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A Origem do Mormaço de Porto Alegre – As Férias de Verão das Sílfides

Quem já passou um verão em Porto Alegre sabe como é desagradável o mormaço a que são submetidos seus habitantes. As temperaturas elevadas, muitas vezes próximas aos 40°C, aliadas à alta umidade e à ausência de uma brisa refrescante exigem a refrigeração dos ambientes e, quando possível, a fuga para alguma praia do litoral.

Mas, houve um tempo em que uma suave brisa atenuava o calor do verão porto-alegrense. As Sílfides passavam o dia inteiro balançando suas asas e voavam de um canto a outro. Elas apreciavam especialmente as ilhas do Lago Guaíba que banha a capital gaúcha.

Tudo começou a mudar em 1752, quando sessenta casais de portugueses chegaram ao pequeno vilarejo. Logo a vila ficou conhecida como Porto dos Casais e sua população começou a crescer. Algumas das Sílfides foram em busca de lugares mais tranquilos próximos a outras grandes massas de água. Assim chegaram ao litoral, mas acharam o local muito frio e inóspito no inverno e combinaram voltar no verão.

No final daquele ano, as Sílfides que foram até as praias gaúchas convenceram as demais companheiras a fazerem a mesma jornada para conhecer o novo local. Gostaram tanto que resolveram retornar somente no início de março. Tão felizes ficaram que adoravam se reunir fantasiadas de nuvens, principalmente à tarde, para todas juntas baterem bem forte as suas asas. Criaram o Vento Nordestão…

Desde aquele tempo, as Sílfides saem de Porto Alegre no início de dezembro e veraneiam nas praias gaúchas até o final de fevereiro. E os porto-alegrenses sobrevivem como podem em “Forno Alegre”.

Moradores de Porto Alegre, chegou a hora de saudar o retorno das Sílfides e os lindos dias de outono, luminosos e agradáveis. Não quero estragar a alegria, mas, em breve, as Sílfides do Polo Sul começarão a bater suas asas e o Vento Minuano – vento sudoeste, gelado, cortante que atravessa roupas e ossos, começará a soprar.

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A Origem dos Beija-Flores – A Revolta das Sílfides

As Sílfides passam o dia inteiro carregando o pólen de flor em flor. Este trabalho incansável não é notado pela esmagadora maioria dos seres humanos que não enxerga os seres elementais.

Algumas Sílfides reclamavam muito disto:

– Nós somos responsáveis por todo o esplendor da flora; pelo surgimento das mais saborosas frutas; pelo sustento de todos animais. E os humanos desprezam nossa existência. Aqueles que nos enxergam são chamados de loucos. Tudo isso é muito injusto!

As Sílfides mais ponderadas sempre davam exemplos para confortar as mais exaltadas:

– Todos os seres têm seu lugar no mundo. Devemos fazer o melhor para manter a harmonia na natureza. Se um nó nesta grande rede falhar, pode aparecer um enorme rombo e trazer desgraças para todos os seres da natureza. Imagina se os minúsculos seres responsáveis pela decomposição das plantas e animais mortos achassem sua missão pouco nobre e desistissem de executá-la? A Terra ficaria coberta de cadáveres e os nutrientes destes corpos não retornariam ao solo. Em pouco tempo, a natureza seria severamente prejudicada.

Mas estes argumentos não traziam paz às Sílfides rebeldes:

– A maioria das pessoas sabem da existência destes seres que trabalham na decomposição dos corpos das plantas e animais. E reconhece sua importância. E nosso caso como fica? Acreditam que tudo é obra do acaso. Ah, estes humanos tolos sempre vendo obras do acaso por todos os lados… Mal sabem eles que, na polinização, nós somos o acaso.

As discussões foram se tornando cada vez mais fortes entre os dois grupos de Sílfides. Em um destes momentos, uma Sílfide mais radical propôs uma greve por tempo indeterminado.

Um grupo mais moderado de Sílfides das duas correntes de pensamento se reuniu secretamente para tentar encontrar uma solução para a crise, numa noite, no tronco de uma jabuticabeira. Depois de muita discussão, apareceu uma alternativa:

– As Sílfides devem prosseguir com a missão de polinizar as plantas. Assim devem continuar voando de flor de flor. Para os humanos vê-las, elas deveriam estar nos corpos de pássaros. Preferencialmente estas aves devem ser lindas e delicadas, modéstia à parte, como nós Sílfides somos.

