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São Paulo “Atacama” – A Verdade sobre a Seca em São Paulo

El Niño foi generoso com os paulistas e, nos últimos quatro meses, choveu um pouco mais do que a média histórica para o período. El Niño, para os que não conhecem o “menino”, é um fenômeno que se caracteriza pelo aquecimento das águas superficiais do Oceano Pacífico, causando grandes mudanças climáticas. No Sul do Brasil, aumenta a quantidade de chuvas; no Sudeste, eleva a temperatura ambiente; e no Nordeste, causa estiagem. Segundo previsões, esta condição pode se estender até o início de 2016.

São Paulo é uma zona de transição. Deste modo, não ficou embaixo d’água, como os estados do Sul ou ficou seco como os estados nordestinos. Choveu na medida certa em 2015, como está apresentado na tabela abaixo, onde são apresentadas as médias históricas e as chuvas acumuladas mensalmente sobre cada manancial. Os dados foram obtidos no site da Sabesp. Para ver a tabela em tamanho maior, basta clicar em cima dela.

Tabela das chuvas sobre os sistemas de abastecimento de São Paulo em 2015

Tabela das chuvas sobre os sistemas de abastecimento de São Paulo em 2015

Apenas no pequeno sistema Alto Cotia, as chuvas ficaram significativamente abaixo da média em 2015. O Guarapiranga ficou bem acima, o que gerou um bom aumento no seu volume, como veremos a seguir. No Alto Tietê, as chuvas ficaram na média; no pequeno Rio Claro, ficaram acima; e no Cantareira e Rio Grande, as chuvas ficaram um pouco abaixo da média histórica.

Fiz tabelas semelhantes para o período entre outubro de 2012 e outubro de 2014. Para não saturá-los com uma montanha de números, resumi tudo nesta tabela e neste gráfico.

Tabela das chuvas sobre os sistemas de abastecimento de São Paulo entre 2013 e 2015

Tabela das chuvas sobre os sistemas de abastecimento de São Paulo entre 2013 e 2015

 

Grafico chuvas sp 2013-2015

Em 2013, as chuvas ficaram entre 15 e 20% abaixo do histórico no Cantareira, Guarapiranga e no Alto Cotia; na média, no Alto Tietê; e acima da média nos demais sistemas. No ano passado, tivemos uma seca muito severa que atingiu todos os mananciais, com exceção do Rio Claro. O volume de chuvas foi aproximadamente 40% menor do que o esperado.

A variação dos volumes dos mananciais está apresentada na tabela e no gráfico abaixo.

Tabela dos volumes dos sistemas de abastecimento de São Paulo entre outubro de 2012 e outubro de 2015

Tabela dos volumes dos sistemas de abastecimento de São Paulo entre outubro de 2012 e outubro de 2015

 

Grafico volumes sp 2013-2015

A próxima tabela sintetiza tudo! A variação do volume de cada sistema foi calculada com base na sua capacidade total, incluindo os volumes mortos.

Tabela chuvas-volumes 2013-2015

Fica claro que São Paulo viveu apenas um ano de estiagem – 2014. As chuvas em 2013 e 2015 ficaram dentro da normalidade. No Cantareira, apesar de não haver uma grande estiagem em 2013, 15% de sua capacidade total foi consumida, 185 milhões de metros cúbicos. Entre outubro de 2013 e outubro de 2014, no auge da estiagem, 41% da capacidade do Cantareira foram consumidos, incríveis 526 milhões de metros cúbicos. Durante este período, muito pouco foi feito:

– inicio do programa de descontos da Sabesp em fevereiro de 2014;
– início do uso do primeiro volume morto do Cantareira em maio de 2014;
– início do uso do segundo volume morto do Cantareira em outubro de 2014.

Em setembro de 2015, 81% dos clientes da Sabesp reduziram seu consumo em relação ao ano anterior e ganharam descontos na conta d’água. Mesmo com esta economia e chuvas dentro da média histórica, o volume total dos mananciais cresceu nos últimos doze meses apenas 164 milhões de metros cúbicos (7% da capacidade total). Os dois principais sistemas, Cantareira e Alto Tietê, ficaram com seus níveis praticamente estáveis.

Ou seja, o sistema de abastecimento de água de São Paulo continua frágil e as poucas obras concluídas em 2015, não ajudariam a resistir a um novo período de estiagem. Por que nada foi feito em 2014? Havia as eleições e o governador Geraldo Alckmin concorria à reeleição. Deste modo, preferiu minimizar, em seus discursos, os riscos do desabastecimento de água. Depois colocou a culpa no clima e prossegue com a mesma tática. Imagina se estivéssemos com uma seca de quatro anos como a Califórnia?

