento Pessoal e Cicatrizes; Relacionamentos São como Pudins; e, parafraseando Fernando Pessoa: Correr é Preciso, Viver Não é Preciso.

        Chegarei ao post 400? Só o tempo dirá…

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        Relacionamentos são como Pudins

        Você já ouviu essa frase? “Relacionamentos são como pudins; só dá pra saber se são bons provando-os.” É uma daquelas metáforas que parece simples, mas carrega uma enorme profundidade. E, pensando bem, quem inventou isso deve gostar tanto de pudim quanto de refletir sobre a vida. Porque, convenhamos, um bom pudim é praticamente uma declaração de amor em forma de sobremesa.

        Um pudim perfeito é aquele que tem a textura cremosa, o equilíbrio no doce, e uma calda de caramelo que não puxa para o amargo, nem fica cristalizada como se alguém tivesse se distraído no meio do processo. Mas quando o pudim dá errado? Ele pode sair com furinhos demais, um gosto de ovo que ninguém merece ou, pior, desandar completamente, virando uma poça de caramelo e leite condensado mal resolvidos. A questão é que, olhando de fora, tudo parece promissor. Até aquele pudim meio torto pode parecer delicioso. Mas você só descobre a verdade na primeira colherada.

        Agora, troque o pudim por relacionamento. A frase fez sentido?

        Na nossa cabeça, é fácil imaginar aquele “quase relacionamento” como o pudim perfeito da vida amorosa. Por fora, as coisas podem parecer perfeitas. Cremoso, equilibrado, sem defeitos… Aquele que você não provou, mas tem certeza de que seria tudo o que você sempre quis. Só que essa fantasia não leva em conta os “furinhos” que você só percebe quando experimenta de verdade: as diferenças de rotina, de personalidade e de visão de mundo. E eu nem falei dos desentendimentos e imperfeições que todo relacionamento real tem.

        E sabe o que mais? Esses “quase relacionamentos” geralmente se tornam terreno fértil para a idealização. Eles são como aquele pudim que você viu na foto do Instagram, com a calda brilhando sob a luz perfeita. Você pensa: “isso deve ser a melhor coisa do mundo!”. Mas, na prática, pode ser só um doce gelado e sem gosto. E enquanto você está pensando no pudim dos sonhos, aquele pudim real que está na sua mesa – feito com carinho, com os ingredientes disponíveis, e até com uns furinhos de personalidade – acaba sendo subestimado.

        A verdade é que relacionamentos reais não são sobre perfeição. Eles são sobre testar receitas, ajustar o fogo, tentar de novo quando algo desanda. O que diferencia um pudim bom de um ruim não é só a receita – é o cuidado com que ele é feito e a paciência para acertar o ponto. Isso também vale para os relacionamentos. Eles são sobre colocar a mão na massa, resolver os “furinhos” juntos e aceitar que, mesmo quando as coisas não saem perfeitas, elas ainda podem ser deliciosas.

        Então, se você está aí fantasiando sobre um “quase relacionamento”, imaginando que seria tudo o que falta na sua vida, respira… Lembra que o pudim que você ainda não provou pode ser incrível, mas também pode não corresponder às expectativas. Fantasiar sem limites sobre ele só alimenta uma ideia que pode não ter base na realidade. Ao mesmo tempo, o pudim que você já tem na sua frente – com seus pequenos “furinhos” e sua doçura construída no dia a dia – também merece ser apreciado e valorizado, especialmente porque é real, palpável, e já passou pelo teste do tempo.

        A questão principal não é sobre qual “pudim” escolher, mas sobre fazer escolhas conscientes, baseadas na realidade, e não em fantasias. Se você decidir provar algo novo, que seja com clareza e responsabilidade, sabendo que nenhuma receita vem pronta e perfeita. E se a escolha for continuar saboreando o “pudim” que você já tem, que seja com gratidão por cada camada de doçura que ele oferece. O importante é lembrar que a vida não é sobre viver na expectativa de um “pudim” idealizado, mas sobre reconhecer e valorizar o que é real, aqui e agora.

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        Correr é Preciso, Viver Não é Preciso

        Vocês já perceberam que, no título deste post, estou parafraseando o grande poeta português Fernando Pessoa? Apenas substituí o verbo “navegar” por “correr”, que, no meu caso, faz mais sentido.

