No início de 2025, o governo dos Estados Unidos sinalizou a possibilidade de impor tarifas adicionais sobre produtos brasileiros. Após meses de incerteza, a medida foi confirmada oficialmente no dia 9 de julho, quando uma carta assinada pelo presidente Donald Trump foi enviada ao governo brasileiro, anunciando a aplicação de uma tarifa de 50% sobre todas as importações originadas do Brasil. Este artigo analisa, com base em dados oficiais de 2024, os setores afetados, o impacto estimado no PIB e alguns mecanismos existentes para mitigar prejuízos.
Exportações do Brasil para os EUA: dados oficiais
De acordo com o ComexVis (MDIC/SECEX), o Brasil exportou US$ 40,4 bilhões para os Estados Unidos em 2024, o maior valor já registrado no comércio bilateral. Segundo o Instituto Brasileiro de Economia da FGV:
“As exportações brasileiras para os EUA atingiram recorde histórico em 2024, com destaque para petróleo bruto, ferro-gusa, café e aeronaves. Esses quatro itens responderam por mais de 30% do total exportado ao país.”
— Carta Icomex FGV, junho/2025
Os principais setores exportadores afetados
Com base nos dados do MDIC e da FGV, os principais setores atingidos pela tarifa de 50% são:
| Produto | Valor exportado (US$ bi) | Participação nas exportações | Capacidade de Substituição nos EUA |
| Petróleo bruto | 5,66 | 14% | Alta (mas logística sensível) |
| Ferro/aço semimanuf. | 3,55 | 8,8% | Moderada |
| Aeronaves (Embraer) | 2,71 | 6,7% | Baixa |
| Café | 1,90 | 4,7% | Baixa |
| Ferro-gusa/ligas | 1,78 | 4,4% | Moderada |
| Óleos combustíveis | 1,74 | 4,3% | Moderada |
| Celulose | 1,66 | 4,1% | Baixa |
| Suco de frutas | 1,21 | 3% | Baixa |
Total parcial: US$ 20,2 bilhões (≈ 50% das exportações totais de 2024).
O que compõe os “outros” US$ 20 bilhões exportados?
Segundo o MDIC e balanços do comércio exterior de 2024, os demais produtos incluem:
- Soja, milho e açúcar: US$ 2,0 bi
- Madeira serrada, papel kraft e derivados: US$ 1,3 bi
- Minérios (exceto ferro): US$ 2,5 bi
- Alumínio e derivados: US$ 0,8 bi
- Produtos químicos, cosméticos e farmacêuticos: US$ 3,0 bi
- Autopeças e máquinas leves: US$ 2,5 bi
- Bens de capital diversos e têxteis: US$ 1,5 bi
- Outros produtos manufaturados e alimentos processados: US$ 6,4 bi
“A pauta de exportação brasileira aos EUA tem se diversificado nos últimos anos, incluindo produtos de maior valor agregado como cosméticos, partes para máquinas e bens intermediários.”
— Relatório Cacex/MDIC, jan/2025
O que o Brasil compra dos EUA?
Em 2024, o Brasil importou US$ 40,6 bilhões dos Estados Unidos. Os principais produtos foram:
| Produto | Valor (US$ bi) | Capacidade de Substituição | Risco em caso de retaliação |
| Máquinas e motores industriais | 6,2 | Baixa | Alto |
| Produtos químicos e farmacêuticos | 7,0 | Moderada | Alto |
| Combustíveis e gás natural | 5,6 | Moderada | Médio |
| Polímeros e plásticos industriais | 4,5 | Moderada | Médio |
| Aeronaves e peças | 2,0 | Baixa | Alto |
| Equipamentos médicos/eletrônicos | 3,5 | Alta | Baixo |
Retaliação provavelmente recairá sobre esses setores de maior impacto econômico e político, demarcando áreas onde há espaço de pressão real sobre produtos norte-americanos.
Impactos no PIB dos dois países
Com base na dependência comercial e nos setores afetados:
| País | Impacto estimado | % do PIB |
| Brasil | US$ 5 a 6 bi | ~0,25% |
| EUA | US$ 8 bi | ~0,04% |
Os efeitos são desproporcionais. Embora os EUA sofram menos em termos relativos, alguns setores sentirão impacto direto — especialmente companhias aéreas e redes de alimentos.
O papel do Ex-Tarifário e do Drawback no Brasil
Ex-tarifário
Permite a redução a zero do imposto de importação sobre máquinas e equipamentos sem produção nacional. Beneficiou empresas como Embraer, Weg e Ambev ao permitir modernização industrial com menor custo. Segundo o MDIC:
“O regime de Ex-tarifário é essencial para a modernização da indústria nacional e atratividade de novos investimentos produtivos.”
— Nota Técnica MDIC 001/2025
Drawback
Suspende ou isenta tributos sobre insumos importados utilizados na produção de bens exportados. Este regime tributário foi usado por empresas como JBS, BRF, Tramontina e Suzano para aumentar competitividade internacional.
“O drawback é responsável por reduzir o custo das exportações em até 30% em setores como o automotivo, alimentício e químico.”
— Manual de Drawback – Receita Federal, ed. 2024
Esses dois instrumentos explicam por que a tarifa média efetiva de importação dos EUA no Brasil em 2024 foi de apenas 2,7%, apesar da tarifa externa comum do Mercosul ser maior.
Conclusão
A imposição de uma tarifa de 50% por parte dos EUA representa um desafio significativo para setores estratégicos da economia brasileira — especialmente petróleo, aviação, agroindústria e siderurgia. A diversificação da pauta exportadora, no entanto, ajuda a mitigar parte dos efeitos. Ao mesmo tempo, os EUA também podem sentir falta de produtos que só o Brasil oferece em grande escala e com bons preços.
O Brasil tem instrumentos inteligentes — como o ex-tarifário e o drawback — que ajudam a reduzir custos e manter a competitividade. Mas, se a disputa comercial crescer, será necessário buscar novos mercados, fortalecer a indústria interna e ampliar acordos comerciais.




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