Neste momento de “petralhas” e “coxinhas”, certamente os tucanos dirão que sou petista. Tenho a isenção de quem já denunciou a administração petista de Novo Hamburgo (cidade gaúcha onde morei quase vinte anos). O PSDB está duas décadas no poder em São Paulo e tratou a questão do abastecimento de água do estado de forma secundária. O mais importante era garantir o lucro e a distribuição de dividendos que caem no caixa do estado com liberdade para ser usado onde o governo quiser sem aquelas vinculações “indesejáveis”.

Alckmin sabia da gravidade da crise hídrica e não cumpriu sua obrigação para garantir sua reeleição. Agiu de má-fé. Se ele achasse que o problema não era importante, então seria um incompetente e não merecia vencer a eleição. Da mesma forma, Dilma sabia da gravidade da crise econômica do país e mentiu na campanha eleitoral para a presidência da república. Também agiu de má-fé. A prova foi a nomeação de Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e as medidas de austeridade econômica que seu governo tenta aprovar no Congresso desde o início deste ano. O El Niño salvou Alckmin, Dilma parece não ter a mesma sorte…

Os políticos brasileiros estão muito interessados em garantir a próxima eleição. Fazer o que deve ser feito e servir o povo fica para um plano secundário ou terciário…

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São Paulo “Atacama” – A Crise Hídrica Acabou?

Hoje chove em Cotia. As notícias sobre a crise hídrica de São Paulo são tão escassas quanto as chuvas das últimas semanas. Passa a impressão de que o problema foi superado ou, pelo menos, não é grave. A tabela abaixo compara as reservas atuais de água com a situação no mesmo período do ano passado.

Seca_SP_Tabela_30-06-15

Por incrível que pareça, as reservas atuais estão 21% menores do que em 30/06 de 2014. Deste modo, entramos no inverno, o período mais crítico do ano, com 167 milhões de metros cúbicos a menos do que no ano passado. Se você comparar a redução do volume dos reservatórios no segundo semestre de 2014, verá que três sistemas de reservatórios poderão chegar praticamente vazios ao próximo período de chuvas – Cantareira, Alto Tietê e Rio Claro.

Seca_SP_Grafico_30-06-15

A Sabesp publicou a seguinte frase abaixo da definição de “reserva técnica” na página de seu site onde apresenta a situação dos mananciais:

“É possível ampliar em cerca de 180 milhões de metros cúbicos o volume da reserva técnica, desde que executadas obras que ampliem as instalações de bombeamento.”

Não achei nada sobre a obra acima. O projeto mais importante de 2015 é a transposição das águas do sistema Rio Grande para o Alto Tietê, orçada em R$ 130 milhões. Com esta obra, o Alto Tietê poderia abastecer diariamente mais 1,5 milhões de pessoas a partir de setembro. No final de junho, foi inaugurada a transposição de água do rio Guaió para o Sistema Alto Tietê, um volume de água suficiente para abastecer entre 300 e 400 mil pessoas.

O projeto mais importante é a ligação entre a bacia do rio Paraíba do Sul e a represa Atibainha (Bacia do Sistema Cantareira), orçada em R$ 830 milhões, prevista para entrar em funcionamento em 2016, deverá entrar em operação apenas em 2017. Esta obra poderá transferir um volume de água para o Cantareira suficiente para abastecer uma população entre 2 e 3,4 milhões de pessoas. Todos estes projetos são necessários, mas apenas interligam mananciais que passarão a esvaziar ou encher de forma mais equilibrada. Não se planejam projetos para racionalizar o consumo e reduzir desperdícios.

Todas as obras para mitigar a crise hídrica atrasaram. Ou seja, nem perante uma situação emergencial, o governo paulista conseguiu ser ágil.

Geraldo Alckmin dá início a obra de interligação de sistemas [Fonte: site do El País]

Geraldo Alckmin dá início a obra de interligação de sistemas [Fonte: site do El País]

A população de São Paulo está colaborando para a economia de água. No mês de maio, 83% dos clientes receberam bônus por economizar água e apenas 17% consumiram mais do que sua média do ano anterior. Como “prêmio”, a tarifa de água da Sabesp teve um reajuste de 15,24% em maio. A medida provavelmente foi estimulada pela queda na lucratividade da empresa – no primeiro trimestre de 2015, o lucro que foi de R$ 318,2 milhões contra R$ 477,6 milhões no mesmo período de 2014.