        Fernando Pessoa

        Correr, para mim, é essencial para manter minha sanidade física e mental. Como se diz em latim: “mens sana in corpore sano” — uma mente sã em um corpo são. Durante as corridas, reflito sobre questões que me atormentam e, quase sempre, termino o treino melhor do que comecei. Correr é uma necessidade para mim.

        Mas correr também exige precisão. Existe uma técnica para tornar os movimentos mais eficientes, reduzindo o consumo de energia. A escolha do tênis depende do tipo de pisada e do objetivo do corredor. A nutrição antes e depois da atividade também segue recomendações baseadas em conhecimento científico. Assim, podemos correr mais rápido, mais longe e com menos risco de lesões.

        A vida, ao contrário, é tudo menos precisa. Como expressou brilhantemente Fernando Pessoa, a vida é incerta, cheia de imprevisibilidades. A principal razão para isso é a complexidade dos seres humanos.

        Nos consideramos racionais, mas somos como icebergs: apenas 10% de nossa mente é consciente, visível. Os outros 90% — nosso subconsciente — são governados por emoções, intuições, instintos, experiências passadas, traumas e memórias. Esse lado submerso nos influencia de maneiras que nem sempre entendemos.

        Muitas vezes, evitamos explorar esse “lado sombrio”. Falhamos em construir autoconhecimento e, mesmo assim, acreditamos conhecer profundamente outras pessoas. Mas como podemos entender plenamente nossos parceiros amorosos, por exemplo, se nem ao menos nos conhecemos bem? Essa presunção pode levar a surpresas desagradáveis.

        Para evitar os naufrágios emocionais que surgem do desconhecido, acredito que o autoconhecimento seja essencial. Enfrente seus traumas, medos e inseguranças. Examine seus desejos e avalie se eles estão a seu favor ou contra você. Esforce-se para iluminar seu subconsciente e compreenda como você reage a diferentes situações. Não viva no automático.

        Quanto aos relacionamentos, estimule seu parceiro ou parceira a também buscar autoconhecimento. Mantenha um diálogo aberto e constante. Entenda como o outro se sente amado, pois o amor pode ser expresso de várias formas. Evite presunções; pergunte, ouça e compreenda.

        Porém, como deixei claro no título, viver não é preciso. Não temos controle sobre a maioria das coisas, muito menos sobre o coração de outra pessoa. E isso é algo positivo: tanto você quanto o outro devem preservar suas individualidades.

        Como escreveu Guimarães Rosa:

        “Às vezes, – o destino não se esquece –
        as grades são abertas,
        as almas são despertas:
        às vezes,
        quando quanda,
        quando à hora
        quando os deuses
        de repente – antes –
        a gente
        se encontra.”

        O acaso pode trazer encontros capazes de transformar nossas vidas. Por isso, só nos resta evoluir como seres humanos e viver o presente da melhor forma possível.

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        O namorado novo tem filhos? E agora?

        Há pouco tempo uma amiga me procurou cheia de dúvidas no relacionamento, porque o namorado tem um filho e deixa ela de lado nos finais de semana que está com o garoto, não deixando ela fazer parte dos programas e passeios. Como ela ficava cada vez mais paranoica com o que lia na internet, resolvi falar sobre isto.

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        Passei por uma situação parecida, por isto ela logo pensou em mim. Quando comecei a namorar meu marido, ele estava se divorciando do primeiro casamento (isto já não é um bom sinal, mas se você não puder evitar, continue lendo…). Ele tinha um filho pequeno de 6 anos. Inicialmente eu não o via nos finais de semana que ele estava com a criança e não entendia bem isto. Para mim a criança tinha que “entender” o pai, perceber que estava tudo melhor sem brigas em casa, etc. Claro que não é assim. Não podemos exigir maturidade de uma criança.

        Hoje, com filhos, consigo entender bem melhor. A cabecinha das crianças funciona bem diferente. Algumas até se culpam pelo divórcio.

        Bem, cada caso é um caso… Vale então observar algumas coisas:

        – O namoro é recente?

