Há quase dois séculos e meio, o escocês Adam Smith publicou um dos livros mais influentes da nossa era, “A Riqueza das Nações”. Neste livro, ele defende que as pessoas devem maximizar seu próprio proveito e existiria uma “mão invisível” que ajudaria a equilibrar as relações econômicas e sociais. Hoje Adam Smith é considerado o pai da moderna economia e do liberalismo.
Praticamente um século depois, com a revolução industrial e a falha da “mão invisível” de Adam Smith, Karl Marx publica o primeiro volume de outra obra influente do nosso tempo, “O Capital”. Esta obra combinada com o “Manifesto Comunista”, publicado por Marx e Engels, duas décadas antes são a base do socialismo.
Aristóteles, dois mil anos antes de Adam Smith, afirmou que o homem é um animal político – político por viver em uma polis (cidade-estado grega), local em que poderia se desenvolver plenamente nas relações com os outros humanos, onde o bem comum seria traduzido em felicidade, justiça e bem-estar social.

Aristóteles
Podemos dizer que, no liberalismo, o indivíduo predomina sobre a sociedade, enquanto, no socialismo, a sociedade predomina sobre o indivíduo. Precisa-se buscar o equilíbrio. Este verso de Rudolf Steiner representa este equilíbrio.
Salutar só é, quando
No espelho da alma humana
Forma-se toda a comunidade;
E na comunidade
Vive a força da alma individual.

Rudolf Steiner
Atualmente estamos atingindo o auge do individualismo na nossa sociedade. Se este estado não for alterado em breve, teremos problemas irreversíveis para a humanidade.
O economista britânico Guy Standing, no seu livro “O Precariado – A Nova Classe Perigosa” (The Precariat: The New Dangerous Class), descreve a formação e crescimento de uma nova classe, o “precariado”, com o avanço da globalização neoliberal. Segundo Standing:
“O precariado é definido pela visão de curto prazo e, induzida pela baixa probabilidade de progresso pessoal ou de construção de uma carreira, pode verificar-se uma evolução massificada no sentido da incapacidade de pensar a longo prazo.”
“Aqueles no precariado têm vidas dominadas por inseguranças, incertezas, dúvidas e humilhações.”
“As pessoas inseguras deixam as outras furiosas e as pessoas com raiva são voláteis, propensas a apoiar uma política de ódio e amargura.”
Se aceitamos que os menos favorecidos sejam pouco protegidos pela legislação ou ameaçados por processos como terceirização ou contratos de trabalho temporários, estaremos também aceitando que os menos favorecidos sejam explorados e marginalizados. O problema é que os interesses econômicos se tornaram tão dominantes que as pessoas são convencidas que não existe outra forma de organizar a sociedade.
Podemos dividir a atividade humana em três setores: político-jurídico, econômico e cultural-social. Estes setores deveriam ser totalmente independentes. O setor econômico deve financiar os dois outros setores através dos impostos transparentemente. O que vemos hoje aqui no Brasil (e na maior parte do planeta) é a compra do setor político pelo setor econômico: leis são alteradas; isenções fiscais acertadas; grandes obras definidas, enquanto que os interesses da sociedade são relegados ao segundo plano. Simultaneamente a ideia de que a economia deve ser desregulamentada é vendida como se isto fosse bom para a sociedade, mas isto só beneficia os muito ricos, porque o setor econômico também compra a mídia e a cultura.
Devemos separar totalmente estes três setores para termos um futuro mais justo e sustentável. O problema é que, para obtermos sucesso, esta ação deve ser global. Seguindo o ideário da Revolução Francesa, queremos ter Liberdade na cultura, Igualdade na política e Fraternidade na economia.
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Oi Vicente , muito bom texto . Concordo com o equilíbrio também muito bem colocado pelo poeta Rudolf Steiner
“Salutar só é, quando
No espelho da alma humana
Forma-se toda a comunidade;
E na comunidade
Vive a força da alma individual.”
E eu te pergunto onde ensinamos as pessoas a serem espelhos da alma humana ? O que é ser humano realmente ? O que cabe a nós seres humanos aprendermos na nossa existência? Se esses verdadeiros valores humanos próprios de uma mente mais pura e altruísta e menos concreta e egoista não forem resgatados continuaremos nesse passo lento envoltos em guerras e opiniões e de gosto e não gosto . Enfim vivemos nesse período tumultuado e ignorante. Cabe a cada um fazer o seu melhor .
Grande abraço !
Simone Palmeiro
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