Na semana passada, o primeiro chefe da minha carreira profissional, engenheiro Mário Meneghini, completou quarenta anos de trabalho no mesmo site. Os colegas prepararam uma grande homenagem surpresa no estilo do quadro “Arquivo Confidencial” do “Domingão do Faustão’.
Também gravei um depoimento de aproximadamente dois minutos, no qual contei como conheci o Mário, fiz uma brincadeira, falei do equilíbrio emocional quase inabalável e do jogo de futsal no qual ele tentou acertar o juiz com uma bolada. Gostaria de fazer hoje mais uma pequena homenagem ao ex-chefe, ex-colega e eterno amigo.
Começo lembrando-me do nosso primeiro encontro, foi a entrevista para uma vaga de estagiário. Fui o escolhido e ele era meu chefe direto. Depois de um ano, me contratou como engenheiro de processo da área. Era uma época difícil. A planta nova, que havia entrado em operação há pouco tempo, tinha resultados abaixo do prometido por uma série de motivos – desde problemas do projeto de engenharia à opção da área comercial de vender produtos de produtividade mais baixa. Mário era brutalmente pressionado, mas nunca perdeu a educação, nem jogava os membros da equipe aos leões ou uns contra os outros. Quando tudo parecia ruir, a frase mais indignada que dizia era:
– “É broca!”
Realmente é muito bom trabalhar com alguém que preserva os princípios do respeito e da boa convivência. No meu caso, serviu de exemplo para toda minha vida. No vídeo que gravei, falei de um paradoxo, ter alguém como o Mário como primeiro chefe também tem seu lado negativo. Passei a acreditar que o mundo corporativo agia de acordo com aquele “modus operandis”. Foi um doloroso aprendizado, eu estava errado, mas o Mário prosseguiu como modelo de como tratar as pessoas – ajudantes de limpeza, operadores da fábrica, engenheiros, gerentes ou diretores – ele sempre teve apenas uma cara. Isto fortalece a equipe e cria um ambiente favorável para todos.
Ele também foi o primeiro engenheiro, ainda nos 70, a se “misturar” aos operadores para, por exemplo, jogar futebol, apesar das críticas dos gerentes da época, não mudou sua forma de agir.
No meu depoimento, lembrei-me de um dos raríssimos momentos de descontrole, justamente em um jogo de futsal do campeonato interno da empresa. Após o juiz validar um gol totalmente irregular do adversário, eu e o Mário o pressionamos pela anulação do gol. Quando percebi que não adiantaria reclamar, virei às costas e voltei, xingando o cara. O Mário encarava o juiz e gritava:
– Sacanagem, hein? Sacanagem, hein???
Parecia que em cada repetição ele se irritava um pouco mais. Finalmente ele explodiu e chutou a bola, que estava no centro da quadra para o reinício do jogo, na direção do juiz. A bola quase acertou o alvo. Ao invés de expulsar o Mário, o juiz demonstrou a consciência pesada e deu apenas cartão amarelo. Jogamos juntos pelo menos uma vez por semana, durante vinte anos, e houve mais dois ou três episódios menos graves do que o narrado, nenhuma briga, nenhum bate-boca. Não dá para comparar com as minhas confusões esportivas que renderiam muitas páginas…
Outra característica marcante do Mário é a proatividade. Como definiu muito bem outro ex-subordinado:
– O Mário está sempre disposto a dizer “sim”, enquanto a maioria diz primeiro “não” e depois pensa sobre o assunto.
E, se o mundo infelizmente perdeu na sexta-feira passada Nelson Mandela, homem de tolerância e conciliação, fico feliz que nosso Mário Meneghini continue saudável e na ativa!
Para finalizar, vou plagiar um verso do “Samba da Minha Terra” de Dorival Caymmi:
– “Quem não gosta do Mário bom sujeito não é”.