O Verdadeiro Fim da História

Em 2014, completará 25 anos da publicação do polêmico ensaio “The End of History?” do cientista político americano Francis Fukuyama na revista National Interest. Depois, no final daquele ano, aconteceu a queda do Muro de Berlim, o que levou muita gente a afirmar que a História havia terminado, porque a democracia liberal triunfara e não surgiria outro sistema para disputar a hegemonia, como foram os casos do fascismo e do socialismo no século XX.

Francis Fukuyama

Francis Fukuyama

No último parágrafo deste ensaio, Fukuyama fala do fim das disputas ideológicas e da “estagnação” que tomará conta da humanidade após o fim da História:

“O fim da história será um momento muito triste. A luta pelo reconhecimento, a vontade de arriscar a própria vida por um objetivo puramente abstrato, a luta ideológica mundial que suscitou ousadia, coragem, imaginação e idealismo, será substituída pelo cálculo econômico, pela solução interminável de problemas técnicos, por preocupações ambientais, e pela satisfação de exigências sofisticadas dos consumidores. No período pós-histórico não haverá nem arte nem filosofia, apenas a guarda perpétua do museu da história humana. Eu posso sentir em mim mesmo, e ver nos outros ao meu redor, uma nostalgia poderosa para o momento em que a história existia. Essa nostalgia, de fato, continuará a alimentar competição e conflito, mesmo no mundo pós-histórico por algum tempo. Apesar de eu reconhecer a sua inevitabilidade, eu tenho os sentimentos mais ambivalentes para a civilização que foi criado na Europa desde 1945, com suas ramificações pelo Atlântico Norte e Ásia. Talvez esta perspectiva de séculos de tédio no final da história servirá para iniciar a história mais uma vez.”

Para começar, não acredito no fim da arte ou da filosofia e prefiro a guerra trancafiada no Musée de l’Armée de Paris. Você pode acessar a íntegra do ensaio através do link abaixo.

http://www.wesjones.com/eoh.htm

Em 1992, Fukuyama lançou o livro “The End of History and the Last Man”, onde desenvolveu melhor os pressupostos de seu ensaio de 1989. Com o fim da Guerra Fria devido ao dilaceramento do bloco socialista, a democracia liberal tornou-se, segundo ele, a forma final de governo para todas as nações. Não poderia haver progressão da democracia liberal para um sistema alternativo. Como a História deve ser vista como um processo evolutivo, poderíamos concluir que a História chegou ao fim, mesmo que eventos ainda ocorram.

Não acredito que esta seria uma boa definição do “fim da História”. Atualmente temos uma série de revoluções acontecendo de forma pacífica no mundo. Estamos entrando em uma era de informação, nunca as pessoas tiveram informação com a abundância de hoje. Figuras como Assis Chateaubriand, o poderoso dono dos Diários Associados entre as décadas de 40 e 60, ou Roberto Marinho, dono das Organizações Globo que chegou ao auge da sua influência entre as décadas de 60 e 90, teriam hoje como principal limitador a Internet. Qualquer um pode dar sua versão dos fatos ou publicar fotos e documentos comprometedores que derrubam versões da grande imprensa.

Assis Chateaubriand (esq.) e Roberto Marinho (dir.)

Assis Chateaubriand (esq.) e Roberto Marinho (dir.)

A tecnologia, em todas as áreas, avança e sinaliza um futuro de maior longevidade e abundância. A biotecnologia é outra revolução deste século. Fukuyama demonstrava pessimismo sobre o futuro da humanidade devido à incapacidade humana de controlar a tecnologia. Em minha opinião, as discussões éticas acontecem depois do desenvolvimento tecnológico, o que evidentemente pode causar sérios problemas, mas dificilmente ocorrerão problemas irreversíveis. Os erros fazem parte do processo de aprendizado.

Voltando para o “fim da História”, o capitalismo, o neoliberalismo e a globalização atacam em duas frentes para garantir a manutenção da sua expansão:

– estímulo ao consumismo das populações mais ricas;
– busca e desenvolvimento de novos mercados.

Atualmente pode-se citar os países pobres ou emergentes da África, Ásia, América Latina e do próprio leste europeu como exemplos destes novos mercados-alvo da globalização. Há quase dois anos escrevi o artigo “Malditas Multinacionais”, onde faço uma análise do binômio lucro e risco. Na África, por exemplo, as instituições dos países estão ficando mais estáveis, atraindo novos investimentos, porque os riscos estão menores ou, pelo menos, administráveis. Como consequência, há uma melhoria considerável nos padrões sociais destes países. O número de filhos por casal cai, o crescimento demográfico declina e a expansão econômica perde velocidade. Outros novos mercados serão procurados e o ciclo se repete.

Conforme minha visão, o “Fim da História” acontecerá quando houver igualdade entre as pessoas e povos. Isto não significa que não existirão pessoas e povos mais ricos ou mais pobres, mas todos terão liberdade e acesso à alimentação de qualidade, moradia digna, saúde e educação. Continuará a haver mobilidade interna entre pessoas e povos, mas isto não será o suficiente para estimular o crescimento da atividade econômica. Assim o neoliberalismo e a globalização perderão fôlego. O que vai acontecer em um mundo com redução de população, com fontes de energia alternativas baratas e confiáveis, com abundância de alimentos de qualidade, onde não será preciso trabalhar mais do que 20 ou 24 horas semanais?

Talvez só exista uma alternativa para o capitalismo, a expansão espacial – a conquista e colonização de novos planetas. Neste caso, se tornará realidade aquela frase do seriado de TV “Jornada nas Estrelas” (“Star Trek” no original em inglês):

– “Espaço – a fronteira final”.

Para os fãs da série, grupo no qual me incluo, matem ou alimentem a saudade, assistindo a abertura original da segunda temporada.

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