Há sete anos, escrevi um artigo (Aquecimento Global é um Dogma e Dogmas não Podem Ser Discutidos) onde discutia-se a certeza que o aquecimento global é causado pelo ser humano. Após estes anos, estou convencido que dificilmente será provada a teoria antropogênica do aquecimento global. Afinal a Terra já passou por eras glaciais e eras de aquecimento, sem a presença dos humanos ou, antes da Revolução Industrial com a humanidade presente. Fica muito difícil provar se a concentração de CO2 é causa ou consequência. Como provar cientificamente que a humanidade é a causadora deste ciclo de aquecimento? Esta é uma boa hipótese, mas é somente uma hipótese.
Se você insistir com o argumento sobre o aumento da concentração de CO2 e demais gases do efeito estufa na atmosfera, corremos o risco de seguir uma falácia lógica conhecida pela expressão latina post hoc ergo propter hoc (depois disso, logo causado por isso), também chamada de correlação coincidente. Por exemplo, quando A ocorreu, B ocorreu, logo A é a causa de B. Muitas vezes isto não é verdade…
Se não tem como provar a teoria antropogênica do aquecimento global, vale à pena arriscar? Prefiro que a humanidade faça as coisas do jeito certo, como se a teoria estivesse correta, mude os padrões de consumo e seja mais sustentável.
As mudanças climáticas são apenas um dos aspectos do que vem acontecendo de errado com o meio ambiente da Terra. O pesquisador sueco Johan Rockström e o químico americano Will Steffen lideraram um grupo de cientistas que propôs 9 limites planetários que não deveriam ser transpostos.
1. Mudanças climáticas
2. Perda da integridade da biosfera (perda de biodiversidade e extinção de espécies)
3. Destruição do ozônio estratosférico
4. Acidificação dos oceanos
5. Fluxos biogeoquímicos (ciclos do fósforo e do nitrogênio)
6. Mudança do sistema terrestre (por exemplo, o desmatamento)
7. Utilização da água doce
8. Carga atmosférica de aerossóis (partículas microscópicas na atmosfera que afetam o clima e os organismos vivos – ainda não quantificado globalmente)
9. Introdução de novas entidades (por exemplo, poluentes orgânicos, materiais radioativos, nanomateriais, e microplásticos – ainda não quantificado globalmente)

Limites planetários Fonte: http://www.stockholmresilience.org/research/research-news/2015-01-15-planetary-boundaries—an-update.html
Atualmente quatro destes nove itens ultrapassaram o limite seguro e entraram na “zona de perigo”: mudanças climáticas, perda da integridade da biosfera, fluxos biogeoquímicos e mudança do sistema terrestre.
A humanidade está gerando a sexta grande onda de extinção de espécies da história da Terra. As outras cinco foram causadas por causas naturais – erupção de grandes vulcões ou impacto de asteroides, meteoros e cometas. Podemos chegar a 2020 com apenas um terço da população de vertebrados de 1970. A figura abaixo mostra a aceleração do número de extinções de vertebrados.

Taxa de extinção de vertebrados (Fonte: WWF – Living Planet Report 2016)
O desequilíbrio dos ciclos de nitrogênio e fósforo é causado pelo uso crescente de fertilizantes na agricultura. Há um século, os químicos alemães Fritz Haber e Carl Bosch inventaram um processo para produzir amônia (composto básico para a produção de fertilizantes) a partir do nitrogênio atmosférico. Deste modo, quantidades enormes de nitrogênio sob forma de amônia e nitratos foram introduzidas no ciclo do nitrogênio, desequilibrando-o totalmente.
O fósforo é um elemento químico com reservas mais ameaçadas do que, por exemplo, o petróleo. Já escrevi um artigo sobre esta questão (A Ameaça da Fome no Mundo – Reciclar é Preciso, Extrair não é Preciso). Como o fósforo é extraído do subsolo como mineral, purifica-se para ser empregado na agricultura sob a forma de fosfato. O maior problema é que as plantas não aproveitam todo nitrogênio e fósforo adicionado ao solo e as chuvas arrastam o excesso para os rios, reduzindo a concentração de oxigênio dissolvido, o que prejudica a vida aquática. Ao chegar nos oceanos causa as chamadas dead zones (zonas mortas) nas regiões costeiras, onde há redução expressiva na viabilidade da vida marinha. O delta do Rio Mississippi, no Golfo do México, é um dos principais casos. Atualmente mais de 400 pontos de dead zones foram detectados na Terra. Veja a figura abaixo.

Dead zones (Fonte: Robert Simmon & Jesse Allen – NASA Earth Observatory)
A agricultura, além de contribuir fortemente para a extinção de espécies e para o desequilíbrio nos ciclos do nitrogênio e do fósforo, tem causado desmatamento, alteração radical de ecossistemas e desertificação de muitas áreas do planeta (o quarto item a superar os limites planetários – mudança do sistema terrestre). Sem contar que apenas a pecuária é responsável por 14,5% dos gases de efeito estufa, o que ajudaria na mudança climática.
Obama fez um grande esforço para que os Estados Unidos se comprometesse com redução de emissões e assumisse um acordo na COP21 em Paris. Provavelmente, com Trump na presidência, os Estados Unidos ficarão de fora como já aconteceu com o Protocolo de Kyoto. Os Estados Unidos nunca gostaram de assumir acordos e resoluções internacionais. Por exemplo, o país não é signatário da maioria dos tratados referentes aos direitos humanos.
Este é o problema se Donald Trump botar para quebrar na questão ambiental, como a indicação de Scott Pruitt como administrador da EPA (agência americana de proteção ambiental), nossos filhos e netos viverão num planeta bem diferente do que o atual. Em dezembro, o jornal El País iniciou assim seu artigo sobre a indicação de Pruitt:
O presidente eleito dos Estados Unidos, Donald Trump, escolheu para ser o novo responsável pela política do país para o meio ambiente um promotor veterano de Oklahoma que não acredita que a ação humana interfira na mudança climática e que dedicou seus últimos anos a vetar na Justiça as regulamentações propostas por Barack Obama na batalha contra o aquecimento global. Scott Pruitt, promotor geral do Estado que mais utiliza petróleo e gás de forma intensiva, será o novo diretor da Agência para Proteção do Meio Ambiente dos EUA.
Na semana passada, Pruitt foi sabatinado pelo senado americano para ter a indicação de seu nome confirmada. O Senador Bernie Sanders deu uma verdadeira prensa em Pruitt e perguntou por que o clima estava mudando. A resposta de Pruitt foi evasiva:
– O clima está mudando e a atividade humana contribui para isto de alguma maneira.
Se quiser ver o vídeo com a íntegra dos questionamentos de Sanders para Pruitt ou ler a transcrição completa, basta clicar no link abaixo do Washington Post.
A humanidade tem feito um “ótimo” trabalho para destruir a Terra. Agora com a ajuda de Trump e sua equipe, parece que o trabalho será ainda mais bem executado…