Eu, a carne e a berinjela…

Se há uns 10 anos alguém me dissesse que eu ainda iria gostar de berinjela, eu daria gargalhadas!! Ou pensando bem, eu sairia de fininho, com um sorriso amarelo, porque esta pessoa só poderia ser doida, vai saber… Quem sabe até perigosa… E naquela época (coisa de velho falar “naquela época”), eu era frequentadora assídua de churrascarias. Tinha até um apelido sugestivo: Claudinha Picaxi. Era picanha, abacaxi, picanha, abacaxi… Isto quando descobri que o abacaxi ajuda a digestão da carne, então comendo abacaxi, caberia mais picanha. O garçom já me conhecia, trazia a carne sangrando, mas ainda quente. Eu me orgulhava em dizer “quero boi berrando”. Hoje tenho vergonha disto… E sinto vergonha alheia quando vejo outras pessoas fazendo o mesmo, mas entendo o apego ao paladar, o gesto de ver um pedaço de comida e não um animal sofrendo, esta cortina que deixamos propositalmente na nossa mente. Não queremos nos desfazer dela, a carne é muito boa e isto basta! Vegetarianos chatos com esta mania de dizer o que já sabemos, mas não queremos ouvir, muito menos visualizar.

não quero ouvir

Mas um belo dia resolvi ajudar um cachorro aqui, outro acolá… alguns gatos… depois alguns cavalos… Vi alguns vídeos e ploft, a cortina caiu. Droga, ferrou… Não fazia mais sentido pra mim ajudar uns e matar outros. Tudo bem, eu não matava diretamente, mas o mandante do assassinato do Chico Mendes é menos culpado que o jagunço que deu o tiro? Na minha humilde opinião, ele é o maior culpado. Se não tem quem pague, não é feito. Lei do mercado, né minha gente??
Primeira séria constatação: eu não vou conseguir, gosto muito de carnes. Todas. Vou sentir muita falta…. Mas tentei e fiquei um bom tempo sem falar p/ ninguém. E fui aos poucos. Mantive inicialmente o peixe e o presunto. Mas putz… o porco morre mesmo é por causa do maldito presunto que tem maior valor no mercado. Larguei o presunto! O peixe, confesso, mantive por muito tempo por cobranças sociais. Sou fraca mesmo… E cá comigo eu tinha boas desculpas, ambientalmente é 1 kg de ração para 1 kg de carne, então ambientalmente tá tudo bem… e ele não sofre muito… Aí quando eu soube de uma reunião técnica onde os criadores de peixes tinham 15% de quebra em função do “suicídio” dos animais que não aguentavam o estressse, a superpopulação, etc., caiu mais uma cortina. Que saco!!!! Agora não consigo mais me iludir!! Ok, eles são seres sencientes também… eu já sabia… ok, entendi. Parei. Enfim, vegetariana!

Até que enfim...

Mas o interessante de todo este processo, que se iniciou há uns 8 anos, é que nosso paladar muda. A única coisa que tive desejo na primeira gravidez foi o quê? Berinjela. Tudo bem, né? Tá grávida!! Mas não…. muitas coisas que eu não gostava começaram a ter outro sabor… passei a provar muitas coisas e quem diria, a gostar. Esta sensibilidade para alguns alimentos duvido que venha para quem vive de proteína/gordura animal. E gordura, vamos combinar, deixa tudo mais gostoso…

Mas então, só p/ constar, cada vez que alguém me diz (e eu não pergunto) que é muito carnívoro e odeia legumes e saladas e nunca viraria vegetariano eu penso “sei…” Só penso, nem falo, porque ninguém me falando sobre os maus-tratos aos animais teria feito eu virar vegetariana. Precisei ver nos olhos dos animais este sofrimento. Pode ter começado com os domésticos, mas não parou aí e eu fui além. É preciso querer, estar aberto para pensar, ter piedade, amor ao próximo. Não é qualquer um que chegará a conclusão que não é ético usar os animais, escravisá-los ou matá-los.

Mas só precisa ser bom, não precisa gostar de berinjela.

7 Comentários

Arquivado em Animais, Ética, Filosofia, Meio Ambiente

7 Respostas para “Eu, a carne e a berinjela…

  1. Pingback: Post 200 – Retrospectiva | World Observer by Claudia & Vicente

  2. Suzy Rhoden

    Claudia, adorei sua aventura pelo mundo das letras! Estás de parabéns, muito clara na apresentação de suas ideias, ou melhor, neste caso de suas experiências pessoais. Gostei muito de saber como foi o processo, pois para quem não acompanha de perto, a impressão é de que, da noite para o dia, a pessoa abandona seu cardápio carnívoro e se apaixona perdidamente pela berinjela… Claro que não poderia ser assim! Você explicou muito bem, tornou possível, viável, para muitas pessoas como eu, que tem uma predisposição mas ainda estão apegadas as convenções sociais. Venci isso no fator religião e ouso dizer que, desconsiderando as diferenças óbvias entre os dois exemplos, o processo de mudança em si foi muito semelhante.
    Meus parabéns, ainda mais te admiro, por ser convicta e realmente viver conforme prega! Um super beijo.

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    • Claudia Von

      Suzy querida! realmente nas duas situações, a minha e a tua, o que nos motivou foi saber que estávamos fazendo o que é certo, mesmo que custasse algumas dificuldades sociais.
      Um super beijo!

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  3. Geralidne

    Muito bom o texto Claudinha. Dinâmico, didático, esclarecedor e desmistifica os paradigmas impostos.

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  4. Christiano Wide

    Muito legal Claudia, é isso mesmo. Eu consegui cortar todo tipo de carne logo e fazem uns 4 meses a nova etapa sem glúten \o/ parabéns pelo atrigo.

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    • Claudia Von

      É isto que eu queria mostrar Christiano, que cada um tem seu tempo, seu jeito… basta querer. O fato de ser intolerante ao glúten só dificulta mais ser vegan, quase todo produto sem glúten socam ovos… mas tenho conseguido evitar. bjos e obrigada!

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