Como a geração de energia elétrica no Brasil é majoritariamente hídrica, a seca também complicou a situação em relação à eletricidade. Termoelétricas a gás natural e a óleo combustível foram ativadas e o custo do kWh subiu. O governo federal inventou a regra das bandeiras na conta de luz e agora estamos sob o regime da bandeira vermelha, a tarifa mais alta. Se isto não bastasse, reajustes tarifários são autorizados com índices muito acima da inflação oficial.

A geração domiciliar de eletricidade, através de painéis solares fotovoltaicos, é pouco incentivada no país. Se uma pessoa produzir mais do que consome, não receberá nada em troca. Este montante será acumulado em uma conta para compensar o total consumido através da rede da concessionária e, se após 3 anos não for utilizado, este crédito é zerado. Deste modo, não existe incentivo para gerar mais do que é consumido e a maioria dos projetos prevê uma geração entre 80 e 90% da necessidade média da residência. A Alemanha trilhou um caminho radicalmente oposto, seu governo incentivou a geração solar distribuída com enorme sucesso.

Painel solar fotovoltaico residencial

Painel solar fotovoltaico residencial

No Brasil, o litoral norte de Santa Catarina é a região com menor irradiação solar global (4,25 kWh/m2) devido à localização geográfica e à nebulosidade. Mesmo assim seu potencial para geração de eletricidade é 3,4 vezes maior do que a melhor região da Alemanha. A geração fotovoltaica em telhados residenciais tem o potencial de gerar o equivalente a mais de 2,3 vezes o consumo de eletricidade residencial brasileiro. Apesar do seu enorme potencial, o Brasil produziu em 2012 apenas 42 GWh de energia elétrica de fonte solar contra 28 mil GWh da líder mundial Alemanha.

No caso da seca no sudeste brasileiro, incentivar a captação e aproveitamento de água da chuva e o reuso de águas com menor potencial poluidor também não faz parte das agendas dos governadores estaduais.

Nos dois casos, os grandes, complexos e caríssimos projetos são sempre os preferidos para a solução dos problemas em detrimento do incentivo a obras muito mais simples em residências e empresas. Parece que os grandes lobbies empresariais conseguem sempre influenciar decisivamente na elaboração dos regulamentos que regem as atividades do próprio setor e nas políticas governamentais.

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São Paulo “Atacama” – Aproveitamento de Água da Chuva e Reuso de Água Já!

Na quarta-feira passada, terminamos a instalação de um sistema de aproveitamento de água da chuva, composto de calha para a coleta de chuva do telhado de nossa casa e tubulações para encaminhá-la até um tanque de 2 mil litros. Antes de entrar neste tanque, a água passa por um filtro e um separador de chuva fraca (mais poluída). Poderemos recuperar, dependendo da quantidade de chuvas, entre 6 e 15 mil litros de água por mês. Veja as fotos abaixo.

Sistema coleta agua chuva

Eu e Claudia estamos à disposição para ajudar a implantar sistemas de coleta de água da chuva como este se sua casa estiver localizada nas proximidades de Cotia. Especificamos o sistema e contamos com uma equipe com experiência neste tipo de instalação.

Nestes últimos meses, escrevi dois artigos sobre a seca em São Paulo e a inércia do governo de São Paulo para combater seus efeitos. No primeiro, em setembro do ano passado, mostrei que a situação rumava para o caos com a redução acelerada das reservas de água do estado, apesar do governador Alckmin negar o óbvio por motivos eleitorais. No segundo artigo, um mês depois, apresentei várias medidas para reduzir o consumo de água, inclusive a coleta de água da chuva.

O governo pede que a população economize água, mas o mais impressionante é que as sugestões não fogem do lugar comum: escovar os dentes ou fazer a barba de torneira fechada, tomar banhos mais curtos, não lavar calçadas e automóveis. Claro que estas medidas ajudam, mas é muito pouco para reverter o atual quadro da estiagem no estado. Precisa-se de ações que disponibilizem mais água em curto espaço de tempo, como a coleta de chuva e o reuso da água cinza (máquinas de lavar roupa, chuveiros e pias). Não podemos esperar, no mínimo dois anos, que um sistema sofisticado e caríssimo seja implementado para tratar as águas poluídas da Represa Billings. As outras obras já anunciadas pelo governo estadual só começarão a entrar em funcionamento no final de 2015. Como conseguiremos superar o período de estiagem que começará em abril?