        Ele está certo em não incluir você nos passeios. Melhor proteger a criança. Imagina se a cada nova namorada, que pode sumir em 2 semanas, ele apresenta para a criança? Péssimo exemplo… Então ele está sendo um bom pai, este cara é bom! Filhos são mais importantes, sempre. Você pensará assim depois de ter os seus.

        Não insista, só deixe claro que, quando ele se sentir pronto, você topa e fica feliz com a ideia. Isto mostra o quanto você se importa com eles.

        – Já estão juntos a bastante tempo (8 meses pelo menos)?

        Tudo tem um limite… Se vocês já estão juntos a tanto tempo e ele te esconde, inclusive da família, larga o osso e procura algo melhor. Desapega!! Impossível ser tão lerdo, ele não te ama.

        Quando chegar o momento:

        – A criança é pequena (menor de 4)?

        Este é um bom motivo para a demora ser maior… Elas se apegam mais facilmente. Se o namoro acaba, é sempre uma perda para a criança, então é bom ter certeza de que o namoro é sério.

        Costuma ser mais tranquilo nesta idade. A criança se adapta mais fácil às novas situações. Claro que depende muito dos pais. Se a preocupação deles for o bem estar dos filhos, farão de tudo para que a criança se sinta bem e se adapte à nova realidade.

        Seja alegre e carinhosa. Os pequenos precisam de carinho sempre. Só tome cuidado para ser sempre uma nova amiga e não outra mãe. Mãe é a ex, ela que ficou madrugada acordada cuidando, que amou desde que o bebê estava na barriga. Seja legal, só isto. Agora, se ele for viúvo, aí sim você pode ser o exemplo feminino que está faltando na criação da criança. Permita-se amar.

        – A criança é maiorzinha (de 4 a 10)?

        Costuma ser a fase mais difícil. Onde não há ainda a maturidade para entender que os pais não são “um só”, nem exclusividade deles, que têm individualidade e que a família pode não estar tão saudável quanto deveria. Muitos acostumam-se com as brigas e ainda levam este exemplo para a vida toda. Ainda assim, se os pais forem conscientes, na hora que se divorciam, fazem de tudo para que a criança não se sinta culpada. Quer coisa pior que um ficar colocando o filho contra o ex ou a ex? Acredite, acontece muito. Haja terapia…

        Se o relacionamento vai muito bem obrigado e ele quer que vocês se conheçam, tome alguns cuidados. Tenha consciência que você não é a mãe, mesmo que tenha o instinto materno gigante… Não faça competição.

        – A criança já é um pré-adolescente?

        Esta fase é dúbia. Por um lado, poderia ser mais fácil por já serem mais individuais e crescidos. Se tiveram um bom relacionamento com os pais, se sempre foram tratados com respeito, conversaram sobre suas dúvidas, tendem a compreender e por mais que doa a separação (sempre dói, até para quem está infeliz no casamento) irão se esforçar para ajudar os pais. Porém, se estiverem naquela fase “os outros são egoístas, me detestam, só me fazem sofrer”, aí é punk… Boas chances de ser um inferno pra todo mundo. Você terá que conquistar a confiança e isto é muito difícil. Nem tente comprar com presentes! Eles percebem a manipulação e aí nunca sentirão confiança.

        Eu cometi alguns erros. Um deles foi me manter afastada da criança, numa distância “segura”. Sempre mantive a cordialidade, mas na minha cabeça, se eu me aproximasse mais (ou fosse carinhosa), poderia passar a imagem de estar tentando tomar o lugar da mãe, e isto eu não queria. Não queria nem que ele gostasse de mim, pois se sentiria traindo a mãe e ele sofreria. Não queria que ele tivesse que lidar com mais isto… Já lidava com bronca demais. Mas hoje tenho dúvidas se agi certo ou não. Afinal, crianças querem se sentir amadas.

        Bom, este texto foi baseado em experiências próprias e de amigas. Não são regras e nem foram baseadas em artigos de psicologia. Se quiser compartilhar sua experiência ou dúvidas, deixe um recado. A gente se ajuda… 😉

        Mais uma coisinha, se ele já te apresentou para os filhos, para a família e você participa de alguns eventos, ótimo! Porém, é importante entender que momentos 100% só com os filhos é essencial, assim como você quer momentos 100% só com ele.

        dia do livro DIA DOS PAIS

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