A ideia foi apresentada para todas as Sílfides e aprovada por unanimidade. Deste modo, os beija-flores foram criados para abrigar as Sílfides rebeldes. E as pessoas param tudo que estão fazendo por breves instantes quando veem estas lindas aves voando de flor em flor.

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A Origem das Jabuticabas – As Sílfides e a Jabuticabeira

Não existe outra árvore como a jabuticabeira! Além dela, qual árvore possui deliciosas frutas presas diretamente nos seus troncos e galhos? Mas houve um tempo em que a jabuticabeira não dava frutos e ela sentia uma profunda tristeza ao ver outras árvores floridas ou cheias de frutas ao seu redor.

Numa noite, uma jabuticabeira acordou de sono assustada ao sentir a presença de inúmeros seres sobre seu tronco e seus galhos. Ela sussurrou:

– Quem está sobre mim? Sei que não pousaram sobre meu corpo insetos ou outros seres conhecidos por mim!

Várias vozes falaram em coro:

– Somos Sílfides. Somos pequenas fadas da mata. Trabalhamos durante todo o dia, levando o pólen de uma flor para outra. Ajudamos as árvores desta floresta a frutificarem. Seus frutos serão alimentos para todos animais que aqui vivem e as sementes destes frutos, ao encontrarem solo fértil e água, gerarão novas árvores.

A Jabuticabeira retrucou:

– E por que vocês pousaram em mim? Sou uma pobre árvore estéril. Vocês estão vendo flores nas pontas dos meus ramos, como nos espetaculares ipês, flamboyants ou jacarandás? Vocês acham que todos esperam ansiosos minha floração como acontece com as cerejeiras que ainda produzem frutos deliciosos? Ah que injustiça…

Uma das Sílfides, constrangida, confessou:

– Na verdade, viemos descansar. Trabalhamos o dia inteiro, polinizando os ipês e procuramos um lugar, sem flores, para nos recuperarmos depois de um dia duro de trabalho. Sabe, não é bom levar o trabalho para casa…

Gotas de água começaram a verter por todas as folhas da Jabuticabeira até virarem uma chuva. As Sílfides fugiram para outra árvore com medo daquela tempestade causada pela tristeza da pobre árvore estéril.

Naquela noite, ninguém dormiu. Elas sugeriram diversas alternativas para acabar com o sofrimento daquela Jabuticabeira solitária. Uma sugeriu que ela tivesse flores lindas como as rosas; outra, flores delicadas como os lírios. Outra sugeriu que tivesse frutas como amoras; outra, como abacates ou goiabas. Finalmente, uma delas deu uma ideia incrível:

– Vamos fazer algo inédito! A Jabuticabeira terá flores parecidas conosco, pequeninhas e delicadas. Ao invés de nascer na ponta dos ramos, estas flores aparecerão no tronco e galhos grossos da árvore.

– E as frutas, como serão? – As outras perguntaram curiosas.

– Serão bolinhas escuras de uma doçura incrível. Os mais velhos se deliciarão catando-as do tronco e seu sabor ativará a memória dos tempos de criança, quando escalavam seus galhos, disputando com os pássaros desta mata cada frutinha.

Todas as Sílfides adoraram a ideia e naquela noite mesmo a colocaram em prática.

Pela manhã, a Jabuticabeira sentiu uma estranha comichão por todo seu corpo. Não entendeu o que estava acontecendo. Depois milhares de florzinhas pequenas e delicadas surgiram sobre seu tronco e galhos. Abelhas e Sílfides dançavam freneticamente em volta dela. O zumbido das asas era uma sinfonia, o fim do silêncio solitário.

Passados alguns dias as flores foram, progressivamente, substituídas por pequenas bolinhas verdes que foram crescendo e escurecendo até ficarem do tamanho de bolinhas de gude.

Insetos, pássaros e crianças passaram a disputar seus deliciosos frutos. As sementes voltaram para o solo e novas jabuticabeiras nasceram.

A Jabuticabeira ficou feliz. As Sílfides se orgulharam da sua criação. E nós somos imensamente gratos a elas.

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