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Post 300 – A Resistência contra o Colapso da Blogosfera

E não é que este blog chegou ao tricentésimo post?! Em tempos em que muita gente torce o nariz até para vídeos com mais de cinco minutos no YouTube, como estimular a leitura de textos com mil palavras?

Com a ascensão da inteligência artificial, respostas instantâneas dispensam visitas a sites ou blogs. Ainda assim, continuo resistindo. Escrever, para mim, é um exercício vital — de reflexão, expressão e partilha.

Por isso, neste marco simbólico, não pude deixar de lembrar dos trezentos de Esparta, que resistiram ao poderoso exército persa no desfiladeiro de Termópilas. No início do ano, li o romance histórico Portões de Fogo, de Steven Pressfield, e confesso: identifiquei-me com Dienekes, o guerreiro que acreditava que o verdadeiro campo de batalha era interior. Quem sabe, em breve, escrevo sobre isso. Por ora, sigo firme — com minha lança, meu escudo e meu notebook.

Nestes últimos cem posts, diversidade não faltou…

O post nº 202 tratou do reuso de água durante a crise hídrica de São Paulo (2014–2015). Também publiquei uma apresentação didática para crianças sobre poluição hídrica, com roteiro e explicações de slides.

O tema da sustentabilidade apareceu em vários momentos. Comecei com uma mesa-redonda durante uma feira ambiental na Alemanha — Por um Mundo mais Sadio e Justo: o Lixo e a Consciência. Ali conheci o conceito de economia circular. Anos depois, fiz um curso do MIT sobre este tema e publiquei seis artigos baseados nas reflexões do curso. A pergunta segue: ainda temos tempo para discutir o aquecimento global?

As proteínas vegetais entraram na pauta com uma carta aberta à Revista dos Vegetarianos e em uma conversa que tive com Pat Brown, fundador da Impossible Foods. Também compartilhei como preparar proteína texturizada de soja e um saborosíssimo estrogonofe vegano.

Criei uma série com quatro textos que conectam físico-química e comportamento humano. Expliquei, de forma descomplicada, conceitos como a Primeira Lei da Termodinâmica, reações químicas, energia de ativação, equilíbrio químico e soluções tampão. Afinal, tem gente endotérmica e exotérmica!

Lá em 2016, escrevi sobre os algoritmos das redes sociais e a formação de bolhas digitais. Em 2017, manifestei preocupação com a ascensão do nacionalismo e as ameaças à democracia. Em 2020, após ler Engenheiros do Caos, de Giuliano Da Empoli, algumas peças se encaixaram. A busca pelos “Arquitetos da Ordem” continua.

A polarização daquele período levou ao impeachment da presidente Dilma Rousseff e, pouco depois, à ascensão do Bolsonarismo. Vários posts trataram do governo Bolsonaro, inclusive sobre o início da pandemia — O Triste Clown e seu All-In.

Comemorei meu cinquentenário com uma série de reflexões sobre a vida. Agora, rumo aos sessenta, sigo na luta…

Em 2017, fraturei a perna jogando futebol com minhas filhas no quintal. No ano seguinte, contei o que aconteceu depois. E em 2024, contei o surgimento do “Vicente maratonista“, uma consequência surpreendente do acidente de 2017.

Em um momento mais leve, nasceu a “Trilogia das Sílfides”: histórias fantasiosas sobre jabuticabas, beija-flores e o mormacento verão de Porto Alegre.

Li As Seis Lições, de Ludwig Von Mises, e escrevi três artigos sobre convergências e divergências. O mundo mudou desde os anos 1950, mas muitos ainda defendem um liberalismo sem freios. Também sugiro ler Autofagia Liberal e Umbigocentrismo e refletir sobre as Três Formas Modernas de Escravidão.

Parece que muita gente cristalizou posições. Esquecem que polaridade e ritmo são essenciais para uma vida saudável.

2021 ainda era pandêmico… Escrevi sobre a convivência familiar em tempos de quarentena. Em agosto, perdi minha mãe, Dona Ladi, e fiz uma homenagem com Descartes, Shakespeare e Hilel, o Ancião como testemunhas.

Li A Revolta de Atlas, de Ayn Rand. Depois de devorar suas 1.200 páginas, escrevi sobre a autora, Francisco D’Anconia, Ragnar Danneskjöld e Ellis Wyatt. Mas esse capítulo ainda não terminou, porque — afinal — quem é John Galt?

O Papa Francisco, que infelizmente nos deixou, foi citado em um post sobre polarização política. Parece que todos precisam ser rotulados em alguma caixinha.

O Islamismo foi tema de outros textos. Como escrevi certa vez: Para obter a paz não basta uma vitória militar sobre o Estado Islâmico — ou sobre o Hamas.

Este blog passou por temas como eutanásia, maioridade penal, empatia, cancelamento digital, David Bowie, Marie Curie, o filme Fragmentado e o último Matrix.