Se o poder público não toma as decisões necessárias para tentar reverter a situação dramática causada por esta seca, cabe a nós cidadãos achar boas alternativas para reduzir o consumo de água. O diretor da Sabesp para a região metropolitana de São Paulo, Paulo Massato, citou a possibilidade de um “rodízio drástico” de até cinco dias sem água por semana. Você já imaginou ter água na sua torneira apenas dois dias da semana?

Para ter uma ideia mais clara da dimensão da crise hídrica paulista, apresento um raio-X que preparei sobre a queda das reservas de água nos principais sistemas de reservatórios de São Paulo.

Seca_SP_Tabela_31-01-15
Seca_SP_Grafico_31-01-15
Seca_SP_Reservas_31-01-15

Como pode ser visto o segundo volume morto do Cantareira deve acabar em março. Existe a possibilidade de usar uma terceira reserva de 41 bilhões de litros da Represa Atibainha, mas esta medida aumentaria o disponibilidade de água do Cantareira em apenas 4,2 pontos percentuais. Ou seja, daria uma sobrevida somente até abril. O Sistema Alto Tietê deve secar no primeiro semestre de 2015, junto com o Sistema Rio Claro. O Guarapiranga, que está em melhores condições graças às chuvas deste verão, deverá ter a retirada de água aumentada devido ao colapso do Cantareira e Alto Tietê, provavelmente não chegará com água até a próxima estação das chuvas, em dezembro deste ano. O pequeno Alto Cotia segue a mesma tendência do Guarapiranga.

Agora começamos a estudar o reaproveitamento da água da máquina de lavar roupa. Medimos o gasto de água por ciclo completo de lavagem e chegamos a 90 litros por ciclo. No nosso caso, a lavagem de roupas pode ser responsável por quase metade do consumo mensal de água! Se sua máquina tem abertura superior fica fácil aproveitar a água do enxágue final como água da primeira lavagem das roupas. Infelizmente, nossa máquina tem abertura frontal, mas vamos criar um sistema para reduzir seu consumo e apresentaremos a solução aqui no nosso blog.

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São Paulo “Atacama” – As Medidas que Evitariam a Crise de Abastecimento de Água

Há um mês escrevi um artigo sobre a situação crítica dos reservatórios de água em São Paulo e a falta de medidas efetivas do governo do estado. Hoje gostaria de comentar as possíveis alternativas técnicas que reduziriam o consumo de água nas residências, escolas, hospitais e empresas.

Começo revisando a tabela que apresentei no mês passado. Como pode ser visto na tabela abaixo, o Sistema Cantareira continua seguindo fielmente a tendência e deve ter a sua primeira reserva consumida integralmente em três semanas, o que está alinhado com a declaração feita na semana passada pela presidente da SABESP, que ironicamente também se chama Dilma. Ela disse que a primeira reserva do Cantareira seria totalmente consumida em meados de novembro, mas o governador Geraldo Alckmin desmentiu a informação e anunciou mais um bônus na conta de água. Uma medida inócua para a gravidade da situação.

Seca_SP_Tabela_21-10-14

O segundo “volume morto” do Sistema Cantareira será consumido em pouco mais de dois meses, se as chuvas não ajudarem. Ou seja, esta reserva terminaria na segunda quinzena de janeiro. A reserva do Sistema Alto Tietê seria consumida até o final de 2014. Também preocupa, nesta nova tabela, a aceleração do consumo nos sistemas Rio Claro e Guarapiranga que seriam totalmente consumidos, respectivamente, até meados de janeiro e final de fevereiro. Ou seja, a situação é gravíssima e, se as chuvas não forem abundantes neste verão, entraremos no período de estiagem com a maioria dos reservatórios vazios.

Independente das chuvas, uma série de medidas deveriam ser implantadas. A primeira e mais óbvia é combater os vazamentos e ligações ilegais. É também inevitável racionar água e, infelizmente, cortar a água para irrigação. Após a seca no verão passado, o governo do estado, com auxílio dos bancos estatais, poderia ter aberto uma linha de financiamento de longo prazo para substituir os sistemas tradicionais de irrigação por sistemas de gotejamento (muito mais eficientes). Agora teremos quebra de safra, especialmente dos hortifrutigranjeiros, com redução da oferta e aumento dos preços.

