Esta singela história aconteceu no já “longínquo” ano de 1973 no Colégio Notre Dame na cidade gaúcha de Passo Fundo. Acho que, pelo menos, uma das homenageadas deste post vai querer me matar por causa do adjetivo que usei para aquele ano…
Numa aula do segundo ano do primário, a professora afirmou que a Terra era um planeta e que os planetas giravam em torno do Sol. A volta completa demorava um ano ou aproximadamente 365 dias no nosso caso. Depois disse que a Terra e os outros corpos celestes do mesmo tipo também giravam em torno do seu eixo. A duração deste movimento de rotação era equivalente a um dia ou 24 horas, no caso da Terra. Quando o lado do planeta estava voltado para o Sol, tínhamos o dia e, quando não recebia os raios do “astro-rei”, era noite. E chegou o momento de explicar as estações do ano… Ela disse para a turma que as órbitas não eram circulares e sim “ovais”. Deste modo, quando a Terra está mais próxima do Sol, ficaria mais quente e teríamos o verão. Por outro lado, quando estivesse mais distante, ficaria mais frio e seria inverno.
Neste momento, eu fiz uma observação para a professora:
– Mas ontem eu vi no Jornal Nacional que estava nevando nos Estados Unidos e disseram que é o pior inverno dos últimos anos. Como é que lá é inverno e aqui no Brasil é verão ao mesmo tempo?
A professora foi atingida por um golpe inesperado. Ela poderia ter me desqualificado dizendo:
– Como um guri de 7 anos quer saber mais do que a professora?
Poderia ter simplesmente me “enrolado” e continuado a aula, mas ela fez algo inesquecível. Apenas parou, pensou e disse humildemente que não sabia a resposta naquele instante, mas que pesquisaria e, nos próximos dias, haveria uma explicação para minha dúvida.
Realmente após alguns dias, ela entrou na sala com um abajur e um globo terrestre e disse que teríamos uma aula especial sobre as estações do ano. Pediu para fecharmos todas as venezianas e cortinas. Depois um colega fez o papel do Sol, ao ligar o abajur. Ela desligou as luzes da sala e conduziu o globo na translação em torno do Sol. Mostrou que o eixo da Terra se inclina, fazendo que o hemisfério sul receba maior quantidade de raios solares no verão; e menor quantidade, no inverno. Tudo foi muito claro e visual. Depois usou meu exemplo e mostrou onde ficava os Estados Unidos (no inverno) e o Brasil (no verão). Na sequência, mostrou quando começava cada estação do ano nos dois hemisférios. Finalmente perguntou se minhas dúvidas tinham sido sanadas. Claro que foram!
Aquela aula se tornou um benchmark, poucas vezes atingido. Tive outros grandes mestres na minha vida, mas guardo esta aula como um carinho especial. Na verdade, quantos professores desafiados por um aluno teriam um comportamento tão positivo como este? Na Universidade, não foram muitos… Talvez o orgulho, a insegurança ou a desmotivação impeçam o crescimento pessoal do próprio professor e da turma de estudantes. Se minha professora, que vergonhosamente não consigo lembrar o nome, ao invés de ter atitude proativa em relação ao meu questionamento, demonstrasse passividade ou, pior, agressividade, talvez hoje eu fosse outra pessoa ou profissional.
Neste Dia do Professor, só posso usar um velho chavão:
– Sem educação, não há solução!
Sem professores preparados e motivados, não conseguiremos formar os cidadãos e os profissionais que nosso mundo tanto precisa. Isto inclui, além de salário digno, treinamento contínuo. Encerro homenageando na pessoa da minha irmã Flávia que, por vocação, escolheu esta dura carreira, todos os professores que lutam, apesar de todas as dificuldades, para cumprir sua bela missão.
Olá. Por favor, onde encontro à venda essa maquete giratória do movimento de rotação e translação da terra?
Grata!
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Marjorie,
Vi o site do Mercado Livre e tem alguma maquetes do sistema solar muito interessantes.
Mercado Livre
Boa sorte!
Vicente
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Vicente
O nome desta professora é Noemi de Almeida. Casada com Jesus de Almeida (também professor), e a filha se chama Maria Cecilia (hoje médica).
Abraço
M. Tussi
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Valeu, Tussi!
Abraço,
Vicente
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Vicente, se a tua professora foi a mesma que a minha em 69, é a professora Noemi Almeida, esposa do prof. Jesus Almeida. Acredito que tenha sido ela, porque ela era muito especial…
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Ana Lúcia,
Grato pela informação!
Abraço,
Vicente
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Belo texto, Vicente. Realmente é uma bela homenagem ao “professor” no seu dia. Não sabia que você havia estudado em Passo Fundo. Também nasci e vivi naquela cidade até meus 18 anos. Temos um grupo no Facebook, que está reunindo os “jovens de Passo Fundo, dos anos 70 e 80” e gostaria de compartilhar este seu texto. Quem sabe não possamos descobrir o nome desta sua professora. Abraços
Marco Tussi
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Tussi,
Morei em Passo Fundo de 1971 a 1973. Acho que foram os melhores anos da minha infância. Se você ajudar a descobrir o nome da professora da turma da tarde do 2º ano do primário do Colégio Notre Dame e como contatá-la, serei eternamente grato. Uma pista: me lembro que a filha dela era minha colega nesta turma.
Grande abraço,
Vicente
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