Fiz uma fusão entre Coringa, Osho e Krishnamurti para falar dos riscos de seguir líderes cegamente. Este tema volta no que considero meu melhor artigo dos últimos cem: I’m Not Dog No – A Servidão Voluntária.

Quando deixei o conforto da CLT, escrevi As Gaiolas e o Corvo. Porque, sim, tanto a falta, quanto o excesso de propósito podem nos devastar.

Não sou Martha Medeiros, nem Fabrício Carpinejar, mas escrevo sobre relacionamentos porque a vida me provoca. Por isso, surgiram textos como O Amor Constrói, a Paixão e o Ódio Arrasam Quarteirões; Dores, Crescimento Pessoal e Cicatrizes; Relacionamentos São como Pudins; e, parafraseando Fernando Pessoa: Correr é Preciso, Viver Não é Preciso.

Chegarei ao post 400? Só o tempo dirá…

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O Direito sobre a Própria Vida e a Própria Morte

Em agosto do ano passado, na hora do jantar, chegou a notícia da morte do ator Robin Williams. Na sequência, foi revelado que o ator americano havia se suicidado. Lembramo-nos de vários filmes de Williams, onde a mensagem otimista era a tônica. Ele passava por uma profunda depressão e, naquele momento, preferiu acabar com a própria vida.

Robin Williams tinha condições de levar a cabo seu desejo de não viver mais, mas existem pessoas que precisam de ajuda para ter suas vontades atendidas. Para estas pessoas cada dia de vida é um sofrimento terrível e a morte seria um verdadeiro alívio. Questões éticas e morais inexplicáveis impedem que os desejos destas pessoas sejam atendidos e cada um passa a seguir sua própria “Via Crúcis”.

Na edição de 19 de julho de 2014 da revista The Economist, havia um artigo sobre o suicídio assistido. Leia a história abaixo.

Depois de sofrer um acidente vascular cerebral numa viagem de negócios, Tony Nicklinson, um ex-jogador de rugby e paraquedista, desenvolveu síndrome do encarceramento, uma doença incurável que deixa o paciente consciente, mas incapaz de se mover ou falar. Nicklinson aprendeu a se comunicar através do piscar os olhos e, assim, foi capaz de descrever seu terrível sofrimento. Preso em sua cela corporal sem nenhuma chance de escapar, ele queria morrer. Mas como a Grã-Bretanha não permite o suicídio assistido, o seu “pesadelo de vida” continuou.

Em poucos lugares do planeta, o suicídio assistido é legal: nos chamados Países Baixos (Holanda, Bélgica e Luxemburgo), na Suíça, no Canadá, onde a Suprema Corte do país derrubou recentemente a proibição, e em cinco estados norte-americanos.

Na Holanda e na Bélgica, inclusive há regulamentação aplicável a crianças e adolescentes com idade entre 12 e 16 anos. Você pode pensar que aí já é demais, mas veja esta outra história que li ontem no site da BBC Brasil. Valentina Maureira tem 14 anos e sofre de fibrose cística, uma doença hereditária, degenerativa e incurável que afeta seus pulmões, fígado e pâncreas.

Valentina Maureira

Valentina Maureira

Valentina publicou um vídeo no seu perfil do Facebook, onde faz o seguinte apelo à presidente chilena, Michelle Bachelet:

– Peço com urgência para falar com a presidente, porque estou cansada de viver com esta doença e ela pode autorizar a injeção para que eu durma para sempre.

A menina já perdeu o irmão mais velho, que morreu aos 6 anos de idade, e um grande amigo, companheiro de tratamento no hospital. Para a reportagem da BBC, ela disse as seguintes frases:

– Ele era um dos meus melhores amigos e, mesmo dando 100% de si, sofria. Vê-lo morrer me chocou.

– São 14 anos de luta, todos os dias, e para minha família tem sido pior. Estou cansada de seguir lutando, porque vejo sempre o mesmo resultado. É muito cansativo.

– É sobre a minha qualidade de vida. É isso que não tenho.

Como a eutanásia e o suicídio assistidos são proibidos no Chile, o sofrimento de Valentina deve continuar…

Se você ficou curioso sobre o desfecho do caso do inglês Tony Nicklinson, leia a tradução do final do artigo do The Economist.

Depois de ter sido negado o direito de morrer pela alta corte da Grã-Bretanha em 2012, ele recusou comida e finalmente sucumbiu à pneumonia.

A questão fundamental a ser discutida é o direito das pessoas de viverem e morrerem com dignidade. A maioria dos Estados modernos, incluindo o brasileiro, é laica. Assim questões religiosas não deveriam obstruir o livre arbítrio das pessoas sobre a interrupção de suas próprias vidas. Forçar uma pessoa a viver em constante sofrimento revela uma completa falta de compaixão e misericórdia.

Fontes:

http://www.economist.com/news/leaders/21607854-most-people-western-world-favour-assisted-suicide-law-should-reflect-their

http://www.economist.com/news/international/21607888-small-group-countries-helping-someone-die-not-crime-where-go-die

http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2015/02/150226_chile_apelo_hb

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