A captação da água da chuva é outra medida que ajudaria muito. Bastaria encaminhar a água dos terraços e telhados para tanques e cisternas. Esta água seria usada para regar gramados, hortas e jardins ou lavar calçadas. Com ou pequeno tratamento, também poderia ser usada na descarga dos vasos sanitários. Para ter uma ideia do volume de água potável que poderia ser economizado, siga meu raciocínio. A intensidade da chuva é medida em milímetros, onde um milímetro é equivalente a um litro por m². Considere uma casa que ocupe 100 m² de um terreno. Se em um mês de estiagem chovesse apenas 50 mm, esta casa captaria 5 mil litros de água da chuva. Esta é uma medida relativamente simples e poderia ter sido incentivada pelo governo estadual.

como-diminuir-o-consumo-de-agua

Outra forma de economizar água potável é não usá-la na descarga dos vasos sanitários e mictórios. As águas que sobram de atividades domésticas como tomar banho, lavar louça ou roupas são conhecidas como água cinza. Normalmente apresentam baixa contaminação com microrganismos patogênicos e podem ser tratadas, cloradas e usadas nas descargas de vasos.

Alguns efluentes industriais tratados também podem ser usados para irrigação.

Além destas ideias existem milhares de outras. Assista ao vídeo abaixo, onde a universidade peruana UTEC criou um gerador de água potável a partir da umidade do ar e instalou o equipamento em um outdoor na periferia da capital Lima. A produção mensal foi de aproximadamente 3 mil litros por mês e abasteceu uma comunidade carente.

Talvez você possa pensar que agora é tarde demais para implantar projetos e medidas como as listadas acima. Na verdade, nunca é tarde para fazer a coisa certa. Se as medidas que listei neste artigo forem implantadas, seremos muito mais sustentáveis e será possível acelerar a recuperação dos mananciais hídricos do estado, quando as chuvas voltarem. Normalmente as crises são oportunidades para melhorarmos, mas se ficamos inertes, confiando apenas na sorte, o perigo pode crescer ao ponto de inviabilizar nossas atividades ou até mesmo o poderoso estado de São Paulo.

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São Paulo “Atacama” – O Que Fazer Quando a Água Acabar?

Todos sabem que a região sudeste do Brasil está passando por um longo período de estiagem. Os reservatórios que abastecem o estado mais populoso do país, com mais de 40 milhões de habitantes, estão com níveis cada vez menores. No final de semana passado, choveu para a felicidade da maioria, inclusive a minha. Ontem resolvi conferir se os níveis dos reservatórios haviam aumentado e, para meu espanto, a maioria teve redução nos volumes de água.

O Cantareira é um sistema de reservatórios responsável pelo abastecimento da 9 milhões de pessoas na região metropolitana de São Paulo. Em maio deste ano, a SABESP (empresa responsável pela captação, tratamento e distribuição de água no estado de São Paulo) iniciou a captação de um volume de reserva d’água do sistema Cantareira, chamado de “volume morto”. Esta medida adicionou ao estoque 182,5 bilhões de litros de água. Todo este volume foi integralmente consumido após quatro meses. Agora se fala em adicionar mais 106 bilhões de litros de água da segunda reserva técnica do Cantareira.

Sistema Cantareira apresenta o nível mais baixo da história

Sistema Cantareira apresenta o nível mais baixo da história

O gráfico e a tabela abaixo apresentam a situação dos reservatórios, sem considerar o uso desta nova reserva no Cantareira e supondo perfil de consumo e reposição semelhante ao atual.

Seca_SP_Grafico

Seca_SP_Tabela

Ou seja, o sistema Alto Tietê secaria antes do final do ano, o Cantareira poderia suportar até o final de janeiro, graças ao uso desta nova reserva, e todo o sistema entraria em colapso no final do primeiro semestre de 2015. Se as chuvas nesta primavera, que inicia hoje, e no próximo verão forem normais, talvez a catástrofe seja adiada por mais alguns meses.

Como a solução deste problema não é rápida ou fácil, a questão que todos fariam é simples:

– Por que ainda não começou racionamento de água no estado e principalmente na região metropolitana, onde vivem mais de 20 milhões de pessoas?

Minha resposta é óbvia:

– O atual governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, concorre à reeleição e espera vencer no primeiro turno que acontecerá em duas semanas. E esta medida é muito impopular, além de expor uma grave incompetência de sua gestão.

Passada a eleição em São Paulo, o racionamento deverá entrar em vigor e, como sempre, os mais pobres sofrerão mais… Se a situação avançar até o ponto crítico, em algum momento de 2015, poderemos assistir um êxodo urbano sem precedentes na história brasileira! Tudo poderia ser evitado com investimento em redução de perdas, reuso de água e melhor gerenciamento do sistema, mas se preferiu contar com a sorte…

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