Ontem, o governo dos Estados Unidos confirmou oficialmente que a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros entrará em vigor no próximo dia 6 de agosto de 2025. A medida inclui uma lista inicial de 694 exceções, cujos produtos serão tributados à alíquota base de 10%, em vez da sobretaxa integral. Apesar da confirmação do cronograma, o cenário ainda é de incerteza, já que a lista de exceções pode ser revista ou ampliada nos próximos dias, a depender das pressões diplomáticas e empresariais em curso.
Neste contexto, este post aprofunda a análise iniciada em meu artigo anterior, trazendo agora uma avaliação detalhada dos setores mais expostos à nova tarifa e uma estimativa das possíveis perdas econômicas. Com base em dados oficiais de 2024 e nas exclusões conhecidas até o momento, estima-se que cerca de US$ 20,4 bilhões em exportações brasileiras seguirão sujeitos à alíquota máxima, o que representa aproximadamente metade do total exportado aos Estados Unidos no último ano.
Embora a agência Reuters tenha divulgado que apenas 35,9% das exportações brasileiras aos EUA serão afetadas, essa estimativa se baseia em linhas tarifárias específicas. Neste relatório, adoto uma abordagem setorial mais ampla, que considera o valor total exportado por grupos de produtos não incluídos na lista de exceções. Por isso, a estimativa é mais conservadora: cerca de metade do valor exportado em 2024 permanece exposto à tarifa de 50%.
Setores Afetados pela Sobretaxa
| Setor Afetado | Exportações 2024 (US$ bi) |
| Alimentos processados e derivados de soja /milho / açúcar | 7,4 |
| Têxteis, calçados, autopeças e máquinas leves | 6,5 |
| Produtos químicos e farmacêuticos | 2,4 |
| Suco de frutas (exceto laranja) | 1,2 |
| Café | 1,9 |
| Carne bovina | 1,0 |
| Total estimado sujeito à sobretaxa | ≈ 20,4 |
Fontes: CACEX/MDIC – ComexStat 2024, Carta Icomex FGV jun/2025 e Reuters (30 e 31/07/2025).
Estimativas de Perdas Econômicas
As projeções abaixo simulam perdas em três níveis de impacto sobre as exportações:
| Setor | Baixo (30%) | Médio (45%) | Alto (60%) |
| Alimentos processados e derivados de soja / milho / açúcar | 2,22 | 3,33 | 4,44 |
| Têxteis, calçados, autopeças e máquinas leves | 1,95 | 2,93 | 3,90 |
| Produtos químicos e farmacêuticos | 0,72 | 1,08 | 1,44 |
| Suco de frutas (exceto laranja) | 0,36 | 0,54 | 0,72 |
| Café | 0,57 | 0,86 | 1,14 |
| Carne bovina | 0,30 | 0,45 | 0,60 |
| Total estimado de perdas | 6,12 | 9,19 | 12,34 |
Cálculo:
Perda Estimada = Exportação 2024 × Fator de Impacto (30%, 45% ou 60%)
Metodologia baseada em análises da OCDE, Banco Mundial e estudos comparativos de guerras comerciais anteriores.
Caminhos de Mitigação
As principais estratégias recomendadas por setor incluem:
- Café, carnes, sucos: redirecionar exportações para Ásia e Oriente Médio.
- Têxteis e autopeças: acelerar acordos comerciais (Mercosul–UE) e diferenciação industrial.
- Produtos químicos e farmacêuticos: diversificar mercados e ampliar estoques reguladores.
- Alimentos processados: promoção internacional e estímulos fiscais à exportação indireta.
Conclusão
A tarifa de 50% representa uma ameaça concreta para setores-chave da economia brasileira. Mesmo com uma lista inicial de 694 exceções, a medida tem potencial de causar perdas entre US$ 6 e 12 bilhões, o que equivale a até 0,35% do PIB brasileiro em 2025. O Brasil, no entanto, possui instrumentos fiscais, diplomáticos e comerciais para reduzir esse impacto e fortalecer sua posição estratégica em cadeias globais.
As estratégias recomendadas incluem:
- Negociação diplomática com o governo dos EUA para ampliar as exceções;
- Diversificação de mercados exportadores visando Ásia, Oriente Médio e UE;
- Retaliação seletiva, o Brasil pode aplicar tarifas adicionais sobre produtos importados dos Estados Unidos, escolhendo setores em que o país tenha menor dependência externa ou alternativas competitivas;
- Ações de apoio interno como drawback ampliado e créditos fiscais para setores afetados.
Atualização – 20 nov 2025: O governo dos EUA anunciou ontem a remoção da sobretaxa de 40% para diversos produtos agrícolas brasileiros — entre eles carne bovina, café e alguns sucos/frutas tropicais — fazendo com que essas exportações voltem a enfrentar apenas a alíquota-base (~10%). Esse movimento reduz em 3 a 4 bilhões de dólares o impacto para o agronegócio (que, na estimativa original, era fortemente atingido). No entanto, os setores industrializados — como têxteis, calçados, máquinas, bens de capital e químicos — seguem “fora da lista de alívio” (em torno de 16 bilhões de dólares) e mantêm alíquotas elevadas (~50%). Ou seja: o choque não desapareceu, só se deslocou. A avaliação inicial feita no post de 31 de julho permanece válida, mas com o agronegócio ganhando uma janela de recuperação e a indústria continuando vulnerável.
Seguirei acompanhando esse tema. Para quem ainda não leu, recomendo o post anterior como introdução:
O que muda com a tarifa de 50% dos EUA sobre produtos do Brasil
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