O filósofo grego Aristóteles, há mais de 2300 anos, foi autor da tese que “o homem é um animal social”. Esta tese fundamenta-se na união natural entre os homens, porque o ser humano é naturalmente carente, necessitando de coisas e de outras pessoas para alcançar a sua plenitude.
Evidentemente estas necessidades não se restringem a aspectos materiais. Buscamos, por exemplo, apoios, estímulos e reconhecimentos pelos grupos. Deste modo, procuramos outras pessoas que têm opiniões semelhantes ou apresentam visão de mundo semelhante à nossa. Muitas vezes, dentro de um grupo, atitudes socialmente inaceitáveis são praticadas.
Em umas férias, eu viajei para New York. Havia uma grande excursão de japoneses no hotel em que eu estava hospedado. Aquele hotel oferecia o café da manhã incluído na diária e, num certo dia, parecia que todos acordaram na mesma hora e desceram para o breakfast. Para minha surpresa e indignação, muitos japoneses furaram a fila escandalosamente. Fariam isto se não estivessem fortalecidos pelo grupo? Provavelmente não! Lembro-me de uma francesa que incentivava a todos a reagirem. Por pouco não foi criado um conflito entre os japoneses e o “resto do mundo”. Aquela francesa sozinha não começaria uma guerra, mas participaria ativamente se o grupo lhe desse respaldo.
No caso da Uniban, não entrarei na discussão sobre a roupa da estudante. Eu acho que aquele vestido era inadequado para assistir a uma aula, mas nada justifica o que aconteceu. Hoje gostaria de discutir a atitude agressiva dos estudantes.
A esmagadora maioria das pessoas que agiram de modo ofensivo e preconceituoso só o fizeram porque estavam em grupo. Portanto podem ter exposto seus sentimentos, aproveitando a participação da turba injustificadamente enfurecida. Neste momento, preconceitos e repressões de origem sexual ou social devem ter aflorado. Além disto, existiam pessoas que queriam ser reconhecidas pelo grupo e aproveitaram a oportunidade para fazerem as mesmas grosserias que alguns ”líderes” perpetravam.
Devemos ter uma ética que não mude quando estamos sós ou dentro de um grupo. Se dentro de um grupo, abolirmos todos os nossos preceitos éticos, concluiremos que, para o bem do grupo, vale mentir, roubar ou matar. Aquele simples check list que apresentei em outro post pode ajudar em caso de dúvida.
Não cheguei ao ponto que um “cara” declarou há dois mil anos: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (evangelho de João 15,12), mas seria maravilhoso se agíssemos desta forma. Jesus também protegeu Maria Madalena de ser apedrejada e disse para as pessoas: “quem nunca pecou, jogue a primeira pedra”.
Se aqueles estudantes da Uniban seguissem, pelo menos, aquele ensinamento que escutamos desde pequeno: “não faça algo que não gostaria que os outros fizessem a você”, este fato lamentável teria sido evitado. Isto também vale para todos os tipos de discriminações (sociais, raciais ou sexuais) e assédios (sexual ou moral).
O ocorrido na UNIBAN não se justifica de forma alguma, e o que mais me preocupa, é o fato do público participante ser massivamente composto por jovens que, pelo menos em teoria, deveriam ser mais tolerantes e menos radicais, mesmo nessa situação onde faltou, no mínimo, o bom senso para a estudante alvo do protesto, na hora de escolher sua vestimenta para ir a universidade.
Concordo com o fato de que, o grupo fortaleceu a cada um no ocorrido (é o mesmo que acontece com as torcidas organizadas, em tantas situações de vandalismos e violência já ocorridos e mostrados pela imprensa).
Para mim, o que falta é a chamada educação de base, que deveria ser dada em casa pela família, e que desenvolveria em cada um valores fortes e imutáveis, íntrinsecos àquela pessoa, mesmo quando ela estivesse “fortalecida”ou acobertada por um grupo.
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Geraldo Máximo,
Concordo com tua conclusão final. A educação de base, que deveria ser de responsabilidade das famílias, é essencial para o desenvolvimento dos princípios fundamentais de todos os seres humanos. Cito, como exemplo, honestidade, lealdade, integridade, humildade, imparcialidade, paciência e “não fazer algo que não gostaria que os outros fizessem a você”. Ao cultivarmos e fortalecermos estes e outros princípios, evitamos que atitudes como estas na Uniban se multipliquem.
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