Após um ano de coleta de sementes, a população humana de Perennial começou a ficar descontente com aquela situação. Afinal estavam enviando toneladas de sementes da fonte da juventude para a Terra e não recebiam praticamente nada em troca. Neste período, apenas dois moradores do planeta foram sorteados na loteria. Por outro lado, o ônus de gerenciar toda a operação, incluindo os kwashas, ficou sobre os ombros de Perennial.
A partir de certo momento, a produção começou a declinar. O secretário-geral da ONU quis entender o que estava acontecendo e o conselho de Perennial deu uma série de explicações:
– A produtividade das fontes da juventude caiu – cada planta estava gerando menos sementes.
– Os kwachas estavam mais preguiçosos e como não se podia exagerar nos castigos, eles não estavam mais temendo os humanos.
– Havia uma praga de insetos noturnos que forçava a antecipação do fim das atividades diárias.
O secretário pediu um plano de ação e, sem avisar o conselho de Perennial, enviou um delegado com um grupo de auditores ao planeta para investigar com maior profundidade os fatos.
Quando o grupo chegou a Perennial, foi muito fácil destruir a versão do conselho local. Não havia nada errado com as plantas. Os kwachas continuavam trabalhando da mesma forma e um novo contingente chegara de Arborea há um mês. E a praga de insetos noturnos era mais uma mentira. Na verdade, parte da produção de sementes foi desviada e contrabandeada. Uma parte serviu de pagamento aos mercadores de kwachas de Arborea e a maior parte foi vendida para as pessoas ricas que não foram sorteadas na loteria.
O delegado se reuniu com o conselho para apresentar suas conclusões. No final, o conselheiro-mor deu ordem para seu serviço de segurança prender a comitiva da Terra e declarou a independência de Perennial:
– Basta de exploração! Basta de humilhações! O tempo de subserviência à Terra acabou hoje! A partir de agora somos um planeta independente e se os habitantes da Terra quiserem as sementes da fonte da juventude, deverão pagar o preço que nós determinarmos. Prendam estes canalhas e cortem toda a comunicação deles com a Terra!
Chegou a hora do motim, da revolução. Algo que aconteceu inúmeras vezes na história do homem na Terra e já estava meio esquecido por seus habitantes.
Claro que o delegado havia enviado um relatório parcial da investigação para a ONU. Quando o secretário-geral leu o documento, tentou contatar imediatamente seu subordinado, mas não obteve sucesso. Então decidiu chamar o embaixador de Perennial na ONU para obter esclarecimentos. Como todo bom diplomata, ele disse que deveria ser engano e que, talvez, o delegado e sua comitiva estivessem perdidos na floresta do planeta. E para concluir disse:
– Entrarei imediatamente em contato com as autoridades de Perennial. Tenho certeza que todos os esforços serão envidados para encontrar a delegação enviada por Vossa Excelência ao nosso modesto planeta.
O secretário geral não acreditou naquela história e temia que o pior tivesse acontecido com seu pessoal. Não havia tempo a perder!
Em Perennial, o conselho do planeta decidiu apoiar a ruptura dos vínculos com a Terra. Por outro lado, acharam que não poderiam ficar sozinhos e decidiram fazer uma aliança com os dois planetas mais próximos – Arborea e Aquamundi. Assim, pelo menos, estes planetas não serviriam de base terráquea em caso de ataque das tropas da ONU.
O conflito parecia inevitável, desta vez o motivo não era ideológico, nem reservas de petróleo ou metais nobres, nem mesmo territórios. Ironicamente as pessoas estavam dispostas a morrer para conseguir a semente que prolongaria suas vidas.
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