O que Muda com a Nova Faixa de Isenção do Imposto de Renda até R$ 5 Mil Mensais?

No dia 16 de julho de 2025, a Comissão Especial da Câmara dos Deputados aprovou o relatório do deputado Arthur Lira, que atuou como relator do projeto de reformulação do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF). A medida mais emblemática é a ampliação da faixa de isenção para todos os contribuintes que recebem até R$ 5 mil por mês, com vigência prevista para o ano-base de 2026.

A proposta ainda precisa ser votada em plenário e posteriormente analisada pelo Senado Federal, mas já mobiliza discussões entre setores da sociedade civil, economistas e lideranças empresariais.

Este artigo apresenta os principais pontos do projeto, os grupos mais beneficiados, as medidas compensatórias para manter a neutralidade fiscal e o impacto estimado nas contas públicas.

Quem será beneficiado?

Segundo estimativas do Ministério da Fazenda e da Receita Federal, cerca de 37 milhões de contribuintes brasileiros ficarão isentos do IR, um aumento de 13 milhões de pessoas em relação à regra atual. A nova faixa contempla:

  • Assalariados e aposentados com rendimentos de até R$ 5 mil mensais;
  • Profissionais autônomos e MEIs com rendimentos brutos anuais até R$ 60 mil;
  • Pessoas físicas que, após deduções (dependentes, saúde, educação), alcancem renda líquida abaixo do novo teto;
  • Além disso, contribuintes com rendimentos mensais entre R$ 5.000,00 e R$ 7.350,00 também terão redução no valor do imposto pago, devido ao ajuste da tabela progressiva e da faixa de isenção ampliada.

A medida tem forte impacto distributivo, aliviando a carga tributária da classe média e ampliando o poder de consumo.

Como será compensada a perda de arrecadação?

A ampliação da faixa de isenção representa uma renúncia fiscal de R$ 27,9 bilhões por ano, segundo estimativa oficial. Para cumprir a meta de neutralidade fiscal, o projeto propõe três frentes de compensação:

1. Alíquota mínima para altas rendas (IRPFM)

Será instituído um Imposto de Renda Pessoa Física Mínimo (IRPFM) sobre a soma total de rendimentos, incluindo salários, aluguéis, dividendos e ganhos de capital.

A nova regra:

  • Não incide sobre rendas anuais até R$ 600 mil (R$ 50 mil/mês);
  • Cresce progressivamente entre R$ 600 mil e R$ 1,2 milhão/ano;
  • Ativa alíquota mínima de 10% para rendas acima de R$ 1,2 milhão.
Rendimento Anual (R$)Mensal (R$)Alíquota Mínima Efetiva (%)Observação
R$ 600.000R$ 50.0000%Limite de isenção da alíquota mínima
R$ 700.000R$ 58.3331,67%Início da incidência
R$ 800.000R$ 66.6663,33%
R$ 900.000R$ 75.0005,00%
R$ 1.000.000R$ 83.3336,67%
R$ 1.100.000R$ 91.6668,33%
R$ 1.200.000R$ 100.00010,0%Teto da alíquota mínima

Essa medida busca garantir que altas rendas não escapem da tributação progressiva, mesmo utilizando isenções ou deduções legais.

2. Tributação de dividendos acima de R$ 50 mil por mês

O projeto retoma a tributação sobre lucros e dividendos pagos a pessoas físicas, hoje isentos. A regra:

  • Isenta valores de até R$ 50 mil mensais por empresa;
  • Aplica IRRF de 10% sobre o valor excedente, retido na fonte;
  • Permite que esse valor seja compensado com o IRPFM anual.

O objetivo é atingir sócios e acionistas com rendimentos elevados, preservando pequenos empresários.

3. Outras medidas compensatórias

O relatório também inclui:

  • Tributação de investimentos no exterior;
  • Eliminação de deduções específicas e regimes privilegiados;
  • Extinção de dispositivos que permitiriam “neutralizar” a alíquota mínima.

Impacto fiscal da reforma (base anual)

MedidaValor (R$ bilhões)
Total da renúncia fiscal estimada-27,9
Tributação mínima (IRPFM) para rendas altas+12,0
Tributação de dividendos (acima de R$ 50 mil/mês)+9,8
Tributação sobre investimentos no exterior+4,5
Fim de isenções e deduções específicas+2,6
TOTAL DE ARRECADAÇÃO COMPENSATÓRIA+28,9
RESULTADO LÍQUIDO (SUPERÁVIT FISCAL)+1,0

O que é a meta de neutralidade fiscal?

A meta de neutralidade fiscal é o princípio segundo o qual toda perda de arrecadação provocada pela reforma deverá ser compensada por novas receitas. Essa diretriz foi estabelecida pela equipe econômica para preservar o equilíbrio fiscal, conforme determina o novo arcabouço em vigor desde 2023.

“A medida expande justiça social e equidade sem comprometer a responsabilidade fiscal.”
Ministério da Fazenda – Apresentação PL 1087/2025

Conclusão

A proposta aprovada pela Comissão Especial representa um importante avanço na direção de um sistema tributário mais justo, progressivo e transparente. Ao isentar milhões de brasileiros com renda média e tributar de forma proporcional as rendas muito altas, o texto enfrenta distorções históricas do IR brasileiro.

Contudo, a proposta ainda precisa ser votada pelo Plenário da Câmara e pelo Senado Federal. Até lá, ajustes e emendas poderão ser apresentados — inclusive por setores que buscam reverter ou atenuar os dispositivos de tributação sobre dividendos e alta renda.

Será essencial acompanhar os próximos passos para entender o formato final da reforma e seus efeitos práticos na vida de milhões de contribuintes.

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